Gólgota
(Mateus 27:33-44)

por

Sam Storms




O lugar da crucificação de Jesus é chamado Gólgota (v. 33), literalmente, “lugar da caveira”. Ele era localizado fora da cidade, de acordo com o costume judeu e romano (Lev. 24:14; Num. 15:35s.; Atos 7:58; Heb. 13:12-14).

De acordo com o v. 34, “deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber”. Isto tem sido interpretado de duas maneiras diferentes:.

1) A visão tradicional é que era costume as mulheres judias fornecer uma bebida narcótica para aqueles condenados para que diminuísse suas sensibilidade à dor da crucificação. Veja Provérbios 31:6-7. Se é assim, então a indisposição de Jesus de beber reflete sua determinação de suportar com completa consciência as agonias da cruz e da ira do Pai.

2) Outros argumentam que este não foi um ato de compaixão da parte das mulheres, mas um ato de crueldade e tormento da parte dos soldados (“deram-lhe” refere-se aos soldados). A mistura foi designada para fazer o vinho intragável e extremamente amargo. Assim, os soldados importunaram Jesus sob a pretensão de dar-Lhe vinho bom. O propósito real deles foi agravar sua agonia e humilhação.

A referências às suas vestes sendo divididas para lançar sortes (v. 35) é uma alusão ao Salmo 22:16-18. Era costumeiro dividir as vestes da vítima entre os seus carrascos. Jesus teria tido somente uma peça de roupa sangrenta, um cinto e um par de sandálias.

O v. 36 com sua referência aos soldados sentados para guardar vigia sobre Ele é encontrada somente em Mateus. Ele provavelmente a incluiu para indicar que os soldados temiam uma tentativa de resgate ou talvez para enfatizar que Jesus morreu sobre a cruz, isto é, que Ele não foi removido antes de morrer.

“E, por cima da sua cabeça, puseram escrita a sua acusação: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS” (v. 37). Esta acusação é, certamente, altamente irônica. Pilatos, desejando ofender os judeus e zombar de suas esperanças de um dia serem libertos do governo de Roma. Sem conhecimento, certamente, ele acusou Jesus de ser precisamente quem de fato Ele era.

Os “dois salteadores” (v. 38a) que foram crucificados com Ele, “um, à direita, e outro, à esquerda” (v. 38b), eram provavelmente rebeldes presos na mesma rebelião que tinha levado à prisão de Barrabás (cf. Isaías 53:12).

Alguém pode pensar que Jesus tinha sido sujeitado a uma humilhação pública suficiente, todavia, lemos nos vv. 39-40 que “os que passavam blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Tu, que destróis o templo e, em três dias, o reedificas, salva-te a ti mesmo; se és o Filho de Deus, desce da cruz”. Veja Salmo 22:6-8. Como notado, a crucificação foi propositalmente pública para deter outros e especialmente para aumentar a humilhação da vítima ao expô-lo aos insultos dos transuentes. Com expressões de júbilo malicioso, eles sadicamente zombavam dele e tomavam deleite em sua dor.

O primeiro insulto relembra a acusação de Mateus 26:60-61. Estes eram homens que provavelmente estavam presentes no Sinédrio, quando a acusação original foi feita.

O segundo insulto não somente nos lembra de Seu julgamento (Mateus 26:63), mas para os leitores do evangelho de Mateus ele lembra um paralelo interessante — 4:3,6 ! “O transuente Satanás ainda estava tentando fazer com que Jesus evadisse da vontade do Pai e evitasse sofrimento adicional” (Carson, 576).

“E da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus, escarnecendo, diziam: Salvou os outros e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça, agora, da cruz, e creremos nele; confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus” (vv. 41-43).

Evidentemente eles não se dirigiram diretamente a Jesus, mas falavam entre si num tipo de murmúrio que pretendia ser ouvido por acaso pelo objeto do desprezo.

“Ele salvou os outros” é provavelmente uma referência ao seu ministério de cura. Há um duplo significado aqui. No sentido no qual os líderes judeus queriam usar, eles estavam obviamente errados. Aquele que curou os outros e ressuscitou mortos podia certamente salvar a si mesmo. E todavia, por outro lado, se fosse para Ele realizar aquela obra redentora para a qual Ele veio foi até a cruz, Ele não poderia salvar a Si mesmo. Ele teve que entregar a Si mesmo para a crucificação.

Todos nós, às vezes, não medimos o poder de Deus pelo que vemos? Nós pensamos que o que Deus não faz é porque Ele não pode. Mas aqui vemos que Ele não salvou a Si mesmo, não porque Ele não podia, mas simplesmente para que por não salvar a Si mesmo Ele pudesse nos salvar.

O desafio para descer da cruz teve vários níveis de significado: (1) Ele era mais uma zombaria maliciosa da aparente fraqueza de Jesus. (2) Ele era como se estes hipócritas estivessem sugerindo que a causa deles não crerem em Jesus era culpa de Jesus! “É sua culpa; se não cremos, você não pode culpar ninguém a não ser você mesmo. Desça e nos inclinaremos diante de você!” (3) Finalmente, enquanto que o insulto implica que Jesus poderia ganhar uma multidão descendo da cruz, na realizada Ele podia assegurar um povo para Si mesmo somente permanecendo nela! Alguém certa vez disse, “Estes homens teriam crido nEle se Ele tivesse descido da cruz. Nós cremos nEle precisamente porque Ele permaneceu nela!”.

Não sabendo que o insulto deles (v. 43a) era um cumprimento do Salmo 22:8, estes homens arremessaram sua blasfêmia final. Baseados em sua crença de que Deus devia honrar e livrar o Seu Messias, eles concluíram que o desamparo de Jesus era prova de que Suas reivindicações eram falsas e Sua morte era merecida. Certamente, Deus O vindicou e livrou, mas aquela não era a hora. Esta confirmação gloriosa da deidade de Cristo e da Sua identidade messiânica aguardou a ressurreição.

O verso 44 poderia também nos levar a concluir que nem os salteadores se arrependeram, pois juntos eles “insultam” Jesus da mesma forma que os líderes religiosos. Contudo, nós agradecemos a Lucas por fornecer a informação de que um dos salteadores se arrependeu, movendo-se do insulto para a adoração e confiança amorosa (veja Lucas 23:39-43). Aqui nosso Senhor vê o cumprimento inicial de Isaías 53:11 — “O trabalho da sua alma Ele verá e ficará satisfeito”.


Questão conclusiva:

O que faz a morte de Jesus diferente da dos dois salteadores? Todos os três foram condenados por Roma. Todos os três foram cravados na cruz. Por que a morte de um difere da dos outros?

Sua morte difere porque eles eram homens pecadores morrendo por causa dos seus próprios feitos pecaminosos. Ele não era um mero homem, mas o Deus-homem, o santo morrendo pelos ímpios, o justo pelos injustos. E ao assim fazer, Ele suportou sobre Si mesmo, tanto no corpo como na alma, a ira eterna de Deus tão ricamente merecida por aqueles por quem Ele sofreu.

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 18 de Maio de 2005.


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