O Dispensacionalismo

 


CARACTERIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA

A palavra "dispensacionalismo" não se encontra na edição revista e ampliada do dicionário do professor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Quanto ao termo dispensação, o mesmo diz, entre outras coisas, que "entre os protestantes, é um período em que o indivíduo é experimentado quanto à sua obediência a alguma revelação especial da vontade de Deus."

Dispensacionalismo : De acordo com o Conciso Dicionário de Teologia Cristã, "dispensacionalismo é um sistema de interpretação bíblica e teológica que divide a ação de Deus na história em diferentes períodos que são por ele administrados em bases diferentes. Envolve uma interpretação literal da Escritura, uma distinção entre Israel e a Igreja e um a escatologia pré-milenista e pré-tribulacionista". Esse sistema distingue períodos na história, nos quais Deus teria apelado para várias formas de agir. "A idéia básica, nesse caso, é que Deus tem tentado vários métodos que não têm sido bem sucedidos. Cada método, ou dispensação, teria sido abandonado totalmente, antes do método seguinte ser experimentado, de tal modo que as prescrições divinas para uma dispensação não são válidas na próxima dispensação. Por sua vez a teologia dos pactos se opõe a essas mudanças radicais nos métodos divinos.

Dispensação : "O termo faz referência à mordomia ou à administração de tarefas. No sistema teológico conhecido como dispensacionalismo refere-se a um período de tempo no qual Deus lida com a raça humana de um modo distinto".

O termo em português "dispensação", veio do latim "dispensatio". Seu sentido original é "administrar". O uso do vocábulo no contexto em que o estamos estudando foi popularizado pelas anotações da Bíblia de Scofield, sendo depois amplamente utilizado e questionado por muitos teólogos.

O termo grego traduzido como dispensação, ou administração, ou mordomia, é "oikonomia.". Ele ocorre nos seguintes textos do Novo Testamento: I Cor.9:17 ; Ef.1:10 ; Ef. 3:2,9 ; Col.1.25 ; Lc.16:2-4. Nos melhores textos gregos, em I Tim.1:4, oikodomen é traduzido por "edificação". Portanto, essa palavra é usada no Novo Testamento em dois sentidos diversos. No primeiro sentido, uma administração de qualquer tipo. No segundo sentido, um tipo específico de administração divina que se prolonga por algum período de tempo, de tal modo que aquele período é chamado "dispensação". Os diversos intérpretes pensam poder descobrir um maior ou menos número desses períodos ou dispensações. Scofield descobriu nada menos que sete dispensações. O conceito de dispensacionalismo tornou-se um conceito normativo em certos sistemas, como se isso desse ao estudioso da Bíblia a capacidade de dividir corretamente a palavra de Deus. Muitos outros intérpretes, porém, têm objetado aos abusos desse sistema, ao mesmo tempo em que têm reconhecido algum valor no mesmo. O chamado hiperdispensacionalismo corta o Novo Testamento em pedaços, conferindo à Igreja Cristã, como Escrituras autoritárias quanto `a doutrina cristã, somente as sete epístolas paulinas chamadas "da prisão". No entanto, o evangelho de Mateus, por exemplo, foi escrito pelo menos trinta anos depois da eclosão do movimento cristão, que se deu imediatamente após a crucificação e a ressurreição de Jesus. O que não pode ser negado, contudo, é que há uma revelação progressiva dentro do próprio Novo Testamento. Temos de reconhecer que várias doutrinas passaram por um processo de desenvolvimento e desdobramento, tendo havido elaboração e até mesmo, quem sabe, substituição. Mas isso nada tem a ver com a idéia defendida pelo dispensacionalismo.

Os teólogos dos pactos vêem o pacto da graça como o grande princípio orientador das ações divinas, como a idéia que unifica as Escrituras. Nesse contexto, pois, a palavra "dispensação" torna-se uma descrição das maneiras particulares pelas quais Deus manifesta os seus pactos; e, segundo alguns desse intérpretes, isso incluiria épocas distintivas de tais manifestações.

Alguns teólogos dos pactos estão tão presos à sua maneira de estudar a teologia que nem ao menos distinguem entre o o Antigo e o Novo Testamento. A Bíblia inteira seria um grande pacto, e Deus estaria desenvolvendo-o ao longo das Escrituras, de Gênesis ao Apocalipse. Esses falam em Antigo e Novo Testamento, mas não fazem deles dispensações. Um nome que pode ser relembrado quanto a essa posição é Buswell (Systematic Theology of the Christian). Outros escritores, como Louis Berkhof, falam em duas dispensações: a Antiga e a Nova. Hodge dá margem a várias dispensações: de Adão a Abraão; de Abraão a Moisés; de Moisés a Cristo; e de Cristo até o fim. Não obstante, em todos esses casos, a nota dominante é a idéia do pacto. As dispensações, para esses sistemas, seriam apenas meios para a concretização dos pactos.

USOS BÍBLICOS DO TERMO

1 - Uma dispensação apontaria para os caminhos de Deus, os métodos através dos quais ele opera e trata com os homens. Todas as passagens bíblicas que abordam o tema teísta, e que são por demais numerosas para sem alistadas, também abordam esse aspecto do dispensacionalismo. Isso aponta para a presença de Deus, que guia os atos pessoais e os acontecimentos históricos, com suas revelações, intervenções, recompensas, castigos e instruções.

2 - Uma dispensação aponta para as provisões divinas quanto à própria natureza, sustentando-a e guiando-a (Rm.8:17 ; 11:36 ; Col.1:16).

3 - Uma dispensação também pode ser uma missão especial conferida a alguém dentro da obra do evangelho (Col.1:25). Uma mordomia torna-se uma missão divina que alguém precisa cumprir. Todos os homens, em certo sentido, finalmente terão de participar nisso, porquanto cada indivíduo tem um destino distinto.

AS DISPENSAÇÕES HISTÓRICAS

Dispensação da Inocência ou Dispensação Edênica

"No dispensacionalismo designa o período de relacionamento de Deus com Adão e Eva antes da queda." (Gn.1:28 a Gn.3:6). O homem foi colocado num ambiente perfeito, sujeito a uma lei simples, e advertido das conseqüências da desobediência. Nesta dispensação, como pode ser visto em outras que se seguem, não podemos fixar uma data precisa na escala do tempo.

Adão e sua esposa eram como crianças no que diz respeito à malícia e à maldade, antes de despertarem para a concepção do "eu". Ela terminou com o julgamento e expulsão do casal do Jardim do Éden.

Dispensação da Consciência

Se estende desde a queda até o dilúvio, tendo durado cerca de 1656 anos. Nesse tempo, os homens expulsos do Éden, conhecedores do bem e do mal, podiam seguir a direção do seu próprio coração, mas corromperam-se a tal ponto, que Deus enviou o dilúvio. (Gn.4:1 a Gn.8:14). Pela sua desobediência, o homem chegou a ter um conhecimento pessoal e experimental do bem e do mal - do bem como a obediência e do mal como a desobediência. Mediante esse conhecimento, a sua consciência acorda. Expelido do Éden, o homem era responsável para fazer todo o bem que conhecia, e de abster-se de todo o mal que lhe cercava, e de aproximar-se de Deus mediante o sacrifício.

O resultado desta segunda prova do homem é declarada em Gênesis 6:5 e a dispensação da Consciência terminou com o julgamento do Dilúvio sobre o mundo dos ímpios.

Dispensação do Governo Humano

Esta dispensação começou em Gênesis 8:20 e perdurou cerca de 427 anos. Desde o tempo do dilúvio até a dispersão dos homens sobre a superfície da terra, sendo consolidada com a chamada de Abraão (Gn.10:25; 11:10-19; 12:1).

Sob a inocência, como sob a consciência, o homem fracassou inteiramente, e o julgamento do dilúvio marca o fim da segunda dispensação e o início da terceira.

Dispensação Patriarcal ou Dispensação da Promessa

Esta dispensação teve início com a chamada de Abraão, cerca de 1963 a.C., ou seja 427 anos depois do dilúvio. Sua duração foi de 430 anos (Gl.3:17; Hb.11:9,13). Esse período é também chamado "dispensação patriarcal". Por meio dela, Abraão e seus descendentes vieram a ser herdeiros da promessa . Essa era durou até a saída do povo de Israel do Egito (Êx.18).

Dispensação da Lei

"Designa o período da história desde a outorga da Lei a Moisés no Sinai até o Pentecoste de Atos dos Apóstolos." (Êx.18:2 a Atos 1:26). Esta dispensação durou cerca de 1430 anos. Em Gálatas 3:24-25, Paulo diz que a dispensação da lei teve um caráter prospectivo e apontava para Cristo.

Dispensação da Graça ou Dispensação da Igreja

Esse período se estende desde a crucificação de Cristo até a sua segunda vinda. (Atos 2:1 a Apc.19:21). Nesta dispensação contamos com a nova aliança do sangue de Cristo. Tal qual Moisés foi mediador da aliança mosaica, assim Cristo é o mediador da nova aliança. Existe, portanto, contraste entre a dispensação da lei e da graça. A graça de Deus em Jesus Cristo encontra os pecadores e os justifica.

Com exceção do quarto mandamento do decálogo, os outros foram reafirmados na nova aliança.

Dispensação da Tribulação

Desde o arrebatamento da igreja até o Armagedon. Este período não é considerado dispensação por algumas escolas dispensacionalistas.

Dispensação do Reino ou Dispensação da Plenitude dos Tempos

Refere-se ao reino final de Cristo no milênio terrestre. (Apc.20).

IMPLICAÇÕES NA HERMENÊUTICA

Há linhas divergentes de pensamento dispensacionalista. Um dos pontos de diferença, como já citamos, é o que se refere à Grande Tribulação. Uns a consideram uma dispensação à parte. Outros não concordam.

Outro ponto grave de discordância é a questão quanto à existência de diferentes meios de salvação em cada dispensação, bem como diretrizes diversas para um viver obediente após a "conversão". Uma crença comum entre os leigos dispensacionais é que as dispensações da lei e da graça representam meios alternativos de salvação. Esta crença baseia-se em algumas notas da Bíblia de Referência de Scofield. Nesse ponto de vista, no período da lei, a obediência à mesma era condição para a salvação. Após a morte de Cristo, a condição passaria a ser a fé em seu sacrifício. Entretanto, a maioria dos teólogos dispensacionais crêem que a morte de Cristo é a base para salvação em todas as épocas, sendo a fé a condição exigida.

Para a maioria dos teólogos dispensacionais a mudança primordial entre as dispensações não está nos meios de salvação, mas nas especificações para o viver obediente que acompanham o compromisso de uma pessoa de aceitar a salvação de Deus. Outro ponto de desacordo, e muitas vezes uma razoável soma de ambigüidade, é o grau de aplicabilidade das ordens dadas numa dispensação para os crentes de outra.

Charles C. Cook tem ponto de vista que representa um dos extremos da questão. Ele afirma que "não há, no Antigo Testamento, uma sentença sequer que se aplique ao cristão como Regra de Fé e Prática. Não há uma única ordem que o restrinja, como não há nele uma única promessa que lhe seja feita de primeira mão, exceto o que está incluído no amplo fluxo do Plano de Redenção conforme aí ensinado em símbolo e profecia.

Esta posição não representa a maioria dos teólogos, os quais defendem uma continuidade mais expressiva entre os vários períodos das relações de Deus com o homem. Um dos principais desafios que o dispensacionalismo enfrenta hoje é o desenvolvimento de uma posição que especifique com clareza como as ordens de uma dispensação anterior se aplicam aos crentes de uma dispensação sucessiva. Evidentemente, se a teoria dispensacional é correta, então ela representa um poderoso instrumento hermenêutico, e instrumento decisivo se devemos interpretar as promessas e ordens bíblicas corretamente. Por outro lado, se a teoria dispensacional é incorreta, então aquele que ensina tais distorções poderia correr sério risco de trazer sobre si próprio os juízos de Mateus 5:19.


O PROGRAMA ESCATOLÓGICO DISPENSACIONALISTA

Os premilenistas crêem que Jesus voltará antes dos milênio de Apc.20:2-6 em que Cristo reinará sobre o mundo que sobreviverá à destruição e julgamento que serão visitados sobre a terra na grande tribulação. Muitos pais da igreja primitiva eram premilenistas. Com a posição adotada por Agostinho (séc.V), o premilenismo caiu no desprezo geral até a revitalização ocorrida no século passado. Muitos crêem que o premilenismo é sinônimo do dispensacionalismo criado e popularizado por J.N.Darby, um destacado líder dos Irmãos Livres de Plymouth, Inglaterra. Ele, com sua esquematização escatológica, teve grande aceitação entre os evangélicos (principalmente no norte dos Estados Unidos) no movimento evangelístico que gerou muitos institutos bíblicos, "missões de fé" e a famosa Bíblia de Scofield. Aqui no Brasil os Batistas Regulares, o Instituto Bíblico Palavra da Vida, a Chamada da Meia Noite, inclusive outras missões estrangeiras e escolas iniciadas por missionários da outra América, divulgam esta posição teológica. Livros, traduzidos do inglês tal com o A Agonia do Planeta Terra, por Hal Lindsay, que já disseminou mais de 18 milhões de exemplares em diversas línguas no mundo inteiro, expressam bem a popularidade que o dispensacionalismo alcançou, especialmente nos Estados Unidos.

De acordo com o sistema apresentado pelos dispensacionalistas, há sete (ou oito) épocas da história da salvação desde a criação do homem. A chave imprescindível para a compreensão do futuro se encontra em Daniel 9:24-27. As setenta semanas se referem a 490 anos e não a dias. As primeiras 69 semanas de anos terminaram com a crucificação de Jesus, encerrando a época na qual Deus se interessou principalmente por Israel. Com a rejeição do Messias que Deus ofereceu a Israel no ministério e na pessoa de Jesus Cristo, Deus fez o relógio escatológico parar. Em conseqüência, ele estabeleceu a igreja, a realidade não prevista pelos profetas do Antigo Testamento. Portanto, a igreja é o "mistério" revelado a Paulo e aos escritores do Novo Testamento (Ef.3; Cl.1; Rm.16:25-27). Terminado este período de graça no qual os gentios das nações são convidados a forma a "noiva" de Cristo, ocorrerá o arrebatamento ( I Tss.4:13-18). Este maravilhoso evento se realizará sem aviso prévio. O relógio profético então será reativado com a atenção de Deus voltada para Israel. A 70a semana de Daniel 9, marcará os sete anos da grande tribulação. Brevemente, os dispensacionalistas prevêem, haverá o desenvolvimento do seguinte quadro:

1 - Israel, a nação judaica, estará no centro do plano divino para a humanidade. Restaurada para a terra da Palestina, Israel reconstruirá o templo e restabelecerá os sacrifícios levíticos exigidos pela lei mosaica.

2 - O poder político internacional será exercido pelo governador satânico - o Anticristo, também chamado "a Besta" ou "Homem da Iniqüidade". (I João 4:3 ; Apc. 13; II Tss.2:3).

3 - O cristianismo apóstata unindo o Catolicismo, a Igreja Ortodoxa, e o Modernismo protestante; chamado a Meretriz, se aliará com o Anticristo (Ap.17) e prosperará através da união adúltera durante um tempo.

4 - O pecado aumentará entre os homens e chegará a uma profundidade e intensidade jamais vistas a não ser talvez na época do Dilúvio.

5 - A ira de Deus será derramada sobre a terra numa série de julgamentos cataclísmicos.

6 - Quando a Besta (Anticristo) romper com a nação israelita, provocará uma crise internacional que atingirá seu auge na guerra do Armagedon.

Tudo culminará no fim dos sete anos da tribulação com a vinda de Jesus Cristo com seus santos (a parousia). Após a parousia, o reino do Anticristo será destruído e Cristo passará a reinar sobre a terra. Assim se cumprirão literalmente as profecias do Antigo Testamento que prevêem um reino messiânico na terra. Passados os mil anos previstos em Apocalipse 20, Satanás será solto da sua prisão, encabeçará uma revolta breve pelos moradores não regenerados do mundo, mas ela será esmagada. Sucederá então o último julgamento do Trono Branco (Ap.20:11-15). Os mortos não convertidos serão ressuscitados para serem julgados segundo suas obras. Os santos, judeus e gentios, gozarão a vida perfeita na nova terra eternamente.

Os premilenistas históricos discordam com algumas posições dispensacionalistas. Não aceitam a distinção tão absoluta entre Israel e a Igreja, nem crêem que haverá um arrebatamento secreto antes da tribulação; a ressurreição dos santos junto com a transformação dos crentes (I Cor.15:51-57) precederá imediatamente a segunda vinda de Cristo em grande poder e glória. Outras divergências entre dispensacionalistas e premilenistas clássicos são numerosas demais para detalhar aqui. Mas os que sustentam estas posições concordam contra os amilenistas e pós-milenistas que Cristo reinará neste mundo após sua vinda, e cumprirá o propósito de Deus previsto pelos profetas do Antigo Testamento e por João no Apocalipse.

PONTOS FORTES DO DISPENSACIONALISMO

1 - Há uma certa lógica na suposição de que Deus, resolvido a mostrar aos homens que somente a missão de Cristo e a dispensação da graça são suficientes para satisfazer às necessidades do homem, viesse a fazer uma elaborada demonstração histórica desse fato, mediante uma sucessão de dispensações. As condições impostas nas sucessivas dispensações não foram adequadas. A consciência sem a lei, não bastou para atingir os propósitos de Deus. A lei, posta em vigor mediante ameaças e recompensas, também não suficiente para isso. Assim, cada dispensação reflete uma espécie de fracasso, que somente a graça foi capaz de vencer adequadamente. Essa idéia concorda com o discernimento de que o propósito de Deus e o ato remidor acompanham, cooperam com e transcendem o processo histórico. Um Deus que faz experiências, com o intuito de ensinar uma grandiosa lição objetiva, é um conceito excelente.

2 - As várias dispensações tornam-se uma grande lição objetiva sobre os vários modos possíveis de Deus relacionar-se com os homens, e nós precisamos receber essa lição a fim de podermos entender o que Deus quer de nós.

3 - Cada maneira divina de tratar conosco tem seus próprios valores específicos. Parece que a lei contradiz a graça, ao dar a entender que asa salvação vem pelo esforço humano. Não obstante, a graça cumpre a lei, dentro da obra do Espírito, que cria em nós todas a virtudes exigidas pela lei. Portanto, há uma interação entre as dispensações, e não apenas a idéia de uma dispensação a substituir a anterior.

4 - O dispensacionalismo estabelece distinções que precisam ser feitas. Na verdade há diferentes abordagens religiosas, e algumas delas falham completa ou parcialmente. Isso é mais claramente demonstrado nesse sistema das dispensações do que dentro da teologia dos pactos.

5 - Uma importante contribuição desse sistema é a sua ênfase sobre o fato de que as revelações divinas não operam do mesmo modo e com a mesma intensidade nos diversos períodos da história da humanidade. A revelação divina se processa de vários modos e com variado poder. Esse é um ponto que deve ser bem entendido, pois no próprio Novo Testamento, há uma revelação em vários níveis de profundidade. Além disso, podemos ver um progresso gradual na revelação. Provavelmente, esse processo nunca terminará, mas estender-se-á eternidade afora.

6 - Alguns dispensacionalistas salientam que algumas porções bíblicas, até dentro do Novo Testamento, ultrapassam as outras, substituindo uma verdade por outra mais profunda. Paulo certamente sabia mais a respeito do mistério da Igreja do que os demais apóstolos. Os seus mistérios trouxeram à tona novas verdades, que só foram reveladas já bem dentro do período do Novo Testamento.

PONTOS FRACOS DO DISPENSACIONALISMO

1 - Há exageros, como quando Scofield supõe que o Sermão da Montanha nos dá somente os princípios da era do reino, nada tendo a ver com a Igreja. Essa é uma posição absurda. Primeiro, porque o evangelho de Mateus foi escrito para a Igreja Cristã. Segundo, porque o propósito inteiro do registro do material desse sermão foi o de mostrar que, em Cristo, temos um "novo Moisés", que veio substituir o antigo. O Novo Moisés, o novo Legislador re-interpretou e adicionou à lei mosaica, e o que ele assim ensinou, fê-lo à Igreja, o Novo Israel, e não meramente a algum reino ainda distante.

2 - Podemos mostrar que Deus movimenta-se passando de período para período, melhorando a maneira dele tratar com os homens, sem termos de dividir as Escrituras em pequenas unidades, para em seguida dizermos : "Essa unidade não é para a Igreja". Todas as unidades destinam-se à Igreja. "Pois tudo quanto outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência , e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança." (Rm.15:4). contudo, o que cada porção das Escrituras tem a dizer não tem igual aplicação, simplesmente porque o processo revelador avança e se aprimora. Não há como fazer distinções capilares, aceitando certos livros e rejeitando outros. O antigo Testamento tem aplicação à Igreja, embora não da mesma maneira e com a mesma extensão que no caso do Novo Testamento. O Novo Testamento inteiro aplica-se à Igreja; mas, novamente, há avanços ali que ultrapassam antigas maneiras de entender.

3 - Ultradispensacionalismo - Essa posição também tem o nome de bullingerismo, por causa de E.W.Bullinger. alguns dispensacionalistas perderam o senso de bom juízo e dividiram o Novo Testamento em minúsculas unidades. Supostamente, apenas as epístolas paulinas da prisão, uma pequena porção do volume do Novo Testamento, são autoritárias para a Igreja. Quando alguém indaga : Então para quem se destina todo o resto do Novo Testamento, que é a sua maior parte ? A resposta que nos dão os ultradispensacionalistas é : para os judeus que se converterão durante a Grande Tribulação, e então para a era do reino milenar! De acordo com essa especulação, alguns deles chegam a eliminar o batismo, e mesmo, a ceia do Senhor, como cerimônias da Igreja Cristã, porquanto esses ritos não são mencionados naquelas epístolas de Paulo! Isso reduz o cânon autoritário a uma porção realmente minúscula. Naturalmente, é verdade que os evangelhos e o livro de Atos refletem uma primitiva Igreja judaica; e que somente mais tarde há reflexos de uma igreja verdadeiramente gentílica, cristianizada, paulina. Todo aquele que lê o Novo Testamento pode perceber isso. Porém, é um erro crasso rejeitar arbitrariamente os livros que refletem a Igreja cristã em seus primeiros estágios, dizendo que os mesmos não são autoritários. Mas, apesar da avançada teologia paulina, há muitas verdades que Paulo não revelou. Assim sendo, o trem da revelação não estacou. Nem por isso, entretanto, devo jogar fora as epístolas paulinas, por pensar que a teologia, quanto a alguns aspectos, ultrapassou o que Paulo disse.

4 - Alguns dispensacionalistas chegam ao extremo de vislumbrar uma dispensação posterior ao reino milenar. Usam como base o texto de Efésios 1:10 e Fil.2:10-11. Afirmam que nesse tempo, toda a criação será alcançada pelo ministério de Cristo. Parecem querer incluir aí nessa "redenção" todos os seres humanos e celestiais, mesmo aqueles que houverem sido condenados ao fogo eterno, inclusive o próprio Satanás.

CRÍTICA AO PREMILENISMO DISPENSACIONALISTA

1 - O dispensacionalismo não faz juz inteiramente à unidade básica da revelação bíblica. Já vimos anteriormente que Scofield divide a história bíblica em sete dispensações distintas. Apreciamos a insistência dos editores da New Scofield BiBle de que, em cada dispensação, há apenas uma base para a salvação : pela graça de Deus através da obra de Cristo realizada na cruz e vindicada em sua ressurreição. Ficamos igualmente gratos por sua afirmação de que as diferenças entre as dispensações não se aplicam ao modo de salvação.

Entretanto, se é verdadeiro que em cada dispensação o homem precisa ser salvo pela graça, não implicará isto em que o homem, em cada dispensação, seja inteiramente incapaz de obedecer à vontade de Deus perfeitamente, e dessa forma incapaz de salvar a si próprio através de seus próprios esforços ? Por que então o homem necessita de ser testado novamente em cada dispensação ? Não é verdade que o homem foi testado por Deus bem no princípio, no Jardim do Éden? Não é verdade que ele fracassou naquele teste? E não é por essa razão que a salvação pela graça é agora sua única esperança? Ao invés de precisar ser testado repetidamente, conforme implica a teologia dispensacionalista, o de que o homem necessita não será que se lhe mostre, em cada era de sua existência, como ele pode ser libertado de sua impotência espiritual e ser salvo pela graça ?

Na verdade, isso é que nós encontramos na Bíblia. Imediatamente após a queda do homem, Deus veio a ele com a promessa de um Redentor através de quem ele poderia ser salvo (Gn.3:15). Esta promessa de redenção, através da semente da mulher, torna-se agora o tema de toda a história da redenção, do Gênesis ao Apocalipse. O conteúdo central das Escrituras trata do modo como o homem pode salvar-se através de Jesus Cristo em todos os diversos períodos da história de sua existência. Apesar das diferenças na administração, existe apenas uma aliança de graça que Deus faz com seu povo. O Velho Testamento trata do período de sombras e tipos, enquanto que o Novo Testamento descreve o período de cumprimento, mas a aliança da graça é uma em ambas estas eras.

Por causa disso, uma grande dificuldade com o sistema dispensacionalista é que nele as diferenças entre os diversos períodos da história da redenção parecem preponderar sobre a unidade básica dessa história. Passamos agora a observar uma importante implicação deste ponto. Quando não se faz completamente juz à unidade das maneiras redentoras com que Deus lida com a humanidade, e quando se faz distinções rígidas entre as diversas dispensações, existe o perigo de não se conseguir reconhecer os avanços cumulativos e permanentes que marcam os modos de Deus lidar com seu povo na era do Novo Testamento. Por exemplo, aprendemos do Novo Testamento que o muro de divisão ou hostilidade que, anteriormente, dividia gentios e judeus foi removido permanentemente por Cristo (Ef.2:14-15). Baseados no ensino desta passagem e de outras similares, perguntamos aos dispensacionalistas : Por que, então, vocês ainda postulam um tipo de separação entre judeus e gentios, no milênio, pois os judeus terão uma posição favorecida naquele período e serão exaltados acima dos gentios ? A resposta dispensacionalista, presumo eu, seria mais ou menos esta : "O muro de separação entre judeus e gentios é removido durante a presente era da igreja, enquanto Deus está agora congregando sua igreja dentre ambos, judeus e gentios. Mas o milênio será uma dispensação diferente, na qual as promessas feitas a Israel, durante uma dispensação anterior, serão cumpridas". O problema com esta resposta dispensacionalista, porém, é que por causa das exigências do esquema dispensacionalista, precisa-se desconsiderar aquilo que o Novo Testamento diz acerca da remoção do muro de separação entre judeus e gentios. O princípio da descontinuidade entre uma dispensação e outra predominou aqui e, virtualmente, anulou o princípio da revelação progressiva.

2 - O ensino de que Deus tem um propósito separado para Israel e outro para a igreja é um erro. Conforme vimos acima, um dos princípios determinantes da teologia dispensacionalista é que existe uma distinção fundamental e permanente entre Israel e Igreja. Os dispensacionalistas dizem: Israel e a Igreja têm sempre de ser mantidos separados. Quando a Bíblia fala sobre Israel, ela não se refere à igreja, e quando a Bíblia fala acerca da Igreja, ela não se refere a Israel. Uma vez que existem várias promessas do Velho Testamento a Israel, promessas que ainda não foram cumpridas, elas ainda terão de ser cumpridas no futuro.

Antes de tudo, temos de desafiar a declaração segundo a qual quando a Bíblia fala acerca de Israel, ela nunca se refere à Igreja, e que, quando ela fala acerca da Igreja, ela sempre pretende excluir Israel. Na verdade, o próprio Novo Testamento, freqüentemente, interpreta expressões relacionadas com Israel de um modo a aplicá-las à Igreja do Novo Testamento, que inclui tanto judeus como gentios.

Passemos a observar três desses conceitos: primeiro, o termo Israel. Existe, pelo menos uma passagem do Novo Testamento onde o termo Israel é usado de forma a incluir os gentios, e por causa disso, significando toda a Igreja do Novo Testamento. Falo de Gálatas 6:15-16 : "Nem a circuncisão nem a incircuncisão significam coisa alguma; o que vale é a nova criação. Paz e misericórdia a todos os que seguem esta regra, ou seja, o Israel de Deus". A quem se refere a expressão "todos que seguem esta regra" ? Obviamente, a todos aqueles que são novas criaturas em Cristo, para quem nem a circuncisão nem a incircuncisão significam coisa alguma. Isto teria de incluir todos os crentes verdadeiros, judeus e gentios. O que se segue em grego é kai epi ton Israel tou theou. John F. Walvoord, um escritor dispensacionalista, insiste em que a palavra kai deve ser traduzida por "e", de modo que o "Israel de Deus" se refere aos judeus crentes. O problema com esta interpretação é que os crentes judeus já foram incluídos pelas palavras "todos que seguem esta regra". A palavra kai, portanto, deveria se aqui traduzida por "ou seja", conforme o fez a versão New International. Quando a passagem é entendida deste modo, o "Israel de Deus" é uma descrição adicional de "todos os que seguem esta regra", isto é, todos os verdadeiros crentes, incluindo tanto judeus e gentios, que constituem a Igreja do Novo Testamento. Em outras palavras, Paulo aqui está claramente identificando a Igreja como o verdadeiro Israel. Isto implicaria em que as promessas que tinham sido feitas a Israel, durante a época do Velho Testamento, são cumpridas na Igreja do Novo Testamento.

Existem vários outros modos pelos quais o Novo Testamento faz o que acabamos de discutir. Considere, por exemplo, o que Paulo disse aos judeus reunidos na sinagoga de Antioquia, da Pisídia : "Nós vos anunciamos o Evangelho de que aquilo que Deus prometeu aos pais, isto ele cumpriu a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus... E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi... Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncie remissão de pecados por intermédio deste; e por meio dele todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés". (Atos 13:32-34,38,39). Observe-se que, conforme essas palavras, as promessas de Deus aos pais foram cumpridas na ressurreição de Jesus, e que nessa ressurreição Deus deu, a seu povo do Novo Testamento, "as fiéis promessas de Davi". Estas promessas e bênçãos, além disso, são interpretadas como indicando não um futuro reino judaico no milênio, mas sim perdão de pecados e salvação. Por causa disso, as promessas feitas a Israel são cumpridas na Igreja do Novo Testamento.

Ainda outro modo no qual podemos ver que a Igreja do Novo Testamento é o cumprimento do Israel do Velho Testamento é observando I Pedro 2:9 : "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". Pedro endereça sua epístola "aos forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia". (1:1). Embora a palavra dispersão seja freqüentemente aplicada aos judeus, fica evidente, a partir do conteúdo desta epístola, que Pedro estava escrevendo aos cristãos nestas províncias, muitos dos quais, senão a maioria deles, eram gentios. Portanto, Pedro está se dirigindo aos membros da Igreja do Novo Testamento.

Ao olharmos cuidadosamente para I Pedro 2:9, observamos que Pedro está aplicando aqui, à Igreja do Novo Testamento, expressões que são utilizadas no Velho Testamento para descrever Israel. As palavras "raça eleita" são aplicadas ao povo de Israel em Isaías 43:20. As expressões "sacerdócio real, nação santa" são utilizadas para descrever o povo de Israel em Êxodo 19:6. As palavras "povo de propriedade exclusiva de Deus" ou "um povo para sua possessão" são aplicadas ao povo de Israel em Êxodo 19:5. Portanto, Pedro está dizendo aqui, na clareza de suas palavras, que aquilo que o Velho Testamento disse acerca de Israel, pode agora ser dito acerca da Igreja. O povo de Israel não deve ser considerado como constituindo exclusivamente a raça eleita de Deus. Os judeus do Velho Testamento não são mais a nação santa de Deus. A Igreja judaico-gentílica é agora a raça eleita. Agora toda a Igreja deve ser assim denominada. Israel, em si, não é mais um "povo para a possessão de Deus". Estas palavras têm agora de ser aplicadas a toda a Igreja do Novo Testamento. A partir das passagens de que acabamos de tratar, não ficará abundantemente claro que a Igreja do Novo Testamento é, agora, o verdadeiro Israel, no qual e através do qual as promessas feitas ao Israel do Velho Testamento estão sendo cumpridas ?

Passamos agora a examinar a expressão "descendência de Abraão". Embora, com certeza, esta expressão seja geralmente usada no Velho Testamento para designar os descendentes naturais de Abraão, o Novo Testamento amplia o significado deste termo de modo a incluir os gentios crentes. Veja-se, por exemplo, Gálatas 3:28-29: "Não há nem judeus nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus. Se vós pertencerdes a Cristo, então sois descendentes de Abraão, e herdeiros conforme a promessa". O que é indubitavelmente claro aqui é que todos os crentes do Novo Testamento, todos os que pertencem a Cristo, todos os que foram revestidos de Cristo (v.27), são descendência de Abraão - não no sentido natural, com certeza, mas num sentido espiritual. Novamente, vemos a identificação da Igreja do Novo Testamento como o verdadeiro Israel, e de seus membros como os verdadeiros herdeiros da promessa feita a Abraão.

As palavras Sião e Jerusalém são geralmente usadas pelo Velho Testamento para indicar um dos montes onde se situava Jerusalém, a capital dos israelitas ou o povo de Israel em geral. Novamente, percebemos que o Novo Testamento amplia a compreensão destes termos. O autor de Hebreus escreveu a seus leitores cristãos : "Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e às incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador de Nova Aliança..." (Hb. 12:22-24). Obviamente, "monte Sião" e a "Jerusalém celestial", que João vê "descendo do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo" (Ap.21:2), é muito mais abrangente do que a idéia de limitar-se apenas aos judeus crentes. Por causa disso, o termo Jerusalém, utilizado no Velho Testamento a respeito do povo de Israel, é utilizado no Novo Testamento, incluindo toda a Igreja de Jesus Cristo. Concluímos, então, que a argumentação dispensacionalista, de que quando a Bíblia fala sobre Israel ela nunca se refere à igreja, não está em harmonia com as Escrituras.

Nossos amigos dispensacionalistas, porém, poderão responder ao que foi dito acima, contra-argumentando que o Novo Testamento, efetivamente, várias vezes menciona os judeus como distintos dos gentios. Concordo com esta afirmação. Seria fácil ilustrar este argumento. No livro de Romanos, Paulo freqüentemente utiliza a expressão: "primeiro do judeu e também do grego" (1:16; 2:9,10; 3:9,29). Em Romanos 9 a 11 o termo Israel é utilizado onze vezes; cada vez se refere aos judeus como distintos dos gentios. Em Efésios 2:11-22, Paulo mostra que Deus fez gentios e judeus membros co-participantes da família de Deus, tendo derrubado a parede de hostilidade que estava entre eles; contudo, toda a discussão seria sem sentido se Paulo não estivesse fazendo distinção entre judeus e gentios.

Todavia, o fato de o Novo Testamento freqüentemente mencionar os judeus como distintos dos gentios não implica, de forma alguma, que Deus tenha um propósito, em separado, para Israel, distinto de seu propósito para a Igreja, conforme afirmam os dispensacionalistas. O Novo Testamento deixa bem claro que Deus não tem esse propósito, em separado, para Israel.

Na passagem de Efésios, a que acabamos de nos referir, Paulo mostra claramente que o muro intermediário de separação, entre judeus crentes e gentios crentes, foi derrubado (Ef.2:14), que Deus reconciliou judeus e gentios consigo mesmo em um corpo através da cruz de Cristo (2:16). Qualquer idéia de um propósito separado para judeus crentes está excluída aqui. Como poderá esta unidade de judeu e gentio, que é um resultado permanente da morte de Cristo na cruz, ser colocada de lado numa dispensação ainda porvir ?

Os dispensacionalistas apelam freqüentemente para Romanos 11, como ensinando um período futuro de bênçãos separado para Israel. Este apelo é feito especialmente com base nos versos 25 até 27. Já foi fornecida anteriormente evidência para a posição de que Romanos 11:26 ("e assim todo o Israel será salvo") não ensina, necessariamente, uma conversão futura da nação de Israel. Devemos agora acrescentar que, mesmo se alguém estivesse inclinado a entender esta passagem como ensinando tal futura conversão nacional de Israel, esse alguém, ainda assim, teria de admitir que Romanos 11 não diz coisa alguma relativa a Israel ser novamente congregado em sua terra, nem acerca de um futuro governo de Cristo sobre um reino milenar israelita.

Na verdade, existem indicações claras, em Romanos 11, de que o propósito de Deus para Israel nunca deve ser separado de seu propósito para os gentios crentes. Nos versos 17 a 24, Paulo descreve a salvação dos israelitas utilizando a idéia de eles serem re-enxertados em sua própria oliveira. A salvação dos gentios, porém, é descrita, nesta passagem, sob a figura de seu enxerto na mesma oliveira na qual os judeus estão sendo enxertados. A comunidade do povo crente de Deus, portanto, não está retratada aqui em termos de duas oliveiras, uma para judeus e uma para gentios, mas sim falando de uma oliveira só onde tanto judeus como gentios estão sendo enxertados. Sendo este o caso, como poderia Paulo nos ensinar aqui que Deus ainda tem um propósito, em separado, para os judeus e um futuro, em separado, para Israel ?

Não haverá, então, nenhum futuro para Israel ? Naturalmente que há! Mas o futuro dos israelitas crentes não deve ser separado do futuro dos gentios crentes. A esperança de Israel, para o futuro, é exatamente a mesma dos gentios crentes: a salvação e glorificação ulterior através da fé em Cristo. O futuro de Israel não deve ser visto em termos de um reino político na Palestina, que dure mil anos, mas sim como uma felicidade eterna compartilhada com todo o povo de Deus na nova terra glorificada.

CONCLUSÃO

É evidente que a história possui períodos distintos quanto às relações de Deus com a humanidade. Cada etapa possui suas peculiaridades. Entretanto, não se pode negar a continuidade que perpassa essas eras. De outro modo, negaríamos a revelação progressiva de Deus ao seu povo. Ademais, pensar que tais períodos demonstram tentativas divinas de um relacionamento mal sucedido com o homem, pode ser teologicamente paradoxal. Poderíamos estar atribuindo fracasso às iniciativas divinas.

Outro ponto desse estudo que nos parece merecedor de destaque, é o que concerne ao povo de Israel e sua posição escatológica. Ficou bem demonstrado que o povo judeu está em pé de igualdade com os demais povos da terra. Isto, desde o início do tempo da graça. Um retorno divino aos valores judaicos nos parece incompatível com as declarações bíblicas. Judeus e gentios convertidos são agora um só povo : a igreja.

Tendo em mente tais considerações, nos dedicaremos doravante a um estudo escatológico que nos permita chegar a conclusões coerentes quanto ao desenrolar profético dos últimos dias.

BIBLIOGRAFIA

BOYER, O.S. - Pequena Enciclopédia Bíblica - Editora Vida

CHAMPLIN, R.N. ; BENTES, J.M. - Enciclopédia de Bíblia, Teologia e

Filosofia.

ERICKSON, J.MILLARD - Conciso Dicionário de teologia Cristã - Juerp

BÍBLIA SAGRADA - Versão Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida - Sociedade Bíblica do Brasil

FERREIRA, AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA - Novo Dicionário da Língua Portuguesa - Editora Nova Fronteira

VIRKLER, HENRY A. - Hermenêutica - Editora Vida.

HOEKENA, ANTHONY A. - A Bíblia e o Futuro - Editora Cultura Cristã

SHEDD, RUSSELL P. - A Escatologia do Novo Testamento - Edições Vida Nova

SILVA, SEVERINO PEDRO - Escatologia - Doutrina das Últimas Coisas -

Casa Publicadora das Assembléias de Deus - CPAD


SEBEMGE - SEMINÁRIO BATISTA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Anísio Renato de Andrade

Agosto de 1996/Belo Horizonte - MG

anisiora@mg.trt.gov.br