Eu Sou Calvinista!

por

Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior

 

 

Eu sou calvinista! Entendo que a síntese calvinista é a melhor expressão da teologia bíblica. Geralmente quando digo isto suscito duas atitudes entre as pessoas que me ouvem: indiferença que conduz a intolerância e alegre alívio que conduz a convivência.

Porém, não quero ser um calvinista obtuso e negativo, que não consegue enxergar vida inteligente fora dos limites dos arraiais reformados. Lendo as palestras proferidas por Lloyd-Jones nas Conferências Puritanas, encontrei uma posição calvinista de afirmação positiva. [1] Ele entende que não devemos desprezar àqueles que pensam diferente. De acordo com suas palavras: “E enquanto o coração de um homem estiver certo, embora sua cabeça esteja errada, sejamos pacientes com ele, procuremos ajudá-lo. Não passemos o tempo apenas provando que estamos certos e que todos os outros estão errados”.

Tenho consciência que Calvino nunca foi unanimidade, nem entre seus contemporâneos, mas não posso me furtar de anunciar minha identificação com a teologia do grande reformador franco-suíço.

Falar mal de Calvino (e dos calvinistas) é um exercício antigo e muito popular, e eu ainda acrescentaria; lucrativo. A primeira biografia de Calvino foi escrita por um ex-colaborador, Jerônimo Bolsec. Depois de um grave desentendimento em 1551, Bolsec e Calvino se separaram. Bolsec voltou para França e em Lyon publicou um livro, Vie de Calvin. Alister McGrath, em sua biografia de Calvino, [2] faz a seguinte análise da obra de Bolsec:

Calvino, de acordo com Bolsec, era irremediavelmente aborrecido, malicioso, violento e frutrado. Ele considerava suas próprias palavras como se fossem palavras de Deus e se permitia ser adorado como Deus. Além, de frequentemente, ser vítima de suas tendências homossexuais, ele tinha o hábito de flertar com qualquer mulher que se aproximasse dele. De acordo com Bolsec, Calvino abriu mão de seus benefícios, em Noyon, em razão de terem vindo a público suas atividades homossexuais.

Mais adiante, McGrath questiona toda esta construção histórica como um “mito” sem fundamentação histórica. Esta obra de McGrath é um estudo acadêmico, muito bem fundamentado, que respeita a pessoa de Calvino, sem, contudo deificá-lo.

Minha identificação com os reformadores do século XVI, e com Calvino em especial, fundamenta-se naquilo que costumo chamar de princípio epistemológico reformado: uma ansiosa busca pela pureza da fé.

O grande mérito dos reformadores não foi a descoberta de algo novo, mas a redescoberta da antiga mensagem do evangelho, que ficou obscurecida na maior parte do período medieval, porque o catolicismo medieval ocasionalmente se degenerava numa religião folclórica da natureza. Os reformadores denunciaram este erro e propuseram um novo (antigo) caminho: o retorno às Escrituras.

A Teologia Reformada está ligada a uma análise rigorosa da Bíblia. É com ela que os reformadores buscavam fundamentar sua fé. É com a Bíblia que eles julgavam as interferências medievais. A Bíblia é sua última autoridade, não a tradição ou personalidades importantes ou mesmo a experiência religiosa.

Nestes dias de nebulosas dúvidas religiosas, ao me confinar na ortodoxia calvinista encontro um forte ponto de apoio: um amparo firme para a minha fé.

Quando afirmo isso, estou em confronto com a religiosidade vazia e superficial apregoada hoje em dia, que visa aumentar o número de consumidores religiosos a qualquer custo. Por exemplo, existem igrejas que em nome da contextualização, distribuem balas e doces para as crianças no dia dos santos católicos Cosme e Damião, outras tem boates e realizam grandes festas conduzidas por DJs e recheadas de músicas eletrônicas “gospel”.

O culto de muitas igrejas é organizado em torno de canções estranhas, com letras teologicamente duvidosas e com uma pobre musicalidade. Nelas Jesus é transformado num amante mundano e a igreja é apresentada como sua consorte que arde em desejo carnal pelo seu amante. A linguagem singela das antigas canções que enalteciam o evangelho, a cruz e a salvação foram abandonadas e em seu lugar a igreja enaltece o humanismo, o misticismo gnóstico e o materialismo.

Aqui em Brasília, um jornal local publica semanalmente um anúncio estranho: “Revela-se por Professia” (sic). A promessa por trás dessa mensagem é a solução imediata dos problemas, dos encostos e das maldições, tal como as inúmeras videntes que infestam os grandes centros urbanos. Normalmente nestas sessões, a vidente se posta diante do pedinte com uma Bíblia aberta. A intenção é encontrar “na palavra” a solução para os problemas. Os versos bíblicos são interpretados fora de contexto, sempre na busca de uma “palavra de bênção”.

Estes são exemplos da uma igreja acomodada ao espírito do mundo. Uma igreja que perdeu seus referenciais. Ao invés de proclamar com ousadia as verdades da Escritura, os crentes estão tornando a Escritura mais aceitável, sendo cuidadosos em agradar todas as pessoas. As igrejas oferecem uma religião de entretenimento no lugar da pregação do evangelho puro e sem artifícios. O mundanismo está tomando conta da igreja.

O conceito que domina a liderança eclesiástica hodierna é que a igreja precisa se tornar como o mundo a fim de ganhar o mundo para Cristo. No meu entendimento, desta maneira a igreja perde sua pureza. A igreja se prostitui com o mundo, na esperança de vê-lo transformado.

Entendo que a solução é a mesma que Calvino e os reformadores propuseram à Igreja de seus dias: Retornar à nossa chamada de irmos ao mundo, sem timidez, pregar o evangelho e descansar no soberano poder de Deus.

A única mensagem que Deus outorgou ao seu povo é a proclamação da salvação através de Cristo. Ela é a âncora que nós precisamos nestes dias turbulentos.

 

NOTAS:

[1] - LLLOYD-JONES, D.M. Os Puritanos: Suas Origens e Seus Sucessores. PES, pp. 54.

[2] - McGRATH, Alister E. A Vida de Calvino . Cultura Cristã, pp. 33-34.

 

 

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