Expiação Definida

por

R. C. Sproul


Às vezes, as doutrinas distintas da teologia reformada são resumidas em Inglês pelo uso de acróstico T.U.L.I.P. (em Português seria D.E.E.G.P.):

T otal depravity = Depravação total
U nconditional election = Eleição incondicional
L imited atonement = Expiação limitada
I rresistible grace = Graça irresistível
P erseverance of the saints = Perseverança dos santos

Embora o acróstico seja útil para ajudar na memorização, também pode gerar confusão com respeito às doutrinas por causa da maneira como foi organizado para formar o acróstico “TULIP” (em Inglês). Isso é especialmente verdadeiro com referência ao terceiro ponto, ou seja, expiação limitada. Muitos, que se consideram calvinistas “de quatro pontos”, estão dispostos a confirmar todos os pontos, menos a expiação limitada. Tiram o L do “TULIP”.

Prefiro o termo expiação definida ao termo expiação limitada (embora tenha que converter tulip em tudip). A doutrina da expiação definida focaliza a questão do desígnio da expiação e Cristo. Isso tem a ver com o propósito de Deus em enviar Jesus à cruz.

Qualquer um que não seja universalista está disposto a concordar que o efeito da obra de Cristo na cruz é limitado aos que crêem. Isso é, a expiação de Cristo não tem validade para os não-crentes. Nem todas as pessoas são salvas através de sua morte. Todos também concordam que o mérito da morte de Cristo é suficiente para pagar pelos pecados de toda a humanidade. Alguns colocam desta maneira: a expiação de Cristo é suficiente para todos, mas é eficiente somente para alguns.

Isso, entretanto, não é o âmago da questão da expiação definida. Os que negam a expiação definida insistem em que a obra expiatória de Cristo foi destinada por Deus para expiar os pecados de todo mundo. Tornou possível a salvação de todas as pessoas, mas não tornou certa a salvação de ninguém. Este desígnio, portanto, é ilimitado e indefinido.

A visão reformada sustenta que a expiação de Cristo foi destinada e tencionada só para os eleitos. Cristo deu sua vida por suas ovelhas – e só por suas ovelhas. Além disso, a expia-ção garantiu a salvação para todos os eleitos. A expiação foi uma obra real de redenção e não simplesmente potencial. Nesta visão, não há possibilidade de que o desígnio e intenção de Deus para a expiação sejam frustrados. O propósito de Deus na salvação é infalível.

Os teólogos reformados diferem na questão da oferta da expiação para a raça humana. Al-guns insistem em que a oferta do evangelho é universal. A Cruz e seus benefícios são ofe-recidos a todo aquele que crê. Outros insistem em que esse conceito de uma oferta universal é equivocado e que envolve um tipo de jogo de palavras. Visto que só os eleitos de fato irão crer, na verdade a oferta é voltada só para eles. O benefício da expiação de Cristo nunca é oferecido por Deus ao impenitente ou incrédulo. Já que fé e arrependimento são condições satisfeitas só pelos eleitos, em última análise a expiação é oferecida só a eles.

O apóstolo João escreve: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo. 2.2). Este texto, mais que qual-quer outro, é citado como a prova das Escrituras contra a expiação definida. À primeira vista, o texto parece argumentar que a morte de Cristo foi destinada a todas as pessoas (o mundo inteiro). Entretanto, se for tomado nesse sentido, o texto prova mais do que os cris-tãos não-reformados querem que ele prove. Torna-se um texto prova para o universalismo. Se Cristo de fato propiciou ou satisfez as exigências de Deus para a punição dos pecados de todas as pessoas, logo fica claro que todas as pessoas seriam salvas. Se Deus punisse peca-dos que já foram propiciados, então ele seria injusto. Se o texto for interpretado como signi-ficando que os pecados de todos foram condicionalmente expiados (dependentes de fé e arrependimento), então voltamos à questão original de que somente os eleitos satisfazem tais condições.

A outra maneira de interpretar este texto é vendo o contraste entre nossos pecados e os do mundo inteiro. Quem são as pessoas incluídas na palavra nossos? Se João está falando so-mente das pessoas crentes, então a interpretação anterior do texto se aplicaria. Mas esse é o único significado possível de nossos?

No Novo Testamento, com freqüência se faz um contraste entre a salvação experimentada pelos judeus e a experimentada pelos não-judeus. Um ponto crucial do evangelho é que ele não se limita aos judeus, mas se estende às pessoas de todo o mundo, às pessoas de todas as tribos e nações. Deus ama o mundo todo, mas não salva o mundo todo; ele salva pessoas de todas as partes do mundo. Neste texto, João pode estar simplesmente dizendo que Cristo não é a propiciação só pelos nossos pecados (dos crentes judeus), mas pelos eleitos que se encontram também em todas as partes do mundo.

Em qualquer caso, o plano de Deus foi decidido antes que qualquer pessoa estivesse no mundo. A expiação de Cristo não foi um pensamento divino de última hora. O propósito de Deus na morte de Cristo foi determinado desde a fundação do mundo. O desígnio não foi estabelecido por acaso, mas de acordo com um plano e um propósito específicos, os quais Deus está cumprindo soberanamente. Todo aquele por quem Cristo morreu é redimido por seu ato sacrificial.

 


Fonte: Verdades essenciais da fé cristã: doutrinas básicas em linguagem simples e prática. v. 2 (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), pp. 66-68.

 


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