O Deus que é Sempre Fiel


por

Rev. Jônatas Abdias de Macedo



Saberás, pois, que o Senhor , teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos” (Deuteronômio 7.9).

Às vezes, você faz tudo certo, leva os filhos à igreja, confia em Deus... e da zebra! ”. Esta não é uma frase imaginária ou hipotética. Infelizmente, temos ouvido frases que tais não somente de pessoas “decepcionadas” com Deus, mas até de pastores (como é o caso da frase supracitada), que pretendem através desta injunção, explicar o que para eles é um “verdadeiro” paradoxo do cristianismo. Para alguns, a verdade se lhes mostra neste “paradoxo” que retrata muito bem a realidade vivida por muitos que o escutam, e havendo lutado por anos com a situação, agora encontraram alívio libertador: a verdade é que pode “dar zebra”! O paradoxo da salvação é a inesperada zebra que advém ao sincero coração daquele que, exausto nos seus afazeres, foi frustrado porque confiou em Deus...

Entretanto, Deus se apresenta sempre fiel; bem diferente deste deus descrito acima. Apresentar o Deus Fiel talvez não dê o mesmo “alívio” ou as mesmas escusas que a tacanha apresentação anterior, mas encherá seu coração do verdadeiro júbilo e do santo temor!

Em Deuteronômio 7.9, Moisés incita o povo a obedecer (guardar) a aliança que Deus faz com eles, para que provassem de uma faceta do caráter de Deus – era importante que eles obedecessem à aliança, pois o Senhor demonstrar-se-ia fiel para com aqueles que o amassem, amor demonstrado em obediência à lei. Moisés não se preocupa em definir ou provar que Deus seja fiel, apenas lhe diz que em vista do cumprimento da promessa feita, a entrada em Canaã não deixaria dúvidas que o Deus da aliança, o nosso Deus, é O DEUS FIEL.


O Deus fiel

Deus neste texto é chamado de fiel. A idéia básica da raiz é a de firmeza ou certeza. No tempo verbal que se apresenta tem o sentido de “ser estabelecido”, somado às implicações do particípio, tem o sentido de “ser fiel, certo, dependente”, e descreve tanto os que crêem, como também é usada para descrever aquilo sobre o que toda a certeza descansa: o próprio Deus e sua aliança. Esta palavra tem raiz comum com a palavra “amém”, que aponta para a certeza absoluta que Deus ouve nossas orações “conforme o seu poder que opera em nós”.

Quando estudamos os vários contextos em que a palavra hebraica para veracidade ou fidelidade aparece, torna-se evidente que não há verdade no sentido bíblico do termo, i.e., verdade válida, fora de Deus. Toda verdade procede de Deus e é verdade porque está relacionada com Deus. Não sem razão Agostinho afirma que “Toda a verdade é verdade de Deus”.

Deus é chamado fiel em virtude de Ele estar sempre atento à Sua aliança e cumprir todas as promessas que fez ao Seu povo. Deus é o estabelecedor dos pactos com o seu povo. Essas promessas pactuais são fiéis e verdadeiras, porque o Deus fiel e verdadeiro fora quem as estabeleceu e garantiu.

Essa fidelidade de Deus é a base sobre a qual toda a esperança repousa, e a causa do regozijo do povo de Deus. Berkhof salienta que esta característica de Deus, a fidelidade, “os salva do desespero ao qual a sua própria infidelidade facilmente os poderia levar, dá-lhes coragem para prosseguirem, a despeito de todos os seus fracassos, e enche os seus corações de jubilosas antecipações, mesmo quando estão profundamente cônscios do fato de que perderam o direito a todas as bênçãos de Deus. Deus não recua nas suas promessas pactuais. Ele as cumpre cabalmente porque é da sua essência ser fiel à palavra que empenha” (Teologia Sistemática , Louis Berkhof, p. 68 ).

“O homem pode falar a verdade, mas Deus é a verdade. Ele não pode ser diferente. Se Ele fizer alguma coisa que não corresponda à verdade, ele se nega a si mesmo, deixando de ser o que é” (O Ser de Deus e seus Atributos – Herber Carlos de Campos, Cultura Cristã, p. 240. ). O Senhor Deus não é como os deuses das nações, criaturas imaginárias, produto de abstrações de filosofia morta. Não, ele é Deus, Deus de fato, único Deus, o Deus fiel; capaz e pronto não somente para cumprir suas próprias promessas, mas a responder todas as expectativas de seus adoradores, certamente mantendo sua aliança e misericórdia.

Isso nos faz alistar algumas implicações, tais como o nosso premente dever de guardar a aliança. O Senhor pede que sejamos fiéis e verdadeiros no cumprimento da parte que nos cabe da aliança. A aliança apresenta algumas ordenanças ou mandatos, os quais foram colocados ao nosso dispor para nosso crescimento e bem-aventurança. Numa aliança tal qual a que estamos com Deus, não existem reivindicações ou negociação de qualquer natureza; o Senhor da aliança apresenta soberanamente os deveres dos aliançados. Entretanto, a aliança que o Senhor firmou conosco é também uma aliança de amor. Deus vem ao homem motivado pelo seu inexplicável amor. A guarda ou observação desta aliança demonstrará o amor que temos para com Deus. Deus exige de nós obediência, e o faz desde o Éden, fazendo-o até a volta de nosso Senhor.

Uma outra implicação a ser levantada é a bendita verdade que “nEle a gente pode confiar”. “Deus é veraz. Ele não pode enganar ninguém, não pode falhar na sua palavra e, como conseqüência, ninguém pode duvidar dele”. (O Ser de Deus e seus Atributos – Herber Carlos de Campos, Cultura Cristã, p. 243. ). Ninguém poderia ter certeza de nada se não houvesse a fidelidade de Deus (Hb 6.18). Somente uma pessoa veraz pode ser tomada como fidedigna. Deus é digno de confiança porque é sempre verdadeiro no que diz, ele é sempre fiel. Isto nos leva a descansar no Senhor, pois a todas as promessas, Deus proverá cumprimento. Ele é absolutamente confiável porque é absolutamente fiel. Em resumo, as “Caixinhas de promessas” se vendem aos montes, para que sejamos sempre lembrados das mesmas. Entretanto, mesmo que você as ignore, Deus nunca se esquecerá de nada que prometeu. As promessas, Ele cumprirá, mas e nós, temos cumprido a parte que nos cabe?

Uma última implicação: Com Deus nunca ficamos desapontados. “Deus não desaponta a ninguém. Ele sempre responde às nossas expectativas, quanto às suas promessas, porque não é homem para mentir. Tudo o que diz cumpre” (O Ser de Deus e seus Atributos – Herber Carlos de Campos, Cultura Cristã, p. 244 ).

Deus nunca frustrará o coração ansioso por alívio, que anela encontrar a verdade. Ao esperarmos em Deus, descasamos na certeza que Deus confirmará suas palavras, cumprirá nossas expectativas quanto ao que diz e não nos decepcionará. O “dia mau” pode vir, porque podemos fazer coro com o salmista quando diz “Firme está o meu coração, ó Deus! Cantarei e entoarei louvores de toda a minha alma... Porque a cima dos céus se eleva a tua misericórdia e a tua fidelidade, para além das nuvens” (Sl 108.1,4) .

Existe um principio da hermenêutica que diz que a Bíblia é infalível, e não se contradiz; se não consigo ver a relação do texto com o restante da Escritura, o erro ou a ineficiência, é culpa minha, não do texto. Apliquemos o mesmo princípio aqui: Deus é infalível e absolutamente verdadeiro e fiel. Se minha vida não encontra relação com as bênçãos de Deus, a culpa é minha e não de DEUS: (Rm 3.3-4). Deus sempre é fiel, mesmo em face à nossa obstinada infidelidade embrutecida pelo pecado (cf. 2 Tm 2.13).


Conclusão:

Em Deus não existe Frustração; o que não é necessariamente bom, em termos de benefícios a nós homens. Deus é exatamente fiel, e Deus será fiel, seja no cumprimento de suas promessas, seja no cumprimento de suas ameaças. Deus nunca disse que seria somente fiel às promessas benditas, mas sim, que seria fiel à aliança. Na mesma aliança de amor e responsabilidade, o Senhor apresenta bênçãos que decorrem do amor obediente e maldições que decorrem da recalcitrante desobediência (cf. Dt 28).

A aliança é monergista na sua autoridade, manutenção e validação. Mas existem condições que o Senhor estabelece para que provemos sua boa e agradável vontade: “Observai os meus estatutos, guardai os meus juízos e cumpri-os; assim, habitareis seguros na terra” (Lv 25:18).

O que está grosseiramente equivocado na assertiva inicial, não é a “zebra”, mas o “fazer tudo certo!” Não fosse a misericórdia de Deus, seríamos consumidos! (Lm 3.22) As coisas podem dar muito errado quando nosso compromisso com a aliança de Deus é tomado com irresponsabilidade. Muitos crentes hoje sofrem a desilusão de verem seus sonhos se deteriorando e se escusam imputando a culpa sobre Senhor Deus, chegando ao absurdo de dizer que suas vidas refletem um “paradoxo” inerente ao cristianismo, onde não vale muito fazer ou deixar de fazer, porque, afinal, pode dar zebra mesmo assim!

Precisamos relembrar as Palavras do apóstolo Paulo aos Romanos no capítulo 3: “E daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem , segundo está escrito: Para seres justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando fores julgado” (vs 3 e 4, grifo meu ).

Nunca nos esqueçamos, para nosso descanso de alma e bem-aventurança: Deus será sempre fiel!

 

 


›› Agradecemos o autor, Rev. Jônatas Abdias de Macedo, pelo envio e permissão da publicação do presente artigo.


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