O Deus do Movimento de Crescimento de Igreja

por

Martin Murphy

“Às vezes me sinto tão violentamente acossado pelos pensamentos mundanos que chego a pensar que somente a morte me poderia aliviar, tantas as deprimentes circunstâncias que me envolvem”. A pressão do secularismo parecia premer a alma de Jonathan Edwards [1] muito antes que sociólogos e historiadores da igreja investigassem o assunto. Entretanto, o relacionamento entre o secular e o sagrado tem uma longa história de discussão. Durante o tempo em que vivia Jonathan Edwards o termo “mundano” era popular, mas tinha o mesmo significado de secularismo. “Muitos têm interpretado a Aliança de Meio-Termo (Half-way Covenant) como uma degeneração do Puritanismo estrito na medida em que os negócios na Nova Inglaterra começaram a gerar prosperidade, em decorrência do maior secularismo”.[2]

Muito pode ser dito acerca das causas responsáveis pelos problemas que assolam a igreja evangélica hoje em dia. No entanto, o acúmulo de problemas começou com o nascimento da igreja evangélica no Século XVI.

O termo “igreja evangélica” será utilizado neste trabalho para descrever o “evangelicalismo” ou “evangelismo” clássico. Os distintivos teológicos da Reforma Protestante, sola scriptura, sola fide e sola gratia, são as marcas da igreja evangélica. A igreja evangélica no Século XVI podia ser chamada de Igreja Protestante ou de Igreja Reformada. A igreja das boas novas do Século XVI interessava-se pela verdade do Evangelho. Por exemplo, a Igreja Católica Romana ensinava a “justificação pela fé” mas havia perdido a compreensão bíblica da justificação. Os reformadores corrigiram o problema ao aduzir a palavra “somente” à declaração. A igreja evangélica “tem-se chafurdado dentro de um impressionante analfabetismo teológico”, [3] deixando para trás o “somente” que a fazia distintivamente evangélica. De fato, a igreja evangélica tem uma definição tacanha do mundo eclesiástico de hoje. Isso no tocante aos distintivos da Reforma que na maioria das vezes têm sido abandonados pelos evangélicos.

O colapso da igreja evangélica pode ser atribuído a uma série de fatores. Não seria o propósito deste trabalho demarcar a decadência da igreja evangélica. Mas a igreja evangélica tem sido certamente afetada pelo seguinte tema: modernidade e movimento de crescimento da igreja. O argumento deste trabalho consiste em dizer que embora a modernidade tenha modelado o caráter da igreja evangélica, o movimento de crescimento da igreja é o catalisador da utilização das ferramentas da modernidade pela igreja evangélica.

A modernidade tem sido descrita como “o caráter e sistema do mundo produzido pelas forças de modernização e desenvolvimento”.[4] “A modernização é o processo que requer que nossa sociedade seja organizada em torno das cidades para atender ao propósito da industrialização e do comércio”.[5] A modernização e a modernidade estão relacionadas, mas são diferentes. David Wells explica que a modernização é “o processo direcionado ao capitalismo e alimentado pela inovação tecnológica. Essas forças têm reformulado nosso pano de fundo social e por conseqüência as nossas próprias vidas interiores, forçando o surgimento de um turbilhão dentro de nós. É a este turbilhão que chamo modernidade”.[6]

O círculo das ideologias define a modernidade, mas, além disso, estabelece uma progênie. A prole emerge das ideologias para produzir ainda mais descendentes. O projeto do Iluminismo deu à luz a modernidade e a modernidade tem servido de agente de expansão da influência do secularismo. O foco do secularismo como visão de mundo e de vida está no “tempo presente”. Então se a atenção está colocado no tempo presente, por que se interessar por algo além desta vida? O descuido em relação a esse “por que” é o assassino silencioso da cristandade evangélica. Infelizmente o foco no secular direciona os cristãos a tornarem-se parte dessa progênie da filosofia secular. O dilema nos conduz ao fato triste de que há “cristãos secularizados ao invés de humanistas seculares…o que representa a desintegração da vitalidade religiosa” [7] da igreja evangélica.

O relacionamento entre a modernidade e o projeto do Iluminismo tem mais a ver com a expressão de idéias do que com a filosofia dogmática. Nesse sentido, Alasdair MacIntyre, filósofo moral contemporâneo, entende que o “projeto do Iluminismo… falhou em seus próprios padrões”, [8] e segue descrevendo a massa de destruição que esse projeto deixou em seu rastro. O Iluminismo foi o cérebro do desenvolvimento pejado de modernidade. A progênie da modernidade que emerge do projeto do Iluminismo será a força poderosa, ainda que devastadora para a igreja evangélica.

No começo deste século, quando o liberalismo ameaçava a igreja, J. Gresham Machen respondeu por meio de um escrito apologético para defender o mandato cultural aos cristãos. Machen disse que “de todo ponto de vista, portanto, o problema em questão é a mais séria preocupação da igreja. Qual a relação entre a Cristandade e a cultura moderna que pode manter a cristandade em uma era científica?”.[9] Por todo o livro de Machen, faz-se referência, ao menos implicitamente, ao mandato cultural no período da modernidade. Os cristãos têm toda razão de se sentirem culpados de permitir que a cultura seja controlada pelos filhos da modernidade. Esses filhos da modernidade são essa progênie da modernidade a que se alude.

As guerras culturais, no contexto do pensamento teológico e filosófico, são também filhas da modernidade. James Davison Hunter ensina que “a presente guerra cultural tem sido desenvolvida, ... como a luta com vistas a estabelecer novos consensos acerca do caráter e do conteúdo da cultura pública da América”.[10] Essas guerras culturais refletem a falha dos cristãos em se empenharem no mandato cultural dado por Deus.

A tragédia dos efeitos do fundamentalismo aparece nas sub-culturas cristãs de evangelicalismo. A música cristã, a rádio e televisão cristãs, a literatura cristã e a estética cristã são somente uns poucos exemplos de como os cristãos, por causa do fundamentalismo, têm recusado a cultura. As guerras culturais estão sendo travadas nos campos da educação, da lei, da política e da ética. As guerras culturais não estão somente dividindo cristãos dos não-cristãos, estão criando barreiras entre os cristãos. Por exemplo, os cristãos não estão de acordo quanto à questão de aborto. Os cristãos estão divididos sobre educação. Guerras culturais nasceram na modernidade, adotadas pelo fundamentalismo na igreja, e tem se multiplicado, em detrimento mais do povo de Deus.

Outra filha da modernidade é a revolução terapêutica. O professor de psicologia da Universidade de Nova Iorque, Dr. Paul Vitz, descreve os EUA como uma “sociedade psicológica em que se verifica o triunfo da terapêutica”.[11] A terapia tem-se tornado palavra de ordem para os americanos que crêem que são vítimas do poder e da persuasão de outras pessoas. Essa filha da modernidade repercute e afeta a igreja. Por causa disso, alguns filhos de Deus ainda se sentem propensos para cometer algum tipo de pecado que inclusive chega a fazer parte da vida deles. As tentações e as experiências de vida orientam essas pessoas a esperar respostas assim que sentem ameaçados e vitimados. Então eles vão ao terapeuta para ajuda e o ciclo vicioso continua.

De todos os filhos (ou filhas) que a modernidade tem produzido o furor gerencial é uma das produções que certamente tende a modificar o formato da igreja. Na avaliação de Maclntyre, em se tratando de filosofia moral do mundo ocidental, “o administrador burocrático ... pode moldar, influenciar e controlar o ambiente social”.[12] Sua estimativa é exata “porque parece que a administração positiva é essencial para o sucesso de qualquer organização"[13] segundo a teoria gerencial. A administração ou gerência impacta o conceito bíblico de liderança. A Administração não é um conceito novo, mas a modernidade o tem explorado e fez dele uma ferramenta que vai de encontro ao conceito bíblico de liderança.

A progênie da modernidade continuará a influenciar a igreja evangélica, a menos que aprendamos a controlar os filhos da modernidade. Esses filhos da modernidade embora não intrinsecamente maus, podem se tornar instrumentos do inimigo para fazer mal. Os cristãos evangélicos deveriam compreender os perigos dessa descendência. Os Guinness cita Peter Berger para nos chamar atenção sobre o uso dos filhos da modernidade. “Ele adverte que quem quer jantar com o diabo da modernidade tem que ter talhares de cabos bem cumpridos”.[14] Algo poderia ser dito acerca desse sobreaviso. “O crente 'vai comendo e vai descobrindo que os seus talhares vão ficando mais e mais curtos – até que a última colherada vai encontra-lo sozinho à mesa, com nenhum talher e com os pratos vazios'. Nosso desafio, então, é participar do banquete da modernidade - mas com talhares bem compridos”.[15]

Com este bom aviso a igreja evangélica deveria ser informada dos perigos, mas usar os benefícios da modernidade. Ainda na qualidade de pagão sempre pensava que tinha mais autoridade que poder. Como cristão compreendo que tenho mais poder que autoridade. Tenho o poder de pecar, mas não a autoridade para tanto. Tenho o poder de ser teologicamente errado, mas não tenho autoridade para ser teologicamente errado. Há o senso de poder fluindo dos filhos da modernidade. David Wells argumenta que “o que molda o mundo moderno não são as mentes poderosas mas forças poderosas, não a filosofia mas a urbanização, o capitalismo e a tecnologia”.[16] A mente moderna não é necessariamente vazia, mas não é estimulada por uma agenda intelectual. Steven Conner escreveu um livro para introduzir as teorias do pensamento contemporâneo. Poderia ser considerada uma obra significativa do pensamento pós-moderno. Trata-se um trabalho erudito, mas é vago em termos de argúcia intelectual. Os tópicos que dominam o livro são hermenêutica, análise literária e estética. Conner diz que “o mundo reclama por textos literários que são fundamentados simplesmente em seus próprios recursos textuais”.[17]

O desconstrucionismo pode ser no futuro a tônica da análise literária, mas isso não faz necessariamente dele uma escolha correta. Outra voz ilustrativa do pensamento pós-moderno diz “Uma coisa tenho aprendido em hermenêutica que tem efetuado mudança em todos os aspectos e é o que devo chamar apenas de ‘obediência aos textos’ – escutar o texto em si mesmo ao invés dos intérpretes modernos dele”.[18] Conner, um liberal deconstrucionista, não pode fazer qualquer declaração de verdade por que a verdade não pode ser definida exceto pela desconstrução do texto. Thomas Oden corrige este erro usando as forças intelectuais para definir os absolutos. O poder da modernidade está arraigado pelo relativismo que dele decorre. “Este é um tempo em que as características principais [da modernidade] (o relativismo moral, narcisista, hedonista, naturalista e reducionista e o individualismo autônomo) têm sido bem descritas pelos historiadores intelectuais modernos...”.[19]

O relativismo como filosofia tem se mantido na dianteira em toda parte na nossa sociedade incluindo na religião e filosofia. O relativismo é poderoso, porque não pode ser confinado em qualquer corpo de pensamento. Os filhos e filhas da modernidade estão combinados para usar a relativização para avançar com sua causa e isso é uma ferramenta poderosa. O relativismo é inerentemente perigoso no pensamento moderno.

A relativização tem seus próprios perigos especiais, e distinções importantes devem ser preservadas. A rejeição dos assuntos transcendentais do historicismo e dos seus seguidores e mesmo a estonteante perda da estabilidade que a física einsteiniana criou para as categorias de tempo e espaço...Tudo é relativo por que não há nada transcendente ao fluxo que pode prover a estabilidade necessária para posicionar tudo o mais ... A espécie de relativização que poderia ser afirmada, em contraste seria a que colocasse os valores humanos sob o julgamento do Deus transcendente. ...Uma sociedade que não pode tolerar um juiz além da história achará que pode aprender a tolerar tudo o mais [20].

Eu faço distinção entre eruditos e intelectuais. Um erudito é aquele que é capaz e pratica determinada escola de pensamento. Por exemplo, há muitos eruditos carregados com volumes de propaganda e que são bem equipados para a defesa de uma causa. Somente tem olhos para o que pode ser considerado politicamente correto. Eles tem sido muito bem especializados, mas os seus argumentos morrem na mesa de debate. Intelectuais, por outro lado, lida com o mundo de idéias. Eles perseguem linhas de pensamento usando processos lógicos que levam a determinadas conclusões.

Portanto, os eruditos são propensos à relativização, mas os intelectuais são ligados aos processos analíticos e lógicos que os conduzem a alguns absolutos. O impacto da relativização da igreja evangélica reflete a força da modernidade. É certo que “muitos tem em mente que [a] fé Cristã é a única relativamente verdadeira. ...” [21] O desaparecimento da verdade absoluta no circulo cristão foi um golpe devastador à missão da igreja. A visão correta da missão da igreja será evidente quando a igreja resgatar a verdade absoluta. A modernidade oferece variedade e mudança para quem que devote a isso. O segredo do sucesso da expansão da modernidade é o racionalismo. Refere-se ao racionalismo aqui no sentido de que o apelo à razão, à parte da experiência, é o único caminho para resolver os problemas. Há distinção entre o racionalidade daquele que usa a razão numa tentativa de interpretar a realidade e o racionalismo como ora se tem descrito. O racionalismo não responde a todas as perguntas da vida. Jacques Barzun tem pontuado que o Liberalismo do Século XVIII (o culto ao eu) e o Racionalismo do Século XVIII (o culto à razão) exerceram impacto no sentido de tornar a religião supérflua. Se homem é o seu próprio senhor, e a razão seu único juiz, o que é o homem faz com o persistente senso de que na vida há mais o que a razão e o mundo material pode conter? [22] O racionalismo termina por conduzir ao mundo da subjetividade. A busca para compreender a realidade nunca completa o ciclo, assim o próximo passo sempre é tentar o novo ou o diferente. Os estudiosos da modernidade têm dominado este conceito. É triste mas verdadeiro que a igreja evangélica tem sido persuadida por esses discípulos a se torna veículo para espalhar a mensagem de modernidade.

A modernidade tem elementos persuasivos poderosos que indicam que "a modernidade não é exatamente uma série de paixões, esperanças e idéias, trata-se de uma mentalidade que prevalece em alguns círculos mais do que em outros, e em nenhum lugar mais do que na universidade, o agente primário da ideologia de modernidade".[23] A universidade é o lugar em que nossos teólogos vão para se educar. Muitos seminários têm professores formados na universidade. A questão é: até que ponto eles têm sido persuadidos pela modernidade e o quanto essa persuasão será transferida para as próximas gerações? A igreja evangélica está diante de um precipício que poderá mergulhá-la numa nova idade média. Deveríamos ficar atemorizados diante da possibilidade de que a modernidade possa nos empurrar para além do limite determinado?

A ameaça potencial da modernidade à igreja evangélica é provavelmente maior do sempre foi, mas a oportunidade para a reforma é também maior do que a de qualquer tempo da história recente. Os filhos e filhas da modernidade têm tentado secularizar o cristianismo. Por diferentes modos podemos vê-lo variado, mas primeiramente como “o pastor procura incorporar o que modernidade estima e ao redefini-lo, o ministério do pastoral aparece como os dois mais admirados tipos culturais vigentes, o administrador e o psicólogo”. [24] David Wells atribui o problema ao desaparecimento da teologia. Algo precisa substituir a teologia. Note bem, “o abismo entre o evangelismo centrado na verdade de Edwards e Whitefield e a variedade da religião industrializada centrada na técnica ... ilustrada por Charles Finney [25] ... é um dos muitos exemplos de como modernidade ameaça a boa saúde da igreja evangélica”. A modernidade tem produzido uma progênie por seu poder e persuasão e agora se posta como uma ameaça à igreja. O que podemos fazer? Podemos rejeitar os “mitos de poder [e] popularidade, [que] tem nos conduzido à uma preocupação doentia com o sucesso superficial, métodos acima da mensagem, técnica acima da verdade, quantidade acima da qualidade?”.[26] A maior questão é como podemos fazer isso? Michael Horton responde à pergunta nos lembrando o nossa visão de mundo e de vida.

“A Bíblia ordena, ' não vos conformeis nem um pouquinho com o padrão deste mundo mas transformai-vos pela renovação de vossa mente' (Rom. 12:2). Enquanto muito combustível tem sido gasto para conseguir que as pessoas ajam como cristãos, a Bíblia insiste que devemos primeiro pensar como cristãos. A transformação de nossas mentes se dá não por intermédio de mágica, técnicas supersticiosas ou devoções superficiais, mas através de sério e às vezes difícil estudo. Isso requer que saibamos alguma coisa sobre a Bíblia e sobre as pessoas para quem é endereçada, e que saibamos alguma coisa sobre nós mesmos e a cultura em que vivemos. É perigoso fingir que não é mundano quando há a recusa do exame critico dos caminhos em que se têm sido influenciados mais pelo espírito deste século mais do que pelo Espírito de Cristo”.[27]
Assim como jorro de água de um poço artesiano, a visão cristã de mundo e de vida não jorra afastado da base. Ela decorre do esforço laborioso de quem age pelo poder do Espírito Santo. Os cristãos não dedicam tempo e esforços suficientes perguntando o “por que” da fé Cristã. A pergunta que devemos fazer é por que devemos usar as ferramentas da modernidade. Mas muito freqüentemente os cristãos perguntam como posso utilizar as ferramentas de modernidade. A questão do “como” tem levado o cristão a ponto de desespero. O cristão começa a usar as ferramentas da modernidade, o relativismo o arrasta sorrateiramente para que logo a metodologia se torne o seu deus. Em 1926, os Cruzados Bíblicos da América formaram uma missão especial para “dar combate ao Modernismo, Evolução, Agnosticismo e o Ateísmo”.[28] Hoje, os evangélicos nem de longe estão lutando contra o Modernismo, eles estão o abraçando. O mais notável exemplo disso pode ser encontrado no movimento de crescimento da igreja.

O movimento de crescimento da igreja é uma livre confederação de ministros e leigos cujo inicio pode ser traçado com Donald McGavran. Ele foi missionário na Índia, professor no Seminário Fuller e fundador do Instituto de Crescimento da Igreja.

O movimento de crescimento da igreja não pode ter o privilégio de contar em suas fileiras qualquer importante teólogo. Quando Martinho Lutero e João Calvino sucederam-se nos primeiros movimentos da Reforma, não poderia ser impróprio referir-se a pontos em que ambos se distanciavam. Embora alguns homens-chave da Reforma tivessem esses pontos de discordância, eles eram unidos uns aos outros por teologia e filosofia comuns. O movimento de crescimento da igreja é desprovido de qualquer centro teológico, podendo ser encontrado indiferentemente em igreja liberal, conservadora, fundamentalista ou evangélica. Qual a liga que as mantém juntas?

Os líderes do movimento de crescimento da igreja se cercam de discípulos comprometidos de forma que beira ao culto da personalidade. Win Am, um famoso discípulo de Donald McGavran, disse “treinandos que saem de igrejas vitoriosas e têm sido treinados por homens que são eles próprios multiplicadores de igrejas, são geralmente eficazes”.[29] A idéia é que o sucesso gera sucesso.

Tem-se sugerido que o conceito de que uma “igreja líder” deve tomada como modelo. Deve ser enfatizado que o termo 'Igreja Líder' se refere a uma definição funcional. Da mesma forma que conforme a mais simples definição líder é 'uma pessoa que o povo segue,' igreja líder é a designação funcional de uma igreja que tem o ministério considerado frutífero dentro de uma determinada área metropolitana..[30]

Esses não são casos isolados dentro desse conceito de liderança Alguns dos defensores do movimento de crescimento da igreja entendem que a Escritura defendem o conceito deles de liderança Num caso, Neemias e Paulo foram citados como exemplos utilizados pelos aderentes do movimento de crescimento da igreja. Este livro continuou descrevendo João Calvino como “um homem de grande capacidade organizacional e de liderança”. [31]

Sim, esses homens são exemplos de grandes líderes, mas eles não tentaram juntar outros líderes da igreja dentro de um plano “seguemista” [de “seguem me” ou “follow me”]. Esses homens tentaram e tiveram algum sucesso em reformar a igreja. O conceito popular entre os líderes do movimento de crescimento da igreja é o plano do "siga o líder bem sucedido”. Um líder do movimento de crescimento da igreja “patrocina uma conferência [três vezes por ano] em que 500 líderes da igreja se juntam para ver como as coisas devem ser feitas”.[32]

O melhor guia para se saber como Deus deseja crescer Sua igreja é a Bíblia. O conceito bíblico de expansão do Reino de Deus é: um planta, outro rega, e outro colhe, mas somente Deus é quem opera na igreja para que esta cresça. O erro fundamental do movimento de crescimento da igreja é quando aos pastores é dito que podem esperar que suas igrejas cresçam, desde que “necessariamente desejem seguir os passos de um líder de crescimento”.[33]

Do pastor se espera que assuma a posição de diretor geral de uma empresa. George Barna, especialista em metodologia de crescimento da igreja, de forma ousada, critica a igreja ao dizer, “muitas pessoas julgam o pastor não pela sua capacidade de pregar, ensinar ou aconselhar, mas pela sua capacidade de fazer a igreja funcionar tranqüila e eficientemente. Na essência ele é julgado como um homem de negócios...”[34]. A evidência é irrefutável. O movimento de crescimento da igreja é uma aliança de líderes cristãos declaradamente comprometidos com um mesmo objetivo. E qual é esse objetivo?

Crescimento da Igreja é a meta! Defensores do movimento de crescimento da Igreja definem crescimento da igreja como “a ciência que investiga a plantação, multiplicação, funcionamento e saúde das igrejas cristãs como elas se relacionam especificamente com a implementação efetiva de comissão de Deus...”. [35] Outro guru do movimento de crescimento da igreja declarou sua filosofia de forma diferente.

Uma das premissas básicas do movimento de crescimento da igreja é que os esforços em evangelismo podem ser medidos e que a eficácia dos métodos podem ser avaliados e as respostas das pessoas e dos campos podem também ser medidos. Talvez a premissa mais básica é que Deus pretende para a Sua igreja o crescimento e esse crescimento da igreja deve ser perseguido em obediência a Jesus Cristo.[36]
O método científico é útil para medir, avaliar, e induzir a elaboração de teorias com vistas a chegada a alguma conclusão. Não serve para ser utilizado como indutor de cumprimento de mandamentos contidos na Escritura. Não consigo encontrar uma alusão na Escritura de que deveríamos medir a eficácia de método evangelístico de Deus. O que está claro é o mandamento para que todos os cristãos estejam envolvidos na Grande Comissão. O problema do movimento de crescimento da igreja não reside no desejo deles de se envolverem com o evangelismo, mas de encontrarem o melhor método para ser utilizado no evangelismo. A metodologia é a responsável por tudo. O método utilizado pelo movimento de crescimento da igreja lembra o esquema de marketing multi-nível. Um líder dinâmico, carismático e convincente busca outras pessoas que sejam dinâmicas, carismáticas e convincentes. A essas personalidades, somam-se conceitos transferíveis e então o crescimento da igreja seguirá. Donald McGavran usa palavras diferentes para dizer a mesma coisa: “Que tipo de treinamento de líderes marca o trabalho do Pastor Kennedy em Coral Ridge. Ele pegou pessoas uma por uma e as treinou para apresentar o evangelho efetivamente. Os resultados em sua igreja têm-se destacado”.[37] Isso soa bem, mas é o método bíblico? Essa metodologia é bíblica?

Eles podem argumentar que o crescimento da igreja é bíblico. Uma vez que o crescimento da igreja é de fato bíblico, declaram oferecer provas da Sagrada Escritura para a sustentação de sua posição. A falácia é que não há crente que possa negar que o crescimento da igreja não seja bíblico. Robertson McQuilkin, ex-presidente da Columbia Bible College and Seminary, escreveu um artigo, “De que Modo é Bíblico o Movimento de Crescimento da Igreja” (“How Biblical Is The Church Growth Movement”) que mais tarde foi publicado em forma de livro. O livro, Mensurando o Movimento de Crescimento da Igreja, (Measuring the Church Growth Movement) foi publicado primeira vez em 1973. Ele argumentava fortemente que o movimento de crescimento da igreja seguia princípios bíblicos. McQuilkin disse “os pressupostos subjacentes do movimento de crescimento da igreja descansam nos sólidos fundamentos teológicos contidos na Palavra de Deus”.[38] Ele segue dizendo “o princípio de que a igreja é a forma que Deus utiliza para cumprir seus propósitos de evangelização do mundo é por demais óbvio”.[39] O problema dessa declaração está na interpretação das palavras. O que para McQuilkin significa a palavra igreja? Enquanto foi Presidente do Columbia Bible College and Seminary ele promoveu ativamente os ministérios para-eclesiásticos com apaixonada devoção. Sua paixão por ministérios para-eclesiásticos diluía o seu trabalho na igreja local. Ele era simpático ao movimento carismático, além de ser dispensacionalista e arminiano. É bastante arrojada a sua visão de igreja. Ele disse “em termos de responsabilidade evangelística, em relação à Igreja, a Pacific Broadcasting Association, [isto é, a Associação de Radiodifusão do Pacifico] deve ter essa responsabilidade, enquanto a responsabilidade especial para proclamação pode tê-la Billy Graham, em termos de persuasão...”.[40] Ora, a Associação de Radiodifusão do Pacifico não é uma igreja. Além disso, Billy Graham, em muitos aspectos um bom homem, que têm assumido uma posição de liderança, não está numa igreja. A Associação Evangelística Billy Graham é um ministério para-eclesiástico. Como não poderia ser diferente a um arminiano declarado, a estratégia de crescimento de igreja de McQuilkin é também arminiana. No seu livro ele faz uma declaração explícita com respeito a isso. “Pretendo proclamar o caminho para a vida em Cristo de tal forma a propiciar que aos homens a clara compreensão das boas novas de modo a fim de que possam escolhe a se tornarem (ênfase do autor) Seus discípulos e fazerem parte de Sua igreja. ... Pretendo persuadir os homens, reconciliando com Deus aqueles que foram alienados d’Ele... .”.[41] C. Peter Wagner concorda com McQuilkin. Wagner crê que “o objetivo do evangelismo é persuadir homens e mulheres para se tornarem discípulos de Jesus Cristo e para servir-Lo em comunhão com a sua igreja”.[42] A vontade do homem é a ênfase e esses não são exemplos isolados. Há muitos que no contexto do movimento de crescimento da igreja usam "As Quatro Leis Espirituais"[43] como método de evangelização. Sabe-se de pessoas que não gostariam que fossem reconhecidas como arminianas e podem até não ser arminianas, mas seus métodos de evangelização são arminianos. A meta do movimento de crescimento da igreja é o crescimento da igreja que é realizado por métodos de evangelismo. Parecem se esquecer que o evangelismo é unicamente um dos vários deveres que Deus requer dos cristãos. Evangelismo é a prioridade principal em sua agenda e eles esquecem da necessidade de uma confissão comum. “Como os deístas, em 1776, os evangélicos hoje são suspeitosos quanto aos credos, confissões e sistemas doutrinais”.[44] Esta afirmação de Horton parece encaixar-se como luva ao movimento de crescimento da igreja. Eles não têm nenhum sistema teológico comum e nenhuma declaração doutrinal comum, somente uma filosofia comum básica baseada na meta comum de crescimento da igreja. As filosofias básicas são filhos da modernidade e até mesmo essas perfilam com a filosofia do movimento de crescimento da igreja.

J. Randall Petersen... está envolvido na plantação da Hope United Methodist Church...Para formar sua congregação, Hope Church, utiliza uma campanha de telemarketing para convidar os membros da comunidade para seus cultos. ...Ele se sente ainda desconfortável com algumas idéias de crescimento da igreja...Mas nesse trabalho, admite-se...Petersen não está sozinho no abraço ao pensamento pragmático de crescimento da igreja.”[45]

O pragmatismo é uma das filosofias básicas do movimento de crescimento da igreja. "'Se isso funciona, usa-o para se capturar o espírito do pragmatismo”. [46] O pragmatismo é demonstrado pelo intenso esforço em encontrar as “necessidades pungentes" pelos cristãos professos. Uma necessidade pungente é descrita como “a consciência dos anseios e desejos da pessoa”.[47] A visão pragmática entende que os "sermões são simples, curtos, edificantes e pessoalmente inspirados, Tópicos são cuidadosamente selecionados para acentuar os assuntos pessoais acima dos doutrinais e o relacional acima do abstrato”.[48] A revista americana Christianity Today relata que durante o período de desenvolvimento do movimento “o crescimento da igreja foi logo marcado por forte pragmatismo” [49]. Em se tratando de evangelismo bíblico com os cristãos que usam métodos arminianos, na maioria do tempo eles defenderão seu método dizendo “mas isso funciona”. O pragmatismo não é o critério pelo qual nos empenhamos no trabalho do Reino do Deus. O pragmatismo tem sido colocado no lugar das Escrituras como autoridade final para dirigir acerca de como podemos servir a Deus. O pragmatismo toma muitas formas dentro do movimento de crescimento da igreja. Uma idéia é a que tem por alvo formar grupos que executarão o crescimento da igreja. O que se tem dito: “a PCA [Presbyterian Church in America] como igreja tem-se esforçado para plantar igrejas não somente entre os brancos americanos mas também tem tentado formar, nos Estados Unidos, igrejas étnicas entre os coreanos, japoneses, hispânicos e negros”.[50] Mas, ai se pergunta quantas igrejas negras têm sido iniciadas, ou mesmo tentado iniciar-se em Jackson, Mississipi ou Montgomery, Alabama? A filosofia multi-étnica soa boa, mas não seria pragmático tentar isso em cidades como as que justamente tenho mencionado. É plausível esse princípio da unidade-homogênea, “mas praticamente, os marqueteiros da igreja visam exclusivamente à classe média, branca, educada em universidade e fruto da geração dos “baby boomers”, nascidos entre 1946 e 1964. Outros grupos são raramente mencionados”.[51]

A estratégia pragmática do movimento de crescimento da igreja é adotar o sistema gerencial da modernidade. Uma citação mais longa é necessária para explicar como isso é feito.

“Definição de metas e objetivos, fazendo-os compreensíveis para cada membro da igreja é a tarefa mais importante da liderança que temos diante de nós. Isso é difícil e exige disciplina. Robert Townsend em A Organização Para Cima (Up The Organization) descreve o longo e difícil processo de ajustamento da Avis aos seus objetivos. 'Um das funções importantes de um líder é fazer a organização se concentrar em seus objetivos. No caso da Avis, foram tomados de nós seis meses para definir um objetivo – para depois ser lançado: Desejamos nos tornar a mais lucrativa das empresas de locação e aluguel de veículos sem condutores”..[52]

O objetivo da Avis Rent a Car e o da igreja são inteiramente diferentes. A Avis tem um propósito que é fazer dinheiro correspondente ao investido pelos seus acionistas e permanecer no negócio. O propósito da igreja é glorificar ao Senhor Deus Onipotente, não acumular o todo-poderoso dinheiro. Então por que esses líderes de igreja tentam construir analogia entre a Avis e a igreja? A Bíblia nos ensina a ser bons mordomos de tudo o que Deus nos tem dado, mas a nossa teologia deve ditar os métodos de mordomia. É indevido o uso de anúncios ou de telemarketing? Não há nada de errado com essas ferramentas, a menos que elas se tornam deuses. Convidar pessoas à igreja é correto, mas quando eles vêem, devem escutar a lei e o evangelho.

O pragmatismo não compreende a lei de Deus, nem a graça de Deus. A lei e o evangelho estão na lista de espécimes em perigo de extinção, por causa do terrível abuso nos anos recentes. Os teonomistas deturpam a lei de um lado e os neo-evangélicos têm deturpado o evangelho de outro. Martinho Lutero disse, “a diferença entre a Lei e o Evangelho é a altura de conhecimento da Cristandade”.[53] Os reformadores não tentaram substituir a lei e o evangelho por outra coisa, porque tudo na Bíblia estão ou sob a lei ou sob o evangelho. “Dividimos esta Palavra em duas partes ou categorias principais: uma é chamada de 'Lei,' a outra de 'Evangelho.' Tudo o resto pode ser juntado sob um ou outro destes dois títulos”.[54] O pragmatismo pode realizar o que se percebe como crescimento da igreja, mas as pessoas podem ser enganadas quando alguma coisa é colocada no lugar da pregação da lei de Deus. Sem a lei de Deus como pode alguém compreender o amor do Deus? A lei do Deus não pode ser ignorada. Somente porque o pragmatismo dá causa ao crescimento de uma igreja não se lhe confere a aprovação à vista de Deus.

Segundo a interpretação pragmática da fé evangélica, o cristianismo deve competir com outros programas de auto-ajuda. Deve prometer saúde, riqueza e felicidade. Mas o que acontece quando alguma coisa funciona melhor?[55] A agenda pragmática funciona tão bem para as testemunhas de Jeová e mórmons como para a igreja evangélica.

A história do homem de Deus de Judá em I Reis 13 é um bom exemplo de como Deus lida com o deus de pragmatismo. O homem de Deus foi instruído por Deus para ir para determinado lugar, executar uma certa tarefa, e voltar para casa sem comer pão ou beber água. Um profeta seduziu o homem de Deus para comer e beber, o que ele fez, mas Deus o puniu por sua desobediência. Sem dúvida, era questão de prudência e pragmatismo ser restabelecido antes completar a viagem. A estrutura da aliança de Deus não é feita de comprometimento ou pragmatismo. Há bênçãos para quem guarda a aliança, e maldito é o homem que quebra a aliança.

Caso devêssemos tomar refeição com o deus de pragmatismo, devemos “ter talheres bem compridos”. As tentações da modernidade são tremendas. A utilidade pragmática não é necessariamente pecaminosa, mas o pragmatismo pode tornar-se pecaminoso se aceito sem senso crítico. O movimento de crescimento da igreja tem adotado o deus do pragmatismo pelo “uso não crítico das visões e ferramentas da modernidade assim como o faz a gerência e o markentig”.[56] A igreja estará sob o juízo de Deus se utilizar uma pesquisa para determinar a verdade. “Por causa dos 'caçadores de sensitividade', a pregação permanece superficial, com milhares crentes professos tendo que se contentar com a dieta semanal de evangelismo de nível primário”.[57]

Outra filosofia básica do movimento de crescimento da igreja é o consumismo. Essa visão de mundo e de vida não é uma ilusão, embora esteja conectado com o uso do imaginário moderno. O consumismo tem sido moldado pelo aparato da modernidade. O movimento de crescimento da igreja tem endeusado o consumismo em vez de tratá-lo como presságio da modernidade. Um consumidor é alguém que usa uma comodidade ou um serviço. O consumidor integra pragmatismo e o utilitarismo para produzir o consumismo. Os cristãos, especialmente nesta época presente, são consumidores, mas Deus não é um produto. Para colocar em termos evangélicos: “Não estamos vendendo um produto para um consumidor, mas proclamando um Salvador para o pecador”.[58]

O movimento de crescimento da igreja ensina que o marketing é necessário para o crescimento de igreja. “Considere essas colocações e repare na progressão das seguintes sentenças da perspectiva de crescimento da igreja: ‘Igreja é um negócio.'/'O marketing é essencial para um negócio bem sucedido em seu funcionamento.'/'A Bíblia é um livro que contém os melhores textos de marketing do mundo.'/'Entretanto, o ponto é indisputável: a Bíblia não avisa contra os males dos negócios.'/'Assim não é necessário gastar nosso tempo e outra coisa senão em discussão de técnicas e processos.'/'Pense de sua igreja não como um lugar de encontro religioso, mas como uma agência de serviço – uma entidade que existe para satisfazer as necessidades das pessoas...”.[59]

O silogismo soa razoável, exceto no fato de que “ir de encontro às necessidades nem sempre satisfeitas freqüentemente aguça mais essas necessidades e tende a trazer desilusão futura. Como Immanuel Kant disse ao historiador russo, Karamzin, 'Dê a um homem tudo o que ele deseja e ainda neste exato momento ele sentirá que tudo não é mais tudo'. O resultado é um intenso movimento na direção duma patológica era consumista”. [60] “Coisas” nunca satisfarão os anseios mais profundos da alma. Através das páginas da história o hedonismo e narcisismo eram mais do que visões de mundo e de vida, se tornaram deuses aos olhos de pagãos e cristãos. Até mesmo na igreja, Tetzel vendia indulgências e muitos pregadores televisivos são como ele nos dias de hoje. Igualmente, o movimento de crescimento da igreja tem se curvado ante a pressão da modernidade.

O objetivo fundamental da maioria dos crentes é ser “feliz”. Tudo na vida é formado pelo desejo de ser uma pessoa plena e feliz. A Revolução Francesa certamente teve uma profunda influencia no conceito de “felicidade”. Liberdade, igualdade e fraternidade foram palavras de ordem que poderiam trazer a felicidade desejada para todas as gerações vindouras. O mundo vê o que chamamos de consumismo como “a felicidade que vem da gratificação instantânea”.

Vender Jesus é uma arte dos especialistas em crescimento da igreja. O evangelismo nem de longe é centrado em Deus, mas antes, no consumidor. Cantores tentam entreter a platéia com música que toca o sentimento. Pregadores pregam para “ir de encontro às necessidades” usam aforismos populares, raramente expõe a Palavra de Deus inerrante ou usa de maneira correta as ferramentas da exegese e da hermenêutica.

A estratégia de marketing aplicável à igreja pode até ser um anjo de morte disfarçado. Um pastor respondeu a um artigo escrito em Christianity Today, edição de 24 de junho de 1991 sobre o movimento de crescimento da igreja. “Minha preocupação com o movimento é que suscita a pergunta, 'Qual é a diferença entre a igreja cristã e qualquer outro negócio em que se usa telemarketing, demografia e outros semelhantes recursos?' É tudo isso mesmo para dizer que a igreja é um negócio como outro qualquer – e somente a nossa mensagem é diferente? Se for assim, é possível que o treinamento pastoral deve ser mais dirigido ao marketing, negócios e habilidades publicitárias e menos à teologia, estudos bíblicos e aulas de aconselhamento pastoral”.[61]

David Coffin não é defensor do movimento de crescimento da igreja e está atento ao fato de que muitos seminários já terem tomado essa direção. Seminários há que estão preparando os seus estudantes de teologia a responderem às “necessidades pungentes”, aos anseios da comunidade. Mas, o que é que se deseja? “Ontem o McDonalds estava vendendo somente hambúrgueres e peixe; hoje você pode comer seu café da manhã lá! Em suas ocupações, nosso pessoal [líderes da Igreja Batista de Bear Valley, Denver, Colo.] tem sido instado a pensar, Como podemos nos incrementar, expandir nossos mercados, fazer melhor nosso trabalho?”.[62] A implicação disso consiste na idéia de que, a exemplo do McDonalds, a igreja deve descobrir o que as pessoas querem, o que as fazem felizes, e oferecer-lhes isso sem considerar quaisquer conseqüências teológicas. O movimento de crescimento da igreja tem-se comprometido e se rendido a isso em detrimento de padrões teológicos essenciais, a ponto de seus discípulos terem virado as contas para as marcas da igreja.

Os reformadores identificaram a “pregação da Palavra de Deus” [63] como uma das marcas da igreja verdadeira. Os aderentes do movimento de crescimento da igreja podem reconhecer essas marcas da igreja durante a licenciatura e exames de ordenação, mas falham na prática deles com qualquer consistência.

Dos ministros do movimento de crescimento da igreja podem-se dizer que pregam sermão, mas não no estilo tradicional. Então vem a dificuldade de se determinar o que constitui a “pregação de um sermão”. Em primeiro lugar, devemos olhar para os exemplos bíblicos. Há alguns excelentes sermões em muitos livros de Antigo Testamento. Depois, Jesus e os Apóstolos têm um número de sermões que também podem ser analisados. Por toda a história da igreja, há volumosos sermões registrados para assim podermos determinar a natureza e o caráter da “pregação de sermão”.

A pregação de um sermão deve compreender todo o conselho de Deus. Inclui pecado, inferno, julgamento e santidade de um lado; graça, perdão e paraíso do outro. Este projeto de pesquisa incluiu o exame de livros relacionados diretamente ao movimento de crescimento da igreja e muitos outros campos do pensamento filosófico contemporâneo. Entretanto, pouco foi dito sobre a pregação. Isso serve para notar que através dos tempos a pregação tem sido matéria desprezada pelos que freqüentam a igreja. Já no inicio deste século nos lembramos que havia “a ausência ensino e pregação doutrinária… na igreja”.[64] A pregação tem sido descrita como a “exposição cuidadosa das Sagrada Escritura com aplicação íntima e relevante, temperada com arrojo e humildade...”.[65] A tarefa do pregador pode ser corretamente descrita como (instrumentalmente) formar a imagem de Cristo nas almas dos homens”.[66] Os sermões de Lutero, Calvino, Edwards e Whitefield são todos exemplos pregação teocêntrica comparada às animadas conversas vindo dos púlpitos do movimento de crescimento de igreja.

Mensagens são propositalmente feitas para serem lights, simples, humorísticas e de estilo de depoimento pessoal, para que prenda a platéia. A platéia nunca se torna uma congregação. O sermão semanal é elaborado para ser “não igrejístico”. Nunca se faz a transição da performance para a proclamação. Pode-se sentir melhor, mas se permanece espiritualmente inalterado.[67]

O movimento de crescimento da igreja é exatamente que é – um movimento. O militante da igreja tem-se confrontado com movimentos por toda a sua história. Esse movimento não é muito diferente dos outros. Seu fundador, Donald McGavran, trabalhou num seminário liberal, pertencia a uma denominação liberal (Discípulos de Cristo) e por isso não será possível pensar que a sua epistemologia não tivesse sido afetada pelas pessoas que o cercava. McGavran e o seu movimento são produto da modernidade. Seus discípulos têm seguido os seus passos e bebem profundamente das correntes de modernidade. Eles não estão comprometidos com a cristandade clássica mas antes “a liderança religiosa retém sua herança e a corrompe em cada estágio sucessivo da prodigalidade da modernidade”.[68] O perigo do movimento de crescimento da igreja é encontrado em seu deus – a modernidade. Não se tem feito sequer alguma nenhuma tentativa no sentido de identificar sua teologia ou doutrina esposada. De fato, os aderentes desse movimento têm “tentado impedir o crescimento na igreja do ensino com vistas a identificar por si próprio qualquer paradigma particular de teologia sistemática. Os princípios de crescimento da Igreja têm se mantido intencionalmente, tanto quanto possível, não-teológicos...”.[69] Michael Horton apontou o perigo por lembrar que para a igreja uma rejeição de teologia é uma rejeição da Sagrada Escritura, uma vez que a Bíblia esta cheia de declarações preposicionais sobre o caráter de Deus”.[70]

Os defensores do movimento de crescimento da igreja não parecem compreender o conceito de crescimento de igreja. Se a metodologia do movimento não for trazida sob revisão crítica dos padrões bíblicos, a resposta vai ser algo semelhante a isso: “Quando o crescimento da igreja é atacado hoje, isso é feito comumente por aquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de ver o seu método como o charco que é, estão se autoconfortando com as velhas racionalizações da derrota”.[71] Reitero, não é o crescimento de igreja que está sob ataque, é a afinidade do movimento de crescimento da igreja com o “deus da modernidade” ao invés do Deus da Bíblia.

Uma avaliação do movimento de crescimento da igreja revelará a preponderância da modernidade em seu esquema. “A questão colocada no movimento de crescimento da igreja é que as idéias servem tanto a ideais como a interesses”.[72] Caso os ideais e interesses estivessem dentro da direção do Deus vivo e verdadeiro, então o movimento de crescimento da igreja poderia ser uma benção. Entretanto, o peso da evidência indica que o movimento de crescimento da igreja tem-se feito a sua própria orientação dos ideais e interesses adotados.

O movimento de crescimento da igreja tem empunhado a bandeira de modernidade e não há indicação de que o movimento de crescimento da igreja questionará os perigos da modernidade e os contornará. Há uma antítese a ser considerada: A mente cristã tem procurado e encontrado um meio de compreender os dogmas à luz da revelação; a mente moderna rejeita a luz e, ao invés disso, volta-se para a experiência particular de iluminação. A mente cristã aceita as declarações oficiais de Deus contidas nos dogmas como a única medida verdadeira; a mente moderna rejeita tal revelação como ficção da imaginação religiosa.[73]

Quanto mais damos espaço à modernidade, damos menos espaço ao Deus vivo e verdadeiro. O movimento de crescimento da igreja abertamente adota os filhos e as filhas da modernidade, e se afastam da doutrina e da teologia. Nosso Senhor ensina que “ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.[74]

O movimento de crescimento da igreja poderia contribuir à saúde da igreja se os seus aderentes assumissem o controle da modernidade e definisse bíblica e teologicamente a natureza e o propósito do movimento. “Sem qualquer definição autorizada dos ensinos do movimento, não se justifica a sua transposição às gerações vindouras ou até mesmo avaliar o potencial de suas más-interpretações”.[75] “Faremos bem em recordar as tensões com as quais nos confrontaremos em relação ao conceito de crescimento de igreja. O senso de abandono que prevalece entre nosso povo … é uma indicação séria da crise em que nos encontramos. Portanto, quando falamos da necessidade de crescimento reflexivo da igreja, estamos falando de algo de suma importância, que afeta o futuro do cosmo”.[76]

Uma das maiores mentes do mundo ocidental dos tempos modernos foi Jonathan Edwards e até ele lutou com as prementes forças da modernidade. Desejo que Deus do movimento de crescimento da igreja possa dirigir o movimento de modo a que os seus aderentes possam agradá-Lo.



NOTAS:

[1] Jonathan Edwards. The Works of Jonathan Edwards. V 01. 1: Memoirs of Jonathan Edwards. Carlisle. Penn.: The Banner of Truth Trust. 1974. p. xxxi.

[2] John G. Gerstner, The Rational Biblical Theology of Jonathan Edwards, vol. 2, (Berea Publications: Powhatan, Virginia and Ligonier Ministries: Orlando, FIa, 1992), p. 125.

[3] David Wells, No Place for Truth, (William B. Eerdmans Publishing Co., 1993), p. 4.

[4] Os Guinness, The American Hour, (New York: The Free Press, 1993) p. 26.

[5] David Wells, No Place For Truth, p. 72.

[6] Ibid, p. 7

[7] Michael Horton, Made in America, (Grand Rapids: Baker Book House, 1991). p. 16.

[8] Alasdair Maclntyre, After Virtue, (Notre Dame: University of Notre Dame Press - 1981)~ p. 77.

[9] J. Gresham Machen, Christianity and Liberalism, (Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1923). p. 5,6.

[10] James Davison Hunter, Culture Wars, (n.p.. Basic Books, A Division of HarperCollins Publishers, 1991). p. 63.

[11] Os Guinness and John Seel, No God But God, (Chicago: Moody Press, 1992), p. 95

[12] Alasdair Maclntyre, After Virtue, p. 77.

[13] Guinness and Seel, No God But God, p. 148.

[14] Os Guinness, Dining With the Devil, (Grand Rapids: Baker Book House, 1993), p. 31. Em português: “não devemos cutucar onça com vara curta”. Nota do tradutor.

[15] Ibid., p. 31.

[16] David Wells, No Place for Truth, p. 61

[17] Steven Conner, Postmodernist Culture, (Cambridge, Mass.: Basil Blackwell Inc., 1990), p. 125

[18] Thomas C. Oden, After Modernity. ..What?, (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1990), p. 80.

[19] Ibid., p. 46.

[20] Herbert Schlossberg, Idols For Destruction, (Washington D. C.: Regnery Gateway, 1990), p. 36, 37.

[21] 2 1 David Wells, No Place for Truth, p. 104.

[22] Kenneth A. Myers, All God's Children and Blue Suede Shoes, (Wheaton, Ill.: Crossway Books, 1989), p. 108.

[23] Thomas Oden, After Modernity...What?, p. 52.

[24] David Wells, No Place for Truth, p. 101

[25] Michael Scott Horton, Made in America, p. 44.

[26] Ibid, p. 12

[27] Ibid.

[28] James Davison Hunter, Culture Wars, p. 138

[29] Donald A. McGavran, How to Grow a Church, (Glendale, Calif.: Regal Books Division, GIL Publications, 1973), p. 79

[30] Lee Roy Taylor, Jr., A Flagship Church Planting Strategy for the Presbyterian Church in America, (Ann Arbor, Mich.: V.M.I. Dissertation Information Service, 1991), p. 33.

[31] Terry L. Gyger, Dave B. Calhoun, and E. Walford Thompson, Handbook for Church Growth, (Coral Gables, Fla.: Ministries In Action, 1983), p. 223-225.

[32] Michael G. Maudlin and Edward Gilbreath, “Selling Out the House of God”, Christianity, June 18, 1994, p.23.

[33] Win Arn, The Pastor’s Church Growth Handiboo, (Pasadena, Calif, Church Growth Press, 1982, p. 87.

[34] George Barna, Marketing The Church, (Colorado Springs, Colo,: Navpress, 1998) p.14.

[35] C. Wayne Zunkel, A Church Growth Under Fire, (Scottdale, Penn.: Herald Press, 1987) p. 218.

[36] Foster H. Shannon, A The Growth Crisis of the American Church, (South Pasadena, Calif.:Wil1iam Carey Library, 1977) p. 3.

[37] Donald A. MacGravan, How to Grow a Church, p.79.

[38] J. Robertson McQuilkin, Measuring the Church Growth Movement, (Chicago: Moody Press, 1973), p. 76.

[39] Ibid., p. 12

[40] Ibid., p. 13.

[41] Ibid., p. 24

[42] C. Peter Wagner, Church Growth and the Whole Gospel, (San Francisco: Harper and Row Publishers, 1981) p. 57.

[43] Lee Roy Taylor, Jr., A Flagship church Planting Strategy for the Presbyterian Church in America, p.111.

[44] Michael Horton, Beyond Culture Wars, (Chicago: Moody Press, 1994) p. 63

[45] Ken Sidey, “Church Growth Fine Tunes Its Formulas”, Christianity Today, June 25, 1991, p.44.

[46] R.C. Sproul, Lifeviews, (Old Tappan, New Jersey; Fleming H. Revell Co., 1986) p.77

[47] C. Peter Wagner, Church Growth State of the Art, (Wheaton: Tyndale House, 1986) p. 290.

[48] Douglas Webster, Selling Jesus, (Downers Grove, Ill.: Intervarsity Press, 1992) p. 75

[49] Ken Sidney, “Church Growth Fine Tunes Its Formulas”, p. 45.

[50] Lee Roy Taylor, Jr., A Flagship church Planting Strategy for the Presbyterian Church in America, p. 111.

[51] Douglas Webster, Selling Jesus, p. 58

[52] Terry L. Gyger, Dave B. Calhoun, and E. Walford Thompson, Handbook For Church Growth, p.271.

[53] Michael Horton, Beyond Culture Wars, p. 109.

[54] Ibid.

[55] Michael Scott Horton, Made In America, p. 49.

[56] Os Guinness, Dining With The Devil, p. 25

[57] Douglas Webster, Selling Jesus, p. 111

[58] Michael Scott Horton, Made in America, p. 71

[59] Os Guinness: Dining With The Devil, p. 58

[60] Ibid., p. 65

[61] Rev. David Coffin, “Letters to the Editor”, Christianity Today, August 19, 1991, p. 5

[62] Frank R. Tillapaugh, Unleashing the Church, (Ventura, Calif.: Regal Books, 1982), p. 32.

[63] John Calvin, Institutes of the Christian Religion, ed. John T. McNeill vol. 2 {Philadelphia: The Westminster Press, 1960, p. 1024.

[64] J. Gresham Machen, Education. Christianity and the State, (Jefferson, Maryland: The Trinity Foundation, 1987), p. 8.

[65] Brian A. Bernal, “The Power of the Word Preached”, The Banner of Truth, March 1994, p. 22.

[66] Robert L. Dabney, Sacred Rhetoric, (Carlisle, Penn.: The Banner of Truth Trust, 1979) p. 37,

[67] Douglas Webster, Selling Jesus, p. 107.

[68] Thomas C. Oden, After Modernity. ..What?, p. 31

[69] C. Peter Wagner, Church Growth and the Whole Gospel, p 83. c.

[70] Michael Horton, Beyond Culture Wars, p. 67,

[71] Donald McGavran and George G. Hunter III, Church Growth Strategies that Work, (Nashville: Abingdon, 1980) p. 19

[72] Os Guinness, Dining With the Devil, p. 75,

[73] David Wells, No Place For Truth, p. 280.

[74] Mateus 6:24 (New American Standard Version).

[75] Thomas Oden, After Modernity...What?, p. 151.

[76] Jitsuo Moridawa, Biblical Dimensions of Church Growth, (Valley Forge, Pa.: Judson Press, 1979), p. 46

 


Traduzido por: Anamim Lopes da Silva


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