Perspectivas Atuais - A Igreja e a Homossexualidade

por

Jerrold Lewis

Introdução

Em março de 2000, o Governo Federal do Canadá decidiu aprovar uma legislação que daria a casais homossexuais status e direitos idênticos aos dos casais heterossexuais. A decisão foi aprovada pela Casa com 137 votos a favor e 118 contra. Em 12 de julho de 2002, a Côrte Suprema de Ontario decretou que a discriminação contra casamentos de pessoas do mesmo sexo era contra a Carta de Direitos e Liberdade. O premier de Ontario, Ernie Eves disse: “Se duas pessoas decidem que querem estar em uma união, porque eu deveria interferir nisso?”. O Governo Federal decidiu apoiar esta decisão, mas o resultado disso é incerto. O Canadá, ao tomar a frente mundialmente em prol de um pequeno grupo, está sendo estigmatizado pelo declínio moral, com a voz do povo canadense passivamente sendo calada por um ativismo de minorias. O lobby agressivo dos proponentes de uma “nova moralidade” venceu, e os profetas do pensamento liberal estão se gloriando em seu sucesso. “Até quando proferirão, e falarão coisas duras, e se gloriarão todos os que praticam a iniqüidade?” (Salmos 94.4).

Há cerca de 30 anos atrás, Francis Schaeffer escreveu a respeito do futuro da ética.

Os pensadores dos anos 80 e 90 certamente irão incutir coisas que muitas pessoas hoje consideram impensáveis e imorais, até inimagináveis e muito extremas para se sugerir. E mais – desde que eles não têm algum princípio superior que os mantenham fora do pensamento relativista – quando isto se tornar aceitável e normal nas décadas de 80 e 90, muitas pessoas nem mesmo lembrarão que eram coisas impensáveis nos anos 70. (Koop and Shaeffer 2)

Desde o princípio, homossexualidade sempre foi um pecado abominável. Em qualquer estudo de escritos éticos das épocas do Antigo Testamento, Novo Testamento, Igreja Primitiva, Idade Média, Reforma e Pós-Reforma, homossexualidade foi coletivamente condenada como um pecado odioso. E tem sido assim por mais de 6000 anos por uma simples razão – a Bíblia diz que é pecado. Agora, na virada do milênio, teólogos liberais estão nos dizendo que homossexualidade é natural, e denominações apóstatas preparam as boas-vindas em suas comunidades aos seus membros, professores de Escola Dominical, presbíteros e até pastores homossexuais. A despeito do violento ataque moderno do pensamento liberal na área da homossexualidade e religião, a Bíblia permanece imutável em sua posição de condenar homossexualidade como uma grande maldade.

Teólogos liberais que defendem homossexualidade fazem isto ao preço da verdade. O significado claro da Escritura foi cortado fora, e uma nova interpretação toma seu lugar, de forma que justifique a “nova moralidade”. Primeiro, eles tiram o significado correto do texto e o preenchem com uma interpretação de sua própria construção, o que claramente elimina qualquer princípio hermenêutico do processo.


Criação

Quando o Senhor nos deu as Escrituras, Ele não nos deixou sem uma interpretação destas Escrituras, mas fez dentro delas um guia, ou uma regra, para descobrir Sua vontade em todos os assuntos da fé e da vida. Textos como “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Deuteronômio 12.32), e “Fareis conforme os meus juízos, e os meus estatutos guardareis, para andardes neles. Eu sou o SENHOR vosso Deus." (Levítico 18.4).

Como discípulos de Cristo, nós não somos livres para tirar nossas próprias conclusões ou interpretar as Escrituras de uma forma particular. “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pedro 1.20). Em outras palavras, a Bíblia não é algo que pode ser moldado e manipulado para se encaixar bem em nossas circunstâncias particuladas, muito menos deve ser usada como uma máquina de pretextos, que justificam todos os nossos pecados freqüentes. Ser um cristão significa abandonar nossos desejos pecaminosos aos pés de Cristo, negando-nos a nós mesmos, tomando nossa cruz e seguindo o Mestre (Mateus 16.24).

Quando Deus criou macho e fêmea, Ele fez isso, em parte, para refletir a intimidade e unidade da Trindade. “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1.26). O decreto da Criação dita nosso entedimento da vontade de Deus a respeito de intimidade, amor e reprodução sexuais. Homossexualidade é uma distorção da ordenança do casamento na Criação. Em Gênesis 2.24, Deus nos diz “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”. A partir deste ponto, não deveria haver dúvidas sobre o que Deus intentou a respeito da união carnal e sexual. John Murray afirma “O sentido prima facie em Gênesis 2.24 é que um homem está se unindo a uma mulher e que os dois se tornariam uma carne” (Murray 29). A palavra casamento é usada 18 vezes nas Sagradas Escrituras, e em todos os momentos ela requer alguém do sexo feminino. Todas as uniões, portanto (como fruto de Gênesis 2.24), são entre macho e fêmea. Não existe absolutamente qualquer ocorrência bíblica de Deus permitindo uma relação macho/macho ou fêmea/fêma na santidade do casamento, ou alguma outra cirscustância permissível pertinente à união sexual. De fato, nós temos exatamente o oposto. Mas antes de irmos mais adiante, vamos analisar a primeira citação de homossexualidade na Palavra, e descobrir o que Deus está dizendo a nós sobre isto.


Sodoma

Resumidamente, os homens de Sodoma, pediram que Ló lhes trouxessem os dois visitantes para que eles pudessem “conhecê-los” (Gênesis 19.5). O resultado final foi os cidadãos de Sodoma feridos com cegueira e a cidade destruída por fogo e enxofre. É verdade que Sodoma era culpada de bem mais que perversão sexual, mas não se pode ignorar que os homens de Sodoma queria “conhecer” os convidados de Ló. Os defensores da homossexualidade tentam provar neste ponto que a palavra “conhecer” (yadha) não é a palavra comum usada para atividade homossexual (shakhabh) mas é algo bem mais genérico, que funciona como “ser apresentado a”. A interpretação gay literal da história é algo assim: Como um residente estrangeiro em Sodoma, Ló era responsável por apresentar seus visitantes aos moradores estabelecidos lá, e deixar que eles examinassem as credenciais destes convidados. Por esta razão, os sodomitas pediram para “conhecer” os visitantes de Ló. Os sodomitas queriam conhecê-los, para saber de onde eles vieram, para onde eles iam, e por que estavam em Sodoma. Uma vez que (na mente de um hebreu) um estranho tinha direito à hospitalidade, as ações dos sodomitas pareciam ser ditatoriais e descorteses. Por esta falta de amor e hospitalidade, Deus destruiu a cidade com fogo e enxofre (Melminiak 39-40).

O problema com a interpretação citada acima é que não funciona se nós levarmos o resto da história em consideração. Somente se deixarmos a história nesta forma isolada é possível concluir assim.

Primeiramente, no contexto, nós devemos notar que os homens de Sodoma vieram até Ló e pediram para “conhecer” seus visitantes. A resposta de Ló foi fechar a porta e caracterizar este pedido de “yadda” (conhecer) os visitantes como um mal (veja Gênesis 19.6,7). É muito estranho que Ló acreditasse que um simples costume local como ser apresentado a visitantes fosse um “grande mal”. Na verdade, seria justamente o oposto, pois trata-se aparentemente de um sentimento amigável e hospitaleiro com a intenção de se socializar com os novos visitantes. Não seria uma atitude com esta um motivo para não haver a destruição divina?

Segundo, por que Ló oferece suas filhas virgens ao invés de apresentar suas visitas? Os sodomitas sempre estiveram interessado neles, pois Ló era um homem proeminiente em Sodoma, pelo fato da localização de sua casa (ele vivia à porta da cidade, o lugar mais importante para residir. Veja Gênesis 19.1). Se esses homens quisessem apenas “ser apresentados” aos visitantes de Ló, por que Ló responde com “Eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram homens; fora vo-las trarei, e fareis delas como bom for aos vossos olhos” (Gênesis 19.7,8). Ló era um depravado? Ele daria a virgindade de suas filhas no lugar de uma pequena visita aos seus convidados? Quão insultados e chocados os sodomitas devem ter se sentido ao ouvirem uma proposta desse tipo. Para oferecer favores sexuais no ligar de uma visita rápida, Ló teria de ser louco. E como isto se encaixa com a crença de que Sodoma foi destruída por causa da falta de hospitalidade? Certamente o único mau anfitrião nesta história é Ló, e ele foi salvo da destruição da cidade.

Somente pessoas que procuram encobrir o significado óbvio e natural deste texto diriam que os sodomitas queriam “conhecer” os visitantes de uma forma geral, genérica. O grande mal neste texto foi a perversão sexual na forma de homossexualidade, e Deus destruiu Sodoma por isto.


A Lei de Deus

Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é” (Levítico 18.22)

Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.” (Levítico 20.13)

É impossível que um homem ou uma mulher racionais leiam as Escrituras citadas acima e não vejam seus objetivos. Ainda assim, alguns teólogos argumentam que estas leis deixadas em Levítico serviam apenas para a nação de Israel, que estas leis eram estritamente cerimoniais em sua natureza e, portanto, foram revogadas com a vinda do Novo Testamento (Helminiak 55). Enquanto nós concordaríamos que as leis específicas conhecidas como “leis judiciais” chegaram ao fim com a nação de Israel, nós ainda acreditamos que a igualdade geral da lei permanece. A Confissão de Westminster diz “A esse mesmo povo, considerado como um corpo político, Deus deu leis civis que terminaram com aquela nacionalidade, e que agora não obrigam além do que exige a sua eqüidade geral.” (CFW XIX, IV).

Embora seja verdade que certas leis foram abolidas com a vinda de Cristo (leis cerimoniais), nós ainda temos a porção moral da Lei mesmo no Novo Testamento. Mateus 5.17,18 diz: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.” A verdade permanece, que a respeito da sodomia, há uma característica cerimonial (impureza) que foi abolida com o sacrifício final de Cristo. Entretanto, sodomia permaneceu como um crime moral também, estando debaixo da jurisdição do 7º mandamento. O Catecismo Maior fala claramente sobre isto quando diz

P. 139: Quais são os pecados proibidos no sétimo mandamento?

R. 139: Os pecados proibidos no sétimo mandamento, em adição à recusa do que é requerido, são adultério, fornicação, estupro, incesto, sodomia, e todas os prazeres anti-naturais; todo tipo de imaginação, pensamentos, propósitos e afeições impuras, todas as conversas imorais ou obcenas, ou ouvi-lás; olhar desejoso, ou comportamento libertino ou despudorado; vestimentas ofensivas; se colocar contra casamentos legais, ou concordar com casamentos ilegais; permitir, tolerar, manter o silêncio, e confirmá-los; forçar votos de vida solteira, com a justificativa da demora do casamento. Ter mais esposas ou maridos que um, ao mesmo tempo, divórcio ou deserção injustos; ser um cônjuge preguiçoso, glutão, beberrão e impuro; canções, livros, fotos, danças e peças teatrais lascívas; e todos os outras provocações ou atos de sujeira, em nós mesmos ou em outros. (Ênfase do autor) (223)

Sodomia era uma das poucas leis cerimonias que transcenderam sua normal categoria primária e foram firmemente incluídas nas leis judiciais e morais. Além disso, se a sodomia (como mencionada em Levítico 18) foi abolida com israel como um corpo político, então assim também foram o incesto (vv. 6-17), adultério (v.20) e bestialidade (v.23). O teólogo que está argumentando por um fim do pecado da sodomia está, ipso facto, argumentando pelo fim de todos os outros pecados mencionados em Levítico 18.


O Novo Testamento

Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos (...) Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.

Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm. (Romanos 1.22-28)

O primeiro capítulo de Romanos nos conta que mesmo no Novo Testamento o princípio da homossexuialidade continua inalterado. Paixões infames somente podem ser interpretadas à luz do que nós já sabemos ser moral ou imoral. O Novo Testamento perde sua coerência se nós o separarmos do piso moral do Antigo Testamento. Muitos teólogos liberais gostariam de tomar Romanos 1 e colocá-lo no contexto dos escritos encontrados na cultura grega ao invés do Antigo Testamento. Isto porque se lermos palavras como “se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza” não há no texto dizendo-nos sobre o que é feito aqui, a não ser que nós observemos a raíz etmológica da luxúria homem/homem. Nós podemos fazer isto somente através de uma visão do Antigo Testamento. “Paixões infames” tem relação direta com Levítico 20.13 – “Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.” É muito claro aqui sobre o que Romanos 1 está falando.

Tentativas criativas foram feitas pela comunidade homossexual para reduzir a clara condenação de Paulo quanto à homossexualidade e colocar um novo sentido em suas palavras. Isto é chamada a Teoria da Pederastria (Miller 1-11). Esta teoria assume que Paulo estava apenas condenando a exploração sexual e emocional de garotos. O problema com esta hipótese é que não há qualquer menção de garotos no texto. Arrhen arhrane en arrhen arhrane significa “homens com homens”, arrhen arhrane en paidion significa “homens com garotos”, e o texto diz arrhen arhrane en arrhen arhrane. De qualquer foram, se o Apóstolo estava falando sobre sobre apropiação sexual de menores em Romanos 1.27, o problema de Levítico 18 não voltará e destruirá a exegese? Se pedofilia foi abolida com sodomia na vinda de Cristo, por que, então Paulo está condenando pederastria em Romanos 1?

Finalmente, Judas 7 interpreta a história de Sodoma para nós. Qual o melhor intérprete para a Escritura que a própria Escritura? Torna-se bem claro que Sodoma foi destruída por causa da imoralidade sexual. “Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno.” O que é esta outra carne? Jamison, Faussett e Brown afirmam que é “sair do curso do natural, e ir após o que não é natural” (651).


Conclusão

Nossa resposta àqueles que praticam o pecado da homossexualidade precisa ser bíblica, não simplesmente carregada de emoção. Muito freqüentemente o homossexual está perdido numa onda de retória expressiva que dificilmente parece como uma argumentação racional ou coerente. São muitas as chances de que os homossexuais não se importem com os argumentos colocados neste documento. Por outro lado, há um interesse crescente na comunidade gay de incorporar espiritualidade em seus estilos de vida historicamente pagãos. É por isso que no Canadá eles estão procurando o termo distintamente religioso “casamento” para cobrir seu pecado. É obrigação de todo crente defender a Bíblia da forma que puderem fazê-la. Quando a Bíblia é torcida para estabelecer um pecado, devemos nos levantar e lutar. Não com armas de violência e ódio, mas as armas do debate e respostas poderosas. E devemos todos lembrar que o pecado é a praga e pestilência da raça humana, e não simplesmente os gays. “Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.” (Efésios 2.13)


Trabalhos Citados

1. Miller, James E. (1995). "The Practices of Romans 1:26: Homosexual or Heterosexual?" Novum Testamentum.
2. Helminiak, Daniel A. (1994). What the Bible Really Says About Homosexuality. San Francisco: Alamo Square.
3. Murray, John. Principles of Conduct. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co, 1968.
4. Westminster Divines. Westminster Confession of Faith. Glasgow: Free Presbyterian Publications, 1995.
5. Westminster Divines. Westminster Larger Catechism. Glasgow: Free Presbyterian Publications, 1995.
6. Koop. C. Everett & Schaeffer, Francis. Whatever Happened to the Human Race?, revised edition. Wheaton: Crossway Books, 1983.
7. Jamison, Fausset, & Brown. A Commentary: Volume III. Grand Rapids: WM. B. Eerdmans Publishing Co, 1973.


Autor

Jerrold Lewis é um estudante do Presbitério APC em Vancouver, Canadá. Ele é casado com Catheryne e tem 6 filhos. É estudante do Whitefield College e do Seminário Teológico em Lakeland, Flórida, e também o Editor-Chefe de um novo jornal online chamado The Cred Quartely Theological Journal.


Tradução livre: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.
Brasília-DF, 23 de Outubro de 2004.


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