Cinco Pecados que Ameaçam os Calvinistas

por

Solano Portela

 

Introdução

O Que é Calvinismo?


Quando nós nos referimos a calvinismo, estamos falando daquela compreensão da mensagem das Escrituras Sagradas que conclui que Deus é soberano sobre todas as coisas. (1)

A Palavra de Deus foi habilmente estudada e assim exposta por João Calvino, seguindo as pegadas de Agostinho e do apóstolo Paulo. Nos escritos de Calvino temos não novas doutrinas, mas o ensino cristalino, procedente da Bíblia, de várias doutrinas da fé cristã que refletem essa soberania de Deus em todos os aspectos da nossa vida. Esta compreensão tem sido às vezes rotulada de As Doutrinas da Graça e resumida nos conhecidos Cinco Pontos do Calvinismo. (2)

Ela esteve presente nos escritos e ensinamentos dos grandes expoentes da Reforma do Século XVI, e é encontrada nas históricas confissões do período, inclusive na Confissão de Fé de Westminster, adotada pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Aqueles que aceitam que a Bíblia apresenta com essa perspectiva a pessoa de Deus, e as limitações conseqüentes do homem, têm sido chamados de calvinistas, entre os quais nos incluímos.

Esclarecimentos Sobre o Tema

Alguns podem pensar que vamos lidar com “Os Cinco Pecados do Calvinismo”. Apesar dessa idéia possivelmente trazer entusiástica reação de aprovação da parte de certos setores da igreja, quero esclarecer que não estaremos tratando dos “Pecados do Calvinismo” nem iremos escrever contra o calvinismo. Nossa preocupação é com os pecados que ameaçam os calvinistas. Esses, vale esclarecer, não são pecados que caracterizam os calvinistas. Eles podem ser encontrados em muitos campos de persuasão cristã e, nesse sentido, o alerta é generalizado. Nossa preocupação é, entretanto, a de que os calvinistas não se considerem imunes a esses perigos pois os pecados que vamos mencionar também representam séria ameaça ao seu testemunho como cristãos eficazes na Igreja de Deus.

É importante ressaltar, em adição, que o nosso tema não é “Os Cinco Pecados que Ameaçam os Calvinistas”. Infelizmente existem mais de cinco pecados que nos ameaçam, mas, com a graça de Deus, vamos abordar apenas cinco destes e não todos eles. As pessoas que compartilham uma apreciação pelo calvinismo representam um solo fértil a esse estudo, o qual procede de um intenso desejo de que, como calvinistas, sejamos conhecidos tanto pelas nossas firmes convicções como pela ampla demonstração do Fruto do Espírito em nossas vidas.

Pecados que Não Abordaremos

O Intelectualismo Estéril

A nossa tentativa é a de dar um passo além de alertar aos perigos do intelectualismo estéril. Parece-nos que muitos avisos já foram soados a este respeito. Registro, como exemplo, um artigo na revista Banner of Truth no qual W. J. Seaton diz:

Nosso sistema educacional está próximo de educar pessoas acima de sua inteligência e nossa igrejas reformadas devem ter cuidado para não produzir novas gerações educadas teologicamente acima do nível de sua espiritualidade… Podemos ter uma geração que abraça o status da fé reformada mas que nunca se acha confrontada com o estigma de ser merecedora das chamas do inferno, salva apenas pelo exercício da livre graça de Deus, tão claramente expostas pelo calvinismo.(3)

Esse é o alerta contra o intelectualismo estéril que, em algumas ocasiões, encontramos em nosso meio. Devemos ter pleno convencimento que não existe aquilo que é chamado de ortodoxia morta, pois ela é nada mais, nada menos, do que heterodoxia viva. Que Deus nos preserve de retirar a vida de sua mensagem e ensinamentos.

Pecados relacionados com caráter pessoal

Não vamos, em adição, tratar de pecados ou atitudes pessoais, como: avareza, egoísmo, maledicência e outras situações pecaminosas, das quais oramos para que Deus nos livre sempre. Nossa proposição, portanto, é a de examinar alguns pecados adicionais que, corporativamente, podem estar rondando os calvinistas e que podem prejudicar tanto a nossa vida espiritual, quanto a de outros. Geralmente estes pecados ocorrem a partir de distorções de nossas próprias e corretas persuasões. É Satanás, utilizando a alavancagem dessas convicções, procurando confundir os nossos corações, objetivando levar a ruína, de uma forma toda especial, a fé reformada que tanto desejamos propagar e vê-la aceita.

1. O pecado do Orgulho Espiritual

Definindo Orgulho Espiritual

O primeiro pecado que procuraremos examinar é o pecado do orgulho espiritual. Poderíamos definir o orgulho espiritual como sendo uma atitude de desprezo aos outros irmãos. Seria abrigar a sensação de se achar possuidor de uma visão superior. Seria o desenvolvimento de uma atitude de rejeição do aprendizado, contrária à humildade que Deus requer dos seus servos. Seria achar que se é conhecedor de uma faceta de compreensão que os demais irmãos ainda não alcançaram.

A Tendência de se Criar uma Hierarquia dos Salvos

A natureza humana pecadora carrega para o seio da comunidade cristã o orgulho espiritual sob diversas formas. Uma tendência sempre latente na Igreja através da história foi a de subdividir a dicotomia estabelecida pela Bíblia, na divisão das pessoas. Com relação ao posicionamento perante o criador, todos estão subdivididos em salvos ou perdidos; crentes ou descrentes; os que receberam a fé por dom de Deus ou aqueles sem fé que se encontram no caminho da perdição.

Ocorrências ao Longo da História da Igreja

O renitente orgulho espiritual tem gerado muitos movimentos dentro da Igreja que acrescentam uma terceira categoria de pessoas, no que diz respeito ao status espiritual dos homens perante Deus: os sobrenaturalmente agraciados com um fenômeno fora do comum, que difere e está além do ato soberano de Deus da salvação.

Se fizermos uma rápida viagem ao longo da história da igreja, veremos que estamos confrontando uma das mais sérias demonstrações da natureza humana caída e que Satanás sutilmente traz, em ondas intermitentes, ao seio da igreja para perturbar o relacionamento dos fiéis.

Os Gnósticos e o Orgulho Espiritual na Igreja Neotestamentária

Mesmo no início de sua história neotestamentária, a Igreja experimentou uma “cristianização” da heresia secular gnóstica, que afirmava certos patamares de conhecimento serem misteriosamente propriedade de uns poucos. Esses protognósticos “cristãos” do primeiro século cresceram e tornaram-se uma força destrutiva dentro das igrejas.

No segundo século da era cristã o movimento gnóstico já havia atingido “grandes proporções”.(4) Os gnósticos dividiam os crentes entre os que possuíam conhecimento espiritual apenas rudimentar e aqueles que possuíam o verdadeiro conhecimento (gnosis), velado aos demais. Encontramos presente a tríplice divisão: (1) os descrentes, (2) os crentes rudimentares e (3) os crentes iluminados.

Os Alegoristas e o Orgulho Espiritual

No terceiro século os alegoristas dividiram os crentes entre aqueles que entendiam o sentido mais espiritual e profundo das passagens e aqueles que não conseguiam penetrar além do significado literal do texto. Orígenes, grande expoente da Escola de Alexandria, mas um dos proponentes do alegorismo, ensinava, na realidade, que a Palavra de Deus possuía três sentidos: (1) o sentido comum, histórico—inteligível aos de mente simples; (2) o sentido espiritual—que se constituía na alma das Escrituras; e (3) o sentido perfeito—que representava um sentido espiritual mais profundo, possível de ser expresso somente por meio de alegorias. Mais uma vez uma subdivisão estranha ao conceito bíblico do estado espiritual das pessoas, é introduzida no ensinamento das igrejas, refletindo o desenvolvimento de orgulho espiritual.

Os Quakers e o Orgulho Espiritual

Na época dos puritanos tivemos o surgimento dos Quakers que declaravam-se possuidores de uma experiência fora do normal com o Espírito Santo. Uma constante, em suas pregações, era a procura pela “inner light” – luz interior, que declararia a perfeita vontade do Espírito a cada um na qual brilhasse. Com sua diferenciação dos “crentes comuns” eles representaram um novo surgimento da tão prejudicial divisão tríplice, evidência de orgulho espiritual.

A idéia do Crente Carnal e o Orgulho Espiritual

Pulando para época mais recente, até dentro do campo evangélico conservador fundamentalista, mesmo quando este ainda não havia se tornado quase todo pentecostal, foi gerada uma nova e superior categoria de crentes–o crente espiritual. Este seria aquele que deu o segundo passo de aceitação. Já havia aceito a Cristo como Salvador, mas, em um segundo passo e em uma segunda experiência, o aceita como Senhor. Essa aceitação do senhorio de Cristo faz com que ele se dissocie do crente carnal. Crentes carnais seriam aqueles que permanecem em um estágio inferior e primitivo de espiritualidade mantendo um comportamento virtualmente similar ao do descrente. Temos, novamente, o ensinamento da existência de três categorias de pessoas: os descrentes, os crentes carnais e os crentes espirituais.

As Experiências Pentecostais e o Orgulho Espiritual

O pentecostalismo, abrigou e renovou esta tendência dentro da igreja, dando-lhe novos rótulos, mas postulando uma hierarquia dos salvos estranha à Palavra de Deus. Ele trouxe à cena evangélica o inusitado e o extraordinário como sendo não apenas parte da realidade existencial, histórica e religiosa da Igreja, mas como objeto de anelo e desejo na vida individual de cada crente. Os ensinamentos do pentecostalismo deixaram a expectativa de que sem estas experiências algo estaria a faltar na vida do cristão. Era necessário se atingir um patamar superior, obter-se uma segunda bênção, elevar-se acima do nível do crente comum. Gerou-se assim uma hierarquia de crentes: os batizados vs. os não-batizados pelo Espírito Santo, ou, utilizando uma outra terminologia: os recebedores vs. os “ainda-carentes-de-uma-segunda-bênção”.

A questão da Cura Divina e o Orgulho Espiritual

A questão da cura divina, trazida pelo pentecostalismo, segue linhas paralelas semelhantes. Ela coloca os crentes em uma escala hierárquica, qualificando o seu cristianismo, fazendo uma divisão entre os que já atingiram um patamar de fé que é suficiente a torná-los recebedores de curas milagrosas vs. aqueles cuja fé é insuficiente ao recebimento destas bênçãos. Tais experiências estariam reservadas aos mais aquinhoados espiritualmente. Via de regra, formamos uma casta de orgulhosos espirituais que vivem a propagar as graças “alcançadas”, em função da sua fé.

O Perigo do “gnosticismo reformado”

Com tantas recaídas, de segmentos diversos da igreja cristã, no mesmo problema, o meu ponto é que nós calvinistas precisamos nos guardar para não seguirmos esta trilha tão repisada na história da igreja. Não podemos nos considerar imunes ao desenvolvimento de uma atitude de que “nós reformados” somos os iluminados, únicos entendedores das verdades divinas que se encontram veladas à grande parte dos crentes comuns, a não ser que recebam a explicação lógica e incontestável de nossa parte. Muitos calvinistas têm se deixado levar pela síndrome da descoberta da pólvora, passando a demonstrar o mais evidente orgulho espiritual, no relacionamento com os irmãos, prejudicando o testemunho da fé reformada.

Um Exemplo de Como o Orgulho Pode Tomar Conta de Nós

Vou citar o que me disse um grande amigo meu, e não gostaria que entendesse que eu o estou acusando de orgulho espiritual. Faço a citação apenas como exemplo de como devemos nos guardar, porque às vezes imperceptivelmente, estamos nos colocando, como calvinistas, numa casta especial de iluminados, cujo resultado será o desenvolvimento desse tão perigoso orgulho espiritual do qual devemos fugir. Após haver lido extensivamente vários trabalhos sobre justificação e de ter ouvido uma brilhante exposição desta doutrina, dentro da perspectiva bíblica/reformada, ele me disse: “Estou impressionado e chegando à conclusão de que ninguém sabe na realidade o que é a justificação…” Continuando, disse: “o nosso povo não tem a mínima idéia do que significa ser justificado.”

Notem que essas palavras foram ditas não com orgulho, mas com humildade e profunda admiração pelo trabalho de Cristo, mas quero chamar atenção para o fato de que essa apreensão doutrinária, e até essa apreciação das doutrinas da graça, traz em si a semente latente e destruidora que pode germinar, sem muito esforço, em orgulho espiritual. Minha resposta, na ocasião, foi: “Sabem, meu irmão, elas sabem sim. Se uma pessoa foi realmente resgatada pelo precioso sangue de Cristo ela sabe experimentalmente o que é justificação”.

A Experiência da Graça de Deus

Não estou colocando experiência acima da revelação escriturada, mas estou fazendo uma distinção entre saber o que é, e saber realizar uma exposição lógica, sistemática e detalhada de uma doutrina. Não podemos nunca cair no engano de que a ignorância espiritual é algo que será arraigado pela visão que temos da soberania de Deus. Não podemos nunca menosprezar a simplicidade dos crentes comuns, resgatados que foram por Cristo Jesus, pelo Deus soberano que todos amamos, predestinados desde a fundação do século, separados para a glória do Deus todo poderoso. Eles sabem o que é justificação, mesmo que nunca tenham ouvido falar de Lutero e Calvino, mesmo que não consigam dizer os cinco pontos do calvinismo, mesmo que não consigam explicar o que é justificação. O Deus poderoso que salva, o faz soberanamente, não dependendo da perspicácia, lógica ou inteligência do escolhido.

O Exemplo do Cego de Jericó

Temos que nos mirar no exemplo do cego curado por Jesus, em João 9. Ele não sabia muitas coisas. Havia discernido autoridade, nas palavras de Jesus, por isso fez o que ele mandou e o classificou como “profeta” (v. 17). Não sabia, entretanto, a razão da sua cura. Não sabia a procedência ou o destino do soberano que o curara (Vs. 12 e 25). Além do lodo com o qual havia sido untado, não sabia, obviamente, explicar como fora curado (vs. 11 e 27). Uma coisa porém ele sabia e isso lhe era suficiente naquela ocasião: “uma cousa sei, eu era cego e agora vejo”.

Razões Para Nossa Ampla Comunhão

Por que podemos ter comunhão genuína com aqueles que não são calvinistas? Porque se verdadeiramente salvos, somos irmãos, filhos do mesmo Deus soberano. Porque apesar das inconsistências verificadas nas suas formulações teológicas, por mais que digam que a salvação foi fruto do pretenso “livre arbítrio” do homem; por mais que, em seus discursos, venham a inferir uma subordinação das ações de Deus a este “livre arbítrio”, quando se põem de joelhos e oram, oram a um Deus soberano que tudo pode, a um Deus que é tudo e oram a ele reconhecendo que nada são.

Incoerências Humanas

Temos que reconhecer que nós mesmos, como seres humanos falíveis, nunca somos totalmente coerentes com nossas premissas. Querem um exemplo? Sabemos da importância do Dia do Senhor, do domingo. Temos a convicção que neste dia devemos nos reunir e adorarmos o nosso Deus. A maioria de nós, aqui, nunca pensaria esquecer o nosso culto dominical para nos envolvermos em, vamos dizer, uma partida de futebol. Entretanto muitos de nós torcemos bastante por este ou aquele clube de futebol. Secretamente apoiamos tanto o divertimento quanto o ganha-pão naquele dia, ou pelo menos fechamos os olhos e estabelecemos um duplo padrão de comportamento: um para nós e para os nossos filhos e outro, desculpável, para aqueles por quem nós torcemos. Chegamos até a inventar uma categoria de cristãos, “os atletas de Cristo”, que sacramentaliza, cristianiza e justifica a atividade no domingo. Isto é: peça a nossa opinião e condenaremos o esporte dominical. Observe a nossa prática e condescendência e verificará uma aceitação tácita dos esportes praticados no Dia do Senhor. O que é isso? Incoerência humana, para sermos bem gentis, e Deus nos agüenta!

Por acaso achamos que poderemos encontrar total coerência entre o discurso e a prática nos demais cristãos? Digo isso apenas para reforçar que é bastante provável que venhamos a encontrar a fé genuína reformada em pessoas, mesmo quando o discurso externo estiver um pouco incoerente com a nossa fé reformada. Nunca devemos ser orgulhosos e menosprezadores daqueles que constituem a verdadeira igreja de Cristo, pela qual ele deu o seu sangue. Conclamando calvinistas a ter um comportamento cordato e humilde, o Rev. Ian Hamilton, da Escócia, disse: “A graça de Deus deveria adoçar nossas discordâncias. Existe um grande perigo de absolutizar a nossa forma de fazer as coisas. Devemos nos apegar àqueles que se apegam a Cristo”. (5)

O Amor que Aniquila o Orgulho

O apóstolo Pedro, escrevendo em sua primeira carta (1.22 e 23) nos fala do amor cristão que aniquila o orgulho. Neste trecho lemos: Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros, ardentemente, pois fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.

A base deste amor é a regeneração comum (v. 23) que todos os cristãos têm em Cristo Jesus. Ele é também o nossos exemplo, pois no verso 17 lemos que ele julga “sem acepção de pessoas”, isto é, com equidade de tratamento. O amor comissionado no versículo 22 possui três características:
· É questão de obediência (“obediência à verdade”),
· Tem que ser sincero (“não fingido”) e
· Tem que ser intenso (“ardentemente”)

Tendo sido regenerados pelo Deus vivo e pela Palavra viva, de nada podemos nos orgulhar, nem mesmo da nossa compreensão de Deus e de Sua majestade, pois só dele procede a iluminação para o entendimento das verdades espirituais e ele deseja que sejamos caridosos e pacientes na instrução da Sua Palavra. Que Ele nos livre do pecado do orgulho espiritual.


2. O Pecado da Intolerância Fraternal


O Pós-modernismo e a Tolerância

Uma das características do pós-modernismo é a excessiva tolerância impingida a todas as opiniões, ou o que poderíamos chamar de relativização das verdades. Como brilhantemente já expôs o Dr. Héber Carlos de Campos,(6) o pós-modernismo caracteriza-se pelo pluralismo de idéias e pela premissa que nenhuma verdade é a “verdade verdadeira” e que temos que ser tolerantes, ou politicamente corretos, com todos os pontos de vista. Como calvinistas acreditamos estarmos firmados na verdade, não em uma verdade sujeita à compreensão subjetiva de cada um. Essa verdade é proposicional, objetiva, não-contraditória e inquestionável pois procede de revelação da parte de Deus ao homem, representada pelas inerrantes Escrituras Sagradas - a Bíblia.

Pode parecer estranho, conseqüentemente, que estejamos classificando intolerância como pecado, quando nossa própria compreensão das verdades bíblicas nos impele em direção contrária ao pós-modernismo, exigindo a nossa intolerância. Devemos fazer uma diferenciação, entretanto, entre tolerância externa e a tolerância na fé, ou fraternal (entre irmãos da mesma fé). Nesse sentido, o próprio Heber Campos declara: “Devemos ser politicamente corretos quando a verdade não está em jogo”. (7)

Intolerância vs. Intransigência

Nesse sentido, por uma questão de clareza, gostaria de propor que diferenciássemos as duas situações distintas, chamando a intolerância externa de intransigência. Assim, consideradas e verificadas a aceitação de certas verdades bíblicas, básicas e comuns, devemos ser tolerantes, mantendo, simultaneamente, a intransigência (intolerância externa).

Um dos grandes problemas que confrontamos é o de confundir intolerância com intransigência. Em muitas ocasiões somos intolerantes e chegamos a nos orgulhar disso, como se fosse uma marca necessária às nossas convicções teológicas. Definindo mais detalhadamente, intolerância fraternal, a atitude que não deveríamos ter, o pecado que deveríamos evitar, é:
· Falta de amor no trato com os nosso irmãos;
· Falta de discernimento das questões prioritárias, do que é mais importante em nossa fé cristã.

O ensino de Paulo Sobre Tolerância Fraternal

Em Colossenses 3.12-16 temos ensinamento do apóstolo Paulo sobre a necessidade de demonstração de tolerância fraternal. Diz-nos o texto:

12. Revestí-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade,
13. suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também.
14. E, sobre tudo isto, revestí-vos do amor, que é o vínculo da perfeição.
15. E a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos.
16. A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.

A orientação de Paulo é precisa e inquestionável. Da mesma forma com que fomos perdoados e recebidos em extrema graça e tolerância, por nosso Senhor Jesus Cristo, assim também, seguindo o Seu exemplo, devemos desenvolver semelhante atitude e testemunho para com os nossos irmãos (v. 13). O sentimento que deve ser notado pelos circunstantes, é o amor, o qual, ele nos comissiona, deve ser nossa vestimenta (“revesti-vos” – v. 14). Esse estilo de vida é compatível e conduz à paz de Cristo (v. 15), gerando harmonia e ações de graças. Notem que, realisticamente, Paulo constata a possibilidade de diferenças de opiniões, situação em que é própria e cabível o ensino e a admoestação (v. 16). Tais diferenças devem ser tratadas com a palavra de Cristo, que deve habitar em nossos corações, resultando em amplo louvor ao nome de Deus.

Detalhando o Conceito de Intransigência

Não obstante, as advertências acima, existe campo para a intransigência que não é pecado. Dentro da definição que propusemos, intransigência seria, então:
· zelo pela verdade
· compreensão das doutrinas prioritárias da Palavra de Deus
Intransigência é o contrário de transigir, ou seja ultrapassar os limites; quebrar as regras recebidas. Nesse sentido, intransigência deve ser característica de cada calvinista, de cada crente convicto das verdades bíblicas. Ele não pode abrir mão das doutrinas claras, declaradas na Palavra de Deus. Ele não pode ultrapassar os limites traçados por Deus.

O Ensino de Paulo sobre Intransigência

Um exemplo dessa atitude, que é correta e própria, é encontrado na pessoa de Paulo, conforme sua inspirada declaração, em Gálatas (1.6-10). Nesse trecho Paulo fala de crentes “não tão quentes” que estão desenvolvendo um ministério paralelo ao seu, indo de igreja em igreja, pregando. A reação de Paulo é bastante diferente daquela expressa na carta aos Filipenses 1.12-18, onde foi bastante benevolente e tolerante. Os dez primeiros versos da carta aos Gálatas dizem o seguinte:

1. Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por intermédio de homem algum, mas sim por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos),
2. e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia:
3. Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo,
4. o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,
5. a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.
6. Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho,
7. o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
8. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.
9. Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.
10. Porventura procuro eu agora o favor de homens, ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.

Nos versículos 1 a 5, Paulo fez a sua apresentação, indicando a sua autoridade apostólica, demonstrando que ela vem de Deus e não de homens. A carta foi primariamente dirigida à Igreja da Galácia, mas teve ampla circulação entre as demais igrejas. Paulo dá glória a Deus e indica que Jesus Cristo se deu por nós para nos livrar das maldades desta era, passando a tratar de um problema que estava surgindo naquela igreja: a aceitação de um evangelho adulterado.

No v. 6 ele mostra uma profunda perturbação interna – "estou assombrado", diz, demonstrando grande admiração que os membros daquela igreja estivessem mudando rapidamente de convicções. A afeição e a lealdade estava sendo colocada em outra doutrina, pois estavam dando ouvidos a "alguns" (v. 7) que perturbavam e queriam perverter o evangelho de Cristo. Pregavam um outro evangelho (grego: heteros-- distinção com o outro, do verso seguinte, que é allos. Aqui, heteros = ouk allo, ou seja diferente, “não outro”). Paulo referia-se, sem dúvida, aos judaizantes que pretendiam adicionar algumas coisas "palpáveis, visíveis", à simples pregação do evangelho. Quem sabe eles diziam que era apenas uma questão de método? Talvez fosse muito mais atraente, desse mais substância, ou talvez até, mais emoção ao evangelho. Estas pessoas se apresentavam com autoridade e se propunham a declarar o método de salvação. Paulo mantém a designação "evangelho" porque era apresentado como tal, mas na realidade, diz ele, não é evangelho nenhum (sistema diferente, mensagem diferente, doutrina diferente)!

No v. 8, Paulo dirige-se ao fundo do seu extenso vocabulário grego para classificar estas pessoas e lança uma fortíssima condenação. Independentemente de quem quer que seja: estas pessoas, ele próprio, ou até um anjo do céu—se vier trazer um evangelho que vá além (note que não era necessariamente diferente na aparência, mas com algumas coisas adicionadas) daquele que eles tinham previamente ouvido da parte dele, tal pessoa deveria ser considerada anátema (isto é: amaldiçoado). Estas palavras contêm uma terrível responsabilidade a nós que fomos comissionados a pregar e a transmitir as verdades de Deus.

Para que não pairasse qualquer dúvida sobre o seu zelo, sobre sua posição, ele repete mais uma vez as mesmas palavras, no versículo 9. Não quer ser mal-entendido, não quer deixar "passar em branco", não quer parecer precipitado - é um pensamento depurado e destilado sob o fogo do zelo e sob o direcionamento sobrenatural do Espírito Santo.

Podemos negligenciar o aviso contido e pensar que Paulo se referia somente à sua situação específica. Afinal, não temos mais judaizantes em nosso meio! Muitos de nós chegam a fazer, corretamente, a aplicação destas palavras à pregação da Igreja Católica Romana, com suas adições e condições anexadas à Graça salvadora de Cristo. Isto não basta, temos que analisar o que está acontecendo no campo chamado "evangélico". Tristemente iremos, em muitas ocasiões, encontrar a proclamação de "outro" evangelho.

Paulo poderia ter particularizado a questão, especificado quem ele combatia, mas quis o Espírito Santo, em sua soberania, deixar a colocação de forma genérica, de tal modo que o princípio fosse enfatizado — não podemos mexer com o cerne do evangelho.

Nesse sentido, devemos ser intransigentes porque, no versículo 11, ele coloca: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Eis a razão de Paulo para ter esta convicção: o evangelho não é doutrina de homens, mas sim revelação de Jesus Cristo. Ele contraria a perspicácia, os desejos e as motivações carnais do homem. Temos que ter a coragem de "remar contra a maré" e proclamar o puro Evangelho de Cristo, sendo intransigentes nisso.

Uma Demonstração de Tolerância, na Vida de Paulo

Na epístola aos Filipenses (1.12-18), Paulo mostrou-se bastante tolerante com relação àqueles que pregavam a Cristo até com o motivo errado, mas sem adulterar o conteúdo da mensagem. Não é que ele recomende a falta de sinceridade ou os motivos errados dos que se aproveitavam de suas cadeias para pregar, mas ele é surpreendentemente tolerante. No entanto, não há nenhuma menção, no trecho, de que houvesse distorção no conteúdo da mensagem. Paulo sabia analisar os detalhes, discernir as prioridades e se concentrar nas questões cruciais da fé cristã. Ele não temia ser conhecido e caracterizado por sua intransigência, quando o cerne do evangelho estava sendo adulterado. Entretanto, ele não queria ser classificado de intolerante, se este perigo estava ausente. Ele não queria ser “do contra” contra tudo, mas sim contra o que se merecia ser contra. A tolerância tem que ser uma atitude sempre presente em nossa vida para com aqueles irmãos com os quais temos algumas diferenças. A nossa intransigência deve se conter àquelas coisas que estão perturbando os pontos fundamentais do evangelho, mas a caridade cristã, o amor de Cristo, deve ser refletido em nossas atitudes, derramando-se sobre todos aqueles que foram resgatados pelo preciosos sangue de Cristo.

John Owen e Tolerância

Um dos maiores teólogos e expositores da Palavra de Deus que já existiu, o puritano John Owen (1616-1683), viveu em uma era retratada por muitos como uma época de intolerância. Owen era realmente intransigente, com relação às doutrinas cardeais do evangelho, mas, surpreendentemente, ele era extremamente tolerante com aqueles que não compartilhavam a sua interpretação da Palavra de Deus. Naquela ocasião ele era conselheiro de governantes e respeitado por esses. Não seria inusitado, para a época, valer-se de sua posição de influência para promover expurgos e perseguições religiosas. Muitos assim o fizeram. Owen, entretanto, proferiu vários sermões e escritos defendendo a tolerância e o tratamento amoroso da falta de entendimento de muitos.

Poderíamos dizer que Owen teve esta coragem de “remar contra a maré” da sua época, defendendo um tratamento meramente eclesiástico das questões religiosas, consciente de que o Senhor era o legítimo proprietário das consciências, a quem os homens haveriam de prestar contas por suas persuasões e convicções.

Em um de seus sermões ele retrata bem a intransigência de Paulo, quando declara: “Algumas coisas, na realidade, estão tão claramente estabelecidas nas escrituras e tão bem determinadas, que não é possível questioná-las ou negá-las”.(8) Owen continua, entretanto, e se posiciona em defesa da tolerância, refletindo uma atitude que, comparada com a nossa intolerância contumaz, deveria nos envergonhar, tamanha é a sua sensibilidade. Escreve ele:

…mas, geralmente, erros ocorrem em coisas de difícil compreensão, que não são tão claras e evidentes… Com relação a tais, é muito difícil classificá-las de heresias. A sensibilidade de nossos próprios males, falhas, incompreensões, escuridão e o nosso conhecimento parcial, deveria operar em nós uma opinião caridosa para com as pobres criaturas que, encontrando-se em erro, assim estão com os corações sinceros e retos, com postura semelhante aos que estão com a verdade. (9)

Em 1648 Owen pregou um extenso sermão no Parlamento Britânico, na Câmara dos Comuns, intitulado “Sobre Tolerância”, no qual defendeu, mais uma vez a demonstração do amor cristão e a não-intervenção dos poderes governamentais nas diferenças de opiniões eclesiásticas. (10)

A Tolerância de Cristo

O grande exemplo de tolerância, nos é fornecido pelo próprio Cristo. Em Mateus 20.20-28 lemos sobre o incidente onde Jesus recebe o pedido da mulher de Zebedeu, para que seus filhos (Tiago e João) tivessem lugar de proeminência no reino que Ele havia acabado de anunciar. Possivelmente possuída de um conceito errado sobre a natureza desse reino e pleiteando cargos de importância política, ela funda a instituição do “lobby governamental”. Com essa atitude, ela demonstra uma ampla falta de percepção espiritual, mas essa falha não era só dela. Seus filhos parecem apoiá-la e participar ativamente do pedido. Em sua resposta, Jesus diz que eles estão “por fora”, ou seja, “não sabem o que pedem”.

Depois de estarem por tanto tempo tão próximos a Jesus, ouvindo os Seus ensinamentos, podemos até pensar, como é que eles erraram o alvo dessa maneira? Como é possível que não se aperceberam da natureza espiritual do reino e da postura de servos que deveriam ter? Mas a situação é mais grave ainda, porque os outros dez, passaram a demonstrar igual atitude de inveja e ira, com relação àquele pedido inoportuno. Se eles estivessem imbuídos da atitude de servos, conscientes de que deveriam, cada um, “considerar os outros maiores do que a si mesmo”, certamente teriam dito a Jesus – “realmente, eles parecem ser bem qualificados para terem um lugar de importância no reino! Não nos importamos se eles forem nomeados”. Mas não, eles estavam, com certeza, pensando: “Por que eles, e não nós?” Repentinamente, depois de tantos ensinamentos, Jesus viu todos os Seus auxiliares imediatos, os homens com os quais deixaria a Sua igreja, envolvidos em uma disputa rasteira sobre cargos e influência pessoal… Como Ele deve ter se entristecido. Qual foi sua reação?

Registra o texto que Jesus, pacientemente, chamou a todos ao lado e passou a ensinar-lhes, mais uma vez, a natureza do Seu reinado espiritual, a verdadeira missão que lhes seria confiada. Que demonstração de amor e de tolerância com a falta de entendimento daqueles irmãos. Que exemplo de paciência, para nós, e que incentivo para que sejamos mais tolerantes e caridosos com os nossos irmãos. Que Deus nos livre do pecado da intolerância.

3. O Pecado da Acomodação no Aprendizado


Definindo a Acomodação

Acomodação no aprendizado, é quando atingimos um ponto no qual achamos que já dominamos todas as verdades, ou seus aspectos principais, e paramos de nos empenhar no estudo da palavra. Ficamos repisando as mesmas verdades desprezando a riqueza de conhecimento que nos espera na Palavra de Deus.

O Jovem – Presa Fácil desse Pecado.

Com freqüência encontramos a ocorrência desse pecado nos jovens que foram expostos e convencidos das realidades das Doutrinas da Graça. Após devorarem alguns livros, após aprenderem a formular e a discutir os “cinco pontos”, estacionam por aí. Acham, entretanto, que já dominaram tudo o que se pode saber, dedicando-se a grandes e extensas discussões, como se mestres fossem.

O Alerta aos Seminaristas

Em 04.10.1911, o grande teólogo norte-americano, Benjamin Breckinridge Warfield, foi comissionado a apresentar uma palestra no Princeton Theological Seminary sobre o tema: “A Vida Religiosa do Estudante de Teologia”. Para surpresa de alguns, ele falou pouco, inicialmente, sobre a parte devocional da vida de cada estudante, mas colocou extrema ênfase na necessidade do estudo. Disse ele: “…antes de ser erudito o ministro deve ser devotado a Deus, mas o mais grave erro é colocar estas coisas em contradição”. Continua ele: “…existe alguma coisa fundamentalmente errada na vida do estudante de teologia que não estuda”.(11)

É interessante notar como Warfield identifica a vida cristã espiritualmente rasa. Em sua correta visão ela é evidenciada pelo desprezo ao estudo, pela acomodação no aprendizado.

Os Alertas de Provérbios

O livro de Provérbios apresenta inúmeras exortações com relação à importância da sabedoria e, conseqüentemente, à dedicação ao estudo e ao aprendizado. Dois versos parecem retratar a nossa observação, de pessoas que se esmeram nas discussões com pouca profundidade de conhecimento. O primeiro é Provérbios 18.12, que diz: “O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior”. Se estivermos com grande vontade de externarmos o nosso interior, vamos parar um pouco para meditação: muitas vezes, estamos mesmo é precisando de continuado aprendizado e instrução. O segundo verso é Provérbios 19.27, onde lemos: “Filho meu, se deixas de ouvir a instrução, desviar-te-ás das palavras do conhecimento”. O escritor inspirado do provérbio, pressupõe que o conhecimento foi apreendido e existe na vida do leitor (“filho meu”), mas ele soa um alerta para que não haja acomodação no aprendizado. O ouvir a instrução é uma ação contínua que nos preservará dos desvios do conhecimento.

Com certeza, não podemos nunca deixar que este pecado encontre guarida em nossa vida e nem que venhamos a nos acomodar sem meditação e sem estudo e conhecimento das verdades de Deus.

Pedro Fala aos Calvinistas

Em sua segunda carta (2 Pedro 1.3-11) Pedro traz uma palavra de grande importância aos calvinistas. O trecho diz:

3. Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude,
4. pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção, das paixões que há no mundo.
5. Por isso mesmo vós, reunindo toda vossa diligência, associai com a vossa fé, a virtude; com a virtude, o conhecimento;
6. com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade;
7. com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.
8. Porque, estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
9. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora.
10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.
11. Pois, desta maneira, é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Pedro enraíza no “divino poder” de Deus (v. 3) todas as questões pertinentes à nossa existência, tudo que é necessário e relacionado com o amor, bem como com o pleno conhecimento do próprio Deus. Não é que ele esteja apenas afirmando que Deus é a fonte, mas ele está ensinando que de Deus recebemos tudo, em plenitude. Com essa proposição ele reafirma a plena soberania de Deus até na aplicação do conhecimento. A seguir, Pedro nos indica que tudo isso representa o cumprimento das promessas de Deus para nós, representando, igualmente, um grande contraste com as corruções deste mundo (v. 4). Passa então a detalhar as áreas importantes da vida, que devem merecer a nossa concentração (vv. 5 a 7). Essas áreas são apresentadas num “crescendo” no qual a interligação de uma com a outra é demonstrada, cada uma sendo construída no alicerce previamente construído, sendo interdependentes (fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor). A demonstração dessas virtudes, em nossas vidas, não nos deixará ociosos, nem infrutíferos, nem com a visão obscurecida, mas nos trará ao pleno conhecimento de Cristo e não deixará que venhamos a nos esquecer do milagre da salvação – daquilo que Cristo fez para a purificação dos nossos pecados (vv. 8 a 9).

Estamos afirmando que a palavra é pertinente para os calvinistas, porque ao iniciar com o detalhamento dessas virtudes que procedem do poder de Deus e que por Sua agência são derramadas sobre nós, Pedro enfatiza: “…reunindo toda a vossa diligência” (v. 5). Isso significa que não existe lugar para acomodação no aprendizado. Mesmo que tudo isso esteja sob a abrangência da soberana vontade de Deus e intrinsecamente fazendo parte de Seus decretos, temos que procurar com diligência o conhecimento de Deus e a aplicação desse conhecimento em nossas vidas. Devemos nos esforçar e esperar que Deus, em sua divina providência, nos conceda o conhecimento do qual tanto necessitamos e as vidas santas que devem se seguir ao conhecimento da Sua pessoa e dos Seus caminhos.

Essa questão é tão importante para Pedro que ele, sob a divina inspiração do Espírito Santo, repete a admoestação, no verso 10, quando indica que devemos procurar, “com diligência cada vez maior” a confirmação da nossa vocação e eleição através da prática do conhecimento de Deus, que vem pela dedicação ao continuado aprendizado e pela conseqüente vida santa, que Ele requer de cada um de nós. Que Deus nos livre do pecado da acomodação no aprendizado de Suas verdades.

4. O Pecado da Falta de Ação


Uma Grave Distorção

Esse pecado tem muita relação com o pecado anteriormente mencionado e representa uma grave distorção da doutrina da soberania de Deus. Muitas vezes seguimos adquirindo conhecimento e profundidade na nossa fé, mas ficamos inativos e não temos colocado a nossa fé em prática – não temos a ação que deveríamos ter. Entendemos e nos convencemos das verdades que dizem respeito à soberania de Deus, mas indolentemente ficamos aguardando o cumprimento dos Seus decretos.

Falta de Compreensão da Responsabilidade Humana.

Esse pecado é aquele que leva calvinistas a cruzarem os braços, quando deveriam estar agindo, achando que Deus vai atuar de qualquer forma. É aquele pecado que faz com que a gloriosa doutrina da predestinação, em vez de ser alvo de admiração e humildade, seja utilizada como uma desculpa. É o pecado que evidencia a falta de compreensão do que é o ensinamento bíblico sobre a responsabilidade humana. Temos que nos mirar no exemplo de Paulo. Ele foi o magistral expositor das doutrinas da graça, escolhido para isso pelo Espírito Santo de Deus. Mesmo assim, ou melhor, precisamente pela sua completa compreensão da soberania divina e da responsabilidade humana, vemos Paulo trabalhando, lutando, sofrendo, escrevendo cartas, chegando a perder o sono, com o propósito de executar o serviço de Deus.

A “História” de um Casal Puritano

Lembro-me de uma ilustração que ouvi sobre um casal, da época dos puritanos. Por mais duvidoso que seja o relato, ele estimula o nosso pensamento sobre a atitude de pessoas com relação à questão da responsabilidade humana. Conta-se que um puritano, na Nova Inglaterra, habitava com sua família em uma cabana no meio da floresta, distante de tudo e de todos, cuidando apenas dos campos plantados, em clareiras abertas no meio da floresta. Certo dia teve que sair de sua cabana para ir ao vilarejo, atravessando aquela floresta infestada de ursos ferozes, que atacavam animais e pessoas. O puritano colocou a sua melhor roupa preta e começou a se preparar para a jornada. Ao chegar perto da porta de saída, ele estendeu a mão e pegou sua espingarda, verificando se estava carregada. Nesse momento sua esposa exclamou!

– Não entendo essa sua preocupação com a espingarda, porque se você estiver predestinado a ser devorado por um urso, será devorado por ele; mas se estiver predestinado a chegar ao vilarejo em segurança, assim chegará! Deixe essa arma aí!

O puritano voltou-se à esposa, e com toda longanimidade que lhe era habitual, respondeu:

– Ó mulher! E se eu encontrar um urso que esteja predestinado a levar um tiro da minha espingarda e eu estiver sem ela, como é que eu vou fazer?

Podemos rir com a história, mas muitas vezes estamos, em nossas vidas, retratando aquela atitude da mulher daquele puritano. Com freqüência, passamos a descansar indevidamente na soberania de Deus, quando Ele está colocando as coisas na nossa frente, requerendo, de nós, alguma ação.

Temos que nos conscientizar que vivemos sob a égide da vontade decretiva de Deus, mas no conhecimento e sob a diretriz clara de sua vontade prescritiva. Nela, conforme expressa nas Escrituras, temos tudo o que precisamos saber para agirmos responsavelmente, da forma como Ele quer que venhamos a agir.

Um exemplo prático de Paulo

Talvez a maior confirmação prática, de como Paulo conjugava esses dois lados da moeda, da soberania divina e da responsabilidade humana, é encontrado em Atos 27, no relato do naufrágio que sofreu, a caminho de Roma. Principalmente os versículos 22 a 44.

Uma das dramáticas declarações de Paulo, no meio da tempestade que precedeu o naufrágio, é que nenhuma vida iria se perder! Ele afirma esse prognóstico com tanta segurança porque o anjo de Deus lhe dissera isso. Paulo era possuidor, nesse evento, de um conhecimento específico, por revelação. No auge da época apostólica ele recebe esta revelação, que todos aqueles no navio seriam preservados. Ninguém iria se perder, pois Deus tinha outros propósitos. Assim, com uma determinação tão clara, Paulo transmite com toda segurança a informação recebida – apesar de todos estarem temerosos, as vidas seriam poupadas, no meio da feroz tempestade. Notemos, entretanto, que Paulo não fica de braços cruzados, dormindo, esperando a milagrosa preservação de todos. Pelo contrário – encontramos Paulo ativo, dialogando e persuadindo ao centurião que era necessário que aqueles que procuravam safar-se do barco, voltassem ao navio. Paulo manda que se alimentem, para ficarem fortes, apesar de saber que Deus iria salvar a todos, mesmo em jejum. Ele estava ali cumprindo as suas responsabilidades, aquelas que foram colocadas por Deus perante ele. Paulo andava passo a passo, sob a vontade prescritiva do Senhor. Depois que todas as 270 pessoas que se encontravam a bordo se alimentaram, passaram a fazer o que estava à frente para ser feito: aliviaram o navio, lançando a carga ao mar. Diz-nos o verso 44 que “foi assim que todos se salvaram em terra”.

A plena consciência e convicção da soberania de Deus, na vida de Paulo, nunca o levou a ser vítima do pecado da falta de ação. Que este pecado nunca esteja presente em nossas vidas, mas que, como Paulo, estejamos andando passo a passo debaixo da vontade prescritiva de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras. Que possamos, como calvinistas, ser confiantes na soberania de Deus, mas também que estejamos engajados nas Suas verdades, na Sua obra e na Sua palavra.

5. O pecado do isolamento


Viver no Passado ou Estudá-lo?


O isolamento é um pecado que está sempre a nos rondar. O calvinista verdadeiro não é aquele que vive no passado mas o que procura aplicar as doutrinas bíblicas reveladas à sua situação, ao seu contexto. O seu apreço pela história e pelos reformadores não procede de um interesse meramente “arqueológico”.

A Abordagem do Antiquário

Martin Lloyd-Jones nos alerta para um perigo que existe dentro do interesse pelos acontecimentos que marcaram a Reforma e nossa herança puritana. Na realidade, ele nos confronta com uma forma errada e uma forma certa de relembrar o passado, do ponto de vista religioso. (12)

A forma errada, seria estudar o passado por motivos meramente históricos. Esse estudo seria semelhante à abordagem que um antiquário dedica a um objeto. Por exemplo, quando ele examina uma cadeira, ele não está interessado se ela é confortável, se dá para se sentar bem nela, se ela cumpre adequadamente a função de cadeira. Basicamente a preocupação se resume à sua idade, ao seu estado de conservação e, principalmente, a quem pertenceu. Isto determinará o valor daquele objeto para ele e, conseqüentemente, o seu estudo é motivado por esta visão. O estudo errado da história ocorre, muitas vezes, em função dessa abordagem do antiquário.

O Alerta de Jesus, Registrado por Mateus

Em Mateus 23.29-35 teríamos um exemplo desse apreço errado pelo passado. O trecho diz:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido cúmplices no derramar o sangue dos profetas. Assim, vós testemunhais contra vós mesmos que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais.
Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno? Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar.

Jesus diz que aquelas pessoas pagavam tributo à memória dos profetas e líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história, que cuidavam e enfeitavam os sepulcros. Proclamavam a todos que os profetas eram homens bons e nobres e atacavam quem havia rejeitado os profetas. Diziam eles: “se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela época, não teríamos feito isso!” Mas Jesus não se impressiona e os chama de hipócritas! A argumentação de Jesus é a seguinte: Se vocês se dizem admiradores dos profetas, como é que estão contra aqueles que representam os profetas e proclamam a mesma mensagem que eles proclamaram? Ele testa a sinceridade deles pondo a descoberto a atitude no presente para com aqueles que hoje pregam a mensagem de Deus e mostra que eles próprios seriam perseguidores e assassinos dos proclamadores da mensagem dos profetas.

O Nosso Teste

Esse é também o nosso teste: uma coisa é olhar para trás e louvar homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitamos, no presente, aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino. Somos mesmo admiradores da Reforma, daqueles grandes profetas de Deus? Se não aplicamos na vida prática as doutrinas reformadas o nosso interesse é apenas o de antiquários. Estamos promovendo e encorajando o pecado do isolamento, com esse tipo de visão da história?

A forma correta de relembrar o passado

Mas existe uma forma correta de relembrar o passado. Deduzimos esta não apenas por exclusão e inferência do texto anterior mas por que temos um trecho na Palavra de Deus—Hebreus 13.7-8, que diz: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus, e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.”

As doutrinas são de Cristo. Ele e os seus ensinamentos, são os mesmos ontem, hoje, e eternamente. A maneira correta de relembrar a Reforma é, portanto, verificando a mensagem, a palavra de Deus, como foi falada, e isso não apenas por um interesse histórico de “antiquário” mas para que possamos imitar aquela fé demonstrada. Devemos observar aqueles eventos e aqueles homens, para que possamos aprender deles. Vamos verificar como eles aplicaram as doutrinas eternas aos seus dias e vamos seguir os seus exemplos discernindo a essência da sua mensagem e aplicando-a aos nossos dias.

Deus é Sempre Contemporâneo em Seu Falar

Não podemos, portanto, viver num mundo isolado, demonstrando falta de aproximação com a nossa igreja, com os nossos irmãos, com o nosso povo, com a nossa realidade.

Hebreus 1.1-4 mostra que Deus fala de forma diferente a tempos diferentes. O cerne da mensagem não muda. Nos nossos dias, a revelação escriturada está completa e não estamos defendendo a existência de novas revelações. Entretanto, reconhecemos que Deus sempre demonstrou querer falar com o homem nos seus termos. Na Palavra de Deus temos os muitos antropomorfismos – descrições figurativas da pessoa de Deus, em características de homem. Isso é um exemplo de como Deus condescende em chegar até o homem.

Paulo enfatiza a necessidade da comunicação eficaz, indicando que fez-se fraco, para os fracos; judeu, para os judeus; e gentio, para os gentios (1 Co 9). A linguagem das escrituras era o grego comum, falado pelo povo que diferia tanto do grego clássico, da literatura, que durante muitos anos estudiosos bíblicos postulavam que era um tipo de “grego sagrado”. Se Deus chega-se até ao homem, nas suas limitações e circunstâncias, objetivando a melhor comunicação, porque pensamos que devemos fazer os crentes chegar até estilos e formas que não são mais nossas? Porque prejudicamos a eficácia da nossa comunicação? Porque cristianizamos estilos e formas que não fluem da Bíblia, mas pertenceram a uma época? Porque nos tornamos antiquários em vez de usuários e aplicadores práticos das verdades de Deus? Lembremo-nos que Deus tem a palavra certa, na certeza de sua palavra, para a ocasião certa, na hora certa. Supliquemos a Ele que nos livre do pecado do isolamento.

Minha oração é que nós, calvinistas, possamos ser conhecidos tanto por nossa doutrina firme, sadia, segura, intransigente, quanto por nosso amor fraternal, por nossa gentileza, por nossa dedicação no estudo e por nossa aplicação veraz e eficaz das sãs doutrinas, ao nosso tempo. Que não apliquemos esses alertas aos nossos conhecidos ou vizinhos, mas que possamos realmente, com sinceridade, buscar a presença de Deus e verificar se não estamos sendo alvo das ciladas de Satanás, caindo nesses cinco, ou mais pecados.


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(1) Benjamin Breckinridge Warfield indica que o princípio fundamental do calvinismo é “uma profunda compreensão de Deus e de Sua majestade, acompanhada da constatação, inevitável e precisa, da natureza exata do relacionamento mantido entre Ele e Suas criaturas, mui especialmente entre Ele e as criaturas caídas em pecado” – Calvin and Augustine (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1956/1971) 288.

(2) (1) A depravação ou corrução total da natureza humana, caída em pecado; (2) a eleição incondicional, dos que constituirão a Igreja de Cristo; (3) a expiação limitada, do nosso Senhor Jesus Cristo, que deu o Seu sangue por Sua igreja; (4) a graça irresistível do Espírito Santo, chamando os eleitos à salvação; (5) a perseverança dos santos até a glorificação, preservados pelo poder e pelas promessas de Deus.

(3)W. J. Seaton, Are We Outgrowing the Five Points of Calvinism? Em Banner of Truth (166/167, July/August 1977).

(4) Kenneth Scott Latourette, A History of Christianity (N. York: Harper & Row, 1953, 1975) pp. 26, 114, 123, 124.

(5) Ian Hamilton, palestra: “O Propósito que Governa o Culto Reformado”, no VI Simpósio do Projeto Os Puritanos, Águas de Lindóia, 6-13 de junho de 1997.

(6) Heber Carlos de Campos, O Pluralismo do Pós-Modernismo, Fides Reformata (São Paulo: Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição, 1997), 2/1, 5-28.

(7) Campos, palestra realizada no VI Simpósio do Projeto Os Puritanos, Águas de Lindóia, São Paulo, 6-13 de junho de 1997.

(8) John Owen, Sermão: “A Prática do Governo da Igreja” em The Works of John Owen (Londres: The Banner of Truth Trust, 1967) Vol. VIII, 60.

(9) Owen, Works, VIII, 61.

(10) Owen, “Of Toleration”, Works, VIII, 163-206.

(11) Benjamin Breckinridge Warfield, “The Religious Life of Theological Students”, em Selected Short Writings of B. B. Warfield, John E. Meeter, ed. (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1970) I, 411-425.

(12) D. M. Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (S. Paulo: PES, 1994) pp. 2-5.

Este livreto foi publicado no site da 1a. Igreja Presbiteriana do Recife contendo uma versão preliminar publicada na revista "Os Puritanos". A versão publicada aqui é a completa. Este texto completo foi publicado pela Editora PES e pode ser adquirido através do site da editora http://www.editorapes.com.br

Fonte: http://www.solanoportela.net/

 


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