A Glória de Deus

por

Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior

 

A palavra glória, em hebraico kavôd, literalmente significa “pesar” ou “ ser pesado”. O conceito representa a presença de Deus entre os seres humanos, que deixa uma impressão altamente significativa entre eles. É importante saber que a glória é característica intrínseca de Deus. Não é o reconhecimento, nem o louvor que Suas criaturas prestam que tornam Deus glorioso. A Confissão de Fé Batista de 1689 [1], assim afirma:

Deus tem em si mesmo e de si mesmo toda a vida, glória, bondade e bem-aventurança. Somente ele é auto-suficiente, em si e para si mesmo; e não precisa de nenhuma das criaturas que fez, nem delas deriva glória alguma; mas somente manifesta, nelas, por elas, para elas e sobre elas a sua própria glória. Ele, somente, é a fonte de toda existência: de quem, através de quem e para quem são todas as coisas, tendo o mais soberano domínio sobre todas as criaturas, para fazer por meio delas, para elas e sobre elas tudo quanto lhe agrade.

Deus criou os seres humanos para a Sua glória. O alvo principal do ser humano é conhecer a Deus e glorifica-Lo. A glória de Deus deve ter prioridade sobre qualquer coisa que queiramos realizar. A Bíblia diz: “quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (1 Coríntios 10:31). Deus nos criou para reconhecer o Seu poder e majestade e viver à luz da Sua glória.

A partir de uma narrativa bastante conhecida do Antigo Testamento podemos ver ilustrada essa verdade. Muitos, à semelhança de Jacó, são manipuladores e estão atrás das bênçãos divinas e não estabelecer um relacionamento transformador com Deus.

Literalmente o nome Jacó significa aquele que segura o calcanhar , significando suplantador ou enganador . Vemos em sua vida essa característica. Jacó vive manipulando as situações. A fim de preparar Jacó para encontrar a si mesmo, Deus preparou uma série de cenas, que lhe servissem de espelhos ao longo da vida.

Primeira cena. Deus fez Jacó confrontar a sua própria identidade, por meio de perguntas que lhe fez seu pai: “Quem és tu, meu filho?”. “Sou Esaú, teu primogênito”. Ele estava representando um papel teatral, a fim de enganar seu pai. Quando Esaú descobriu a farsa, ele quis matar seu irmão. Fuja, Jacó.

Segunda cena. Raquel, uma linda e jovem donzela, chega perto do poço, na região onde Jacó tinha fugido. Jacó não queria dizer a ela o seu nome. Mas disse a Raquel que era um parente do pai dela e filho de Rebeca.

Terceira cena. Entra Labão, pai de Raquel, cujo comportamento era muito parecido com o de Jacó. Enquanto Jacó pensa que estava se casando com a filha mais jovem de Labão, Raquel, Labão faz entrar disfarçadamente Lia, vesga, por detrás da cortina. Talvez ele tivesse servido vinho demais a Jacó. Assim como Jacó se tinha vestido de peles, a fim de imitar seu irmão, assim também Labão cobriu Lia para fazer Jacó pensar que estava consumando o casamento com Raquel. “O que é isto que me fizeste?” (29:25) E isso foi equivalente a: “por que foste um Jacó para mim?”. Jacó tinha se encontrado com outro Jacó – uma reiteração de seu ato, com o qual furtara a bênção pertencente a seu irmão.

Quarta cena. Jacó precisava enfrentar a realidade. Deus chamou-o para voltar para sua terra natal – o que significava voltar para a companhia de Esaú. Vinte anos atrás, Esaú quisera matá-lo. Agora Esaú vinha contra ele com 400 homens armados.

Na tensão frente ao encontro com seu irmão Esaú, (Gn 32:22-32) Jacó fica sozinho, à noite. Antes de atravessar o vau de Jaboque, ele pede para que suas esposas e seus filhos o deixem sozinho. Não só isto, ele pede também que todos os seus bens sejam atravessados. Ele fica só. Não sabemos o que Jacó pensou, mas deve ter sido um momento de reflexão.

Ele analisou sua vida, lembrou-se da forma como ele havia fugido de seu irmão, depois de ter conseguido a primogenitura, prometida por Deus quando eles nasceram, por meio de um estratagema. Sentia saudade sua mãe. Porque após ter se despedido dela nunca mais a viu. Dentro de seu coração lhe pesava o fato de ter enganado seu amado pai. Seu coração era marcado por toda uma vida de engano e subterfúgios.

Estar sozinho no vau do Jaboque foi importante para Jacó poder encontrar consigo mesmo. Neste momento de meditação, Jacó avista alguém se aproximando. Seu coração se acelera. Pode ser que Jacó tenha pensado que este desconhecido fosse mensageiro de Esaú. Desencadeia-se uma luta misteriosa com um desconhecido.

Entretanto, no decorrer da luta, Jacó entendeu que àquele homem não era um simples mortal, pois se tratava de um emissário de Deus. Os dois lutaram a noite inteira, ao final o anjo deslocou a articulação da coxa de Jacó. Cada passo que desse no futuro haveria de lembrá-lo da sua dependência da graça divina. Antes de abençoa-lo, o anjo lhe dá o nome de Israel. Que significa literalmente em hebraico e le luta com Deus . O anjo, porém, não lhe revela o seu nome, apesar da insistência de Jacó. Jacó tem que aprender, de uma vez por todas, que ele não pode manipular a revelação de Deus. Ele é quem se deixa conhecer. Não é uma resposta ao esforço humano de invocar e controlar a Deus.

O Deus-homem fez-lhe a pergunta que ele vinha evitando responder fazia 20 anos: "Como se chama? (32:27) e Jacó, pela primeira vez durante toda a narrativa, disse qual era o seu nome. Ele respondeu: : "Jacó". Parece simples demais. Mas Jacó precisava defrontar-se com Deus e não com seu irmão, e nem com ele mesmo, com o Jacó que ele gostaria de ser. Depois deste encontro, Jacó nunca mais foi o mesmo. Agora Jacó era um homem quebrantado. Tinha se encontrado consigo mesmo.

Sua identidade seria forjada a partir de Deus. Não havia como continuar fingindo um papel, nem votos e nem promessas, nem esquemas e planos – apenas “Jacó”. Era preciso que ele deixasse que Deus tratasse com o verdadeiro Jacó. Aquele “eu” que Deus, com tanta paciência, tinha dirigido por 20 anos de conflitos, a fim de mostrar-lhe quem ele realmente era.

No decorrer da vida, o homem acaba tendo um encontro decisivo com Deus. No centro desse encontro há uma luta tenaz, em que o homem acaba sendo ferido. Onde o homem se vê reduzido suas pretensões e se adequando ao plano de Deus.

E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito. (2 Coríntios 3:18 - NVI)

 

 

NOTAS:

[1] - Disponível em http://www.monergismo.com/textos/credos/1689.htm. Acesso em (18.07.2005).


 

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