Maria - Outra Redentora?

por

James R. White

 


Capítulo 06 - Assunção Corporal

 

Assim como Maria desapareceu quietamente das páginas do Novo Testamento, após a vinda do Espírito Santo em Pentecoste, assim também, ela desapareceu quietamente desta terra, em sua morte, para a presença de Deus seu Salvador. Giovanni Miegge escreveu,

Ela [Maria] partiu desta vida humilde e modestamente, assim como a viveu, e ninguém se lembrou do lugar de seu enterro, embora a tradição de meados do século V tenha lhe dado um sepulcro perto de Jerusalém no jardim do Getsêmane. [1]

E assim foi que Epifânio, escrevendo no século IV, disse, “Porque de seu fim ninguém sabe”. [2]

Visto que ele viveu na área geográfica geral na qual ela viveu, certamente se houvesse alguma tradição associada a sua morte e seu enterro, ele teria conhecimento dela.

A despeito disto, o Papa Pio XII, em 1º de Novembro de 1950, promulgou [3] uma Constituição Apostólica intitulada Munificentissimus Deus, na qual lemos:

Visto que, então, a Igreja universal, na qual o Espírito da Verdade floresce, que infalivelmente a dirige para alcançar um conhecimento das verdades reveladas, tem através do curso dos anos repetidamente manifestado sua própria fé; e visto que os bispos do mundo inteiro com quase unânime consentimento solicitado que a verdade da Assunção corporal da Bendita Virgem Maria aos céus seja definida como um dogma da divina e Católica fé – uma verdade que é fundamentada nas Sagradas Escrituras, que tem sido fixada profundamente nas mentes dos fiéis em Cristo, que tem sido aprovada pela adoração eclesiástica desde os tempos mais primitivos, que está totalmente em harmonia com as outras verdades reveladas e que tem sido esplendidamente explicada e declarada pelos zelosos, eruditos e sábios teólogos – pensamos que o momento apontado no plano de um Deus providente tenha chegado agora para proclamar solenemente tal privilégio extraordinário da Virgem Maria...

Conseqüentemente...pela autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos Benditos Apóstolos, Pedro e Paulo, e pela Nossa própria autoridade, pronunciamos, declaramos e definimos que o dogma foi revelado por Deus, que a Imaculada Mãe de Deus, a para sempre Virgem Maria, depois de completar seu curso de vida sobre a terra, foi assunta à glória dos céus, em corpo e alma.

Portanto, se alguém, o qual possa Deus não permitir, ousar negar isto, ou voluntariamente pôr em dúvida o que tem sido definido por Nós, este, deverá entender que naufragou inteiramente na divina e Católica fé.
Note que o assunto de se Maria morreu uma morte natural é deixado sem resposta: alguns dizem que ela morreu, outros que não. Mas de qualquer forma, ela foi corporalmente assunta ao céu no final de sua vida terrena.

Normalmente devemos dividir a discussão entre a informação bíblica e histórica. Contudo, não há nada na Bíblia que sequer sugira remotamente a idéia que Maria foi assunta corporalmente ao céu. [4]

Even Ott honestamente admitiu: “Não temos provas escriturísticas diretas e expressas”. [5]

E numa impressionante ilustração do que acontece quando o sola scriptura é negado, o apologista Católico Karl Keating escreve com respeito à doutrina da Assunção Corporal:

Ainda, os fundamentalistas perguntam: onde está a prova nas Escrituras? Estritamente, não há. Foi a Igreja Católica que foi comissionada por Cristo para ensinar todas as nações e para ensiná-las infalivelmente. O mero fato de que a Igreja ensina a doutrina da Assunção como algo definidamente verdadeiro é garantia de que é verdade. [6]

Mas, se não há apoio escriturístico, o que dizer sobre a tradição extraída da história? Aqui, da mesma forma, encontramos um dogma moderno estilhaçando as rochas da realidade histórica. Os primeiros séculos da era Cristã passaram sem nem mesmo um murmúrio sobre a idéia. De acordo com a história Católica Romana e do Mariologista Juniper Carol, “O primeiro testemunho expresso no Ocidente da genuína assunção nos veio através dum Evangelho apócrifo, o Transitus beatae Mariae de Pseudo-Mileto”. [7]

Ott, da mesma forma diz: “A idéia da assunção corporal de Maria foi primeiramente expressa em certas narrativas transitórias dos séculos V e VI. Embora estas sejam apócrifas, elas dão testemunho da fé da geração na qual elas foram escritas, a despeito de sua vestimenta lendária”. [8]

É muito importante que entendamos o significado do que estes autores estão dizendo. A primeira aparição de um dogma que foi eventualmente definido como uma parte da própria fé Cristã foi encontrada em certas “literaturas transitórias”. O que isto significa? O escritor Protestante William Webster, autoridade no assunto, explica o que Ott parece um pouco indisposto para explicar:

Em seu decreto, Decretum de Libris Conocicis Ecclesiasticis et Apocrypha, que foi mais tarde afirmado pelo Papa Hormidas, Gelasius lista o ensino Transitório através do seguinte título: Liber qui apellatur Transitus, id est Assumptio Sanctae Marie sob a seguinte condenação: “Estes e escritos similares a estes, que...todos os líderes heréticos e seus discípulos, ou os cismáticos têm ensinado ou escrito...confessamos ter não somente sido rejeitados, mas também banidos de toda a Igreja Romana e Apostólica e com seus autores, e seguidores dos seus autores, condenados para sempre sob a indissolúvel pronúncia de anátema”. [9]

Qual o significa disto? Basicamente, a primeira aparição da idéia da Assunção Corporal de Maria é encontrada numa fonte que foi condenada como herética pelo então bispo de Roma, Gelasius I! A ironia é impressionante: o que foi definido pelo bispo de Roma como heresia no final do século V, tornou-se um dogma no meio do século XX! [10]

Mas, isto é o que acontece quando não se permite que as Escrituras estabeleçam as barreiras – as fronteiras – nas quais a reflexão e crescimento teológico devem acontecer. Roma nega o sola scriptura, por conseguinte, “tudo é válido” até o ponto em que ela pode, e na verdade o faz, ensinar.

Nos falta espaço até mesmo para começar a listar os líderes e escritores cristãos através dos séculos que viveram e morreram sem confessar ou abraçar esta doutrina. A totalidade da igreja primitiva permanece como uma na asseveração de que esta doutrina não é uma parte da fé que foi entregue aos santos (Judas 3). Ela simplesmente não é uma parte da “tradição” ou da “Escritura”, os dois pilares sobre os quais Roma reivindica definir suas doutrinas; todavia, este fato não a tem impedido de fazer de uma doutrina que não tem base em nenhuma delas, uma parte da própria fábrica da fé.


O FUNDAMENTO É PROFANO

Nós temos coberto os ensinos dogmáticos da Igreja Católica Romana que prevaleceu no tempo da convocação do Segundo Concílio do Vaticano, mais conhecido como Vaticano II. Todas estas doutrinas, juntas, formam o fundamento sobre o qual a corrente controvérsia se desenvolve. Mas dois elementos mais importantes estão faltando em nosso estudo antes de podermos verdadeira e honestamente entender os assuntos com respeito à Maria como “Co-redentora, Mediadora e Advogada”.

Primeiro, qual é o resultado de se crer no que esteve diante de nós? Isto é, se estas doutrinas são permitidas dentro do contexto da fé Cristã, qual é o resultado? Podemos perceber isto olhando com atenção para um dos principais exemplos da “devoção a Maria”, que resultou da aceitação destas doutrinas. Este exemplo é a obra de um “doutor da Igreja”, um homem canonizado (feito um santo), a qual tem literalmente centenas de edições. Seu nome é Alphonsus Ligouri.

Em segundo lugar, o que o Vaticano II e o Papa João Paulo II ensinam com respeito à Maria? Eles usam tais termos como Co-redentora, Mediadora e Advogada para o povo de Deus? Para estes assuntos nos voltamos agora.


[1] Giovanni Miegge, Waldo Smith, trans., A Virgem Maria: A Doutrina Católica Romana de Maria (Philadelphia: Westminster Press, 1955), 53, como citado por S. Lewis Johnson, “Maria, os Santos e o Sacerdotalismo” em John Armstrong, ed., Catolicismo Romano: Evangélicos Protestantes Analisam o que Nos Divide e o que Nos Une” (Chicago: Moody Press, 1994), 124.

[2] Epifânio, Panarion, Haer. 78.23.

[3] Um termo técnico que se refere a um pronunciamento oficial e publicação de um documento.

[4] As tentativas da parte de alguns apologistas Católicos Romanos de levantar analogias com os santos do Antigo Testamento tais como Elias ou até mesmo Calebe são tão forçadas que eles possuem a sua própria refutação. Alguém só precisa deixar que eles vejam como estão completamente sem mérito. Não somente fazem eles violência aos textos sobre os quais eles estão enganados, mas são da mesma forma inconsistentes com a posição Romana, porque eles são absolutamente desconhecidos (assim como a doutrina que eles pretendem defender) entre os Pais primitivos.

[5] Ludwig Ott, Os Dogmas Católicos Fundamentais (Rockford, III: Tan Book Publishers, 1974), 208.

[6] Karl Keating, Catolicismo e Fundamentalismo: O Ataque sobre o “Romanismo” pelos “Cristãos Bíblicos” (San Francisco: Ignatius Press, 1988), 275.

[7] Juniper B. Carol, Mariologia, vol. 1 (Milwaukee, Wis.: Bruce Publishing Company, 1955), 149.

[8] Ott, 209-210.

[9] William Webster, “Eu Deixei Realmente a Igreja Católica Romana? em John Armstrong, ed., Catolicismo Romano, 292. Veja também William Webster, A Igreja de Roma no Tribunal da História (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1995), 82-83.

[10] Alguém pode sugerir que a Assunção Corporal era ortodoxa, enquanto o resto dos escritos nos quais ela foi encontrada não eram. Todavia, o fato permanece que o primeiro exemplo registrado do conceito é encontrado em documentos condenados como heréticos, e não há nenhuma referência a Gelasius eximindo esta doutrina da condenação que ele pronunciou sobre a literatura como um todo.


Extraído e traduzido do livro “Mary - Another Redeemer?”, de James White.


Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 05 de Junho de 2004.


www.monergismo.com

Este site da web é uma realização de
Felipe Sabino de Araújo Neto®
Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê.

TOPO DA PÁGINA

Estamos às ordens para comentários e sugestões.

Livros Recomendados

Recomendamos os sites abaixo:

Academia Calvínia/Arquivo Spurgeon/ Arthur Pink / IPCB / Solano Portela /Textos da reforma / Thirdmill
Editora Cultura Cristã /Edirora Fiel / Editora Os Puritanos / Editora PES / Editora Vida Nova