À Senhora Eleita:
algumas considerações sobre 2 João

por

Josaías Cardoso Ribeiro Júnior

 

 

Segunda Epístola de João

1 O Presbítero à senhora eleita, e a seus filhos, aos quais amo na verdade, e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade, 2 Por amor da verdade que está em nós, e para sempre estará conosco: 3 Graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, seja convosco na verdade e amor. 4 Muito me alegro por achar que alguns de teus filhos andam na verdade, assim como temos recebido o mandamento do Pai. 5 E agora, senhora, rogo-te, não como se escrevesse um novo mandamento, mas aquele mesmo que desde o princípio tivemos: que nos amemos uns aos outros. 6 E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos. Este é o mandamento, como já desde o princípio ouvistes, que andeis nele. 7 Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo. 8 Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganho, antes recebamos o inteiro galardão. 9 Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. 10 Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. 11 Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras. 12 Tendo muito que escrever-vos, não quis fazê-lo com papel e tinta; mas espero ir ter convosco e falar face a face, para que o nosso gozo seja cumprido. 13 Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita. Amém.


INTRODUÇÃO [1]

Talvez o termo “bilhete de João” descrevesse bem esta pequena carta à “Senhora Eleita”. Um dos menores livros da Bíblia, com apenas 13 versículos e uma mensagem de grande valor para os dias atuais, prova mais uma vez que o trabalho do Espírito Santo por trás da formação do cânon bíblico.


Autor

“O presbítero” – a palavra é uma transliteração do grego presbúteros, que significa tanto ancião como um cargo da Igreja (1 Pe 5.1). Para reconhecermos a autoria de João devemos perceber a semelhança da linguagem e mensagem da carta com 1 João. 1 João não faz menção de autor, mas o tipo de linguagem é o mesmo do Evangelho de João.

No princípio era aquele que é a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. Ela estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dela; sem ela, nada do que existe teria sido feito. Nela estava a vida, e esta era a luz dos homens.” (Jo 1.1-4)

O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam -- isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A vida se manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada.” (1 Jo 1.1,2)

Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço.” (João 15.10)

Quanto a vocês, cuidem para que aquilo que ouviram desde o princípio permaneça em vocês. Se o que ouviram desde o princípio permanecer em vocês, vocês também permanecerão no Filho e no Pai.” (1 Jo 2.24)

Muito me alegrei por ter encontrado alguns dos seus filhos, pois eles estão andando na verdade conforme o mandamento que recebemos do Pai.” (2 Jo 4)

A grande maioria dos pais da igreja (cristãos do século II em diante) reconhece João como autor das cartas e do Evangelho. Uma importante testemunha é Irineu, discípulo de Policarpo. Policarpo, por sua vez, foi discípulo de João (como Timóteo e Tito foram de Paulo, e Marcos foi de Pedro).

Apesar disso, nos primeiros anos da Igreja, existiu uma corrente que afirmava a existência de duas pessoas chamadas João na Igreja Primitiva. Elas seriam João, “o discípulo amado”, e João, “o presbítero”, mas poucos davam valor a esta teoria. A teoria perdeu a força com o tempo, mas ressuscitou recentemente com alguns defensores, teólogos liberais em sua maioria. (Na verdade, a inventividade destas pessoas já deve ter criado quase 10 pessoas chamadas “João” na Igreja primitiva).


Destinatários

“A Senhora Eleita e seus filhos” – Pode ser uma referência a uma respeitável irmã. Esta teoria é menos provável, por isso cremos que é apenas uma forma de João se expressar em relação à Igreja a quem ele escreve. No final da carta ele também faz referência à “irmã eleita” que saúda. E Pedro fala de uma “eleita” em Babilônia, em 1 Pedro 5.13.

Curiosidade: As teorias quanto à “Senhora Eleita” (eklekte kuria) como pessoa são tão criativas que sugerem desde Maria, mãe de Jesus (pois João ficou responsável por ela), a Marta, irmã de Lázaro (cujo nome significa “senhora, dama”), e até uma mulher chamada Electa. Alguns até que se trata de uma carta de amor de João a esta “Electa”.


Propósito

Advertir a Igreja quanto à chegada de falsos mestres. Podemos tomar “verdade” como palavra-chave da epístola.



MENSAGEM E CONTEÚDO


Caminhar cristão - Três formas em 1

- O cristão anda na verdade (v.4)
- O cristão anda em amor (v.6)
- O cristão anda segundo os mandamentos (v.6)

Por que três formas em uma? Veja como o raciocínio de João dá um loop, é cíclico:

Quem caminha na verdade, está caminhando conforme o mandamento recebido do Pai. Que mandamento é este? Que nos amemos uns aos outros. Então, João resolve definir o que é o amor. E qual não é a nossa surpresa quando ele responde “que andemos em obediência aos mandamentos do Pai”? Quem anda em obediência aos mandamentos do Pai está – logicamente – caminhando na verdade.

Assim, não existe forma de se separar a verdade, o amor e o mandamento. E apenas os crentes são capazes de andar desta forma – conhecem a Verdade (João 14.6), amam (1 João 4.7,8) e guardam os mandamentos (João 14.21).

O amor cristão é mais que um sentimento de simpatia, amizade ou atração. Amar é um mandamento de Deus, ou seja, envolve a ação objetiva de realmente amar as pessoas, apesar de tudo. Esta é a diferença do amor humano para o amor de Deus.

“O homem ama por causa de, Deus nos ama apesar de” (citado pelo Prof. Marcos Alexandre R. G. Faria)

Claro que isto é extremamente difícil, mas podemos usar a “dica” que C.S. Lewis nos dá em seu livro Cristianismo Puro e Simples para amar o próximo como a si mesmo. A citação é grande, mas me parece que vale ser lida:

Como é, exatamente, que amo a mim mesmo?(...) Meu amor próprio me faz pensar bem de mim mesmo, mas pensar bem de mim mesmo não é o motivo pelo qual me amo. Amar os inimigos, então, não significa ter que pensar bem deles... Por mais que eu não gostasse da minha covardia, do meu convencimento e de minha ambição, jamais deixei de me amar. Nunca houve a menor dificuldade nisso.

De fato, a verdadeira razão pela qual eu odiava as más ações era que eu amava quem as praticava. Justamente porque me amava é que sentia tristeza em constatar que eu sou a espécie de homem que faz esssas coisas (...) O Cristianismo pretende que as odiemos [as ações más do próximo] do mesmo modo como odiamos as nossas próprias ações: ficando tristes pelo fato de alguém ter feito tais coisas e esperando, se for possível, de alguma maneira, em algum tempo ou lugar, a cura para esa pessoa..

(...) Admito que isso significa amar pessoas que nada têm de amáveis em si mesmas. Mas então será que alguém possui algo de amável em si mesmo? Amamos a nós mesmos simplesmente porque somos nós. Deus quer que amemos as pessoas do mesmo modo e pela mesma razão... Talvez isso fique mais fácil se nos lembrarmos de que é assim que Ele nos ama. Não pelas boas e atraentes qualidades que supomos ter, mas só porque somos pessoas como somos.


Quanto aos Falsos Mestres

Mais uma vez, um escritor bíblico precisa enfrentar o proto-gnosticismo, início do movimento gnóstico (que só ganharia força no século II). Da mesma forma que Judas teve de tratar aqueles que transformavam a graça de Deus em libertinagem, João tem de lidar com enganadores que negavam que Jesus veio em carne.

Devido à idéia (da filosofia grega) de que aquilo que era matéria era ruim, estes falsos mestres não podiam aceitar que “o Verbo (Logos) se fez carne”. Era inimaginável para este pensamento que um ser transcedente (seja o próprio Deus, seja o “Logos”) se torne um ser humano, algo mau na opinião deles.

João muito provavelmente está combatendo uma destas duas correntes de pensamento protognóstico.

Docetismo – do grego “dokeo” = parecer. Criam que Jesus tinha apenas a aparência de homem, mas era um espírito.

Cerintismo – Cerinto, um herege, ensinou que Jesus era humano, mas ao ser batizado, o “Cristo” na forma de pomba, desceu sobre ele. Na cruz, o “Cristo” o deixou, e ele morreu sozinho, como homem.

Trecho de “Atos de João”, apócrifro do segundo ou terceiro século. Aqui “Jesus” revela a “João” o que realmente aconteceu com ele quando da crucificação:

Tu deves conhecer a mim, então, como um tormento do Logos, o sangue do Logos, as feridas do Logos, o jejum do Logos, a morte do Logos. Assim eu digo, descartando minha humanidade. O primeiro então que deves conhecer é o Logos, depois deves conhecer o Senhor, e em terceiro lugar o homem, e o que ele sofreu."


Lidando com falsos mestres

Antes de seguir, é evidente que precisamos do cuidado em conciliar o ensino de Jesus quanto ao joio e ao trigo, e o ensino de João quanto aos falsos mestres. O ponto, em minha opinião, é bastante simples. Pelo que sei é complicado diferenciarmos o joio do trigo, mas no caso dos falsos mestres percebemos claramente que estes homens se assemelham tanto aos mestres da verdade quanto um campo de cana-de-açúcar se assemelha ao trigo – e ao próprio joio, ironicamente.

Tendo isto em mente, prossigamos.

1) “Não recebam em casa

João está dizendo que estes falsos mestres haviam “saído pelo mundo”. Provavelmente, ele estava alerta quanto às suas atividades e escreveu esta carta advertindo os crentes a não os receberem em casa (v.10).

Aqui, não se trata do caso de levarmos ao extremo de enxotar todos aqueles que discordem de nossas opiniões. Aliás, embora o crente deva deixar claro suas convicções em relação ao evangelho, ele não tem nada que tratar mal aqueles que não abraçaram o cristianismo. Então de que João fala aqui?

É ponto pacífico entre os estudiosos que muitos cristãos tinham ministérios intinerantes, viviam de cidade em cidade pregando e ensinando. Este exemplo é simplesmente uma imitação da forma como Jesus agia (Mt 9.35, Lc 13.22) e como Ele ensinou aos seus primeiros discípulos (Lc 10.1). Sabemos que Paulo também fazia isto e que muito provavelmente alguns dos irmãos de Jesus tinham um ministério do tipo (1 Co 9.5). Assim, estas pessoas que “saíram pelo mundo” muito provavelmente estavam fazendo ministérios do tipo.

Diante destas evidências, podemos entender que João não permitia que os filhos da Senhora Eleita deixassem estes homens entrarem nas casas – onde reuniam-se as igrejas primitivas, para ensinarem. O grande problema desses homens não é que eles não fossem “crentes”. Como precisamos entender nos dias de hoje, a ameaça era de homens que se diziam cristãos (e talvez até acreditassem que eram), mas não eram, pois ensinavam mentiras. Posando com uma falsa humildade (como vemos em Colossensess 2) poderiam enganar ou perturbar alguns membros da Igreja.

Não tenho qualquer dúvida do quão importante este ensino é para os dias de hoje. Desde o princípio do cristianismo, falsos mestres perambulam por aí, “em nome de Jesus”, ensinando tolices e deturpações da doutrina dos evangelhos. Se naquela época, quando os discípulos de Jesus ainda eram vivos, existia este problema, quanto mais hoje!

Há alguns meses antes de escrever esta aula, a igreja em que congrego passou, em menos de duas semanas, por uma situação parecida. Num final de semana, nos visitou um pastor batista para um congresso, e quando nos demos conta, ele desfilava um estoque de heresias que levaria Lutero a escrever pelo menos mais umas 950 teses. Na semana seguinte, uma senhora famosa por seus programas de TV veio trazer uma mensagem para nossas crianças. Sua mensagem era tão contrária aos princípios da igreja que foi preciso semanas para tentar apagar isso.

O resultado – estas pessoas não serão mais recebidas “em casa”, e os próximos convidados terão de passar por uma aborrecida (porém necessária) conversa com o pastor, mesmo que carreguem o crachá de “batista”, como nossa igreja carrega.

Embora não seja algo sempre detectável, mais do que nunca, as igrejas cristãs precisam levar a sério este ensinamento de João. O próprio Senhor Jesus deixou claro que não reconhecerá, no Dia do Juízo, todo aquele que diz “Senhor, Senhor”.

Por que a Igreja tem de reconhecê-los?


2) “Além do ensino de Cristo

Eu disse acima que um falso mestre não era algo sempre detectável, mas João ao menos nos fornece pistas de como é o caráter destes enganadores. O presbítero deixa claro que são pessoas que vão “além do ensino” (NVI) de Cristo. Esta idéia nos lembra a convicção reformada de não ultrapassarmos o limite até onde as Escrituras nos levam. É evidente que muitas de nossas doutrinas, ensinos, comentários são inferências de toda a Palavra, mas isto não significa que estamos indo além.

Isto também não quer dizer que a interpretação bíblica se fechou de tal forma que, se alguém interpretar de forma diferente do que estamos acostumados, tratemos de apelidar a pessoa de anticristo e enganador. Se assim fosse, jamais teríamos a contribuição daqueles que nos apresentaram outras visões de certos textos.

Por exemplo, a controvérsia em relação ao “eu” de Paulo em Romanos 7. Não entrarei no mérito da questão, mas a interpretação dada a este texto não vai além da doutrina de Cristo – pelo contrário, podemos enxergar com outros olhos esta passagem, mesmo que não concordemos com uma das interpretações propostas.

O problema é bem mais fundo. Caio Fábio relata ter assistido um pastor televisivo falar que “isto de Jesus ter levado todas as maldições na Cruz... não é bem assim”. O problema está no “não é bem assim”. Me lembra um irmão (isto se trata de um caso real) que discorda das palavras de Paulo de que “nada nos separará do amor de Cristo” (Rm 8.39).

O segundo irmão, apesar de seus problemas por “discordar” da Escritura, ou de Paulo, para sermos mais específicos, não está numa posição de ensino. Não está sendo “recebido nas casas” e enganando os filhos da Senhora Eleita. É verdade que ele está solapando toda a obra da Trindade, mas não se trata do caso mais grave, porque nem todo mundo dará atenção a alguém que não tem aquele status de professor de Bíblia.

Esta é a diferença entre o Pastor da TV e o segundo. E, espero, pela graça de Deus que este irmão reveja seus conceitos, pois caso um dia ele exerça algum ministério de ensino, não tenho qualquer objeção a impedí-lo de proclamar sua “discordância” em púlpito.

A questão é – de onde nascem irmãos assim?

Justamente de pessoas como o Pastor da TV!

O Pastor da TV está falando a milhares de pessoas, das mais diversas comunidades e pensamentos cristãos. Nem todos têm uma base bíblica para perceber a sutileza de seu ensino. Dizer que Jesus não carregou todas as nossas maldições e que ainda temos de purgar algumas delas aqui na Terra é desvalorizar a obra perfeita de Cristo na Cruz. Quando o Senhor disse “está consumado”, Ele realmente quis dizer que “está consumado!”. Ele estava dizendo “Eis que faço novas todas as coisas”, dizendo “agora, não há mais condenação para os que estão unidos a Mim”, “eu livrei vocês de toda maldição porque Eu estou me fazendo maldição”! (respectivamente – Jo 19.30, Ap 21.15, Rm 8.1, Gl 3.13).

E então, alguém se fazendo de mestre diz que “não é bem assim”. Irmãos, esta pessoa está literalmente enganando e sendo um anticristo. “Dura é esta palavra”, mas a palavra realmente é esta. Alguém que desmerece (além da própria Escritura) os benefícios conquistados pelo sofrimento, pela morte, pela obediência e pela humilhação de Jesus está numa posição contrária Àquele que Deus prometeu que tomaria todas as nossas maldições (ou eu vou negar Isaías 53, por exemplo?).

Que posição tomaremos? A Verdade, que nos conduz a uma posição correta diante de Deus? Ou ao engano, que nos torna antagonistas do Evangelho e nos coloca contra Cristo?


3) “Quem não persevera na doutrina...

João deixa claro que só é de Deus ou seja, um autêntico cristão, aquele que permanece no que foi ensinado. Qualquer alteração nas doutrinas básicas do cristianismo significava não ter nem o Pai nem o Filho. Mais uma vez, vamos tratar primeiramente dos extremismos a que isso pode nos levar.

Os falsos mestres estavam negando uma doutrina básica do Cristianismo – a encarnação de Jesus Cristo. Não era uma questão de ética, não se tratava de uma discussão sobre o Milênio, não era nada tão complexo. Era uma verdade básica da recém-nascida doutrina cristã. [2]

A idéia de que eles não perseveraram nos diz muito. Para alguém perseverar em alguma coisa, este alguém precisa ter passado por este “alguma coisa”. Como João nos diz que eles não permaneceram nesta “coisa” que é justamente a doutrina de Cristo, porém foram além dela, inferimos que os falsos mestres anteriormente se faziam de cristãos, e ainda deveriam se fazer. Assim, confirmamos outra vez a identidade dos enganadores – pessoas de dentro da igreja que não pertencem, nem jamais pertenceram à verdadeira Igreja. E é realmente isto que me preocupa mais.

Às vezes nos apegamos tanto a um pregador, que esquecemos que ele pode, de uma hora para outra, ultrapassar a doutrina de Cristo. E aí continuamos engolindo as bobagens que são ditas porque o cara ainda está lá dentro da igreja, ele está ensinando. Sim, ele foi recebido em casa e nós estamos saudando ele. E João nos dá uma palavra dura em relação a isto.

O original traduzido como “saudar”, segundo John Stott, seria algo como falar “boa viagem”, que por sua vez eram uma expressão para se desejar prosperidade naquilo que a pessoa irá fazer, era como aquela oração de bênção ou de agradecimento que fazemos pelo “pregador convidado” ao fim do culto. Uma vez que passamos a tolerar, seja qual for o motivo, algum ensinamento anti-bíblico de pessoas que afirmam serem discípulos de Jesus, nos tornamos colaboradores delas.

É isto que João quer dizer com “ter parte nas suas obras más”. Você se torna um co-participante de obras más, realizadas por quem “não viu a Deus”, ao invés de ser um co-participante do Evangelho (1 Co 9.23), algo apenas possível para aqueles que “conhecem a Deus”, que têm o Pai e o Filho e, portanto, o Espírito Santo que vem dos dois (Jo 16.7-16)

Fico cheio de questionamentos ao ler isso. E tenho a plena convicção de que estas questões se referem especialmente a mim. E me entristece mais, depois de um discurso tão pomposo, pensar sobre mim mesmo nestes termos:

• Como pode um crente não se sentir incomodado em colaborar em más obras?

• Como podemos fazer política de boa vizinhança com qualquer um que professa o nome de Cristo, mas ensina e realiza absurdos que envergonham o Senhor?

• Como podemos, depois de perceber quão enganoso foi o “mestre” que nos falou, ainda pedirmos a Deus que abençoe o seu ministério, ao invés de os admoestá-los na verdade em amor (Ef 4.15)?

E o grande desafio de tudo isto – ter sabedoria para conciliar o amor pela verdade, o amor em verdade pelos outros, e o desprezo por aqueles que se dizem cristãos mas são anticristos?

Que o Espírito Santo nos guie e conceda discernimento para reconhecermos os falsos mestres e recebermos os verdadeiros filhos da Senhora Eleita.

Se a instrução de João parece dura, é talvez porque o seu interesse pela glória do Filho e pelo bem das almas humanas é maior do que o nosso, e porque a ‘tolerância de que nos orgulhamos’ é na realidade ‘indiferença para com a verdade’.” (John Stott, citando Neil Alexander)


Notas

[1] Este estudo foi preparado originalmente para uma classe de EBD, porém ampliado mais tarde. Por este motivo, há esta pequena questão de autoria e destinatário, que embora seja superficial, preferi mantê-la. Caso o leitor deseje se aprofundar, existe o livro de Stott citado na bibliografia.

[2] Não estou com isso apoiando aqueles que gostam de manter-se em cima do muro em relação a assuntos polêmicos, mesmo tendo sua opinião formada. Tal atitude me parece temor pela reação dos outros que uma tentativa de não se criar facções. Não tenho qualquer dúvida de que o Espírito Santo esclarecerá questões polêmicas através da Palavra e de Sua natureza reconciliadora, mas é imprescindível que as pessoas envolvidas estejam com o coração aberto para a possibilidade de estarem enganadas. Uma coisa é assumir sua ignorância quanto a determinado assunto. A outra é se omitir por pura auto-defesa.


Bibliografia

LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. São Paulo, ABU, 1992.

STOTT, John R.W. As epístolas de João – Série Cultura Bíblica. São Paulo, Mundo Cristão e Vida Nova, 1982.

FÁBIO, Caio. Quebrando a quebra de maldições – no site http://www.caiofabio.com.br

FARIA, Marcos Alexandre R.G., Apostila Novo Testamento 2 – Introdução a I, II, III João e Apocalipse. – http://www.icegob.com.br/marcos


___________

Sobre o autor: O autor do presente artigo é estudante de teologia na Faculdade Teológica Batista de Brasília e membro da Terceira Igreja Batista do Plano Piloto (Brasília-DF), onde atua nas áreas da Juventude, Missões e dá aulas na classe de adolescentes da EBD. É um dos colaboradores nas traduções do Monergismo.com.

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