Ireneu (130–200)
por
E. Ferguson
Ireneu (por volta de 130 – por volta de 200) foi um Pai grego da igreja primitiva. Em sua juventude Ireneu foi instruído pelo grande Policarpo, bispo de Esmirna, discípulo do apóstolo João. Em sua maturidade ele foi bispo de Lião, na Gália (França). Ireneu (“pacífico”) procurou mediar entre as igrejas da Ásia Menor e Roma nas disputas Montanistas e Quartodecimanas [1].Dois dos seus tratados sobreviveram. A Demonstração (ou Prova) da Pregação Apostólica pode ter sido escrita para um propósito apologético ou catequético. Ele apresenta Cristo e o Cristianismo como o cumprimento da profecia do Antigo Testamento. A história da salvação é estruturada de acordo com os vários pactos de Deus com o homem.
Contra as Heresias (“Refutação ou Destruição do que é Falsamente Chamado Gnose”) é uma obra polêmica que se opõe ao Gnosticismo. Contra a interpretação mitológica da Escritura dos gnósticos, a associação da matéria com o mal e a escatologia espiritualizante, Ireneu propôs uma interpretação da Escritura de acordo com um sumário da pregação apostólica (a “regra da verdade”), as doutrinas bíblicas da criação, redenção, ressurreição e uma escatologia milenar.
A maior contribuição original de Ireneu para a teologia foi sua doutrina da recapitulação (recapitulatio). O Cristo plenamente divino se tornou plenamente homem para reunir toda a humanidade em Si mesmo. O que foi perdido através da desobediência do primeiro Adão foi restaurado através da obediência do segundo Adão. Cristo passou por todos os estágios da vida humana, resistiu toda tentação, morreu e levantou vitorioso sobre a morte e o diabo. A analogia com Adão foi estendida para incluir Maria como uma nova Eva. Os benefícios da vitória de Cristo estão disponíveis através da participação nEle.
Ireneu contribuiu para o desenvolvimento da organização eclesiástica da doutrina da sucessão apostólica. Os gnósticos reivindicavam uma tradição secreta à partir dos apóstolos. Ireneu argumentou que, se os apóstolos tivessem tido quaisquer segredos para transmitir, eles os teriam entregado àqueles homens apontados como bispos das igrejas. A sucessão passou de um ocupante da cadeira de ensino para o próximo em cada igreja, não de ordenado para ordenado. A natureza pública do ensino dado pelos bispos e a uniformidade desse ensino entre todas as igrejas, garantiu que essa era a genuína tradição apostólica. A igreja de Roma, como fundada por Paulo e Pedro e como refletindo todas as igrejas, teve um importante lugar nesse argumento.
Ireneu é o autor mais primitivo cujas obras sobreviveram para argüir à partir da Escritura como um todo: o Novo Testamento, assim como o Antigo Testamento e uma extensão de escritos do Novo Testamento, aproximando-se do cânon presente.
Nota do tradutor:[1] O Imperador Adriano, pelo ano 130 d.C., criou leis severas contra os judeus, e os cristãos foram induzidos por seus líderes em Roma, a capital do Império, a abandonarem a data da Páscoa que celebravam na mesma data dos judeus, o 14 de Nisã do calendário israelita. Criou-se, assim, o “domingo de Páscoa”, mas nem todos aceitaram isso, dando-se o que ficou conhecido como “Controvérsia Quartodecimana” em que milhões de cristãos orientais foram excomungados pelo bispo de Roma, Vitor.
Bibliografia: V. Ammundsen, “The Rule of Truth in Irenaeus,” JTS 13:574–580; F. R. M. Hitchcock, Irenaeus of Lugdunum; J. Lawson, The Biblical Theology of Saint Irenaeus; E. Molland, “Irenaeus of Lugdunum and the Apostolic
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 11 de Agosto de 2005.
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