A Bíblia e a Autodefesa

por

Don Walker

 


Jesus ordenou seus discípulos a fazer algo interessante em Lucas 22:36. Ele disse: “O que não tem espada, venda a sua capa e compre uma”. Isso se opõe abertamente à imagem pacifista que muitas pessoas têm do Senhor Jesus. Alguns tentam espiritualizar o significado óbvio da instrução de Jesus. Ele estava falando de uma espada literal. É aparente que seus discípulos entenderam o que ele quis dizer pelo versículo 38, que demonstra o uso inepto e inapropriado da arma por Pedro. O ponto é: Jesus disse a seus discípulos para “ter uma espada”! Para qual propósito, a não ser a autodefesa? (Para cortar pão e espalhar azeite de oliva?) A repreensão de Jesus pelo uso que Pedro fez da espada naquela noite deveu-se à natureza de sua missão — a cruz — e não à condenação absoluta do uso de uma espada para a defesa. A declaração de Jesus de que “todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (Mateus 26:52) não é uma proibição da defesa própria, mas a condenação dos que vivem da violência.

O Antigo Testamento revela o reconhecimento e o apoio divinos da validade da defesa , e até mesmo da necessidade da eliminação de vida humana, tanto por nações quanto por indivíduos. Os que 'piedosamente' citam a Bíblia quando dizem “não matarás”, declarando que toda vida é dada por Deus e que não temos o direito de tirá-la com as próprias mãos, falham em ler o resto da Bíblia . No mesmo livro da Bíblia, Deus especificamente ordenou a execução de pessoas por crimes tais como blasfêmia, perversão sexual, adultério, seqüestro e assassinato. Na questão da autodefesa, a Lei proclama abertamente que, se um homem encontrar um ladrão em sua casa , de noite , e matá-lo isso constitui um meio aceitável de proteger o lar e a propriedade da pessoa (Êxodo 22:2). John Locke equacionou o assalto contra a propriedade particular como equivalente ao assalto contra a vida da pessoa , visto que o indivíduo depende da propriedade para viver. João Calvino declarou que a lei do amor de Cristo requer defesa do próximo que seja indefeso. Paulo ensina que o magistrado civil usa propriamente a espada (Romanos 13:1-7). Historicamente, a igreja sempre viu a guerra defensiva como justa e apropriada de acordo com os limites do ensino escriturístico. (Isso não é dizer que não havia pacifistas tais como alguns dos anabatistas, mas eles são exceção) Biblicamente, a guerra justa, como com Jefté e os amonitas, foi essencialmente um apelo para o céu decidir entre os adversários (Juízes 11:27).

Os advogados da abordagem pacifista não-violenta dizem que nunca devemos nos defender de maneira agressiva ou violenta , citam passagens das Escrituras como “não resistais ao mal” ou “dêem o outro lado da sua face” ( Mateus 5:39) para apoiar sua posição. Ela procura nos persuadir de que qualquer forma de defesa rigorosa seria contrária aos ensinos do cristianismo e não seguiria o exemplo do Senhor, que permitiu que os homens lhe fizessem violência .

O maior problema com esse ponto de vista é que nem o cristianismo e nem a Bíblia ensinam a não-violência ou o pacifismo . A Bíblia nos mostra tanto no Antigo quanto no Novo Testamento que o Deus de amor é realiza também atos de violência , retribuição e vingança. A força nunca é condenada nas Escrituras — somente seu mau uso. Amor e força não são incompatíveis na mente divina, nem o são a justiça e a força. Em cada situação elas são apenas lados opostos da mesma moeda. O humanismo religioso enfatiza o lado do amor e do pacifismo, mais próximos de Mahatma Ghandi que do Senhor Jesus Cristo e do claro padrão bíblico.

Devemos entender que quando Cristo deu o mandamento de dar a outra face e não resistir o mal , ele se pronunciava numa situação na qual o coração dos homens tinha se apartado do intento da Lei de Deus , e as pessoas usavam a Lei como ferramenta para satisfazer vinganças pessoais. O Senhor falava de atitudes malignas de ódio e hipocrisia , não dos procedimentos legais de seus dias. Nunca, em momento algum, a Bíblia permite-nos tomar a lei em nossas mãos, nem nos é permitido ser vindicativos ou vingativos — mesmo na situação mais extrema. Se a questão for o sofrimento devido ao testemunho da fé em Cristo, ele sempre deve ser triunfante e não-violento.

Num mundo não-caído, obviamente não haveria necessidade de autodefesa. Mas nós vivemos num mundo caído , onde o homem pecador é por natureza predador. Costumes sociais podem impedi-lo de dar plena vazão a seu instinto predador, mas essa natureza perversa é amansada apenas superficialmente. Quando a ilegalidade reina, com o colapso da sociedade , a autodefesa é necessária para a sobrevivência. A realidade é que a polícia não pode proteger totalmente você e sua família. Como resultado, somos confrontados com a necessidade de proteção pessoal. Somos encarregados por Deus de proteger a família, os bens (nossas posses representam a administração sob o senhorio de Cristo) e o bem-estar pessoal de qualquer violência indevida que impeça o progresso do Reino de Deus.

Isso significa que Deus não pode proteger seu povo em tempos de perigo ? Sem dúvida Deus pode nos proteger sem meios, como ele fez com Daniel na cova dos leões. Ou ele pode nos proteger com meios, como fez com Davi e o uso habilidoso de uma funda contra um leão. Em ambos os casos, Deus protegeu seu servo. Da mesma forma que Deus pode curar diretamente, sem meios (sobrenaturalmente), ele pode curar valendo-se dos meios (médicos e remédios). Deus permanece a fonte da cura em ambos os casos . Deus é nossa fonte de proteção, quer ele nos forneça proteja direta e sobrenaturalmente, quer ele requeira de nós algum meio natural de nos proteger, tal como uma magnum A-44.

Espera-se que a maioria de nós faça o que for necessário para proteger a família de uma doença aguda, da pobreza desnecessária ou do ataque de um animal selvagem. Por que não agiríamos tão prontamente para proteger a nós mesmos e a nossa família de um intruso cuja intenção é má?

Por favor, ouça-me: não estou dizendo que todo o mundo deve ter uma arma de fogo na escrivaninha. Digo que a Bíblia permite a autodefesa. Deus nos concedeu o direito de usar os meios que julgarmos necessários para prover proteção para nossa vida, para a vida de nossa família e para a manutenção da propriedade .

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 13 de Setembro de 2005.

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