O Texto do Novo Testamento: Manuscritos e Versões?

por

Professor R.V.G. Tasker

Nenhuma obra literária que nos chegou do mundo antigo, teve tantas provas documentais como o Novo Testamento. Os editores clássicos, para reconstruir as grandes produções literárias da Grécia e de Roma antigas, só podem contar com alguns poucos manuscritos, a maioria deles, datam do século nono. No caso de Virgílio, existem manuscritos, datados, três ou quatros séculos depois da morte do autor. Esses editores se vem obrigados, pois, a confiar em um só manuscrito, relativamente recente e tem que fazer uma grande quantidade de correções, comparando seu trabalho com fragmentos de papiro que possam existir, escritos muitos séculos antes que os manuscritos que temos nos pergaminhos.

O pesquisador do texto do Novo Testamento está numa situação muito mais cômoda. É certo que os originais de todos os livros do Novo Testamento desapareceram pouco depois que foram escritos e que numerosas copias foram feitas por escribas poucos instruídos e por outros indivíduos que se preocuparam mais pelo sentido geral dos livros, que eram para eles a mensagem da salvação, que pela precisão e exatidão. Também é correto afirmar que, isso ocorreu até que todos os livros fossem reconhecidos como parte das Escrituras. É verdade também que muitas das melhores cópias, usadas nas igrejas locais mais importantes, foram destruídas durante as grandes perseguições que precederam a conversão de Constantino. Não obstante, possuímos hoje no Codex Sinaiticus, que está hoje no Museu Britânico, todo o Novo Testamento; além do Codex Vaticanus de Roma, também do século IV, que só faltam os últimos quatro capítulos de Hebreus, as Epístolas Pastorais, Filemom e Apocalipse. Além desses, O Codex Ephraimi de Paris contém fragmentos de todas as partes do Novo Testamento; e muito interessante, todavia estranho, Codex Bezae de Cambridge é um documento de importância para o estudo dos quatro evangelhos e a maior parte dos Atos dos Apóstolos.

Todos esses testemunhos antigos, de tanto valor, eram conhecidos quando se fez a revisão da Bíblia em 1881; e se reconheceu que eles estão mais próximos do original, que a grande parte dos manuscritos posteriores que contem o texto que logo se converteu no padrão, durante o Império Bizantino e que formou a base do Novo Testamento Grego de Erasmo e da Versão Inglesa de 1611. Também se reconheceu que existem textos pré-bizantinos conservados em numerosos manuscritos posteriores, alguns dos quais datam do século nono ou mais tarde, quando a escrita chamada cursiva, havia suplantado a velha escrita uncial ou de maiúsculas.

Recentemente foram descobertos muitos manuscritos, que lançaram luz sobre as variações dos textos conhecidos. Mais fragmentários, ainda que em certo sentido de maior importância, são os papiros extraídos das areias do Egito durante o presente século. Em 1930, Chester Beatty adquiriu três fragmentos relativamente extensos dos Quatro Evangelhos, dos Atos, das Epístolas Paulinas e do Apocalipse, ao que parece copiada no terceiro século, ou seja, um século anterior ao Codex Sinaíticus e o Codex Vaticanus. A maior importância deste testemunho antigo, falando em termos gerais, não está nas poucas frases distintas que se encontram nele, se não na maneira em que se testifica de que existiam no Egito na primeira parte do terceiro século, não um, mas vários diferentes tipos de texto, cuja identidade já havia sido deduzida pelos intérpretes a partir de outras provas que estavam disponíveis.

Para a maioria das produções literárias da antiguidade, as únicas fontes disponíveis são os manuscritos, por isso, estamos em condições muito melhor no que se refere ao Novo Testamento, pois possuímos uma fonte secundária muito valiosa, as antigas versões. Devido a rápida extensão do cristianismo no segundo século, parte do Novo Testamento, especialmente os Evangelhos, foi traduzida para o latim, para o siríaco e mais tarde para os dialetos coptas do Egito. Se bem que às vezes não seja fácil saber exatamente qual era a palavra grega que foi traduzida, já que as versões nem sempre foram muito literais, a importância destas provas no estudo das variantes dos textos é muito grande. Os manuscritos existentes destas versões, no caso dos foram escritos dois ou três séculos depois da versão original, quando comparados, correspondem ao texto corrente nos segundo e terceiro séculos.

Assim, o texto do manuscrito latino Codex Bobiensis de Turim contém fragmentos de Mateus e Marcos e concorda quase totalmente com o texto que se encontra nos escritos dos Pais da Igreja, do norte da África, Tertuliano e Cipriano. Temos nele um texto tão antigo como o de qualquer um dos manuscritos gregos existentes. Do mesmo modo, o manuscrito siríaco do século quarto ou quinto, descoberto em 1892 no Monte Sinai, talvez seja a mais importante descoberta de todos os manuscritos do período moderno, contém porções do Evangelho e reflete um texto, se bem que em algumas partes não concorda com as classificações mais usadas, concorda em muito com a versão latina antiga e com as provas patrísticas do segundo século. Este manuscrito, junto com outro manuscrito fragmentário do século quarto, que contém uma versão siríaca antiga dos Evangelhos e que foi adquirida pelo Museu Britânico em 1842 e logo publicado por W. Cureton, é uma versão que era conhecida na época, primeiramente, com o nome de “Evangelho dos Separados”. Isto quer dizer que contém os quatro evangelhos publicados separadamente. O parecer da igreja de fala siríaca, que deste aquele tempo só conhecia uma “Harmonia dos Evangelhos” feita por Taciano, em meados do segundo século. Foi encontrada um pequeno fragmento desta obra em Dura, em 1920.

Uma revisão das versões latinas a luz dos antigos manuscritos gregos foi feita por São Jerônimo no ano de 382; e esta Vulgata, muitas vezes revisada, foi o Novo Testamento que a Igreja Ocidental leu durante mais de mil anos. Do mesmo modo, as versões siríacas mais antigas foram em grande parte desprezadas por uma versão revisada, feita no quinto século e é conhecida com o nome de versão Peshitta ou comum.

Ainda que as variantes que se encontram nestes diversos testemunhos do texto do Novo Testamento sejam numerosas, a maior parte delas são diferenças pequenas, que não afetam em absoluto o sentido geral. As outras são de enorme interesse e de importância considerável, e o desejo de descobrir o original, nestes casos, é o maior estímulo do crítico textual. Porém, pode-se dizer verdadeiramente, que em nenhum caso, as crenças essenciais da fé cristã foram desacreditadas pelos resultados da crítica textual. Pelo contrário, o descobrimento de novos manuscritos teve o efeito de acentuar, ainda mais, a integridade fundamental da tradição textual.

Sobre o autor: Catedrático do Novo Testamento da Universidade de Londres. O autor é conhecido no Brasil pelos seus comentários eruditos do Novo Testamento, publicados por Edições Vida Nova. Artigo originalmente publicado no suplemento dedicado a Bíblia no Jornal “The Times” de Londres. Julho de 1954.


Tradução livre: Pr. Isaias Lobão Pereira Júnior
Brasília – DF


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