O Argumento Transcendental para o Materialismo

por

Vincent Cheung





[O que segue é uma correspondência editada. É a minha resposta ao assim chamado “argumento transcendental para o materialismo]


Ele disse que iria empregar o argumento transcendental para o materialismo.
Isto é, eu preciso usar a minha boca física para dizer “lógica”. Eu preciso usar o meu corpo físico mesmo para me manter no debate.

Da forma aqui exposta, o argumento falha na tentativa de provar o materialismo como tal. Na melhor das hipóteses, demonstra que existe um mundo físico, e que quando falamos, fazemos uso do nosso corpo físico. [1] No entanto, o materialismo afirma que a matéria física é a realidade ou essência última, talvez mesmo única, e que não existe a mente imaterial ou o espírito. Longe de provar tal noção, o argumento fracassa em remeter a isso de todo modo. Por exemplo, ele não demonstra que pensamos com e apenas com os nossos cérebros. Ele não apresenta nada para contradizer (para não dizer refutar) a minha crença que pensamos com as nossas mentes imateriais e que os cérebros não “pensam” de forma alguma.

Analisemos isso com mais atenção.

De minha parte, o fato de que existe um mundo físico não é uma conclusão derivada da sensação ou intuição, mas deduzida das Escrituras. E por “Escrituras” quero me referir à “Palavra de Deus”, ou a revelação verbal da mente de Deus. Assim, não estou me referindo simplesmente ao livro físico, no papel e na tinta, mas ao conteúdo intelectual não-físico do livro físico. Não estou negando que a Bíblia seja a Palavra de Deus – é claro que é –, mas estou dizendo que, num sentido estrito, a Palavra de Deus não é física, mas intelectual, pois estamos nos referindo à porção da mente de Deus que ele nos revelou. Isto é, se você rouba a minha Bíblia e a retalha em milhões de pedaços, você destruiu o livro físico, mas não a Palavra de Deus, que é o primeiro princípio do meu pensamento. O conteúdo intelectual da minha cosmovisão, ou a Palavra de Deus, reside no Logos divino, e de acordo com a providência ordinária de Deus, é comunicada diretamente à minha mente na ocasião das percepções visuais que tomam lugar quando leio a Bíblia, mas à parte das percepções visuais em si. As sensações fornecem a ocasião; elas não comunicam por si mesmas qualquer informação.

Essa é uma variante do “ocasionalismo”. Ela não é inteiramente nova, mas se sobrepõe à teoria da iluminação de Agostinho, a “visão de Deus” de Malebranche, e a outras variações da “doutrina do logos”. Apesar de tudo, a minha versão não é idêntica com essas visões – ela é mais bíblica (pois que a sua base é exegética e evita as suposições antibíblicas das mesmas), e é mais “extrema” (isto é, coerente), pois a aplico a todos os aspectos da realidade na minha filosofia. Mas no fundo é simplesmente a implicação necessária da doutrina bíblica da providência de Deus sobre cada detalhe da sua criação.

Assim, uma das diversas formas que eu poderia derrotar essa espécie de argumento é propor que poderíamos estar debatendo dentro de uma realidade puramente metal, ou num sonho. Como podemos saber que não é o caso? Esta possibilidade não compromete a minha filosofia, uma vez que a minha filosofia não depende da sensação ou da indução – posso usar os mesmos argumentos com o mesmo efeito se estivermos debatendo ou no plano mental ou no físico. No entanto, desde que o meu oponente é um empiricista e/ou materialista, ele está preso ao mundo físico e a uma epistemologia física, de forma que deve primeiro provar que o debate está ocorrendo no plano físico.

É claro, há um mundo físico na minha filosofia, mas não porque eu o sinto ou percebo, e sim porque a Palavra de Deus não-física me diz que existe o mundo físico.

Resumindo, quando enfrento um oponente empírico, posso sempre levar o debate para o mundo puramente mental. Isso aniquila tudo aquilo que é de natureza física e empírica de que depende o meu oponente (visto que ele não pode provar que estamos agindo no mundo físico ou que existe um mundo físico), mas quanto a mim, posso agir perfeitamente no mundo puramente mental enquanto retendo o mundo físico ao mesmo tempo.


Notas :

1. Mas como veremos a seguir, ele falha em provar mesmo isso.

 

(Captive to Reason, p. 28-29)



Nota sobre o autor: Vincent Cheung é o presidente da Reformation Ministries International [Ministério Reformado Internacional]. Ele é o autor de mais de vinte livros e centenas de palestras sobre uma vasta gama de tópicos na teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como um sistema de pensamento, abrangente, e coerente, revelado por Deus na Escritura. Ele e sua esposa, Denise, residem em Boston, Massachusetts. [http://www.rmiweb.org/]

 


Tradução: Marcelo Herberts


Este artigo é parte integrante do portal http://www.monergismo.com/. Exerça seu Cristianismo: se vai usar nosso material, cite o autor, o tradutor (quando for o caso), a editora (quando for o caso) e o nosso endereço. Contudo, ao invés de copiar o artigo, preferimos que seja feito apenas um link para o mesmo, exceto quando em circulações via e-mail.


http://www.monergismo.com/

Este site da web é uma realização de
Felipe Sabino de Araújo Neto®
Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê.

TOPO DA PÁGINA

Estamos às ordens para comentários e sugestões.

Livros Recomendados

Recomendamos os sites abaixo:

Monergism/Arquivo Spurgeon/ Arthur Pink / IPCB / Solano Portela / Spurgeon em Espanhol / Thirdmill
Editora Cultura Cristã /Editora Fiel / Editora Os Puritanos / Editora PES / Editora Vida Nova