Filipenses 2:1-11

por

Vincent Cheung



Se por estarmos em Cristo nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão, completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude. Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana,humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”. (Filipenses 2:1-11).

Parceiros no evangelho são unidos pelo evangelho; eles se unem para promover uma mesma mensagem e um mesmo propósito. Fazendo isto, eles evidenciam que de fato são escolhidos de Deus, e ao mesmo expõem todos aqueles que lhes fazem oposição como condenados por Deus. Contudo, hábitos pecaminosos permanecem nas pessoas mesmo após sua conversão, e várias circunstâncias podem suscitar esse egoísmo que restou a fim de proteger seus próprios interesses, até mesmo à custa de outros e do evangelho, ameaçando assim a unidade cristã.

Portanto, Paulo trata da abnegação, para que eles não percam de vista o quanto isto é importante, e que eles permaneçam firmes na união em torno do evangelho. A santificação bíblica não vem somente pela oração ou por força de vontade, mas ela vem e se desenvolve por repetidamente lembrar e persuadir os crentes a obedecer aos preceitos de Deus e seguir o exemplo de Cristo.

Consequentemente, Paulo os relembra de sua participação comum no evangelho. Como ele enfatiza noutra parte, há um só corpo de crentes, chamado por Deus para uma mesma esperança. Essa comunidade é unida por meio de um mesmo Espírito, um mesmo Senhor, uma mesma fé, um mesmo batismo, e um mesmo Deus e Pai (Efésios 4:4-6). Não existe nenhuma maneira de alcançar verdadeira unidade com aqueles que estão fora desse corpo, nem tal unidade com eles é desejável. Mas todos aqueles que verdadeiramente compartilham dos benefícios supremos e exclusivos do evangelho tem realmente algo importante em comum, e isto deve conduzi-los à unidade.

Quando o “partidarismo e vanglória” se introduz para minar essa unidade, temos de nos esforçar para preservá-la, mesmo à custa de nosso próprio interesse e orgulho. Assim, Paulo apela à abnegação em face do egoísmo, e prescreve a humildade para superar o orgulho. Nós devemos tomar cuidado só de nós mesmos, mas também do interesse dos outros. Se fomos verdadeiramente convertidos a Deus, isto é, se recebemos os benefícios do evangelho, então vamos nos unir em torno dessa mesma mensagem e desse mesmo propósito, e assim teremos uma mesma mente. Aqueles que são parceiros no evangelho, que sejam também unidos pelo evangelho.

Para instruir e encorajar os Filipenses a praticar a abnegação, Paulo cita o exemplo de Jesus Cristo, nos versículos 5-11. Embora uma exegese precisa dessa passagem envolva algumas dificuldades, o sentido geral é claro. Jesus sempre foi Deus, mas ele não se apegou a isto negando humilhar-se ao assumir atributos humanos para redimir os eleitos. Pelo contrário, sendo Deus, ele se submeteu de boa vontade à humilhação de tornar-se um escravo. Além do mais, ele foi obediente à vontade do Pai a ponto de voluntariamente morrer a morte de um criminoso!

Onde a NIV diz que ele “se fez nada,” a NASB diz que ele “se esvaziou,” o que é mais literal. Algumas pessoas tem falsamente inferido dessa expressão que Jesus colocou de lado alguns de seus atributos divinos na encarnação. Isto é chamado de teoria kenosis ou teologia kenótica. Outros vão além e dizem que ele transitou sobre esta terra como um mero ser humano apoderado pelo Espírito Santo. Mas essa é uma heresia condenável. Visto que são os atributos de um ser o que o definem, um ser que deixa de lado qualquer dos seus atributos originais essenciais (assumindo que isso seja possível, em primeiro lugar) já não é mais o que originalmente era.

Isto é, se Jesus deixou de lado qualquer um de seus atributos divinos, ele já não é Deus. E como são justamente os atributos divinos que fazem Deus ser Deus, é estúpido dizer que Deus possa ser Deus se ele deixou de lado alguns de seus atributos divinos. Contudo, Deus é imutável, de modo que se Jesus sempre foi Deus, ele nunca poderá deixar de ser Deus. Portanto, aqueles que afirmam a impossível e absurda teoria da kenosis não só arriscam perder as bases reais sobre as quais poderiam chamar-se de cristãos, mas se tornaram os inimigos do cristianismo. Ao invés disso, os cristãos devem afirmar que Jesus sempre foi Deus, e que ele ainda era Deus quando tomou sobre si os atributos humanos e viveu sobre a terra. [1] Ele nunca deixou de lado nenhum de seus atributos divinos; ele nunca existiu como um mero ser humano apoderado pelo Espírito Santo.

Quando Paulo diz que Cristo “esvaziou a si mesmo,” ele não está retratando Cristo como um recipiente com atributos divinos que poderiam ser despejados como água, após o que tais atributos não mais estariam nele, pelo menos até a sua ressurreição ou ascensão. O propósito da passagem é recordar a humildade e humilhação de Cristo para prevenir e encorajar os crentes a praticar a abnegação, e assim preservar sua unidade em torno do evangelho. A humilhação de Cristo não foi esvaziar a si mesmo de algo, mas foi ele humilhar-se a si mesmo “tomando” atributos humanos (v. 7). Seu ato de “se esvaziar” estava em seu ato de “tomar ” a natureza humana. Dizer que ele esvaziou a si mesmo é, desse modo, somente uma metáfora, assim como quando Paulo diz: “Estou sendo oferecido como libação” (v. 17), ele não está dizendo que seus órgãos internos ou seus atributos humanos seriam despejados como se despeja o líquido de uma garrafa (tal como em 2 Coríntios 12:15; 2 Timóteo 4:6). O ponto é que Cristo praticou a abnegação e o auto-sacrifício por nossa causa (2 Coríntios 8:9).

Este é o maior exemplo de abnegação e Paulo nos chama a adotar a mesma atitude, tendo a mesma prontidão em negar nosso “partidarismo ou vanglória” em favor do evangelho e em favor de outros crentes. Como mencionado, várias circunstâncias podem suscitar o orgulho que restou para que ele venha proteger nossos próprios interesses, pondo em risco assim a unidade cristã. É nestas ocasiões que devemos estar dispostos a nos humilhar por uma causa maior, isto é, por uma mesma mensagem e um mesmo propósito em torno do qual devemos todos nos unir.

Porque Cristo dispôs-se ao sacrifício e à submissão, Deus o exaltou ao mais alto lugar, de modo que todos devem adorá-lo. Mas para que seja assim, Cristo não tem de ser Deus? Sim, mas agora nós não estamos nos referindo ao seu estado de encarnação, embora saibamos que Cristo reteve seus atributos humanos em sua ressurreição. Todos têm de se curvar diante dele, e isto inclui todos os falsos deuses e falsos profetas das religiões não-cristãs. Maomé e Joseph Smith são agora forçados a curvar-se diante de Jesus Cristo de onde estão no inferno, em meio a sua extrema agonia — não como sinceros adoradores, é claro, mas como inimigos derrotados de Cristo — assim como seus seguidores enganados que pensaram que esses falsos profetas poderiam conduzi-los ao céu. Como Pedro escreve: “Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido” (1 Pedro 5:6). Se você se humilhar diante de Deus, ele irá exaltá-lo, embora ele faça isso no seu tempo e de acordo com o seu plano.


NOTAS:

[1] — É óbvio, Deus Filho nunca “viveu sobre a terra” no sentido em que ele estava completamente restrito a seu corpo humano; se fosse assim ele realmente teria colocado o atributo divino da onipresença de lado, o que é impossível. Ao invés disso, Deus o Filho sempre foi e ainda é onipresente, mesmo quando viveu sobre a terra segundo a sua natureza humana, e até agora, sua natureza humana não é onipresente, embora sua natureza divina certamente o seja.

 


Nota sobre o autor: Vincent Cheung é o presidente da Reformation Ministries International [Ministério Reformado Internacional]. Ele é o autor de mais de vinte livros e centenas de palestras sobre uma vasta gama de tópicos na teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como um sistema de pensamento compreensivo e coerente, revelado por Deus na Escritura. Ele e sua esposa, Denise, residem em Boston, Massachusetts. http://www.rmiweb.org/

 



Extraído e traduzido de Commentary on Philippians, de Vincent Cheung, páginas 35-37.

Traduzido por: Márcio Santana Sobrinho
Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto


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