Revelação

por

Vincent Cheung



E Ele nos fez conhecido o mistério da Sua vontade de acordo com a Sua boa vontade, que Ele propôs em Cristo
Efésios 1:9.

Todos aqueles que foram salvos sob a administração antiga e nova da graça de Deus, foram salvos sobre a mesma base, a saber, através da fé dada por Deus na obra redentora de Cristo. Todavia, sob a nova administração, há uma revelação mais plena do “mistério da Sua vontade” (v. 9). A revelação deste “mistério” corresponde ao dom de “sabedoria e prudência” dado por Deus. Em outras palavras, quando a Escritura diz que Deus dá ao Seu povo “sabedoria e prudência”, ela não está apenas nos dizendo que Deus dá potencial e capacidades intelectuais (embora estas estejam incluídas), mas ela está nos dizendo também que Deus nos revela a própria informação para entendermos e aplicarmos.

A palavra “mistério” é uma das favoritas dos anti-intelectuais, e eles constantemente usam-na impropriamente e abusam da mesma. Quando usam a palavra, eles estão se referindo a algo que nem mesmo podemos entender, e, portanto, algumas vezes adicionam que mistério é algo sobre o que não deveríamos pensar muito, e certamente não debater sobre ele. Anti-intelectuais freqüentemente usam a palavra como um escape para algo que eles não podem refutar, mas ao mesmo tempo se recusam aceitar. Mas os cristãos não deveriam ser como os ateus, que são intelectualmente desonestos e incompetentes.

Por exemplo, algumas vezes, após explicar a doutrina da predestinação a alguém, e após responder todas as suas perguntas e objeções, ele ainda suspira e diz, “Bem, eu penso que isto é simplesmente um mistério”, no sentido de que a doutrina é algo que não podemos entender, de forma alguma. Mas, eu tinha acabado de explicá-la para ele, respondido todas as suas perguntas e objeções, até que ele não encontrasse nada biblicamente ou logicamente errado nela! Não é que a doutrina não possa ser entendida, mas sim que a pessoa se recusa a aceitá-la, e esta é uma forma na qual ele pensa poder escapar. Se Deus revelou uma doutrina na Escritura, então, chamá-la de um “mistério” (no sentido de algo ainda oculto), como se Ele nunca tivesse revelado, seria um insulto e desafio a Ele. Portanto, nunca deveríamos falhar em desafiar um apelo falso e ilegítimo a “mistério”, especialmente quando isto é feito para mascarar a incredulidade e desafio de alguém.

Se algo está claramente revelado e explicado, então, ele certamente não é um “mistério” no sentido de que ainda está oculto ou não possa ser entendido. Realmente, quando diz respeito a esta palavra, há uma confusão entre o uso comum e o uso bíblico.

No uso comum, a palavra freqüentemente se refere a algo que não podemos entender, mas no uso bíblico, e mesmo no contexto da nossa passagem, é óbvio que a palavra é usada de uma maneira diferente. Paulo tinha acabado de dizer que Deus nos deu “sabedoria e prudência”, e escreve que “Ele nos fez conhecido o mistério da Sua vontade” (v. 8). Em outras palavras, um “mistério” não é algo que os humanos não possam entender, mesmo que tenha sido algo oculto num determinado tempo. Aqui Paulo está se referindo a algo que estava oculto, mas que agora tinha sido “feito conhecido”. Ao invés de se referir a algo que não conheçamos ou não possamos entender, o uso bíblico de “mistério” se refere a quase o oposto — realmente a algo que provavelmente estava oculto, mas que agora tinha sido revelado e explicado. [75]


Portanto, O'Brien chama este mistério de “segredo aberto”
[76] Markus Barth é mais elaborado e escreve:

Mas o mystērion de Deus, mesmo o “segredo” de Deus, é para Paulo longe de ser incognoscível. Ele é conhecido pela revelação e feito conhecido em todo o mundo. Certamente ele tinha o mais alto respeito pela revelação e pelo evangelho lhes confiado — mas é respeito causado pelo conhecimento antes do que pela ignorância e incompetência...O “segredo” do qual ele fala, não pode, portanto, ser identificado com um mistério totalmente ou parcialmente, eternamente ou temporariamente, realmente ou intencionalmente envolvido numa nuvem. Ele não está ocupado em lógica paradoxal ou em glossolalia. O falar claro, franco, sóbrio e corajoso, embora colorido com características da dicção da oração, é o modo dele falar do segredo de Deus. Em resumo, quando ele fala de um mystērion, ele quer dizer um mistério que foi revelado; tudo que ele diz é baseado na manifestação do anteriormente oculto. [77].

O uso bíblico de “mistério” é deveras significante e instrutivo, mas não leva de forma alguma ao anti-intelectualismo, e não dá nenhuma escusa para a retenção de assentimento ou obediência. Apelar a “mistério” (como algo ainda oculto) pode parecer piedoso e reverente para alguns, como se alguém estivesse impressionado pela profundidade e maravilha da sabedoria divina; contudo, quando tal apelo é feito diante de uma clara revelação, ele simplesmente denuncia a preguiça e desafio de alguém. Se Deus revelou algo, então, deveríamos estudá-lo, e deveríamos crer nele. [78]


NOTAS:

[75] - Em outro contexto, Lutero escreve, “Não reconhece Paulo ser ela a sabedoria oculta em mistério, predita deveras pelos profetas, mas revelada somente pelo evangelho, de forma que foi desde a eternidade secreta e desconhecida ao mundo (cf. 1 Cor. 2:7)?” (Luther, p. 306). Assim, para Lutero, um “mistério” significa algo predito pelos profetas, mas revelado pelo evangelho, como também afirmamos aqui. Veja também Romanos 16:25-26; 1 Coríntios 2:7-10; Efésios 3:2-6, 6:19; Colossenses 1:25-27, 2:2-3, 4:3.

[76] - O'Brien, p. 109.

[77] - Markus Barth, Ephesians 1-3 (The Anchor Bible, Vol. 34); Doubleday, 1974; p. 126.

[78] - O uso bíblico de mistério também implica a necessidade de revelação especial — é algo que permaneceria oculto, a menos e até que Deus o revelasse a nós, e agora Ele já o revelou.

 

 


Extraído e traduzido de Commentary on Ephesians, de Vincent Cheung, páginas 40-42.

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 01 de Abril de 2005.


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