As Perguntas Certas sobre Ciência, Deus e Moralidade

por

Phillip E. Johnson



 

1. É errado associar a ciência à religião ou essa associação é inevitável?

Em 1981, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos determinou que “religião e ciência são duas áreas separada s e mutuamente exclusivas do pensamento humano, cuja apresentação num mesmo contexto leva à má compreensão tanto da teoria científica quanto da crença religiosa”. Do mesmo modo que se deu com a suposta “descoberta científica” de que os seres humanos não possuem qualquer status espiritual ou moral exclusivo, os cientistas pretenderam que a determinação fosse nada mais do que uma arma para combater os criacionistas. Aparentemente, eles sequer consideraram as inferências maiores — se é mesmo possível evitar, totalmente, as implicações religiosas, quando se trata de explicar as origens da vida humana. Na verdade, cientistas de prestígio constantemente publicam livros que associam tão plenamente esses dois temas que a expressão deus ou deuses aparece até mesmo no título, urna estratégia que é bastante conhecida por aumentar as vendas e os conseqüentes royalties. Veja, por exemplo, o livro The Genetic Gods: Evolution and Belief in Hunian Affairs, do Dr. John C. Advise ( Cambridge , Mass. : Harvard University Press. 2001). O Dr. Advise, um cientista materialista que pensa ser sua filosofia um requisito da “ciência”, escreve no prefácio: “Eu espero diminuir a hostilidade entre esses dois diferentes enfoques epistemológicos (a teologia e a biologia evolucionista), [e também] espero resolver uma questão central na minha própria vida: como reconciliar as exigências e os prazeres intelectuais do pensamento científico crítico com o senso de propósito e realização que uma vida espiritual plena pode proporcionar”.

Quando um materialista propõe uma reconciliação da ciência com a religião, os termos da proposta de paz normalmente resultam numa exigência de rendição incondicional. Os teólogos são forçados a aceitar os deuses da genética em substituição ao Deus tradicional, cuja menção é banida não somente da ciência, como também do discurso ético, inclusive da ética de utilização de tecnologia genética. Segundo Advise:

Os muitos desafios éticos motivados pelas novas tecnologias genéticas são, ao mesmo tempo, complexos e profundos. Em resposta a eles, não apenas cientistas, teólogos e legisladores, mas também toda a sociedade, devem se sentar à mesa de discussões para refletir sobre formas racionais e humanitárias de ação. Nessas deliberações, talvez a única forma de argumentação a ser firmemente censurada — a única abordagem “errada” — é aquela em que se afirma a autoridade moral de um deus. A se julgar pela diversidade de opiniões sustentadas por pessoas responsáveis com relação às questões éticas inerentes à condição humana, qualquer divindade sobrenatural tem se mantido estranhamente calada sobre essas questões ou tem comunicado mensagens bastante diferentes a diferentes ouvintes.

 

2. Se Deus está morto, tudo é permitido ou o julgamento moral continua como antes, mas agora numa base secular?

Os primeiros racionalistas modernos assumiam que a morte de Deus representava meramente a morte da superstição. Com base nessa premissa, o homem moderno, guiado pela ciência, poderia preservar o melhor da moralidade tradicional (ou “os valores humanos mais tradicionais e estimados” do Presidente Clinton) num código moral revisado, fundamentado na sólida base da razão secular iluminista. Mais recentemente, muitos vieram a duvidar de que a razão humana possa suprir a falta do padrão transcendente, pelo qual diferentes crenças morais humanas possam ser avaliadas. De um ponto de vista científico, a moralidade —como a religião — é uma questão de crença subjetiva, em vez de um conhecimento objetivo. Isso a torna, efetivamente, uma questão de preferência pessoal. Com isso não se quer dizer que códigos morais deixarão de existir (mesmo um bando de ladrões ou terroristas possui um), mas significa que esses códigos serão baseados nas preferências dos detentores de poder locais e não nos princípios universais da razão e do conhecimento. O que é certo ou errado depende da preferência de quem quer que possua o poder para impor sua vontade.

Talvez ninguém devesse possuir esse poder e cada indivíduo devesse possuir um direito absoluto de optar. Essa foi a alternativa que parece haver adotado três moderados juízes da Suprema Corte norte-americana em 1992, quando confirmaram a existência de um direito constitucional ao aborto. No que é chamada pelos advogados de a “súmula do mistério”, os juízes escreveram: “No coração da liberdade está o direito da pessoa definir seu próprio conceito sobre a existência, o significado, o universo e o mistério da vida humana. Crenças a respeito dessas questões não poderiam definir os atributos da personalidade, fossem eles constituídos sob a imposição do Estado” (Planned Parenthood of Sotttheastern Pennsylvania v. Casey, 505 U. S. 833 [1992], 851 [parecer proferido pelos Juízes O'Connor, Kennedy e Souter]). Entretanto, nenhuma lei americana, inclusive as leis que proíbem o aborto, buscam impor “crenças a respeito dessas questões”. A única questão posta pelas proibições do aborto é se a pessoa tem o direito de agir- com base nas suas crenças quando essa ação envolve a subtração de uma inocente vida humana.

Uma resposta positiva a essa pergunta pareceria justificar o homicídio e até mesmo o extermínio em massa. É obvio que os juízes não tiveram a intenção de permitir uma proposta tão ampla, portanto eles imediatamente particularizaram a linguagem genérica, dizendo que o direito de agir com base nessas crenças fundamentais se aplicava somente a uma mulher que está decidindo sobre ter ou não um filho ou sobre a interrupção da gravidez. Nesse caso, “o destino da mulher deve ser traçado, em grande parte, sobre sua própria concepção de seus deveres espirituais e de seu lugar na sociedade”. Assim, uma corte, influenciada ou intimidada pela ideologia feminista, conferiu — somente a um tipo de pessoa, numa situação específica — o direito de agir segundo suas crenças, mesmo ao custo da vida humana. Os leitores irão imediatamente imaginar, entretanto, que muitos outros considerarão essa restrição arbitrária e desejarão estender a mesma lógica, de modo a alegar um privilégio mais amplo para si mesmos.

 

3. Deus está definitivamente enterrado ou devemos esperar uma ressurreição?

A pergunta não é se alguma forma de “crença religiosa” continuará a existir, pois isso certamente ocorrerá, mas se Deus será sempre excluído da área do conhecimento e permanecerá, assim, confinado na terra-do-nunca da crença subjetiva, onde se encontram Zeus, Thor e Papai Noel. Se Deus não passa de um conceito na mente humana e não possui qualquer poder para agir ou falar por si mesmo, então pode parecer que o homem criou Deus e tem o poder de prescindir de sua própria criação. Portanto, a pergunta certa não é tanto se Deus existe, mas se o Verbo de Deus existe e se esse Verbo fez algo que aqueles que buscam a verdade não podem se dar ao luxo de ignorar. Essas questões foram discutidas no meu livro anterior, The Wedge of Truth (Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 2000), especificamente no capítulo sete. Espero que haja muito mais discussão sobre essas questões, à medida que aqueles que buscam a verdade se beneficiem dos princípios liberais da Emenda Santorum [1], uma vez que eles percebam, de forma plena, as dimensões religiosas e filosóficas da filosofia niilista, que tomou conta da nossa cultura em nome da ciência.


Notas:

[1] - Emenda de duas frases apresentada pelo Senador americano Rick Santorum ao projeto de lei para a educação. A Emenda Santorum simplesmente afirmava que “o Senado entende que (1) uma boa educação científica deve preparar os estudantes para distinguir as informações ou teorias comprováveis da ciência das alegações filosóficas ou religiosas, que são feitas em nome da ciência; e (2) onde a evolução biológica seja ensinada, o currículo deve ajudar os estudantes a compreenderem o motivo pelo qual esse tema gera tamanha polêmica incessante e deve prepará-los para que sejam participantes informados de debates públicos a respeito desse tema”.

 

Fonte: Extraído de As Perguntas Certas . P. 38-42.

Phillip E. Johnson formou-se pela Harvard University e pela University of Chicago Law School . Trabalhou com o Juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, Earl Warren, e ensinou lei por mais de trinta anos na University of California. Escreveu também Como Derrotar o Evolucionismo com Mentes Abertas e Ciência, Intolerância e Fé .

 



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