Salmo 138:5-6

por

Santo Agostinho


Eu fui para longe e tu estavas aqui


De longe penetrais meus pensamentos. Vós conheceis os meus passos e as minhas pausas, e tudo o que faço vos é familiar (Sl 138,2-3). O que significa este: de longe? Enquanto ainda estou em peregrinação, enquanto não chego à pátria celeste, conheceis meus pensamentos. Dais atenção ao filho mais moço, porque também se tornou Corpo de Cristo, Igreja que vem até vós, saída de todos os povos. De fato, o filho mais moço tinha ido para longe. Certo pai de família tinha dois filhos: o mais velho não fora para longe, mas trabalhava no campo e representa os santos que no tempo da Lei cumpriam suas obras e preceitos.

O gênero humano desviara-se para a idolatria, partira para uma longínqua peregrinação. O que está mais longe daquele que te criou que a representação que dele fizeste? Partiu, pois, o filho mais moço para um país longínquo, levando consigo os seus haveres. E, como sabemos pelo Evangelho, dissipou lá tudo o que tinha, vivendo prodigamente. E, como passava fome, pôs-se a serviço de um senhor da região, que lhe confiou o cuidado de seus porcos. E quisera saciar-se com as vagens que os porcos comiam, mas não lhe era permitido.

Após o trabalho, o sofrimento, a tribulação e a pobreza, lembrou-se do pai e resolveu voltar. E disse: Vou levantar-me e irei a meu pai (Lc 15,18). Reconhece aqui a sua voz que afirma: Sabeis quando me sento e quando me levanto (Sl 188,2). Sentei-me na miséria, levanto-me no desejo do vosso pão. De longe penetrais os meus pensamentos. Por isso diz o Senhor no Evangelho que o pai correu a seu encontro (Lc 15,20). Com toda a razão, porque penetrou-lhe de longe os pensamentos: Vós conheceis os meus passos e as minhas pausas. Os meus passos, disse. Que passos se não os maus, que ele deu ao abandonar o pai, como se pudesse ocultar-se aos olhos de quem podia castigá-lo? E como pôde ter sido oprimido por aquela pobreza e encarregado de guardar porcos, se não porque o pai quis castigar quem estava longe, para acolhê-lo quando voltasse para perto.

Por isso, como um fugitivo que é apanhado - um fugitivo seguido pelo justo castigo de Deus, que nos pune em nossos afetos onde quer que andemos e onde quer que tenhamos chegado - sim, como um fugitivo que é apanhado, ele exclama: Vós conheceis os meus passos e as minhas pausas.

E todos os meus caminhos vos são conhecidos. Antes que entrasse em meus caminhos, antes que os percorresse, vós os conhecíeis. E permitistes que eu andasse por eles, entre sofrimentos, para que, não querendo sofrer, pudesse retornar aos vossos caminhos.

Porque não há dolo em minha boca (Sl 138,4,Vulgata). E por que diz isto? Porque faço aqui esta confissão: andei por meus caminhos e fiquei afastado de vós; afastei-me de vós, levando o que julgava um bem e que, ao vos perder, tornou-se para mim um mal. Realmente, se eu me sentisse bem sem vós, talvez não houvesse querido retornar. Por isso, confessando os seus pecados, ele disse na pessoa do Corpo de Cristo, justificado não por si, mas pela graça: Não há dolo em minha boca.

 

Ps 138,5-6

 

 


Fonte: Dos Comentários de Santo Agostinho sobre os Salmos.


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