Apologética

por

B.B. Warfield

 

 

I. A SIGNIFICANCIA DO TERMO

Desde Planck (1794) e Schleiermacher (1811), “apologética” tem sido o nome aceito da disciplina teológica ou departamento da ciência da teologia. O termo deriva da palavra grega “apologeisthai”, que expressa a noção central da idéia de “defesa”. Em sua aplicação atual, entretanto, seu significado foi de alguma forma alterado, e nós afirmamos isso em uma comparação feita entre os termos apologética e “apologies” (desculpas ou justificação na língua inglesa) em contraste uma com a outra. A relação entre essas duas expressões não é de teoria e prática, nem também de gene e espécie. Pode-se dizer que apologética não é uma ciência formal na qual os princípios exemplificados e justificados são também investigados, como, por exemplo, os princípios de pregação são investigados pela homilética. Nem tampouco ela é meramente a soma de todas as defesas possíveis para a teologia, ou suas explicações cientificas assim como a dogmática é a ciência que explica os dogmas. Apologética é a defesa do Cristianismo em sua inteireza, sua essência, ou, de uma forma ou outra é a defesa de seus elementos de pressuposições contra seus usurpadores, atuais ou possíveis, de forma a se defender de algum ataque em particular; embora, obviamente, por melhor que sejam as defesas que alguém possa levantar com o intuito único de defender uma tese se tornam meras justificativas. Apologética toma para si, não um aspecto exclusivo de defesa, nem mesmo uma justificativa, mas o estabelecimento, diretamente falando, do Cristianismo, mas ao invés, é o conhecimento de Deus que o Cristianismo professa para incorporar e buscar tornar eficiente no mundo, o qual é o oficio da teologia explicar cientificamente. Pode até, obviamente, se ater em defesas e justificações quando isso se fizer necessário. Isso vai de encontro com pontos de vista opostos e requer o estabelecimento de seus próprios pontos de vista e conclusões. Defesas podem, entretanto, serem incorporadas à apologética, e formar porções auxiliares de sua estrutura, quando elas também fazem em qualquer outra área ou disciplina teológica. Ela é, mas freqüentemente, é inevitável que um ou outro elemento ou aspecto da apologética seja mais enfatizado ou cultivado, de acordo com a necessidade que aparece de tempos em tempos. No entanto, a apologética não deriva seu conteúdo, ou toma forma, ou empresta valores de algum tipo de oposição que prevaleça; mas preserva por todo tipo de circunstância seu caráter como qualquer outra ciência construtiva – como refutação de pontos de vista contrários se tornam de tempos em tempos um certo empecilho para a construção e o progresso. É pequena a defesa ou justificativa da essência da apologética que haveria a mesma razão por esta existência e a mesma necessidade de seu trabalho, não haveria oposição no mundo ou contradição para ser sobreposta. A apologética encontra seu fundamento, em outras palavras, não nos acidentes que acompanham os esforços da verdadeira religião de plantar, sustentar, e propagar a ela mesma nesse mundo; nem mesmo no mais PERVASIVO e no mais PORTENTOSO desses acidentes, o erro do pecado; mas nas necessidades fundamentais do espírito humano. Se for sua incumbência fazer o crente capaz de dar razão a sua própria fé, seria impossível para ele ser um crente sem a razão da fé que há nele mesmo, e é tarefa da apologética trazer essa razão claramente em sua consciência, e faz disso um plano válido. Ela é, em outras palavras, a função da apologética investigar, explicar, e estabelecer os fundamentos nos quais a teologia, a ciência, ou o conhecimento sistematizado de Deus é possível; e partindo do pressuposto que toda ciência que tem Deus como seu alvo deve repousar, se é uma ciência verdadeira que afirma estar colocada em um circulo de estudos realmente científicos. Ela necessariamente toma seu lugar, então, à frente do departamento de ciências teológicas e encontra sua tarefa no estabelecimento da validade desse conhecimento de Deus que forma o alvo de estudos desse departamento; que nós possamos proceder através dos demais departamentos nas áreas exegéticas, históricas, sistemáticas, e práticas, para explicar, apreciar, sistematizar e propagar ao mundo.


II. O LUGAR ENTRE AS DISCIPLINAS TEOLÓGICAS

Deve ser admitido que uma considerável confusão tem reinado com respeito à concepção e função da apologética e seu lugar entre as disciplinas teológicas. Quase todo escritor tem uma definição própria e descreve a função da disciplina de uma forma mais peculiar para ele mesmo; e lá está escassamente em um canto da enciclopédia teológica. Planck deu um lugar entre as disciplinas exegéticas; outros discutiam se sua essência era histórica; muitos queriam designá-la como sistemática ou teologia prática. Nosselt nega seu direito de existência; Palmer confessa sua falta de habilidade para classificar tal disciplina, Rabiger tirou formalmente de sua enciclopédia, mas a reintroduz com um nome diferente de “teoria da religião”, Tholuck propõe que deveria ser dividida em partes por diversos departamentos; e Cave de fato distribui o material da apologética por três departamentos diferentes. Muito dessa confusão se deve à persistente confusão entre apologética e apologia. Se apologética é a teoria de justificação, e sua função é ensinar a homens e mulheres como defender o Cristianismo, seu lugar é, obviamente, junto com homilética, catequese, e poimênica, no departamento de Teologia Pratica (ou teologia pastoral). Se for simplesmente, de forma eminente, a justificação do Cristianismo em um formato organizado sistematicamente num formato de justificativa para o Cristianismo com todos seus elementos e detalhes, contra toda oposição, ou em sua essência totalmente contra uma única oposição destrutiva, ela obviamente pressupõe um completo desenvolvimento do Cristianismo através das disciplinas exegéticas, históricas, e sistemáticas, e deve estabelecer ou como o ponto culminante do ensino da teologia sistemática, ou como área intelectualista da teologia prática, ou como uma disciplina independente colocada entre essas duas. Nesse caso pode ser artificialmente separada de uma teologia polêmica e outras disciplinas similares, se a análise for levada longe o suficiente, pode-se criar, como feito por F. Duilhe de Saint-Projet que distinguiu entre teologia apologética, controversa e polêmica, direta e respectivamente contra descrentes, hereges, e companheiros cristãos, e por A. Kuyper que distinguiu entre polêmica helenista e apologética que iria contra heterodoxia, paganismo, falsa filosofia. Não será estranho, então, mesmo separado dessa família de disciplinas, ou algumas delas, seria unida com elas novamente, ou com algumas disciplinas, para tomar um formato mais abrangente as quais podem criar uma enciclopédia. Isso é feito, por exemplo, por Kuyper que junta as teologias polêmicas helenistas e apologéticas para formar seu grupo de disciplinas denominadas “dogmatologia antitética”, e Patton que, depois de ter distribuído o material da apologética em duas disciplinas separadas como teologia racional e filosófica, na qual uma disciplina teísta foi colocada no início do sistema, e a apologética se une mais tarde com as disciplinas polemicas para constituir uma disciplina antitética, enquanto a teologia sistemática sucede as duas como parte de uma disciplina sintética.


III. PONTOS DE VISTA DIVERGENTES

Muito da diversidade em questão se deve também, entretanto, a vários pontos de vista sobre em que aspecto deve a apologética ser estabelecida, se deve ser considerada, por exemplo, a verdade da religião cristã, ou a validade do conhecimento de Deus a qual a teologia apresenta em um formato sistematizado. E ainda mais se deve por conceitos profundamente divergentes sobre a natureza do assunto em questão, sobre esta “teologia”, de que a apologética faz parte. Se nós pensarmos que apologética age tomando defesa ou justificação da “religião cristã”, esse é um ponto, se nós pensarmos que ela assume o formato com intenção de validar o conhecimento de Deus, o qual é sistematizado pela “teologia”, temos um ponto totalmente diferente. E mesmo se existir concordância em uma concepção mais recente, ainda permanecem divergências profundas as quais definem a “teologia” como ela realmente é, não devemos esperar um acordo sobre a natureza e a função de nenhuma dessas disciplinas. Se “teologia” é a ciência de fé ou de religião, é o assunto em questão que se torna subjetivo de experiências do coração humano, e a função da apologética é inquirir se essas experiências subjetivas têm algum objetivo válido. Obviamente, entretanto, ela segue uma elucidação sistemática sobre essas experiências subjetivas e constitui uma disciplina final da “teologia”. Similarmente, se a “teologia” é a ciência da religião cristã, ela investiga a questão histórica pura sobre em que aqueles que são chamados Cristãos realmente acreditam; e obviamente a função da apologética é seguir essa investigação com um inquérito sobre se os Cristãos são justificados por crer nessas coisas. Mas se a teologia é a ciência de Deus, ela lida não como uma massa de experiências subjetivas, não em uma seção da história dos pensamentos, mas com o corpo de fatos objetivos; e é absurdo dizer que esses fatos precisam ser assumidos e desenvolvidos até sua última conseqüência, antes que nós deixemos de perguntar se eles são realmente fatos. Então assim que se chega a um acordo que teologia é uma disciplina cientifica e tem seu alvo principal o conhecer a Deus, nós precisamos reconhecer que deve ser através do estabelecimento da realidade como fatos objetivos das informações nas quais sua tese está baseada. Alguém pode realmente chamar o departamento de teologia ao qual essa tarefa está comprometida com qualquer nome que lhe parecer apropriada: Ela pode ser chamada “teologia geral”, ou “teologia fundamental”, ou “teologia principal”, ou “teologia filosófica”, ou “teologia racional” ou qualquer outro dos inumeráveis nomes que têm sido usados pra descrevê-la. Apologética é o nome que mais naturalmente sugere a matéria em si, e é o nome o qual, com maior ou menor precisão do ponto de vista que trata da natureza e do compasso dessa disciplina, tem sido consagrado para esse propósito por um grande número de escritores como Schleiermacher, Twesten, Swetz, Ottiger, Knoll, Maissoneuve. Isso recomenda de forma poderosa uma indicação decisiva sobre a natureza dessa disciplina, enquanto se aplica igualmente a qualquer que seja o foco da teologia a qual subentende-se plantar em uma base segura. Se essa teologia não reconhece outro conhecimento de Deus, além daquele dado na constituição e curso da natureza, ou deriva sua informação da total revelação de Deus como documentada nas Escrituras, apologética se oferece com total prontidão para designar a disciplina pela qual a validade do conhecimento de Deus foi estabelecida. É necessário explicitar nada mais que naturalmente a teologia requer como sua base; quando a teologia a qual nos serve é, entretanto, a teologia completa da revelação cristã, ela guarda sua unidade e se mantém protegida da fatalidade da concepção dualística a qual coloca a teologia natural e a teologia revelada separadas em entidades diferentes, cada uma com sua própria pressuposição separada, requerendo um estabelecimento pelo qual a apologética seria dividida em duas disciplinas diversas, dando colocações bem diferentes dentro da enciclopédia teológica.

IV. A VERDADEIRA FUNÇÃO DA APOLOGÉTICA

Já foi tratada o quão extensa pode a apologética ser definida, de acordo com um costume muito preponderante como “a ciência que estabelece a verdade do Cristianismo como uma religião absoluta”. Apologética certamente estabelece a verdade sobre o Cristianismo como uma religião absoluta. Mas a questão de importância aqui é como isso é feito. Ela certamente não é da alçada da apologética tomar para si cada princípio do Cristianismo no desejo de buscar estabelecer sua verdade através de uma direta apelação à razão. Qualquer tentativa de fazer isso, não importa em qual base filosófica de trabalho ou de demonstração, começa, ou através de qual método deve-se seguir, isso nos transferiria de uma só vez para uma atmosfera e nos trairia em dispositivos deturpados do velho e vulgar racionalismo, o erro primário o qual foi questionado em uma demonstração diretamente racional da verdade a qual o Cristianismo ensina em troca. A função da apologética é estabelecer a verdade da Cristandade como a religião absoluta em sua íntegra, e seus detalhes de forma indireta. Isso serve para afirmarmos que, nós não devemos começar desenvolvendo o Cristianismo em pequenos detalhes, e somente depois que esta tarefa for terminada, deveremos perguntar se existe alguma verdade em tudo isso. Nós devemos começar estabelecendo a verdade do cristianismo por inteiro, e somente então explicar em detalhes, cada qual, se devidamente explicado tem sua verdade garantida em seu devido lugar como detalhe em uma entidade já estabelecida em sua inteireza. Apesar de sermos esclarecidos sobre o que é provavelmente a questão mais complicada a qual tem irritado durante toda a história da disciplina. Ao estabelecer a verdade do Cristianismo, tem sido permanentemente perguntado, devemos lidar com todos os detalhes, ou meramente com a essência do Cristianismo? A verdadeira resposta é nenhum dos dois. Apologética não pressupõe nem o desenvolvimento do Cristianismo em detalhes, ou a extração de sua essência. Os detalhes do Cristianismo estão todos contidos no próprio Cristianismo: O mínimo retirado do Cristianismo é somente o Cristianismo em si. O que a Apologética toma para si estabelecer é somente o Cristianismo puro, incluindo todos seus “detalhes” e envolvendo toda sua “essência”, em sua inexplicável e incompreensível inteireza, como a religião absoluta. Ela tem como objetivo de solidificar as fundações nas quais o “Templo” da teologia é construído e pela qual toda estrutura da teologia é determinada. É o departamento da teologia que estabelece os princípios constitutivos e regulamentares da teologia como ciência, e em estabelecendo isso serão estabelecidos todos os detalhes, os quais derivam deles pela secessão de departamentos, em suas vastas explicações e sistematizações. Mesmo isso sendo estabelecido como um todo e o todo sendo estabelecido na massa, então deve se dizer, e não em detalhes, mas ainda em sua forma completa e não em um elemento separado.

V. DIVISÃO DA APOLOGÉTICA

Sendo o assunto principal da apologética definido, sua distribuição em partes se torna basicamente um assunto óbvio. Tendo definido a Apologética como a prova da verdade da religião cristã, muitos escritores naturalmente confinam isso àquilo que é comumente conhecido de forma mais informal como “teologia fundamental”, igualmente natural é confinar isso aos primeiros princípios da religião em geral. Outros mais justos combinam os dois conceitos e então obtêm ao menos duas divisões principais. Como Hermann Schultz prova “o direito do conceito religioso do mundo, contra as tendências de negar a religião, e o direito do Cristianismo como uma manifestação absolutamente perfeita, estando contra os oponentes da sua significância permanente”. Ele então divide em duas grandes seções com uma terceira interposta entre eles: O primeiro “A defesa do conceito religioso do mundo”, o último, “A defesa do Cristianismo” e entre esses dois foi colocado “A filosofia da religião, religião em sua manifestação histórica”. De forma menos satisfatória, porque com uma firmeza menor sobre sua idéia de disciplina, Henry B. Smith, encarando a apologética como “Dogmática Histórico-Filosófica”, foi em defesa “da unidade de conteúdo e substância da fé Cristã”, dividindo o material para o mesmo efeito o qual ele chamou de apologética fundamental, histórica, e filosófica. A primeira assume o papel de demonstrar o ser e a natureza de Deus; o segundo, a divina origem e autoridade do Cristianismo, e a terceira, de alguma forma defeituosa forma uma conclusão para tão importante argumento, a superioridade do Cristianismo frente a todos os outros sistemas religiosos. De forma bem similar, Francis R. Beattie dividiu em: (1) Apologética Fundamental, ou Filosófica, que trata sobre o problema de Deus e a religião, (2) Apologética Cristã, ou Histórica, a qual trata do problema da revelação e das Escrituras, e (3) Apologética Aplicada, ou Prática, que lida com a eficiência prática do Cristianismo no mundo. A verdade fundamental desses esquemas está na percepção de que o assunto principal da apologética envolve os dois grandes fatos sobre Deus e o Cristianismo. Existem algumas falhas na unidade desses conceitos, entretanto, sobressaindo aparentemente de um ponto deficiente sobre a peculiaridade da apologética como um departamento da ciência da teologia, e uma inabilidade conseqüente de permitir isso como também determinar seu próprio conteúdo e a ordem natural de suas partes e divisões.

VI. O CONCEITO DA TEOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA

Se a teologia é uma ciência, existe envolvido neste fato, como também em todas as outras ciências, pelo menos três pontos: A realidade do assunto em questão, à capacidade da mente humana receber em si mesma e racionalizar para refletir o assunto em questão e a existência de uma comunicação entre o assunto em questão e a mente de forma a receber e compreender o assunto. Não poderia haver psicologia onde não houvesse uma mente para ser investigada, uma mente para investigar, e uma autoconsciência por meio dos quais a mente como um objeto, pode ser trazida debaixo da inspeção da mente como sujeito.

Não haveria astronomia se não houvesse corpos celestiais para serem investigados, nem uma mente capaz de compreender as leis da existência e dos movimentos celestes, ou não houvesse formas de observar sua estrutura e movimento. Da mesma forma, não pode haver teologia, concebida de acordo com seu próprio nome, como a ciência de Deus, a menos que haja Deus para formar o assunto alvo, uma capacidade na mente humana para compreender a Deus, e algum tipo de comunicação na qual Deus se faz conhecido aos homens. Essa teologia, como a ciência de Deus, pode existir, então, deve começar por estabelecer a existência de Deus, a capacidade humana de conhecê-Lo, e um acesso de conhecimento sobre Deus. Em outras palavras, a principal idéia da teologia como ciência de Deus nos da esses três tópicos incríveis os quais precisam ser tratados em seu departamento fundamental, no qual as fundações para toda estrutura está firmado em Deus, religião, revelação. Com esses três fatos estabelecidos, uma teologia como ciência de Deus se torna possível, com ela então, uma apologética se torna completa. Mas isso, somente firmado nesses três pontos, todas as pressuposições da ciência de Deus, construídas em nossa teologia podem ser estabelecidas, por exemplo, prover para que todas as fontes e significados sobre o conhecimento de Deus sejam extinguidos. Nenhuma ciência pode arbitrariamente limitar a informação concernente a sua esfera a qual ela atende. Na pressa de deixar de ser a ciência que professa ser, ela precisa extinguir os meios de informação abertos a ela, e reduzir a um sistema unitário todo o corpo de conhecimento em sua esfera. Nenhuma ciência pode representar a si mesmo como a astronomia, por exemplo, a qual se confina arbitrariamente a informação de que concernem os corpos celestiais vistos somente a olho nu, o que descarta, sem dúvida, a ajuda de algo como um espectroscópio. Na presença do Cristianismo no mundo que clama por uma revelação presente de Deus que se adapte às condições e necessidades dos pecadores, e documentado nas Escrituras, teologia não pode tomar um passo sequer até que se examine esse desejo, e se o desejo for substancial, esta substanciação deve formar uma parte do departamento fundamental da teologia na qual estão firmados os fundamentos para toda sistematização do conhecimento de Deus. Nesse caso, dois novos tópicos são adicionados ao assunto principal na qual a apologética precisa lidar construtivamente, Cristianismo e a Bíblia. Isso está firmado na verdadeira natureza da apologética como departamento fundamental da teologia, concebido como a ciência de Deus, isso deveria encontrar sua tarefa no estabelecimento da existência de Deus, quem é capaz de ser conhecido pelo homem, pois Ele se fez conhecido, não somente através da natureza, mas nas revelações de sua graça para com os pecadores, documentada nas Sagradas Escrituras. Quando a apologética tem colocado esses fatos grandiosos em nossas mãos, Deus, religião, revelação, Cristianismo, a Bíblia, e não até esse fato ocorrer, nós estaremos preparados para explicar o conhecimento de Deus como este foi trazido a nós, traçando a historia de seus feitos no mundo, sistematizando e propagando isso ao mundo.


VI. AS CINCO SUBDIVISÕES DA APOLOGÉTICA

As subdivisões primarias da apologética são cinco, a não ser por conveniência no tratamento se preferir condensar uma delas com outra que tiver maior proximidade de conceitos. (1) A primeira, a qual pode talvez ser chamada apologética filosófica, toma sobre si o estabelecimento do ser de Deus, como um espírito pessoal, o criador, preservador e governador de todas as coisas. A ela pertence o grande problema do teísmo, envolvido em discussões sobre as teorias antiteistas. (2) O segundo, o qual pode talvez ser chamado de apologética psicológica, que toma para si o estabelecimento da natureza religiosa do homem e a validade de seu senso religioso. Ele envolve a discussão parecida com a psicologia, filosofia e a pneumatologia da religião, e inclui então aquilo que é chamado de “religião comparativa” ou de “história das religiões”. (3) Sobre o terceiro ponto está a responsabilidade de estabelecer a realidade do fator sobrenatural na história, com a determinação envolvida da real relação com a qual Deus se apresenta a Seu mundo, e o método de Seu governo sobre Suas criaturas racionais e especialmente o modo de se fazer conhecido a seu povo. Isso lança sobre o estabelecimento do fato da revelação com a condição de todo o conhecimento de Deus, quem como um Espírito Pessoal pode ser conhecido somente à medida em que Ele se expressa a nós, para que a teologia defira de todas as outras ciências no fato de que seu objeto de estudos não está à disposição do sujeito, e sim o processo é inverso. (4) O quarto ponto, o qual pode ser chamado de apologética histórica, a qual toma para si o estabelecimento da origem divina do Cristianismo como a religião da revelação no significado especial dessa palavra. Ele discute todos os tópicos que naturalmente caem sobre os pontos de vista popular sobre “as evidencias do Cristianismo”. (5) O quinto ponto, que pode ser chamado de apologética bibliológica, está encarregado de estabelecer a veracidade das Escrituras Sagradas como a documentação da revelação de Deus para a redenção dos pecadores. Ele está engajado especialmente com tópicos tais como a divina origem das Escrituras, os métodos da divina operação em sua organização, seu lugar na série de atos redentivos de Deus, e o processo da sua revelação, a natureza, modo e efeito da inspiração.


VII. O VALOR DA APOLOGÉTICA

A estimativa que é colocada sobre a apologética por estudiosos naturalmente varia com o conceito que está relacionado com sua natureza e função. No despertar do subjetivismo introduzido por Schleiermacher, tornou-se muito comum falar de um tipo de apologética assim como já foi descrito acima, sem nenhum tipo de desdém. É uma herança diabólica, nós ouvimos dizer, do antigo supranaturalismus vulgaris, o qual “se firmou não nas Escrituras, mas acima das escrituras, e imaginando que poderia fazê-lo, com conceitos formais, desenvolveu um ‘fundamento para a divina autoridade do cristianismo’(Heubner), e então ofereceu provas para a divina origem do Cristianismo, a necessidade da revelação e a credibilidade das Escrituras” (Lemme). Reconhecer que nós podemos tomar nossa posição nas Escrituras somente depois de termos as Escrituras, autenticadas como tal, firmar nossa posição, é, nos parece, um desgaste prejudicial. A experiência subjetiva de fé é concebida para ser o fator final, e a única apologética legitimada, somente a auto justificação da fé em si. Pois a fé nos parece, depois de Kant, não pode mais ser vista com um algo que compõe nossa razão e não pode ser colocado em nenhuma fundamentação racional, mas é um assunto concernente ao coração, e se manifesta de forma mais efetiva quando não há razão alguma senão nela mesma (Brinetiere). Se repetição tivesse alguma força de prova, teria sido estabelecida há muito tempo atrás que fé, religião, teologia, estão fundamentadas por completo fora do domínio da razão, prova e demonstração.
Ela é, entretanto, do ponto de vista do racionalismo e misticismo que o valor da apologética é muito desprezado. Quando preconceitos racionalistas penetrarem, ali, obviamente, a validade das provas apologéticas foi de uma forma ou outra questionados.

Quando um sentimento místico já se infiltrou, então a validade da apologética pode ser de uma forma ou de outra questionada com certa ênfase. No momento atual, a tendência racionalista é mais ativa, talvez, na forma apresentada por Albrecht Rtischl. Na sua forma ela ataca a apologética direto em sua raiz, pela distinção de que se ergue entre o conhecimento teórico e o conhecimento religioso. O conhecimento religioso não é o conhecimento do fato, mas a percepção da utilidade, e então, uma religião positiva, enquanto possa talvez estar historicamente condicionada, não tem uma base teórica, e está de acordo não com o objeto de prova racional. Em um paralelismo significante com o fato acima, a tendência mística é manifestada nos nossos dias de forma bem distinta em uma inclinação bem diversificada para colocar de lado a apologética em favor do “testemunho do Espírito”. As convicções do Cristão, nós aprendemos, não são produto da razão direcionada ao intelecto, mas a criação imediata do Espírito Santo em seu coração. Então, é algo íntimo. Nós podemos nos sair muito bem sem essas “razões”, se de fato elas não são realmente nocivas, porque a tendência é de substituir um racionalismo árido por uma fé viva. Parece-nos que foi esquecido aquele pensamento que a fé é um ato moral e uma dádiva de Deus, ainda é uma convicção formal passando por crença, e que todas as formas de convicção devem se firmar na evidência como seu fundamento. “Aquele que crê”, diz Tomás de Aquino, em palavras que se transformaram comuns como uma suposição básica, “não creria a não ser que ele visse que aquilo em que ele crê é digno de confiança”. Apesar da fé ser uma dádiva de Deus, isso não implica que a fé dada a nós por Deus é uma fé irracional, isso é, uma fé sem um fundamento cognitivo na razão. Nós cremos em Cristo porque é algo racional crer NEle, nem mesmo que se fosse irracional. Obviamente mero reconhecimento racional não torna alguém um cristão, mas isso não é porque a fé não é resultado de evidencia, mas porque uma alma morta não pode responder à evidência. A ação do Espírito Santo nos dando fé não está separada das evidências, mas vem junto com as evidencias, e em primeira instancia consiste em preparar a alma para aceitar as evidências.


VIII. A RELAÇÃO DA APOLOGÉTICA COM A FÉ CRISTÃ

Não devemos discutir se pela ação da apologética é que homens e mulheres tornam-se cristãos, mas que a apologética supre o Cristão com uma base sistematicamente organizada na qual a fé do crente pode descansar. Tudo o que a apologética nos explica no formato de prova sistematizada está implícito em todo ato de fé do crente. Toda vez que um pecador aceita a Jesus Cristo como seu Salvador, está implícita nesse ato uma condição de vida que demonstra que existe um Deus, que é conhecido por homens e mulheres, pois se fez conhecido ao ser humano pela sua revelação nas Escrituras e pela redenção em Jesus Cristo, assim como nos afirmam as Escrituras Sagradas. Não é necessário para esse ato de fé que todos os fundamentos dessa convicção sejam demonstrados em sua total consciência e dados de forma a concordar explicitamente com seu entendimento, mesmo sendo necessário que para sua fé esse fundamento seja suficiente para sua convicção ser ativamente presente e trabalhando em seu espírito. Mas é necessário para a defesa de sua fé raciocinar em um formato de julgamento cientifico, para que os fundamentos nos quais ele descansa sejam explicados e estabelecidos. A teologia como uma ciência, apesar dela incluir tão importante disciplina, uma exposição de como esse conhecimento de Deus, com o qual ela trabalha objetivamente pode de melhor forma se tornar possessão subjetiva do homem, não é um instrumento de propaganda, o que ela se propõe a fazer é o desenvolver sistematizadamente o conhecimento de Deus como objeto de contemplação racional. E como ela tem desenvolvido como conhecimento, ele deve obviamente estar existindo pelo estabelecimento seu direito tal como necessário. Se ele não o fizer, o todo de seu trabalho estará como suspenso no ar, e a teologia apresentaria uma aberração entre todas as ciências que buscam um lugar entre uma série de sistemas de conhecimento para uma elaboração de pura dedução.

IX. OS PRIMEIROS ESTUDOS APOLOGÉTICOS

Compreendendo que a apologética supre a necessidade insistente do espírito humano, que o mundo tem, obviamente, nunca estando sem a apologética.

Sempre quando o ser humano tem pensado totalmente sobre Deus e a ordem sobrenatural, lá tem estado presente em suas mentes uma variedade de mais ou menos razões sólidas por crer em sua realidade. A retirada do núcleo dessas razões em um corpo de provas sistematicamente organizado esperou então uma cultura mais avançada. Ma o advento da apologética não esperou o advento do Cristianismo, nem existem traços desse departamento de pensamento compreensível somente nas regiões acesas por uma revelação especial. O sistema filosófico de antiguidades, especialmente aqueles que derivam de Platão, estão longe de estarem vazios de elementos apologéticos, e quando em seus estágios mais avançados de seu desenvolvimento, filosofia clássica se torna peculiarmente religiosa, expressando material apologético que se torna quase predominante. Com a vinda do Cristianismo ao mundo, entretanto, à medida que os elementos da teologia foram se tornando mais ricos, então os esforços para substanciá-los se tornaram mais férteis nos elementos apologéticos. Nós não devemos confundir a apologética do inicio da era Cristã com a apologética formal. Como os sermões daqueles dias, eles contribuíam para a apologética sem ser apologética. O material apologético desenvolvido por aquilo que nós podemos chamar de os mais filosóficos dos apologistas (Aristides, Atenagoras, Teófilo, Tertuliano) já foi considerável, ele era grandemente suplementado pelos trabalhos teológicos de seus sucessores. Em um primeiro instante o Cristianismo mergulhou em um ambiente politeísta e tomou para si o conflito com sistemas de pensamento firmados em filosofias panteístas ou dualistas, requereu-se o estabelecimento de seu ponto de vista monoteísta, e indo contra a amargura dos Judeus e as zombarias dos gentios, para evidenciar sua origem divina como ação da graça ao homem pecador. Junto com Tertuliano os grandes “alexandrinos”, Clemente e Orígenes, estão os depósitos mais ricos do pensamento apologético do primeiro século. Os maiores dos apologistas da era patrística foram, entretanto, Eusébio de Cesárea e Agostinho. O primeiro foi o mais aprendido e o segundo o mais profundo dos defensores do Cristianismo entre os Pais da igreja. Em Agostinho, em particular, não meramente em seu livro “Cidade de Deus” mas em seus escritos controversos, acumulando uma vasta massa de material apologético o qual está distante de ter perdido seu significado.


X. A APOLOGÉTICA ATUAL

Não foi, entretanto, até a era escolástica que a apologética atingiu seus direitos como uma ciência construtiva. Todas as atividades teológicas da Idade Média foram até então antecessoras da apologética, para que seu esforço primário fosse a justificação pela fé para a compreensão. Não era somente rica em apologistas (Abelardo, Raimundo, Martini), mas todo teólogo era de alguma forma um apologeta. Anselmo no seu início, Aquino em seu auge, são tipos de uma série completa, tipos nos quais todas as suas excelências são somadas. A Renascença com seu ressurgimento do paganismo, naturalmente destaca uma série de novos apologétas (Savanarola, Marsílio, Ludovico), mas a Reforma forçou polemicas nesse fundo e colocou a apologética longe de tudo, apesar, obviamente, dos grandes teólogos da reforma terem trazido ricas contribuições que se acumularam ao material apologético. Quando, no fim do século dezessete, o ateísmo começou se espalhar entre as pessoas e o indiferentismo rasgando o naturalismo entre os lideres e pensadores, a correnteza do pensamento apologético mais uma vez começou a jorrar, tornando-se uma grande enchente à medida que a descrença prevalecente se intensificou e se espalhou. Com seu precursor em Filipe de Mornay (1581), Hugo Grocio (1627) tornando-se apologistas como os pioneiros dessa época da história, enquanto em sua porção média foi humilhada por pensadores como Pascal e a analogia apologética dessa época culminou com a “Grande Analogia” de Butler e a poderosa argumentação de Paley. À medida que o assalto contra o Cristianismo mudou suas bases para o deísmo inglês da primeira metade do século dezoito pelo racionalismo alemão da segunda metade desse mesmo século, o idealismo que dominou a primeira metade do século dezenove, e a tendência do materialismo de sua segunda metade, período após período foi marcado na história da apologética, e os elementos particulares da apologética que foram especialmente cultivados e adaptados de acordo com a mudança do pensamento. Mas nenhuma época foi marcada na história da apologética, até que, liderados pela tentativa de Schleiermacher de traçar o organismo dos departamentos de teologia, K.H. Sack resumiu para tornar cientificamente organizada “Apologética Cristã” (Hamburgo, 1829). Desde então, uma série de sistemas científicos de apologética tem jorrado das editoras. Eles diferem um do outro em quase todo conceito possível, de seus conceitos a sua natureza, tarefa, alvo, colocação nas enciclopédias científicas e teológicas, em seus métodos de lidar com seu material, em sua concepção de Cristianismo, religião e Deus, como também sobre a natureza sobre a evidencia na qual a crença deve descansar. Mas elas concordam em um ponto fundamental, que a apologética foi concebida por todos como um departamento especial da ciência teológica, capaz de o retirar e demandando um tratamento separado. Nesse sentido a apologética tomou finalmente, nos últimos dois terços do século dezenove, sua forma verdadeira e de direito.


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