Romanos 5:15-19

por

William Hendriksen


 

Romanos 5:15-17 Mas o dom gratuito não é como a transgressão. Pois se, em virtude da transgressão de um só, muitos morreram, muito mais a graça de Deus, e o dom que veio pela graça deste único homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos! Além disso, o dom [de Deus] não é como [o resultado] do pecado de um só homem. Pois o juízo procedeu de um só pecado e trouxe condenação, mas o dom gratuito procedeu de muitas transgressões e trouxe justificação. Pois se pela transgressão de um só, reinou a morte através dele, muito mais aqueles que receberem a transbordante plenitude da graça e o dom da justiça reinam em vida através de um só, Jesus Cristo.


Nestes versículos Paulo mostra que o paralelo Adão-Cristo é principalmente o de contraste, no sentido em que a influência de Cristo para o bem excede muito à eficiência de Adão para o mal: o dom gratuito é “não como a transgressão”, ou seja, é muito mais eficaz do que a transgressão.

À guisa de introdução à interpretação adicional, umas poucas questões precisam ser mantidas em mente:

a. O apóstolo usa a palavra muitos num duplo sentido. Em seu primeiro uso (“muitos morreram”), indica todos os descendentes físicos de Adão. No final do mesmo versículo (“transbordou para muitos”), indica todos aqueles que pertencem a Cristo. Isso nos lembra Isaías 53.11, 12; Mateus 20.28; Marcos 10.45.

b. O versículo 12 já mostrou que Adão foi responsável por introduzir dois males no mundo: pecado e morte. O apóstolo trata de ambos sucessivamente: do pecado ou transgressão de Adão (vv. 15, 16), da morte (v. 17). Ele os concebe como sendo intimamente relacionados, e por isso às vezes menciona ambos de um só fôlego.

É compreensível que Paulo possa dizer que, em virtude da transgressão de Adão, muitos morreram. Esses muitos são os designados em 5.12 como “toda a humanidade” (literalmente, todos os seres humanos, todo mundo). Cf. 1 Coríntios 15.22. Mas, em conexão com a obra de Deus em Cristo, para os filhos de Deus este mal foi mais que cancelado. Para eles, a graça de Deus e seu dom da salvação transformaram a morte em seu próprio oposto. A morte veio a ser lucro! (Fp 1.21). Além do mais, quanto ao pecado, quando a graça entrou, o homem mais que meramente voltou a seu estado anterior de inocência. Ela lhe concedeu justiça (v. 17) e vida (v. 18), ou seja, vida eterna (v. 21). Para o glorioso conteúdo deste termo, veja acima o comentário sobre Romanos 2.7.

Além disso, no caso de Adão, um único pecado foi envolvido, pecado esse que resultou em condenação. Cristo, porém, por sua obra de redenção, fez provisão para o perdão não só daquele único pecado, mas também de todos aqueles que procederam dele. Seu sacrifício foi suficiente para todos eles, e de fato foi eficaz para todos os pecados cometidos por aqueles que, pela graça soberana, depositaram nele sua confiança. Para eles, a condenação foi substituída pela justificação. Veja sobre em Romanos 1.17; 3.24; 5.1.

Paulo agora se volve mais especialmente para o tema da morte. Desta vez, depois de reiterar que a morte resultou da transgressão de um só, Adão, ele menciona o reinado da morte, a poderosa e destrutiva influência que ela exerce sobre as atividades dos seres humanos. Em harmonia com estes pensamentos sobre a supremacia da graça (a doutrina do “muito mais”), o apóstolo agora realça que no caso dos crentes o reinado da morte não é meramente substituído pelo reinado da vida, mas por um reinado tão indizivelmente glorioso que aqueles que dele participam serão eles mesmos reis e rainhas. Tudo isso é o resultado de “a transbordante plenitude da graça e de uma justiça que é dom de Deus para eles através de Um só, Jesus Cristo”, ou seja, através de sua pessoa e obra.

Ao avaliar o apóstolo as dificuldades que tinham de ser esclarecidas antes que pudesse completar o pensamento começado no versículo 12, ele então, fazendo uso de uma fraseologia um tanto variada, no versículo 18a apresenta a lista do primeiro versículo – de modo que, essencialmente, o versículo 18a equivale ao versículo 12, e então, no versículo 12b ele leva este pensamento a uma conclusão. Num vocabulário um pouco diferente, o pensamento inteiro é reiterado no versículo 19.

18, 19. Conseqüentemente, como uma só transgressão resultou em condenação para todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou, para todos os homens, em justificação que traz vida. Pois assim como através da desobediência de um só muitos se tornaram pecadores, assim também através da obediência de um só muitos se tornarão justos.

Como o termo “Conseqüentemente” indica, Paulo não só está voltando ao pensamento expresso no versículo 12; ele está sumariando o argumento do parágrafo inteiro (vv. 12-17). A presente passagem contrasta uma só transgressão, ou seja, a de Adão (Gn 3.6, 9-12, 17), transgressão essa aqui chamada “a desobediência de um só”, e um só ato ou feito de justiça, chamado “a obediência de Um só”, sendo esse Um só, Jesus Cristo. Cf. Filipenses 2.8. Visto que no contexto precedente Paulo não mencionou menos de três vezes a morte de Cristo por seu povo (vv. 6, 8, 10; cf. vv. 7 e 9), é indubitável que também aqui nos versículos 18 e 19, a referência é àquele sacrifício supremo. Entretanto, não devemos interpretar este conceito de forma demasiadamente estreita: a morte voluntária de Cristo representa todo o seu ministério sacrificial terreno do qual essa morte foi o clímax.

Podemos entender que uma transgressão resultou em condenação para todos os homens, mas o que o apóstolo tem em mente quando declara que também, para todos os homens, um só ato de justiça resultou em justificação que comunica vida? Se no primeiro caso “todos os homens” significa absolutamente todo mundo, a lógica não demanda que no segundo caso de seu uso a expressão tenha o mesmo significado? Eis a resposta:

a. O apóstolo já esclareceu bem em passagens anteriores que a salvação é para os crentes, tão-somente para eles (1.16, 17; 3.21-25 etc.).

b. Ele já enfatizou isso também neste mesmo texto: somente aqueles que “recebem a transbordante plenitude da graça e do dom da justiça” reinarão em vida (v. 17).

c. Numa passagem que é similar a 5.18, e que já se fez referência anteriormente, o próprio apóstolo explica o que ele tem mente por “todos” ou “todos os homens” que deverão ser salvos e participarão da gloriosa salvação. Essa passagem é:

“Pois como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um em seu próprio turno: Cristo, as primícias; depois aqueles que são de Cristo, em sua vinda” (1Co 15.22, 23). Aqui declara-se nitidamente que o “todos” que serão vivificados são “todos os que estão em Cristo”, ou seja, aqueles que lhe pertencem.

Mas ainda que esta resposta prove que quando Paulo aqui usa a expressão “todos” ou “todos os homens”, em conexão com aqueles que são ou serão salvos, este “todos” ou “todos os homens” não deve ser interpretado no sentido absoluto ou ilimitado, isso ainda deixa outra pergunta sem resposta, a saber: “Por que Paulo usa esta forte expressão?” Para responder a esta pergunta, é preciso que alguém leia cuidadosamente toda a epístola. Então se fará claro que, entre outras coisas, Paulo está combatendo a tendência sempre presente dos judeus em se considerarem como sendo melhores que os gentios. Em oposição a essa atitude errônea e pecaminosa, ele enfatiza que, no que diz respeito à salvação, não há diferença entre judeu e gentio. O leitor deve estudar cuidadosamente as seguintes passagens a fim de verificar isso por si mesmo: 1.16, 17; 2.7-11; 3.21-24, 28-30; 4.3-16; 9.8, 22-33; 10.11-13; 11.32; 15.7-12; 16.25-27. No que concerne à salvação, diz Paulo: “Não há distinção. Deus não mostra parcialidade.” Todos os homens são pecadores diante de Deus. Todos são carentes da salvação. Pois todo o caminho de salvação é o mesmo.

No dia e época em que, mesmo em certos círculos evangélicos, a distinção antibíblica entre judeu e gentio estiver ainda sendo mantida, e até mesmo enfatizada, é preciso que, o que a Palavra de Deus diz sobre esse assunto, particularmente também nas epístolas de Paulo aos Romanos, seja realçado.

Note que no versículo 18 somos informados que uma só transgressão resultou em condenação para todos, mas que um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida. Isso mostra que a justificação não só destrói o veredicto de “culpado”, cancelando a sentença de condenação, mas também abre o portão para a vida. Para este conceito de vida – cf. versículos 17 e 21 –, veja acima sobre 2.7.

Igualmente no versículo 19, Paulo não diz: “Assim como através da desobediência de um só muitos se tornaram pecadores, assim também através da obediência de Um só muitos se tornaram inocentes ou sem culpa”, mas: “... muitos se tornarão justos”. Por certo, isso basicamente significa “ser declarado justo”. Não obstante, quando Deus declara justo a alguém, essa ação sempre determina tudo? Veja a explanação de 5.5.

[...]



Fonte: Comentário sobre Romanos, William Hendriksen. Editora Cultura Cristã.


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