A Imutabilidade de Deus

por

Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior


Nasci em Anápolis, uma cidade de porte médio em Goiás. E como ela é muito próximo da capital, Goiânia, era muito comum viajarmos para lá, para fazer compras, passear, etc. Numa dessas viagens, fomos ao Mutirama, um parque de diversões construído pela prefeitura da cidade. Fiquei encantado com o tamanho da cidade e impressionado com o parque e seus brinquedos.

Antes de sair, meu pai me orientou, caso eu me perdesse, deveria guardar o lugar onde o carro estava e ele estaria ali esperando. Meu pai nunca foi muito empolgado com passeios, nem brincadeiras, mas ele era paciente conosco. Bem, foi exatamente o que aconteceu, eu me perdi no parque e fiquei transtornado. Chorava muito e não conseguia explicar a ninguém onde meus pais estavam. Foi aí que me lembrei de meu pai. Mesmo chorando muito, consegui em meio a cascata de lágrimas, explicar onde o carro podia estar e que meu pai estaria ali.

Fiquei tão feliz quando cheguei ao estacionamento e lá estava meu pai, como havia prometido. Meu coração ficou tranqüilo e parei de chorar.

É assim também na vida espiritual. Quando estamos perdidos no mundo, diante das dificuldades, muito mais sérias que um garoto de seis anos pode imaginar, nós nos sentimos seguros ao lembrar que nosso Deus não muda. Ele sempre será o mesmo.

Conforme nos diz a Sua palavra em Salmos 102:12: “Tu, porém, SENHOR, no trono reinarás para sempre; o teu nome será lembrado de geração em geração”.

Deus é conhecido como Aquele que é. Temos que nos lembrar que não existe comparação entre os homens fracos, dependentes e inconstantes com o Deus soberano, estável e imutável. Deus é a rocha que permanece para sempre, que nunca muda e nunca se altera.
Seu ser é imutável porque Nele não há progresso, nem retrocesso algum. Salmo 102:25-27 assim declara: “No princípio firmaste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; envelhecerão como vestimentas. Como roupas tu os trocarás e serão jogados fora. Mas tu permaneces o mesmo, e os teus dias jamais terão fim.

É impensável para Deus mudar, seja para melhor ou para pior, porque ele é auto-suficiente em tudo. Veja o que afirma o apóstolo Tiago, o irmão do Senhor: “Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes.

Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos como que os primeiros frutos de tudo o que criou”. Tiago 1:15-18 NVI.

Porém, existem pessoas que não acreditam nesta doutrina. Alguns estudiosos, defendem uma outra visão de Deus, um deus mutável e que aprende com o passar do tempo histórico. Esta postura é chamada de teologia do processo. Creio que eles estão equivocados. Pois o testemunho da Escritura é claro. Ele não muda.

Fico pensando, como um teólogo do processo pode cantar o hino Tu és Fiel? Este é um dos hinos mais conhecidos em nosso hinário (HCC) e dos mais queridos em nossa igreja. Como alguém que defende tal idéia pode louvar ao Senhor dizendo:

Tu és fiel, Senhor, meu Pai celeste,
pleno poder aos teus filhos darás.
Nunca mudaste, tu nunca faltaste
tal como eras, tu sempre serás. Hino 25 – Hinário para o Culto Cristão.

Uma palavra sobre a provável mutabilidade de Deus. Nas versões bíblicas as palavras, arrependimento e arrepender-se, são traduzidas de dois vocábulos hebraicos, nãham e shübh. Como traduções da raiz hebraica nãham, essas palavras são freqüentemente aplicadas a Deus. O termo mais freqüentemente aplicado para denotar o arrependimento humano não é nãham, mas antes, shübh, que significa girar ou retornar, e á aplicado ao tornar do pecado para voltar-se para Deus. Deus é imutável e não pode arrepender-se (shübh) como o homem. A raiz nhm reflete em sua origem a idéia de “respirar profundamente”, e por conseguinte, a manifestação física da pessoa, geralmente tristeza, compaixão ou pena. Quando a Bíblia fala no arrependimento de Deus (Gn 6.6-7; Ex 32.14; Jz 2.18; 1 Sm 15.11) significa dizer que Deus abranda ou muda sua maneira de lidar com os homens de acordo com seus propósitos soberanos. Chama-se isto na teologia de antropopatismo, isto é, atitudes e ações humanas que são atribuídas a Deus. A partir da perspectiva humana a única expressão que se tem é de os propósitos divinos mudarem.

“ Se em algum momento eu decretar que uma nação ou um reino seja arrancado, despedaçado e arruinado, e se esta nação que eu adverti converter-se de sua perversidade, então eu me arrependerei e não trarei sobre ela a desgraça que eu tinha planejado. E, se noutra ocasião eu decretar que uma nação ou um reino seja edificado e plantado, e se ele fizer o que reprovo e não me obedecer, então me arrependerei do bem que eu pretendia fazer em favor dele”. Jeremias 18.7-10 NVI.

O texto que alistei acima é contundente em afirmar de que, da perspectiva divina, o cumprimento da maior parte das profecias está condicionada à reação positiva por parte dos homens. Abraham J. Heschel diz: “Uma mudança na conduta humana provoca uma mudança no juízo divino”. O segundo significado básico de nãham é o de consolar ou ser consolado. Assim afirma o texto de Isaias 40.1. nahãmû nahãmûammî. “Consolai, consolai o meu povo” Deriva-se daí que o arrependimento de Deus pode ser encarada como uma palavra de consolo para seu povo, que abranda seu furor diante de uma coração quebrantado.

Para nossa meditação hoje, penso em 3 aspectos da doutrina da imutabilidade de Deus, que podem orientar nossa vida espiritual.


I – Deus é imutável em Seus decretos.

Os decretos são as resoluções que o Senhor Deus toma a fim de que sejam cumpridas ou realizadas na história do mundo. Conforme nos lembra a Palavra de Deus em Jó 23: 13-14: “Mas ele é ele! Quem poderá fazer-lhe oposição? Ele faz o que quer. Executa o seu decreto contra mim, e tem muitos outros planos semelhantes”. E logo depois de ouvir o longo discurso de Deus, sobre Seu pode e Sua grandeza, Jó responde: “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum de seus planos pode ser frustrado”. 42:2.

Deus é absolutamente imutável para ter seus planos atrapalhados por quem quer que seja. O profeta Isaias apresenta-nos a visão de um Deus soberano: “O SENHOR dos Exércitos jurou: Certamente como planejei, assim acontecerá, e como pensei, assim será. Pois esse é o propósito do SENHOR dos Exércitos: quem pode impedi-lo? Sua mão está estendida; quem pode fazê-la recuar?” Is 14:24,27.


II – Deus é imutável em Suas promessas.

Ele não muda de opinião em suas promessas. Paulo demonstra isto nas suas últimas palavras, que nos deixou através da epístola dirigida a Timóteo: “Esta palavra é digna de confiança: Se morremos com ele, com ele também viveremos;

“se perseveramos, com ele também reinaremos. Se o negamos, ele também nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo”. 2 Tm 2:11-13.

A fidelidade de Deus, não deve ser entendida como sendo fidelidade aos homens, mas a si próprio. Deus zela por Sua própria glória.


III – Deus é imutável em Sua misericórdia.

Porque Deus não muda é que permanecemos vivos, mas sem a punição que nossos pecados merecem. Confira as palavras do profeta Malaquias: “De fato, eu, o SENHOR, não mudo. Por isso vocês, desdentes de Jacó, não foram destruídos”. Também são fortes e poderosas conselho a Palavra de Deus em Isaias 54:10: “ Embora os montes sejam sacudidos e as colinas sejam removidas, ainda assim a minha fidelidade para com você não será abalada, nem será removida a minha aliança de paz, diz o SENHOR, que tem compaixão de você”.

Temos que aprender a ver que o fundamento de nosso conforto, da nossa esperança, do nosso encorajamento e da nossa força está na imutabilidade de Deus. Temos que aprender que dependemos de Deus.

Concluindo, lembro agora da famosa parábola do filho pródigo, narrada por Jesus em Lucas 15. As ações reprováveis daquele jovem o colocaram no mais profundo abismo. Depois de ser abandonado pelos “amigos”, ele se refugiou junto a porcos. A coisa mais abominável que um judeu poderia imaginar, porque além de viver com os porcos, ele ainda disputava de seus alimentos.

Mas, ele caiu em si. Lembrou-se de seu pai, que o amava e, quem sabe, poderia acolhê-lo de novo, se não como filho, pelo menos como um empregado. Ele ensaia um discurso, que proferiria diante de seu pai. Enquanto isto, seu pai aguardava o seu retorno ansiosamente. Nos diz a Palavra que Deus que ele o recebeu cheio de compaixão, com abraços e com beijos.

Aquele jovem encontrou o seu pai como o havia deixado, com o coração cheio de amor por ele. Jesus contou esta parábola para ilustrar, de maneira simples, que o amor de Deus não muda. Ele busca suas ovelhas perdidas e desgarradas, preciosas pelo preço que ele pagou na cruz por elas, que inevitavelmente, virão para si. Cumprindo Seu decreto eterno.

Que Deus nos abençoe. Amém.


 


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