Dia de Descaso
por
Walter Santos Baptista
“Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele”.“Servi ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a ele com cântico. Entrai pelas suas portas com ação de graças, e em seus átrios com louvor; dai-lhe graças e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom; a sua benignidade dura para sempre, e a sua fidelidade de geração em geração”.
“O filho honra o pai, e o servo ao seu amo; se eu, pois, sou pai, onde está a minha honra? E se eu sou amo, onde está o temor de mim? Diz o Senhor dos exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dizeis: Em que temos nós desprezado o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em que te havemos profanado?”
(Sl 118.24; 100.2,4,5; Ml 1.6,7a)
Não houve erro de digitação no título deste estudo, que talvez quisesse dizer “Dia do descanso”. Antes que se coloque a culpa em nossa eficiente secretária, queremos esclarecer que o título é proposital. É “Dia do descaso” mesmo! É a ênfase no que esse dia separado, especial, está se tornando no meio do povo de Deus. A bem da verdade, o problema não é novo. Isaías, 700 anos a.C. fazia uma denúncia a esse respeito. Dizia ele:
“Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração, e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens, aprendidos de cor” (29.13).
E o escritor da carta aos Hebreus, nos dias apostólicos, apelava aos crentes:
“Retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa; e consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns” (10.23-25a).
Mas é lamentável que a igreja como um corpo não cresça coesa, equilibrada, bem ajustada como uma coluna firme e inabalável porque nem todos freqüentam as suas oportunidades de serviço, de doutrinamento, de inspiração, de louvor, de ministério em comum. E isso significa que “Dia do descaso” tornou-se o domingo, o Dia do Senhor, em lugar do abençoado “Dia do descanso”, do repouso e da santificação.
UM POUCO DE HISTÓRIA
A história do descanso semanal, aliás, é muito antiga. É até mais antiga que o que está apresentado na lei de Moisés. Os acadianos, povo que habitou a antiga Acádia [1], antes, até, dos babilônios, tinham apenas um dia de descanso no mês, e a ele chamavam Shabattu (ou shapattu), que significava “repouso”. O repouso mensal se dava no dia da lua nova, e a partir dele eram contados certos dias chamados de “dias maus”, assinalados por uma série de tabus e proibições.Alguns séculos mais tarde, os babilônios [2] aconselhavam o seu governante, no dia do descanso, a não comer carne cozida em carvão, nem pão cozido debaixo da cinza, visto que cavavam um buraco no chão onde colocavam a massa e cobriam com carvão e cinza.
Os próprios teólogos judeus da época de Jesus criaram normas, leis, regras tantas que tornaram o dia de descanso um dia de cansaço, com um fardo de inúmeras proibições. Era proibido o transporte de cargas, [3] proibida a compra e venda de mercadorias, [4] proibidas viagens, [5] chegando a elaborar quanto se podia caminhar no dia de descanso, no Sábado: 2.000 côvados, ou seja, aproximadamente 2.000 passos [6], era proibida a preparação de alimentos, [7] atendimento médico só em caso de morte (daí a oposição a Jesus quando Ele curava no dia do repouso. [8] O Livro dos Jubileus (1.8-12), literatura extracanônica, menciona que relações conjugais eram proibidas no dia do descanso, e os essênios (seita que existiu paralelamente à pregação de Jesus Cristo) até se recusavam a mudar um objeto do seu lugar, registrando Josefo que lhes era proibido no dia do descanso até ir ao sanitário?!
A Mishná, parte do Talmude, tem uma lista de 39 proibições nascidas de uma casuística tão sutil que transformavam o sagrado repouso num peso insuportável.
Que diferença da alegria, da felicidade, da liberdade de se viver na Nova Aliança! Jesus nos libertou disso quando disse,“O Sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do Sábado” (Mc 2,27).
A palavra “sábado” [9] significa “repouso, descanso, cessação, parada”, e no hebraico atual, “greve”. Sabendo que sábado quer dizer “descanso”, vamos reler o versículo:
“O dia de descanso foi feito por causa do ser humano, e não o ser humano por causa do dia de descanso”.
Ou, ainda:
“A instituição (do repouso) foi inaugurada por causa da pessoa, e não ao contrário, a pessoa por causa da instituição (do repouso)”.
Sim; Jesus nos libertou do peso, do fardo, das cargas tremendas e medonhas, quando disse, em Mateus 11.28,29 , texto tão amado do Povo de Deus,
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas”.
Sim; “e achareis o Sábado, repouso, o shabbath para as vossas almas [em mim]”, ou seja, encontraremos esse shabbath no próprio Senhor Jesus Cristo.
Assim, estamos falando do dia que recebe o Seu Nome: O Dia do Senhor, em latim Dies Dominica, o Domingo.
O DIA DA RESSURREIÇÃOObservem que enquanto os outros dias da semana são numerados, dois recebem tratamento diferenciado: têm nome específico. Um deles é o sétimo dia da semana, o dia semanal do sábado, como lembrança da fé do Antigo Testamento, e como memorial da criação da matéria. O outro é o primeiro dia da semana, o domingo, o Dia do Senhor, como memorial da nova criação em Cristo, e específico da fé da Nova Aliança.
No Novo Testamento, as referências ao Sábado estão sempre em conexão aos judeus, tendo à frente o partido dos fariseus, ou em relação ao templo e às sinagogas. Mas com respeito ao Dia do Senhor, ao Domingo, ao primeiro dia da semana, as referências são sempre em relação a Jesus Cristo, ao Espírito Santo, à igreja e/ou aos discípulos. Recordemo-nos de que o fato culminante da vida e da obra de Cristo Jesus é a ressurreição. Por ela, somos justificados, diz a Palavra de Deus [10], somos regenerados [11], e alcançamos uma boa consciência para com o Pai [12]. Sem a ressurreição, porém, somos uns iludidos (que estamos fazendo aqui?), a nossa fé é vazia, e continuamos em nossos pecados, os que morreram em Cristo estão perdidos, e somos os mais infelizes, os mais miseráveis, os mais desgraçados de todos os homens! [13] E isso tudo se a ressurreição não tivesse acontecido!
Pois Cristo escolheu exatamente o primeiro dia da semana para ser o dia da Sua gloriosa ressurreição, e para coroar a obra da salvação, e para vencer a morte, e nos garantir a imortalidade, e o acesso pleno e livre à graça de Deus Pai! Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana, e durante esse abençoado dia de vitória e santa alegria, aparece o Mestre ressuscitado a vários crentes, e aos discípulos [14]. Passa-se a semana (inclusive o Sábado), e no primeiro dia da semana, Jesus retorna aos discípulos [15], e sela com Sua presença as reuniões do grupo primeiro de Sua militante Igreja. E, após quarenta dias entre os discípulos aqui na terra, num primeiro dia da semana, o Espírito Santo desce e batiza a Sua Igreja de modo maravilhoso e soberano!
É essa é, amados, a aspiração maior, o anseio supremo dos crentes: sentir nos cultos, nas suas próprias reuniões, a presença de Jesus Cristo, nosso Salvador! É o que aconteceu hoje, precisamente agora quando neste primeiro dia da semana, no Dia do Senhor, “reunimo-nos aqui para glorificar o rei Jesus.” Não que o crente seja mais consagrado no Domingo que em outros dias, não! O crente em Jesus Cristo que leva a sério a vida no Espírito, não pensa assim. Sabe que a segunda e a quinta-feiras são tão sagradas e especiais para o seu testemunho quanto o Domingo.
Mas, há bênção e disciplina da parte do Senhor para quem despreza o dia do descanso transformando-o em “dia do descaso”. E está na Escritura:
“O filho honra o pai, e o servo ao seu amo; se eu, pois, sou pai, onde está a minha honra? E se eu sou amo, onde está o temor de mim? Diz o Senhor dos exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dizeis: Em que temos nós desprezado o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em que te havemos profanado? Nisto que pensais, que a mesa do Senhor é desprezível. Mas seja maldito o enganador que, tendo animal macho no seu rebanho, o vota, e sacrifica ao Senhor o que tem mácula; porque eu sou grande Rei, diz o Senhor dos exércitos, e o meu nome é temível entre as nações.” (Ml 1.6,7,14).
Como, também,
“Agora o Senhor diz: ... honrarei aos que me honram, mas os que me desprezam serão desprezados” ( 1Sm 2.30b).
A DESONRAPois é; o dia do descanso tem sido vezes sem conta desonrado. A própria Bíblia Sagrada apresenta essas lamentáveis situações quando nós dessacralizamos o Dia do Senhor. Exemplos: Quando nos apresentamos ao Senhor com adoração vazia, com o coração distante, quando não há espírito nem verdade em nosso louvor. E esse é um requisito básico estabelecido por Jesus Cristo mesmo com respeito ao louvor e adoração ao Pai. “Não”, disse Ele, “Deus é Espírito, e é necessário [é obrigatório, é mandatório] que os que o adoram O adorem em espírito e em verdade” [16] ? Mas quando é distante, o lamento dos céus está também na Escritura,
“Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim”. [17] Que pelo contrário, possamos dizer como o autor da Carta aos Hebreus:
“Por ele, pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” [18].
Há uma Segunda situação em que nós subestimamos o Dia do Senhor. É quando, em nossa adoração, a doutrina não procede da Palavra de Deus. Quando o que sai do púlpito, ou o que passamos aos outros na Escola Bíblica Dominical, ou em outros grupos nossos, o que se ensina nasce da nossa própria mente. E Jesus até falou sobre isso: “Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens”. [19] E Paulo, o apóstolo, escreveu largamente sobre esse problema dentro da igreja cristã:
“Mas o fim desta admoestação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência, e de uma fé não fingida; das quais coisas alguns se desviaram, e se entregaram a discursos vãos, querendo ser doutores da lei, embora não entendam nem o que dizem nem o que com tanta confiança afirmam”. [20]
Quando dizemos que adoramos, e nosso peito incha de vaidade, de orgulho e de presunção. Jesus falou também sobre esse grave problema na Casa do Senhor:
“E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa”. [21]
Assim como,
“Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque eles desfiguram os seus rostos, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa”. [22]
Também o profeta Isaías se expressou ao dizer,
“Seria esse o jejum que eu escolhi? O dia em que o homem aflija a sua alma? Consiste, porventura, em inclinar o homem a cabeça como junco, e em estender debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isso jejum e dia aceitável ao Senhor?” [23]
E, também, quando nossa oferta é lançada no altar de qualquer modo. Aliás, é oferta qualquer dada como se fosse um favor que fazemos ao Senhor:
“Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em que te havemos profanado? Nisto que pensais, que a mesa do Senhor é desprezível. Pois quando ofereceis em sacrifício um animal cego, isso não é mau? Ora apresenta-o ao teu governador; terá ele agrado em ti? Ou aceitará ele a tua pessoa? Diz o Senhor dos exércitos. Agora, pois, suplicai o favor de Deus, para que se compadeça de nós. Com tal oferta da vossa mão, aceitará ele a vossa pessoa? Diz o Senhor dos exércitos”. [24]
Igualmente, quando vimos ao culto no Dia do Senhor, apenas para ouvir o pregador, mantendo, porém, indiferença para com nossos irmãos de fé. Inúmeras vezes esquecemos de que quem deve falar é a Palavra de Deus, não o pregador. É a “Síndrome de Ezequiel”. Está em Ezequiel 33.31,32 (o Senhor está chamando a atenção do profeta Ezequiel):
“E eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois com a sua boca professam muito amor, mas o seu coração vai após o lucro. E eis que tu és para eles [tu, pregador, falando tão bonito, tão bem] como uma canção de amores [uma canção romântica que a gente gosta de ouvir], canção de quem tem voz suave [que solos tão lindos tivemos nesta manhã] e que bem tange [“bem toca”] porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra [vêm apenas ouvir uma boa música e um bom sermão]”.
Aliás, como exigem um bom sermão?! É o ouvir pelo ouvir.
Mas também estamos profanando o Dia do Senhor, quando nos domina a iniqüidade! Vamos a Isaías 59.2:
“Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não vos ouça”. [25]
E a ordem do Senhor que vamos encontrar em Levítico 10.3 é,
“Disse Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo. Mas Arão guardou silêncio”.
O extraordinário escritor, A. W. Tozer, ensina que para o cristão há coisas que não podem ser negociadas. Não podemos negociar a tolerância; não podemos negociar a caridade; não podemos vender a compreensão e a boa vontade, nem a paciência, e, menos ainda, a santidade. Sim; a santidade não se negocia, seja a santidade pessoal, a santidade de nossa família, a santidade da igreja, ou a do dia do descanso. E falar de santidade do Dia do Senhor, de resguardá-lo, de separá-lo, de observá-lo, é falar de santidade pessoal, porque, como bem lembrou alguém: “Somente uma pessoa santa pode observar um dia santo”.
SEU SIGNIFICADOHá um significado religioso, ético e moral no “dia de descanso”, no shabbath. Por inferência, as lições do dia de descanso são aplicadas ao Dia do Senhor, ao domingo. É o sinal de aliança entre Deus e o ser humano (Ex 31.12-17). Mas uma aliança que só tem esse sentido espiritual, ético e moral em Jesus Cristo, ou seja, sinaliza, pontua e enfatiza uma nova relação nossa com a graça de Deus. [ Sem isso, pode ser feito um dia de irrevência, de apostasia, um “dia de descaso”, em lugar de um dia de descanso. E, se há uma relação com a graça de Deus, o Dia do Senhor, o dia de descanso é uma resposta nossa de louvor ao Criador (Is 66.23). Sim, é uma ocasião abençoada de despertamento e encorajadamente a buscar a glória e a honra de Deus. É, igualmente, uma resposta de gratidão a Deus, e é por isso que o adorador sai abençoado, e o Senhor é glorificado.
Há outras lições: o dia do descanso lembra que você é um ser humano. Por isso, Jesus Cristo ensinou que “O dia de descanso foi feito por causa do ser humano, e não o ser humano por causa dessa instituição” (cf. Mc 2.27). Você precisa parar por um pouco. Até a terra deve descansar ensina-nos o livro do Êxodo (Ex 23.10, 11; cf. Lv 25.2-7); os animais precisam descansar (Ex 23.12). E não se esqueçam que esse é o significado da expressão yom shabbath, dia de cessação, dia de parada, de repouso perfeito.
Não somos, porém, escravos do domingo, não! Ele é o dia da liberdade! É o dia de Cristo! É o dia do nosso Senhor!
O domingo, o dia do Senhor, o dia do descanso é sinal de uma nova criação. E diz para nós o seguinte: que fomos lavados (1Co 6.11; Ap 7.14), diz que fomos perdoados (Rm 4.7; Ef 4.32; 1Jo 2.12), diz que fomos justificados por Deus em Cristo (Rm 3.24; 8.33; 1Co 6.11); diz o domingo, ainda, que nós recebemos o dom do Espírito Santo (At 1.8; 19.2: Ef 1.13; 1Ts 4.8), e o dom da vida eterna, e somos herdeiros legais de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo (Rm 8.17; Gl 3.29; Ef 3.6). Diz, também, que somos membros do Corpo de Cristo (Rm 12.5; 1Co 6.15; 12.27), e fazemos parte da Igreja Militante, a Noiva de Cristo (Ef 5.23-27; Ap 21.9; 22.17), e que somos participantes de uma nova humanidade (1Co 15.45-49; Ef 2.15), e somos uma nova criação ( 2Co 5.17, 18; cf. Gl 6.15; Ef 2.10; 4.24). Diz, ainda, o domingo que, pela fé, nós morremos na cruz com Jesus Cristo (Rm 6. 8, 9), e ressuscitamos com Ele (Rm 6.4; Cl 2.12, 13: 3.1-4).
É por essas razões, amados, que, como o sétimo dia celebra o fim da criação, o primeiro dia da semana, o Dia-de-Cristo-Jesus, o Dia do Senhor, o domingo celebra a nova criação no Filho de Deus! E a base, o fundamento, o alicerce dessa nova criação é a ressurreição. Por isso, o domingo conserva toda a sacralidade do sétimo dia, e merece a sua santificação. E, adicionalmente, ainda tem as riquezas espirituais do evangelho da ressurreição de Jesus Cristo. É memorial dessa ressurreição (Mt 28. 1, 2, 5, 6). Desde o primeiro “Dia do Senhor” quando se ouviu esse grito dado pelo anjo do Senhor “O Senhor ressuscitou!” até hoje, meus irmãos (Mt 28.6; Mc 16.6; Lc 24.6,9); desde a primeira experiência de culto naquele dia; desde a experiência de ver o Senhor ressuscitado no “Dia do Senhor” (Jo 20.18) até hoje, que cada domingo traz para nós essa mensagem tão plena de esperança: “Não temas; eu sou o primeiro e o último, e o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos; e tenho as chaves da morte e do hades” (Ap 1. 17b, 18).
Há uma nota de alegria no culto. O irmão pode chamar a este dia do que quiser: “Dia da ressurreição”, “Dia do Senhor”, “domingo”, é a mesma coisa! Há uma nota de vitória, pois Jesus Cristo diz “Eu venci!” (Jo 16.33; cf. Ap 3.21; 5.5), e permite que também o digamos como bem exclamou o apóstolo Paulo: “Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8.37; cf. 1Jo 2.13,14; 4.4; 5.4,5; Ap 2.11).
O “Dia do Senhor” é uma mensagem de esperança, de pura esperança, de gloriosa esperança. Sim; porque enquanto o Sábado retroage ao início da vida cósmica e da vida humana, o domingo dirige o nosso pensamento e a nossa esperança para a consumação do propósito de Deus para a criação, e que há de ser realizado nos “novos céus e nova terra” (2Pe 3.13; Ap 21.1, 27; cf. Is 65.17; 66.22). Aliás, o domingo é um tipo desse mesmo céu. Já pensaram nisso? O domingo é um tipo do céu, do descanso dos santos. Em que outro dia da semana têm os crentes em Jesus Cristo tanto louvor, e tanta boa música, e tantas orações, e exortação, e oportunidades de servir com seus bens como no Dia do Senhor? Por essa razão, o salmista só podia exclamar: “Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Sl 118.24).
Vamos concluir dizendo que o Dia do Senhor é dia de testemunho. Não é, portanto, uma questão de formalidade, mas de vitalidade, porque é expressão de uma fé ativa e viva num Salvador Vivo! É memorial de uma experiência nossa de crescimento na graça, na fé e no conhecimento de Cristo. É um monumento à verdade que é Jesus Cristo!
O domingo é Dia da Palavra, por isso, ainda não me converti à substituição do Culto dominical pelas Sessões de Negócios como algumas igrejas irmãs o fazem. Talvez seja o único dia em que a família está toda junta, toda reunida, e que tal fazer desse “Dia da Palavra” a ocasião da reflexão familiar que vezes tantas se torna difícil durante a semana?
Olhe, meu irmão, para o sétimo dia da semana como celebração da obra criadora. Não se deixe iludir por aqueles que pregam o legalismo, não! Mas aprofunde o seu olhar para o primeiro dia da semana, para hoje, o Dia do Senhor, como celebração da redenção, da libertação, da liberdade dos filhos de Deus (Gl 4.4-10). O domingo é um monumento construído no tempo. E, ao usar esta expressão, aproprio-me do pensamento de um filósofo judeu chamado Abraham J. Heschel, e é citado pelo rabino, Dr. Henry Sobel, e diz que as civilizações pensavam e pensam em termos de espaço. Daí as grandes e esplêndidas construções que elas deixaram. Quem não se recorda de ter lido sobre as “Maravilhas do Mundo Antigo”, entre elas: as pirâmides do Egito, o Colosso de Roder, os jardins suspensos da Babilônia, o farol de Alexandria. Hoje, mesmo, a Torre Eifell em Paris, o Big Ben em Londres, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro. E aí completa o filósofo dizendo que assim não procedeu o povo israelita: em vez de levantar uma construção, um monumento em termos de espaço que poderia ser derrubado como tantos dos mencionados o foram, eles construíram “monumentos no tempo”. Que expressão linda! “Santuários de tempos”, que são as grandes festas mencionadas na Bíblia: Pessach, Shavnot, Iom Kippur, Sucote, ou seja, a Páscoa, a Festa das Primícias, o Dia do Perdão, a festa dos Tabernáculos. Outro desses monumentos é o “dia de descanso”, o iom shabbath, e dele devemos aprender o significado de repouso, de honra, de prazer e de alegria.
Pois bem, você vive e serve os seis dias seguintes ao Dia do Senhor debaixo da graça, da sombra, e das bênçãos desse rico, significativo e abençoado monumento à ressurreição que é o domingo. Não faça do “dia do descanso” um dia qualquer, um dia relaxado, um dia de descaso! Pelo contrário, dignifique, honre e santifique o Dia do Senhor! Amém!
NOTAS:1 — 3º milênio a.C.
2 — 2º ao 1o milênio a. C.
3 — Cf. Jr 17.19-27; Jo 5.10.
4 — Am 8.5.
5 — Is 58.13.
6 — Entre 800 e 900 m (cf. Ex 16.29; At 1.12).
7 — Ex 35.3; Nm 15.32.
8 — Cf. Mt 12.9-13; Lc 13.10-17; 14.1-6; Jo 5.1-16; 9.14ss)
9 — Hebr., shabbath.
10 — Rm 4.25.
11 — 1Pe 1.3.
12 — 1Pe 3.21.
13 — 1Co 15.17-19.
14 — Jo 20.19.
15 — Jo 20.26.
16 — Jo 4.24.
17 — Mt 15.8; cf. Is 29.13a.
18 — Hb 13.15.
19 — Mt 15.9.
20 — 1Tm 1.5-7; cf. Cl 2.20-23; Tt 1.10-14; 1Tm 6.3-5.
21 — Mt 6.5.
22 — Mt 6.15.
23 — Is 58.5.
24 — Ml 1.7-9; cf. Lv 10.1.
25 — Cf. 1.13,15,16.
Sobre o autor: Walter Santos Baptista é Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA. Agradecemos ao autor pela autorização escrita para publicarmos os seus artigos no Monergismo.com.
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