Memorizar a Escritura: Um Legado Ditoso

por

Jonathan Lindvall

 


 

Posso dizer honestamente que a memorização da Escritura é uma das partes mais agradáveis da experiência de educação de meus filhos no lar. Muitos têm admitido que, para suas famílias, em lugar de ser uma experiência prazerosa, é uma obrigação aterrorizante. Identifico-me ligeiramente com seu dilema porque a memorização da Escritura nem sempre foi um deleite. Permita-me compartilhar nosso segredo.

 

É Realmente Importante?

Sou o administrador da Escola dos Peregrinos que oferece um “Programa Independente de estudo” para as famílias que educam seus filhos em seus lares. Providenciamos serviços tais como registro de qualificações, conselhos sobre currículo e responsabilidade mútua. Ocasionalmente o fator da responsabilidade mútua torna-se um ponto difícil porque exigimos vários compromissos educativos. Um destes é o trabalho diário na memorização da Escritura.

De tempos em tempos algum pai coloca objeções a essa exigência de memorizar a Escritura. “Queremos que nossos filhos desfrutem a palavra de Deus,” disse um sincero pai cristão, “e obrigá-los a memorizar a Escritura fará com que, em lugar disso, resistam a ela”.

Outro sugeriu, “Queremos que nossos filhos se detenham no conteúdo, não na forma. Queremos que estudem e discutam o significado das passagens da Escritura em lugar de se esforçarem em aprender de memória as palavras. Lembre-se, Paulo disse, ‘ a letra mata, mas o Espírito dá vida.'”

Embora saiba que tais apelos são bem intencionados, razoáveis e até certo ponto convincentes, tenho insistido cordialmente, porém de forma consistente, que a memorização diária da Escritura é uma característica distintiva da Escola Dos Peregrinos; é um ministério que o Senhor especificamente solicitou. Em lugar de modificar nossas expectativas sobre este ponto, sugiro aos pais que encontrem outra escola se realmente sentem que não devem sujeitar-se a tais exigências.

 

Um Mandamento Bíblico

Em uma ocasião fui instado pra que mostrasse um mandamento na própria Bíblia que nos convocasse a memorizar a Escritura. Citei com confiança o Salmo 119:11, “Guardei as tuas palavras no meu coração, para não pecar contra ti.” Meu amigo respondeu: isso é um testemunho, não um mandamento. Respondi com Josué 1:8, “Nunca se apartará da sua boca este livro da lei, mas de dia e de noite meditarás nele.” ... Continuou sem ser convencido, “Isso diz que meditemos na Escritura, não que a memorizemos.”

Temporariamente frustrado, estava seguro de que seria fácil encontrar um texto probatório para validar minha posição. Fui à concordância de Strong e busquei a palavra “memorizar.” Para minha consternação a palavra não se encontrava na Escritura. Durante toda a minha vida me ensinaram que a memorização da Escritura era importante para o crescimento dos cristãos. Mas, agora era impossível verificar esta noção a partir da própria Bíblia. Quem sabe eu estava equivocado todo o tempo. Que faria?

Aconteceu que minha família estava, justo nesse período, trabalhando em cima de Deuteronômio 6 versículos 6 e 7; me entusiasmei bastante e cheguei a estar cheio de gratidão pelo Senhor prover a tempo uma resposta a meu dilema. Depois da dar o mandamento que Jesus citou mais tarde como o maior dos mandamentos (Mat. 22:37, 38), Moisés continuou, “ E estas palavras que hoje te dou, estarão em teu coração; e as repetirás a teus filhos, e falarás delas estando em sua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-se, e quando te levantares.”

Ao estudar o texto, primeiro descobri que a ênfase estava não somente nos conceitos, mas nas palavras em si. Logo descobri que este é o único caso onde a palavra hebraica shanan se traduz como ensinar . Seu significado geral é perfurar. Geralmente se traduz como “afilar” ou “abrir”. Aqui se traduz como “ensinar diligentemente,” e a idéia é inculcar ou enxertar as próprias palavras da Escritura dentro da criança.

Logo cheguei à frase seguinte, na qual Moisés ordenou aos pais falar delas (as palavras) em várias situações da vida cotidiana. Encontrei nesta passagem uma ordem não somente para discutir os princípios da Escritura com meus filhos mas para realmente falar das próprias palavras em si. Quando contemplamos individualmente as palavras da Escritura e consideramos seu significado em nossas vidas estamos cumprindo as exortações Bíblicas de meditar na palavra de Deus ( Josué 1:8 ; e também Salmo 1:2 ). Quando fazemos isto juntos em voz alta em nossa família, chega a ser, efetivamente, uma forma de meditação coletiva.

Embora esta passagem certamente seja um mandato para instruir às crianças no significado da Escritura, também a tomamos como a razão escriturística para ensinar regularmente as palavras da própria Escritura “ estando em sua casa, e andando pelo caminho, e ao deitares, e ao levantares.” Tal recitação provavelmente requeria que se memorizasse previamente as passagens repetidas ou, em último caso, conduziria a sua natural memorização, por meio da repetição verbal.

 

A Ênfase

Foi neste ponto que um pensamento iluminador começou a nascer em mim. A ênfase nesta passagem está claramente na repetição freqüente das palavras da Escritura mais que no ato de memorizá-las. Moisés ensinou que devíamos encher as mentes de nossos filhos com as palavras de Deus saturando seu ambiente com a Escritura. Nos versículos 8 e 9 continua, “ E as atarás [as palavras do versículo 6] como um sinal em tua mão, e estarão como frontais entre teus olhos; e as escreverás nos postes de tua casa, e em tuas portas.” A ênfase dali em diante está especificamente sobre as palavras do mandamento em si e não somente no significado por trás delas.

Estava intrigado por esta idéia de repetição. Moisés havia dito a Josué ( Js. 1:8), Nunca se apartará de tua boca este livro da lei...” Quem sabe uma ênfase na recitação oral seria uma chave para o êxito também na família. Começamos uma tradição familiar de citar uma ou mais passagens da Escritura quando nos sentávamos à mesa. Agora comecei um plano consciente para dirigir a prática de repetir passagens da Escritura nos momentos em que a família está junta no automóvel, no momento de ir para a cama, e quando nos levantamos, pela manhã.

 

O Prazer da Recitação

Aprendi rapidamente que as crianças (e os adultos) preferem citar aquilo que já sabem. Quando enfatizávamos a memorização de novo material o processo requeria um esforço disciplinado que, tenho que admitir, algumas vezes era pouco deleitoso. Porém, quando a ênfase estava em repassarmos juntos o que já sabíamos, era delicioso. As crianças pequenas, especialmente, ficam encantadas em repetir palavras e frases com as quais estão familiarizadas.

Todos vemos como os que estão aprendendo a falar nos divertem com a constante repetição de suas mais recentes aquisições verbais, um comercial de rádio ou de televisão, um dito engenhoso, uma rima, e assim por diante. Parecem discos arranhados constantemente repetindo a mesma coisa. As crianças fazem isto porque Deus lhes deu uma inclinação para desfrutar daquilo com que estão familiarizadas e chegaram, desse modo, a dominar. À medida que aproveitamos esta inclinação nossas crianças encontram grande gozo ao praticar a repetição da Escritura conosco.

Quando ensinava o quinto grau em uma escola do governo animei os estudantes a memorizar o Preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos. Espernearam e se queixaram sobre quão difícil era até que de fato o memorizaram. Então, repentinamente, mudaram sua opinião a respeito. Os estudantes competiam pelas oportunidades para recitar. Inclusive me cercavam no intervalo pedindo-me que os escutasse recitar o Preâmbulo. Por que isto aconteceu? As crianças se maravilham simplesmente em repetir o que memorizaram.

 

O Ato de Estar Juntos

Outra chave para o prazer que nossa família encontra na memorização da Escritura e sua recitação é que quase sempre o fazemos juntos em uníssono. Deste modo o peso não fica sobre os ombros de um indivíduo. Que prazer recitar com outros, ajudando-nos quando se atrapalham e sendo por sua vez ajudados. Suas crianças terão prazer até mesmo na tarefa de memorização inicial se a fizerem juntas. Porém, provavelmente não se motivem tanto si você simplesmente lhes designe as tarefas de memorização de maneira individual.

Evitamos completamente o sentido de pressão individual para cumprir uma tarefa de memorização. Cada projeto de memorização é um projeto familiar no qual nós, os pais, somos ajudados por nossos filhos a memorizar o texto selecionado. As crianças maiores desfrutam de poder memorizar junto conosco sem nunca ter de recitar por si mesmos. As crianças menores metem a colher com assuntos do dia-a-dia, igual a como fazem com qualquer outra coisa dos adultos. Somos muito cuidadosos de não fazer disto uma fonte de tensão para eles.

 

Mais que Versículos Isolados

Também memorizamos passagens inteiras ao invés de versículos isolados. Isto se adequada melhor para a recitação. E as crianças percebem que realmente foram bem-sucedidas quando conseguem recitar um capítulo inteiro que memorizaram. Você poderia começar com alguns Salmos que são bastante curtos.

Inicialmente é necessário só um minuto ou dois para que recitemos tudo o que separamos. Porém, com o tempo, nossa família terá memorizado mais passagens da Escritura do que geralmente citaríamos em uma seção. Hoje já é necessário que passemos quase meia hora pela manhã relembrando juntos a Escritura, revezando a próxima passagem a ser citada. Embora não tomemos o tempo para citar todas a cada manhã, mantemos todas elas frescas em nossa memória, assegurando-nos de que cada um seja relembrado ao menos uma vez num período de poucos dias.

 

Um Sonho a Transmitir

Permita-me, quem sabe, transmitir um sonho para sua família. Isaías 59:21 diz, “ E este será meu pacto com eles, diz Jeová: O meu Espírito que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se apartarão delas, nem da boca de teus filhos, nem da boca dos filhos dos teus filhos, diz Jeová, desde agora e para sempre.”

Imagine isto! O Senhor é quem está dizendo que nossas bocas, e as bocas dos nossos filhos, hão de estar continuamente ocupadas com Suas Palavras. Deus quer que transmitamos uma herança a nossos filhos, aos filhos de nossos filhos, e a todas as gerações futuras. Esta herança resultará em falar continuamente a Escritura. Estou convencido de que Deus está nos chamando a desenvolver padrões de vida, tradições se preferirem, que nos capacitem a transmitir costumes piedosas às gerações futuras.

Imagine o benefício espiritual que sua família poderia estar desfrutando hoje se, em anos anteriores, você e seus filhos houvessem memorizado uma media razoável de dois versículos a cada semana e pudessem recitar todos hoje. Imagine o benefício depois de quatro anos, ou dez anos de tal padrão. Pense na recompensa para toda uma vida, e para as gerações futuras. Este é meu sonho para meus filhos.

 

Um Deleite e uma Benção

Comecei dizendo que a memorização da Escritura era a parte mais agradável em nossa experiência de escola doméstica. E como se pôde ver, depois de tudo que dissemos, de fato, recitar a Escritura é para nós um deleite. Não somente é um deleite mas nos permite cumprir o mandamento ao qual nos referimos no início ( Josué 1:8 ), “ Nunca se apartará de tua boca este livro da lei.” Deus prometeu no mesmo versículo que se obedecermos este mandamento, meditando em Sua palavra dia e noite para observar seus mandamentos, prosperaremos e nossas vidas terão bom êxito. Que isto se cumpra em cada uma das famílias entre nós, pela graça de Deus, memorizemos, recitemos e apliquemos juntos as Escrituras.

 


Traduzido por: Márcio Santana Sobrinho


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