Agostinho: Interpretação da Pedra de Mateus 16:18

por

William Webster



Agostinho é considerado por muitos o teólogo mais importante na história da Igreja dos primeiros mil e duzentos anos. Nenhum outro pai da Igreja teve uma influência de tão longo alcance sobre a teologia da Igreja. Sua autoridade durante toda a era patrística e a Idade Média é insuperável. Ele foi bispo de Hipona no Norte da África desde o fim do século IV e primeiro quarto do século V, até sua morte em 430. William Jurgens faz estes comentários sobre sua importância:

“Se tivermos que lidar com a indesejável proposta de ter de destruir completamente cada uma das obras de Agostinho ou as obras de todos os outros Pais e Escritores, eu não tenho dúvida que todos os outros teriam de ser sacrificados. Agostinho deveria permanecer. De todos os Pais, Agostinho é quem é o mais erudito, quem teve as mais notáveis percepções teológicas, e quem é efetivamente mais prolífico”. William Jurgens, The Faith of the Early Fathers (Collegeville: Liturgical, 1979), Vol. 3, p. 1).

Ele foi um prolífico escritor e produziu numerosos comentários que se relacionam diretamente com o assunto da interpretação da pedra de Mateus 16:18. De fato, Agostinho produziu mais comentários sobre esta passagem do que qualquer outro pai da Igreja. No final de sua vida, Agostinho escreveu suas Retratações onde ele corrige declarações de seus escritos primitivos, os quais ele diz serem errôneos. Uma destas tem a ver com a interpretação da pedra em Mateus 16. No começo de seu ministério Agostinho escreveu que a pedra era Pedro. No entanto, muito cedo ele mudou mais tarde sua posição e durante o restante de seu ministério ele adotou a visão de que a pedra não era Pedro, mas Cristo ou a confissão de Pedro que apontava para a pessoa de Cristo. O que se segue são declarações de suas Retratações que se referem a sua interpretação da pedra de Mateus 16:

Numa passagem neste livro, eu disse sobre o Apóstolo Pedro: ‘Sobre ele, como uma pedra, a Igreja foi construída'...Mas eu sei que mui freqüentemente em um tempo atrás, eu expliquei que o Senhor disse: ‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja', que é para ser entendido como construída sobre Ele, a quem Pedro confessou dizendo: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo', e assim Pedro, chamado depois esta pedra, representou a pessoa da Igreja que é construída sobre esta pedra, e recebeu ‘as chaves do reino do céu'. Porque, ‘Tu és Pedro' e não ‘Tu és a pedra' foi dito a ele. Mas ‘a pedra era Cristo', em quem confessando, como também toda a Igreja confessa, Simão foi chamado Pedro. Mas que o leitor decida qual dessas duas opiniões é a mais provável. (The Fathers of the Church (Washington D.C., Catholic University, 1968), Saint Augustine, The Retractations Capítulo 20.1).

Claramente Agostinho está repudiando uma posição sustentada previamente, adotando a visão que a pedra era Cristo e não Pedro. Esta se torna sua consistente posição. Ele deixa a interpretação aberta para os leitores decidirem qual era a mais provável interpretação, mas é claro que ele tinha concluído qual deveria ser a interpretação e que ele cria que a visão que a pedra é Cristo é a única correta.

O fato que ele mesmo sugeria que leitores individuais poderiam ter uma posição diferente é evidente do fato que depois de quatrocentos anos de história de igreja, não há nenhuma interpretação oficial autoritativa da Igreja desta passagem, como o Vaticano já declarou. Pode o leitor imaginar um bispo da Igreja Católica Romana, hoje, sugerindo que seria apropriado para indivíduos usar interpretação particular e chegar à sua própria conclusão com respeito ao adequado significado da pedra de Mateus 16? Mas isto é precisamente o que Agostinho faz, embora ele não nos deixe em nenhuma dúvida do que ele, sendo um bispo líder e teólogo da Igreja, pessoalmente cria. E sua visão não era uma interpretação nova, vindo no final de sua vida, mas foi seu ensino consistente durante todo o seu ministério. Nem era uma interpretação que funcionasse contra a opinião prevalecente de seus dias. A seguinte citação é representativa da visão geral esposada por este grande professor e teólogo:

E eu te digo…“Tu és Pedro, Rochoso, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus. O que ligares na terra será ligado também nos céus; o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mateus 16:15-19). Em Pedro, Rochoso, nós vemos nossa atenção atraída para a pedra. Agora, o apóstolo Paulo diz sobre o povo, ‘Eles bebiam da pedra espiritual que os acompanhava; e a pedra era Cristo' (1 Coríntios 10:4). Assim, este discípulo é chamado Rochoso à partir da pedra, como Cristão à partir de Cristo. Por que eu quis fazer esta pequena introdução? Para te sugerir que em Pedro a Igreja é para ser reconhecida. Cristo, você vê, construiu sua Igreja não sobre um homem, mas sobre a confissão de Pedro. Qual é a confissão de Pedro? ‘Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo'. Lá está a pedra para você, lá está a fundação, lá está onde a Igreja tem sido construída, sobre a qual as portas do inferno não podem prevalecer (John Rotelle, Ed., The Works of Saint Augustine (New Rochelle: New City Press, 1993), Sermons, Vol. 6, Sermon 229P.1, p. 327).

Agostinho não poderia ter sido mais claro em sua interpretação da pedra de Mateus 16. Em sua visão, Pedro é representativo da Igreja toda. A pedra não é a pessoa de Pedro, mas o próprio Cristo. De fato, na declaração acima, em uma exegese de Mateus 16, ele explicitamente diz que Cristo não construiu sua Igreja sobre um homem, referindo-se especificamente a Pedro. Se Cristo não construiu sua Igreja sobre um homem, então Ele não estabeleceu um ofício papal com sucessores de Pedro nos bispos de Roma. Novamente, se alguém examinar a documentação dos escritos de Agostinho que são fornecidos sobre Jesus, Pedro e as Chaves, esta particular referência não será encontrada. Claramente, os autores negligenciam prover tal documentação porque ela mina completamente a posição deles. A seguinte documentação extensiva revela que Agostinho ensinou que Pedro era simplesmente um representante figurativo da Igreja, não seu governador – uma visão recordativa de Cipriano:

Mas quem dizeis eles que sou? Pedro respondeu, ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Um de muitos deu a resposta, Unidade em muitos. Então disse-lhe o Senhor, ‘Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas: porque não foi carne e sangue que to revelou, mas Meu Pai, que está nos céus'. Então Ele adicionou, ‘e eu te digo'. Como se Ele tivesse dito, ‘Porque tu tens dito sobre Mim, “Tu és o Cristo o Filho do Deus vivo”; ‘Eu também te digo, “Tu és Pedro”. ‘Porque antes ele era chamado Simão. Agora este nome de Pedro foi lhe dado pelo Senhor, e em uma figura, que ele significaria a Igreja. Porque, visto que Cristo é a pedra (Petra), Pedro é o povo Cristão. Porque a pedra (Petra) é o nome original. Então Pedro é assim chamado de pedra; não a pedra de Pedro, como Cristo não é chamado Cristo à partir dos Cristãos, mas os Cristãos à partir de Cristo. ‘Então', ele diz, ‘Tu és Pedro, e sobre esta Pedra', que tu tens confessado, sobre esta pedra que tu tens reconhecido, dizendo, ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo, ‘eu edificarei Minha Igreja'; isto é, sobre Mim mesmo, o Filho do Deus vivo, ‘eu edificarei Minha Igreja'. Eu a edificarei sobre Mim mesmo, não Eu sobre ela.

Porque os homens que desejavam edificar sobre homens, diziam, ‘Eu sou de Paulo; e eu de Apolos; e eu de Cefas', que era Pedro. Mas outros que não desejavam edificar sobre Pedro, mas sobre a Pedra, diziam, ‘Mas eu sou de Cristo'. E quando o Apóstolo Paulo averiguou que ele foi escolhido, e Cristo desprezado, ele disse, ‘Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo?' E, como não no nome de Paulo, assim nem também no nome de Pedro; mas no nome de Cristo: que Pedro deveria ser edificado sobre a Pedra, não a Pedra sobre Pedro. Este mesmo Pedro, portanto, que tinha sido declarado ‘bem-aventurado' pela Pedra, carregando a figura da Igreja (Philip Schaff, Nicene and Post-Nicene Fathers (Grand Rapids: Eerdmans, 1956), Volume VI, St. Augustin, Sermon XXVI.1-4, pp. 340-341).

E esta Igreja, simbolizada em sua generalidade, foi personificada no Apóstolo Pedro, por causa da primazia de seu apostolado. Porque, com respeito a sua própria personalidade, ele foi por natureza um homem, pela graça um Cristão, por uma graça ainda mais abundante um, e todavia também, o primeiro apóstolo; mas quando foi lhe dito, ‘Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e o que ligares na terra será ligado também nos céus; o que desligares na terra será desligado nos céus', ele representou a Igreja universal, a qual neste mundo é abalada por diversas tentações, que vêm sobre ela como torrentes de chuva, dilúvios e tempestades, e não a submerge, porque ela está fundada sobre a pedra (petra), da qual Pedro recebeu seu nome. Porque petra (pedra) não é derivada de Pedro, mas Pedro de petra; justamente como Cristo não é chamado assim à partir de Cristão, mas o Cristão à partir de Cristo. Porque no mesmo relato o Senhor disse, ‘Sobre esta pedra eu edificarei minha Igreja', porque Pedro tinha dito, ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Sobre esta pedra, então, Ele disse, que tu tens confessado, eu edificarei minha Igreja. Porque a Pedra (Petra) era Cristo; e sobre este fundamento foi o próprio Pedro edificado. Porque outro fundamento não pode ser lançado além do qual já está posto, que é Cristo Jesus. A Igreja, então, que está fundada em Cristo, recebe dEle as chaves do reino dos céus na pessoa de Pedro, quer dizer, o poder de ligar e desligar pecados. Porque, o que a Igreja é essencialmente em Cristo, tal é representativamente Pedro na pedra (petra), e nesta representação Cristo é para ser entendido como a Pedra, Pedro como a Igreja. (Philip Schaff, Nicene and Post-Nicene Fathers (Grand Rapids: Eerdmans, 1956), Volume VII, St. Augustin, On the Gospel of John, Tractate 124.5).

Antes de Sua paixão, o Senhor Jesus, como você sabe, escolheu aqueles discípulos dos Seus, os quais chamou apóstolos. Entre aqueles foi somente a Pedro que em quase toda a parte foi dado o privilégio de representar toda a Igreja. Foi na pessoa de toda a Igreja, que ele sozinho representou, que ele foi privilegiado em ouvir, ‘Dar-te-ei as chaves dos céus' (Mateus 16:19). Depois de tudo, não foi somente um homem que recebeu aquelas chaves, mas a Igreja em sua unidade. Assim, esta é a razão da preeminência reconhecida de Pedro, de que ele estava representando a universalidade e unidade da Igreja, quando lhe foi dito, ‘A você, estou confiando', o que de fato tem sido confiado a todos.

Prentendo te mostrar que é a Igreja que tem recebido as chaves do reino dos céus, escute o que o Senhor diz em outro lugar a todos os seus apóstolos: ‘Recebei o Espírito Santo'; e imediatamente, ‘Àqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos' (João 20:22-23). Isto se refere às chaves sobre as quais é dito, ‘o que ligares na terra será ligado também nos céus; o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mateus 16:15-19). Mas isto foi dito a Pedro. Para te mostrar que Pedro naquela hora representou toda a Igreja universal, escute o que lhe é dito, que é dito a todos os fiéis, os santos: ‘Se teu irmão pecar contra você, repreende-o entre ti e ele só' (John Rotelle, Ed., The Works of Saint Augustine (Hyde Park: New City, 1994), Sermons, III/8 (273-305A), On the Saints, Sermon 295.1-3, pp. 197-198).

De acordo com Agostinho, os apóstolos eram iguais em todos os aspectos. Cada um recebeu a autoridade das chaves, não somente Pedro. Mas alguns objetam: Agostinho não concorda com uma primazia no apostolado de Pedro? Ele não chama Pedro de o primeiro dos apóstolos, sustentando o principal lugar no Apostolado? Tal argumento não provê a primazia papal? Embora seja verdade que Agostinho tenha algumas vezes exaltado coisas para dizer sobre Pedro, como muitos dos Pais, isto não significa que ele ou eles tenham sustentado a visão Católica Romana da primazia papal. Isto porque seus comentários se aplicam somente a Pedro. Eles não têm absolutamente nada a ver com os bispos de Roma. Como nós sabemos isto? Porque Agostinho e os pais não fazem esta aplicação em seus comentários. Ele não declaram que suas descrições de Pedro se aplicam aos bispos de Roma. O erro comum feito pelos apologistas Católicos Romanos é a suposição de que, porque alguns dos pais fazem certos comentários sobre Pedro – por exemplo, que ele é o chefe dos apóstolos ou cabeça do coro apostólico – que eles também têm em mente os bispos de Roma em um sentido exclusivo. Mas eles não declaram isto em seus escritos. Esta é uma teologia preconcebida que é lida em seus escritos. Eles viram os bispos de Roma como sendo sucessores de Pedro? Sim. Eles viram os bispos de Roma como sendo sucessores exclusivos de Pedro? Não. Na visão de Agostinho e dos pais primitivos, todos os bispos da Igreja no Oriente e Ocidente eram os sucessores de Pedro. Todos eles possuem a cadeira de Pedro. Então, quando eles falam em termos exaltados sobre Pedro, eles não aplicam aqueles termos aos bispos de Roma. Portanto, quando um Pai se refere a Pedro como a pedra, o coryphaeyus (corifeu), o primeiro dos discípulos, ou algo similar, isto não significa que ele está expressando concordância com a atual interpretação Católico Romana. Esta visão é claramente validada à partir das seguintes declarações de Agostinho:

Este mesmo Pedro, que tem sido pela Pedra declarado ‘bem-aventurado', carregando a figura da Igreja, sustentando o principal lugar no Apostolado (Sermão 26).

O bem-aventurado Pedro, o primeiro dos apóstolos (Sermão 295).

Antes de Sua paixão, o Senhor Jesus, como você sabe, escolheu aqueles discípulos dos Seus, os quais chamou apóstolos. Entre aqueles foi somente a Pedro que em quase toda a parte foi dado o privilégio de representar toda a Igreja. Foi na pessoa de toda a Igreja, que ele sozinho representou, que ele foi privilegiado em ouvir, ‘Dar-te-ei as chaves dos céus' (Mateus 16:19). Depois de tudo, não foi somente um homem que recebeu aquelas chaves, mas a Igreja em sua unidade. Assim, está é a razão da preeminência reconhecida de Pedro, de que ele estava representando a universalidade e unidade da Igreja, quando lhe foi dito, ‘A você, estou confiando', que de fato tem sido confiado a todos (Sermão 295).

Previamente, é claro, ele foi chamado Simão; este nome de Pedro lhe foi concedido pelo Senhor, e isto com a intenção simbólica de sua representatividade da Igreja. Porque Cristo, você vê, é a petra ou pedra; Pedro, ou Rochoso, é o povo Cristão (Sermão 76).

Assim então, este mesmo Pedro, bendito por ser apelidado Rochoso à partir da pedra, representando a pessoa da Igreja, sustentando o principal lugar no rank apostólico (Sermão 76).

Porque, como algumas coisas são ditas que parecem peculiarmente se aplicar ao Apóstolo Pedro, e todavia não são claras em seu significado, a menos quando se refere à Igreja, a quem ele é reconhecido ter figurativamente representado, por causa da primazia que ele tinha entre os Discípulos; como está escrito, ‘Dar-te-ei as chaves do reino dos céus', e outras passagens de propósito semelhante: assim Judas representa aqueles Judeus que eram inimigos de Cristo (Exposição sobre o Livro de Salmos, Salmos 199).

Você se lembrará que o apóstolo Pedro, o primeiro de todos os apóstolos, estava totalmente em equilíbrio com todos os outros apóstolos durante a paixão do Senhor (Sermão 147).

Cristo, você vê, construiu Sua Igreja não sobre um homem, mas sobre a confissão de Pedro. Qual é a confissão de Pedro? ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Lá está a pedra para você, lá está a fundação, lá é onde a Igreja tem sido construída, contra a qual os portões do inferno não podem prevalecer (Sermão 229).

E esta Igreja, simbolizada em sua generalidade, foi personificada no Apóstolo Pedro, por causa da primazia de seu apostolado. Porque, com respeito a sua própria personalidade, ele foi por natureza um homem, pela graça um Cristão, por uma graça ainda mais abundante um, e todavia também, o primeiro apóstolo; mas quando foi lhe dito, ‘Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e o que ligares na terra será ligado também nos céus; o que desligares na terra será desligado nos céus', ele representou a Igreja universal, a qual neste mundo é abalada por diversas tentações, que vêm sobre ela como torrentes de chuva, dilúvios e tempestades, e não a submerge, porque ela está fundada sobre a pedra (petra), da qual Pedro recebeu seu nome. Porque petra (pedra) não é derivada de Pedro, mas Pedro de petra; justamente como Cristo não é chamado assim à partir de Cristão, mas o Cristão à partir de Cristo. Porque no mesmo relato o Senhor disse, ‘Sobre esta pedra eu edificarei minha Igreja', porque Pedro tinha dito, ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Sobre esta pedra, então, Ele disse, que tu tens confessado, eu edificarei minha Igreja. Porque a Pedra (Petra) era Cristo; e sobre este fundamento foi o próprio Pedro edificado. Porque outro fundamento não pode ser lançado além do qual já está posto, que é Cristo Jesus. A Igreja, então, que está fundada em Cristo, recebe dEle as chaves do reino dos céus na pessoa de Pedro, quer dizer, o poder de ligar e desligar pecados. Porque o que a Igreja é essencialmente em Cristo, tal é representativamente Pedro na pedra (petra), e nesta representação Cristo é para ser entendido como a Pedra, Pedro como a Igreja. (Comentário do Evangelho de João, Tratado 124.5).

Agostinho declara que Pedro é o primeiro e o cabeça dos apóstolos e que ele sustenta uma primazia. Contudo, ele não interpreta esta primazia em um sentido Católico Romano. Ele crê que a primazia de Pedro é figurativa no que ele representa a Igreja universal. Novamente, ele explicitamente declara que Cristo não edificou sua Igreja sobre um homem, mas sobre a confissão de fé de Pedro. Pedro é edificado sobre Cristo, a pedra, e como uma figura representativa da Igreja, ele mostra como cada crente é edificado sobre Cristo. Na visão de Agostinho, Pedro sustenta uma primazia ou preeminência, mas nada disto se aplica a ele num sentido jurisdicional, porque ele disse que ‘Cristo não edificou sua Igreja sobre um homem'. Nós não podemos obter uma ilustração mais clara que os pais realmente fizeram separação da confissão de fé de Pedro da pessoa de Pedro. Comentando uma das referências de Agostinho à Pedro e à pedra, John Rotelle, o editor da série Católica Romana dos Sermões de Agostinho, faz estas observações:

‘Pedro existia, e ele não tinha sido ainda confirmado na pedra': Isto é, em Cristo, como participante em seu ‘rochedo' pela fé. Isto não significa confirmado como a pedra, porque Agostinho nunca pensou de Pedro como a pedra. Jesus, apesar de tudo, não lhe chamou de fato a pedra...mas ‘Rochoso'. A pedra na qual ele construiria sua Igreja, era, para Agostinho, tanto o próprio Cristo como a fé de Pedro, representando a fé da Igreja (ênfase minha) (John Rotelle, Ed., The Works of Saint Augustine (New Rochelle: New City, 1993), Sermons, Sermon 265D.6, p. 258-259, n. 9).

Agostinho não endossa a interpretação Católica Romana. Repetidamente ele declarou que a pedra é Cristo, não Pedro. Agostinho não reivindica nenhuma sucessão Petrina exclusiva nos bispos de Roma e nenhum ofício papal. Karlfried Froehlich resume a visão de Agostinho sobre Pedro e a pedra de Mateus 16 nestes comentários:

A formulação de Agostinho (de Mateus 16:18-19), transmitida por uma tradicional preocupação Norte Africana por uma unidade da igreja, que em Pedro unus pro omnibus (um por todos) tinha respondido e recebido a recompensa, não sugere mais do que um comentário figurativo de Pedro como uma imagem da verdaderia igreja. À luz da subseqüente queda e negação de Pedro, o próprio nome foi regularmente declarado ser derivado de Cristo, a verdadeira pedra. Agostinho, que seguiu Orígenes nesta suposição, foi fascinado pela dialética do ‘bem-aventurado' Pedro (Mateus 16:17) sendo chamado de ‘Satanás' uns poucos versos depois (verso 23). Em Pedro, fraco em si mesmo e forte somente em sua relação com Cristo, a igreja pode ver a imagem de sua própria total dependência da graça de Deus.

Agostinho rigorosamente separou o nome dado à partir de sua explanação: Cristo não disse a Pedro: ‘tu és a pedra', mas ‘tu és Pedro'. A igreja não é edificada sobre Pedro, mas sobre a única verdadeira pedra, Cristo. Agostinho e os exegetas medievais depois dele, encontraram a garantia para esta interpretação em 1 Coríntios 10:4. A chave alegórica deste verso já tinha sido aplicada à numerosas passagens bíblicas de pedra no testemunho da primitiva tradição Africana. Mateus 16:18 não era exceção. Se a metáfora da pedra não se referia à categoria de pedras ‘duras', ela tinha de ser lida cristologicamente (Karlfried Froehlich, Saint Peter, Papal Primacy, and Exegetical Tradition, 1150-1300, pp. 3, 8-14. Taken from The Religious Roles of the Papacy: Ideals and Realities, 1150-1300, ed. Christopher Ryan, Papers in Medieval Studies 8 (Toronto: Pontifical Institute of Medieval Studies, 1989).

Karl Morrison resume a visão da eclesiologia de Agostinho nestas palavras:

Pedro foi dito ter recebido o poder das chaves, não por si mesmo, mas como o representante de toda a Igreja. Sem contestar a primazia de Roma de honra, Santo Agostinho sustentou que todos os Apóstolos, e todos seus sucessores, os bispos, compartilhavam igualmente com os poderes que Cristo concedeu à São Pedro. (Karl Morrison, Tradition and Authority in the Western Church 300-1140 (Princeton: Princeton University, 1969), p. 162).

Reinhold Seeberg, o historiador da Igreja Protestante, faz estes comentários sobre a interpretação de Agostinho de Pedro, mostrando que ela reflete a visão de Cipriano:

A idéia da Primazia Romana não recebe do mesmo modo nenhuma elucidação especial nas mãos de Agostinho. Nós encontramos um geral reconhecimento da ‘primazia da cadeira apostólica', mas Agostinho nada sabe de alguma autoridade especial investida em Pedro ou seus sucessores. Pedro é uma ‘figura da igreja' ou ‘de bons pastores', e representa a unidade da igreja (serm. 295.2; 147.2). Nisto consiste a significação de sua posição e a dos seus sucessores…Como todos bispos (em contraste com as Escrituras) podem errar (unit. eccl. II.28), assim também os bispos de Roma. Esta visão é claramente manifesta à partir do testemunho de Agostinho e de seus colegas na controvérsia Pelagiana...Dogmaticamente, não houve nenhum avanço à partir da posição de Cipriano. Os Africanos, em suas relações com Roma, representaram um pouco do Galicanismo de um período posterior (Reinhold Seeberg, Text-Book of the History of Doctrines (Grand Rapids: Baker, 1952), Volume I, p. 318-319).

W.H.C. Frend afirma o consenso acima da eclesiologia de Agostinho e sua interpretação da comissão de Pedro:

Agostinho...rejeitou a idéia de que ‘o poder das chaves' tinham sido confiado somente a Pedro. Sua primazia era simplesmente uma questão de privilégio pessoal, e não um ofício. Similarmente, ele nunca reprovou os Donatistas por não terem comunhão com Roma, mas pela falta de comunhão com a visão apostólica como um todo. Sua visão do governo da Igreja era que questões menos importantes deveriam ser resolvidas por concílios provinciais, grandes questões em concílios gerais (W.H.C. Frend, The Early Church (Philadelphia: Fortress, 1965), p. 222).

Agostinho é o maior pai da Igreja e teólogo da era da escrita patrística depois de 400 anos de história de Igreja. A constituição da Igreja deveria ter sido uma questão firmemente resolvida, especialmente visto que o Vaticano reivindica que seus ensinamentos papais e interpretação de Mateus 16 sobre os quais eles têm descansado, têm sido a crença e o ensino da Igreja desde o principio. Todavia, Agostinho interpreta Mateus 16 de um modo Protestante e Ortodoxo, explicitamente repudiando a interpretação do Vaticano. Como explicamos isto?

O Vaticano declara que a pedra de Mateus 16 é a pessoa de Pedro e que esta tem sido a opinião unânime dos Pais da Igreja. Então, por que Agostinho sustentou uma visão contrária a que era supostamente a universal opinião da Igreja de seus dias e em toda a história precedente da Igreja? De acordo com Roma, esta passagem sustenta a chave para a constituição da Igreja dada pelo próprio Cristo, que foi plenamente reconhecida desde o princípio. Se tivesse sido assim, por que Agostinho propositalmente contradiz a universal interpretação de uma passagem tão fundamental e importante? A resposta, absolutamente simples, é que os Pais não interpretaram a pedra de Mateus 16 do modo como o Vaticano o faz. Agostinho é meramente um proeminente representante da opinião da Igreja como um todo.

Os autores do livro Jesus, Pedro e as Chaves sugerem que Agostinho inventou uma nova interpretação da pedra de Mateus 16, declarando que a pedra é Cristo. Especificamente eles declaram: ‘Santo Agostinho inventou uma nova exegese (de Mateus 16:18-19) – que a pedra é Cristo' (Scott Butler, Norman Dahlgren, David Hess, Jesus, Peter and the Keys (Santa Barbara: Queenship, 1996), p. 252). Esta é uma declaração completamente mal informada. Como temos visto, esta interpretação foi utilizada por Eusébio no quarto século, muitos anos antes de Agostinho.

 

Para ler o testemunho de Tertuliano, Orígenes, Cipriano, Eusébio, Ambrósio, João Crisóstomo e outros sobre Mateus 16:18, visite

http://www.the-highway.com/Matt16.18_Webster.html



Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 08 de Agosto de 2003.


http://www.monergismo.com/

Este site da web é uma realização de
Felipe Sabino de Araújo Neto®
Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê.

TOPO DA PÁGINA

Estamos às ordens para comentários e sugestões.

Livros Recomendados

Recomendamos os sites abaixo:

Academia Calvínia/Arquivo Spurgeon/ Arthur Pink / IPCB / Solano Portela /Textos da reforma / Thirdmill
Editora Cultura Cristã /Editora Fiel / Editora Os Puritanos / Editora PES / Editora Vida Nova