Gerrit Cornelius Berkouwer

por

Tony Lane

 

 

Gerrit Cornelius Berkouwer nasceu na Holanda em 1903. Após estudar na Universidade Livre de Amsterdã tornou-se pastor na Gereformeer Kerk, a igreja reformada livre na Holanda. Em 1945 voltou a Universidade Livre como professor de dogma, onde continuou até sua aposentadoria.

G. C. Berkouwer é um autor prolífico. Em vez de escrever uma teologia sistemática, ele iniciou uma serie de quatorze estudos dogmáticos. Neste ele considera um tópico, tais como e Justificação ou Pecado , e discute-o, interagindo com o debate atual. Escreveu também varias obras sobre Karl Barth, sendo a mais importante O Triunfo da Graça na Teologia de Karl Barth (1954). Berkouwer tem sido influenciado por Barth durante os anos, mas continua crítico a alguns aspectos de sua teologia. Escreveu uma obra importante sobre O conflito com Roma em 1948. Baseado em seus escritos, Berkouwer foi convidado ao Segundo Concílio Vaticano com um observador oficial – o que levou ao seu segundo Concílio Vaticano e o novo Catolicismo (1964).

G. C. Berkouwer enfatiza que o propósito da teologia não é produzir um sistema logicamente coerente em beneficio dela mesma. A teologia deve sempre estabelecer relação com a Bíblia e as necessidades do púlpito:

A teologia é relativa à palavra de Deus. Esta relatividade é decisiva para o método e significado da teologia. Isto significa quer a teologia é ocupada num ouvir continuo, atento e obediente da palavra de Deus. E uma vez que ouvir, ao contrario de lembrar, é sempre uma coisa do momento presente, as questões teológicas devem ter relevâncias e oportunidade. A teologia não é um sistema complexo construído para seu próprio entretenimento por eruditos no tranqüilo retiro de torres de marfim. Ela deve ter significado para os momentos aflitos; mas pode alcançar sua relevância adequada apenas em atenciosidade obediente não para os tempos primeiro de tudo, mas para a palavra.

Fé e Justificação, capítulo 1

 

O mais controvertido dos escritos de Berkouwer é o seu Santas Escrituras, o original holandês do qual apareceu em dois volumes (1966). Em seus primeiros anos Berkouwer seguiu B. B. Warfield em sua doutrina das Escrituras. Mas nos anos seguintes a sua indicação como professor o fez mudar para uma posição menos conservadora, a qual ele explica em seu livro.

Berkouwer reconhece que a Bíblia é “inspirada por Deus” (2Tm 3.16) e isto “aponta para o ministério de seu ser cheio de verdade e fidedignidade”. Berkouwer não quer negar que a Bíblia é a palavra de Deus. Mas coloca ênfase maior sobre a humanidade das escrituras do que faz Warfield. A origem humana das escrituras não exclui o elemento humano. “A palavra de Deus não tem vindo a nós como um milagre estupendo que se afasta assustado de todo o vínculo com o humano para desta maneira ser verdadeiramente divino. Em vez disso, quando Deus fala, vozes humanas soam em nossos ouvidos”.

É importante que nós reconheçamos a humanidade das escrituras, diz Berkouwer. Há muitos fundamentalistas que colocam toda sua ênfase sobre a origem divina da Bíblia que negligenciam e quase negam seu caráter humano. Eles pensam que assim estão honrando a palavra de Deus, mas sua negligência de seu aspecto humano leva-os a interpretá-la mal e de fato abusar da palavra de Deus. É apenas quando nós reconhecemos o caráter humano da Bíblia interpretando cada passagem em seu cenário histórico, que nós vamos interpretá-la corretamente. Assim, ironicamente, aqueles que falam o Maximo sobre a autoridade da Bíblia (por causa de sua ênfase sobre a origem divina dela) têm freqüentemente manejado mal e deturpado sua mensagem (por causa de sua negligência do caráter humano histórico dela).

A ênfase de Berkouwer sobre a humanidade da Escritura não o impede de falar da “identidade” entre as palavras humanas e a fala de Deus. Mas as implicações do caráter humano da Bíblia devem ser consideradas seriamente. Os autores bíblicos parecem não saber mais do que seus contemporâneos sobre ciência. Eles escreveram em épocas particulares e se expressaram nos métodos da época. Não há tal coisa como mensagem “ininterminável” – nem mesmo na Bíblia. Mas isto não afeta a veracidade da Bíblia? A confiabilidade da Bíblia deve, diz Berkouwer, ser vista em termos de seu propósito, como descrito em 2 Timóteo 3.16-17: “... útil para ensinar a verdade, repreende o erro, corrigir falhas e dar instrução para um viver reto, de modo que a pessoa que serve a Deus possa ser plenamente qualificada e equipada para fazer todo o tipo de boa obra”.

O ensino de Berkouwer sobre a Bíblia é encontrado de forma resumida em Um Testemunho Anônimo de Fé, uma confissão de fé escrita por Berkouwer e Herman Ridderbos para o Sínodo Geral das Igrejas Reformadas nos Países Baixos, e recebido pelo sínodo em 1974. Deus tem se revelado a si mesmo na “história de Israel”, e também tem nos dado “através do serviço do homem, o testemunho de sua revelação nas Escrituras Sagradas... em um fundamento iniludível e inabalável para a igreja”. Ele deu seu Espírito aos escritores bíblicos de modo que “por sua palavra ele pudesse se comunicar, interpretar sua palavra de um modo claro, confiável, e autorizado e o colocasse por escrito para a igreja de todos os tempos”. Estes escritos “mantêm traços de sua humanidade em vários sentidos e nós podemos entender as Escrituras apenas pela devida consideração deles”. Estes sentidos incluem suas linguagens, as formas literárias usadas e as circunstâncias dos tempos nos quais foram escritos. A inspiração do Espírito Santo não remove todas as limitações humanas. Aqui nós devemos considerar o propósito pelo qual a Escritura é dada – “não para dar informação divina infalível concernente a todo o tipo de assuntos arbitrários, mas para nos fazer entender com Deus quer que o conheçamos corretamente e o temamos”. Isto quer dizer que nós podemos acolher com prazer com estudo erudito da Bíblia. Mas a humanidade da Escritura não significa que ela não é a palavra de Deus para nós. As escrituras falam a nós de tal maneira que elas são reconhecidas como sendo a palavra de Deus. Além disso, o próprio Jesus Cristo aceitou-as como a palavra de Deus. A igreja não tem outra base ou pauta para sua fé além das escrituras. “Nós não podemos verdadeiramente confessar nossa fé de nenhuma outra maneira de que não seja sujeição reverente a esta palavra, e a esta palavra somente”.

Nos últimos dez anos aproximadamente tem havido uma intensa controvérsia entre os evangélicos americanos sobre a confiabilidade das Escrituras. Uma minoria significante insiste que nós distingamos entre o que a Bíblia ensina e a que ela se refere. A Bíblia ensina apenas sobre assuntos de crença e prática, teologia e ética, e apenas “se refere” a assuntos de ciências, geografia etc, e nestas áreas ela não é necessariamente correta. Assim a Bíblia é infalível em seu ensino sobre teologia e ética. Contra esta opinião tem havido uma forte insistência sobre a “inerrância” da Escritura – que a Bíblia é verdadeira mesmo quando ela fala de ciência ou geografia. Esta posição tem às vezes sida afirmada de uma maneira extrema e imoderada. Uma declaração cuidadosa e equilibrada disto é encontrada na Declaração de Chicago sobre a Inerrância Bíblica, produzida em 1978 por 284 eruditos e pastores evangélicos. A inspiração, “embora não conferindo onisciência, garantiu verdadeira e fidedigna declaração sobre todos os assuntos dos quais os autores bíblicos foram movidos a falar e escrever”. A Escritura “é verdadeira e confiável em todos os assuntos a que se dirige”, de modo que “a Escritura em sua inteireza é inerrante, sendo livre de toda falsidade, fraude ou engano”.

Enquanto a própria Bíblia adverte contra intrometermos nas controvérsias de outras pessoas (Provérbios 26.17), uma questão tão importante não pode passar sem comentário.

Palavras como “infalibilidade” e “inerrância” não resolve o caso, já que aqueles que as usam imediatamente têm que qualifica-las para evitar mal-entendimento. Basicamente ela simplesmente significa que a Bíblia é verdadeira – e pode ser um termo mais útil para se usar. Não há necessidade de mais nada (como “inerrância”), mas uma explicação sóbria do que nós queremos dizer quando falamos que a Bíblia é verdadeira.

Muito freqüentemente questões de confiabilidade e questões de interpretação são confundidas como afirmar, por exemplo, que Gênesis 1 é verdadeiro não nos fala de si mesmo como literalmente ou de outro modo ele deve ser considerado. Suponha que ele não tenha sido escrito como um tratado científico, como teria sido considerado?

Falar de inerrância não deve nos levar a atribuir maior exatidão ao texto do que o autor pretendia. Para tomar um exemplo óbvio a inerrância estrita significaria que Jesus alimentou uma multidão de 5 mil homens exatamente, para o homem mais rápido (Marcos 6.44). Porém tal interpretação é rejeitada por Mateus 14.21: “...cerca de 5 mil homens”.

É errado proibir arbitrariamente a Bíblia de ensinar sobre geografia ou história. É certo afirmar que a Bíblia é verdadeira. Porém tal afirmação não deve ser usada para impor um grau de exatidão que nunca foi pretendido, para tomar o caminho mais curto em questão de interpretação ou para negar que a forma pela qual a mensagem bíblica chegou até nós é aquela de culturas particulares do passado.


Fonte: Adaptado de Tony Lane, Pensamento Cristão; vol. 2: da Reforma à modernidade (SP: Abba, 1999), pp. 101-105.

 

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