Igreja: Vida Sob Disciplina

por

Rev. J. Lessak



Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Co. 11:31,32).

Por muito tempo a cristandade viveu nos seguintes extremos: Subestimando a disciplina, viveu desatenta à sua importância no contexto local; superestimando-a viveu dias de torturas (físicas, emocionais, psicológicas) com a chamada “santa inquisição”, e através de outros perversos mecanismos de controle de seus membros, tanto no catolicismo como no protestantismo.

No primeiro caso, a disciplina foi considerada algo que poderia ser “descartado”, sem a qual a cristandade poderia viver muito bem. Em outro caso, a disciplina foi vista como sendo a “espada divina”, cujos manuseadores foram extremamente rápidos e cruéis em “cortar” membros de suas respectivas comunidades locais. Infelizmente, esses dois casos ainda persistem na cristandade atual. Geralmente, essa atitude é feita sem quaisquer princípios bíblicos. Porquanto, a fim de extirpar o mal do meio da congregação, acabam assolando vidas, destruindo os ânimos para se permanecer na dita comunidade cristã. Estes líderes, que assim agem, são verdadeiros apóstolos da ruína e profetas da desgraça humana. Entretanto, na maioria dos casos, uma admoestação particular seria suficiente para colocar o faltoso em ordem com Deus e Sua Igreja. Então, precisamos de uma revelação espiritual, concernente aos “métodos” corretos e errados, aos “objetivos”, aos “motivos” e aos “agentes” da bíblica disciplina eclesiástica.

Antes de tudo, devemos salientar uma verdade bíblica: Todos somos disciplinados pelo Senhor. Todos estamos sob Seu tratamento. Todos somos objetos de Sua correção paterna. Eis o que a Bíblia diz: “Estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama, açoita a todo o filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como a filhos); pois, que filho há a quem o pai não corrige? Mas se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo sois bastardos, e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam e os respeitávamos, não havendo de estar em muito maior submissão ao Pai dos espíritos, e então viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes de sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça”, (Hb. 12:5-11).

Há os que pensam que a disciplina eclesiástica só poderá ser aplicada aos “pecadores”, assim qualificados por terem praticado algum pecado sexual. Entretanto, a disciplina bíblica é mais abrangente do que isso. Na verdade, todos(as) os(as) filhos(as) de Deus participam da Sua disciplina: “Mas se estais sem correção de que todos se têm tornado participantes, logo sois bastardos, e não filhos”, (Hb. 12:8). Ora, somos participantes da correção de Deus, porque somos de Sua filiação, visando sermos também participantes da Sua santidade, (Hb. 12:10).

Então, toda a Igreja de Cristo está sob a disciplina divina. Nisso não há qualquer distinção. Não há acepção de pessoas na disciplina divina. Nisso não há os maiores pecadores, nem os menores. Nisso não há disparate entre os certos e os errados. Se é filho(a) de Deus, está sob Sua disciplina. Essa é a disciplina genérica de Deus para com Seus filhos(as).

Mas, também existe a disciplina específica de Deus, aplicável em algumas situações. A disciplina específica de Deus é um assunto que entramos com cuidado, dependendo inteiramente da graça divina, para que não tenhamos uma “atitude errada” com as pessoas envolvidas, tal qual ocorreu na seguinte situação: “E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém, e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. Mas não o receberam porque o aspecto dele era de quem decisivamente ia para Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis que espírito sois: pois o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E seguiram para outra aldeia”, (Lc. 9:51-56 - itálico do autor).


1. MÉTODOS ERRADOS DE DISCIPLINA:


Os métodos errados de disciplina são aqueles que não figuram como práticas bíblicas. São práticas sem qualquer base nas Escrituras, embora seja comum o uso delas entre a cristandade atual.


A. PRIMEIRO MÉTODO ERRADO:
CONVOCAR IMEDIATAMENTE A IGREJA PARA A AÇÃO DISCIPLINAR

Segundo o texto bíblico de Mt. 18:15-22, alguns passos iniciais devem ser dados “antes” da Igreja-Corpo Local ser comunicada sobre o fato problemático, para que ela posteriormente cuide do caso:

1º. PASSO: REPREENSÃO PARTICULAR:

Se teu irmão pecar [contra ti], vai arguí-lo entre ti e ele só...” - se ele ouvir estará tudo resolvido. Não haverá necessidade de outras pessoas, ou até da Igreja-Corpo Local, tomar conhecimento do fato problemático.

2°. PASSO: REPREENSÃO PARTICULAR COM ROL DE TESTEMUNHAS:

... se não te ouvir toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça”, (compare com Dt. 19:15; 1 Tm. 5:19; 2 Co. 13:1; Hb. 10:28; Jo. 8:17).

3º. PASSO: COMUNICAÇÃO À IGREJA-CORPO LOCAL:

... e, se não os atender, dize-o à Igreja...” (ou aos seus líderes).

4º. CORTE PARTICULAR DE COMUNHÃO:

... se recusar ouvir também a Igreja, [ou aos seus líderes] considera-o gentio e publicano...”. Salientamos que é a pessoa ofendida, após três passos iniciais, sem nenhuma pressa, quem considera o ofensor como sendo “gentio e publicano”, ou seja, alguém com o qual foi impossível re-estabelecer a comunhão. Somente depois desses quatro passos iniciais, (incluindo o corte particular de comunhão), é que a Igreja-Corpo Local deve entrar em ação e cuidar exaustivamente do caso. Veja bem: Esse texto bíblico trata de divergências entre “irmãos”, sendo que o Senhor Jesus Cristo concede a liberdade e autoridade para o ofendido buscar o ofensor, claro que com o espírito cristão de mansidão, (Gl. 6:1,2).

5°. PASSO: CONSCIENTIZAÇÃO DOS EFEITOS DISSO TUDO NO MUNDO ESPIRITUAL:

O ofendido escolherá um dos dois caminhos: (a) ficar ressentido contra o ofensor; (b) perdoar definitivamente o ofensor, liberando-o até “setenta vezes sete”.

Ora, qualquer uma das posturas assumidas causará efeito no mundo espiritual: Se assumo a postura de liberar meu irmão, assim será. Se assumo a postura de reter meu irmão, assim será.

Mas, segundo o Senhor Jesus Cristo, nós sempre devemos estar prontos para a “concordância” (encontro de corações), visando o perdão do ofensor. Ou seja, nós sempre devemos estar “concordes para o perdão”. É exatamente isso que Ele nos diz: “Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer cousa que porventura pedirem, ser-lhe-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles. Então, Pedro, aproximou-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? até sete vezes? Respondeu-lhes Jesus: Não digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”, (Mt, 18:19-22).

O versículo vinte deste texto é sempre tirado do contexto de perdão, para justificar que Jesus não se importa com o número reduzido de pessoas no culto. Entretanto, ao afirmar: “...onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome ali estou no meio deles”, Ele queria (e quer) dizer que a “concordância para o perdão” tem Seu aval, Sua presença. Mesmo porque o Senhor Jesus Cristo é a “encarnação do perdão divino”.


B. SEGUNDO MÉTODO ERRADO:
LIMITAR O TEMPO DE DISCIPLINA

Quando limitamos o tempo de disciplina de uma pessoa, na verdade estamos subestimando a ação do Espírito Santo na recuperação do ofensor. Seria mais sensato analisar caso a caso, e esperar no Espírito Santo uma direção particularizada. Ora, mesmo num caso extremo de exclusão de um membro da Igreja em Corinto, por causa do pecado de incesto, (1 Co. 5), o Apóstolo Paulo não limitou o tempo de disciplina. Entretanto, aproximadamente um ano depois de sua exclusão, o ofensor estava sendo “consumido por excessiva tristeza”. Sobre este ofensor, punido com a exclusão, recurso último da disciplina, o Apóstolo Paulo assim se expressa: “Ora, se alguém causou tristeza não fez apenas a mim, mas, para que eu não seja demasiadamente áspero, digo que em parte a todos vós; basta-lhe a punição pela maioria. De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza. Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor”, (2 Co. 2:5-8 - itálico do autor).

Vemos que na primeira carta o Apóstolo Paulo “ordena” a disciplina de exclusão para este caso específico, (1 Co. 5). Entretanto, depois de aproximadamente um ano, ele precisou “convencer” a Igreja em Corinto a não ser cruel, implacável, ou seja, ela não poderia mais protelar a finalização daquela disciplina: “Basta-lhe a punição pela maioria”, (2 Co. 2:6). Essa “punição pela maioria” não pressupõe uma disciplina popular, democrática, como se o ofensor tivesse sido disciplinado pela “assembléia” da Igreja, e não somente pela liderança, como sabemos ser bíblico. Todavia, tal expressão quer dizer simplesmente que, mesmo que o ofensor tinha ofendido o Apóstolo Paulo e a todos os irmãos coríntios, mesmo assim não seria necessária a aprovação de todos para a “finalização” da disciplina, mas apenas da “maioria”dos ofendidos. O que acontecia era o seguinte: Uma “minoria” não queria a restauração do ofensor à comunhão da Igreja, porquanto esta “minoria” não estava conseguindo perdoar o ofensor. Daí o Apóstolo Paulo dizer:“Basta-lhe a punição pela maioria”. Esta interpretação corresponde com o objetivo da escrita desta carta paulina, (2 Co. 2:9-11). Então, precisamos ser flexíveis quanto ao tempo de disciplina. Não devemos colocar cercas ao redor de Deus.


C. TERCEIRO MÉTODO ERRADO:
DISCIPLINAR MESMO HAVENDO CONFISSÃO E ARREPENDIMENTO

É comum pessoas serem disciplinadas mesmo após terem confessado suas faltas, evidenciando assim um verdadeiro arrependimento. Quase sempre acontece assim: A pessoa é convencida pelo Espírito Santo sobre algum pecado específico em sua vida; sente o desejo de se livrar do peso da culpa; acredita que seu(a) pastor(a) seja de confiança para ouví-la; procura tal pastor(a) certa que irá ter uma solução, um apoio para ajudá-la a livrar-se do pecado, e...BUUMM. O(a) pastor(a) leva o caso ao conhecimento público e exige da Igreja uma tomada de posição em favor da disciplina de tal pessoa. E assim.....esse(a) pastor(a) acaba com uma pessoa que acreditava na importância da transparência espiritual, na função terapêutica pastoral, e na utilidade do verdadeiro arrependimento. Ora, a disciplina não é para quem confessa e abandona seu pecado, demonstrando assim seu verdadeiro arrependimento. Mas, a disciplina destina-se aos cínicos que não querem o verdadeiro arrependimento, uma mudança de vida. A Palavra de Deus ensina: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode por sua eficácia, a súplica do justo”, (Tg. 5:16). “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”, (1 Jo. 1:9). “O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”, (Pv. 28:13).


D. QUARTO MÉTODO ERRADO:
SUSPENDER DA CEIA DO SENHOR

Em nenhum texto das Escrituras é ensinado que qualquer Igreja-Corpo Local tem a “autorização divina” para suspender qualquer de seus membros da participação na “Ceia do Senhor”. Este último termo é o usado nas Escrituras, e não o termo “Santa Ceia”, que foi criado pelo catolicismo para valorizar sua teoria da transubstancialização ( mudança na substância do pão [para o corpo de Cristo] e do vinho [para o sangue de Cristo]). Por causa dessa terminologia errada, baseada numa errada conceituação da Ceia do Senhor, é que entre os evangélicos disciplina-se suspendendo o(a) pecador(a) da “Santa Ceia”. Então, tais grupos evangélicos estabelecem assim a disciplina: “Você não poderá tomar a ‘Santa Ceia’ por três meses”. Assim, se alguns grupos evangélicos realizam a “Santa Ceia” uma vez por mês, tal disciplina será (para esses grupos evangélicos) uma medida disciplinar correta, e para o ofensor será um dura pena espiritual, porquanto ele “perdeu a salvação” por três meses, e não poderá participar da “Santa Ceia”, que o colocará debaixo da condenação divina. Pois, segundo o entendimento desses grupo evangélicos, não tomar a “Santa Ceia” depois de uma auto-santificação, ou ser suspenso da sua participação, significa estar debaixo da condenação divina. Mas, como é diferente a visão bíblica disto tudo! Com base nas Escrituras, podemos dizer que tal suspensão da Ceia do Senhor será “apenas” uma abstinência de pão e vinho (ou suco de uva, na maioria dos grupos evangélicos) por três ocasiões. Será “apenas” uma abstinência dos elementos que compõem a Ceia do Senhor, mas não terá verdadeiro efeito terapêutico para o ofensor, porquanto a disciplina visa a restauração, a cura do ofensor, (2 Co. 2:7,8; Gl. 6:1,2).

Ora, a Palavra de Deus ensina: “Qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor”, (1 Co. 11:27) Pelo contexto imediato, comer do pão e beber do cálice do Senhor indignamente significa o seguinte: Não entender a unidade do Corpo de Cristo, alí representada pela Igreja-Corpo Local. Então, comer e beber a Ceia do Senhor indignamente significa não entender, e não viver, a revelação escriturística da unidade do Corpo de Cristo, ou seja, da expressão espiritual de Cristo através da Igreja-Corpo Local. Então, segundo a explanação paulina, comer e beber indignamente a Ceia do Senhor é ajuntar-se na Igreja, havendo em seus bastidores, divisões, dissensões, partidarismo e política religiosa, (1 Co. 11:17-20; 1 Co. 1:10-13; 3:1-5). Viver desta forma, indignamente (hipocritamente), é não discernir o Corpo de Cristo, a Igreja-Corpo Local, que é única, pois Cristo não está dividido, (1 Co. 1:13; 11:29).

Ora, mesmo tendo havido no interior da Igreja em Corinto os pecados de dissensão, partidarismo e divisões (produtos do egocentrismo religioso da maior parte de seus membros), o Apóstolo Paulo não orientou a liderança daquela Igreja para proibir tais membros egocêntricos de participarem da Ceia do Senhor. Ele deixou claro que essa decisão (de participar ou não da Ceia do Senhor) é uma prerrogativa pessoal: “Examine, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice”, (1 Co. 11:28).

Então, em que consiste esse auto-exame? Consiste em saber, com absoluta certeza, se o Senhor Jesus Cristo vive em mim: “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que estais reprovados. Mas espero reconheçais que não somos reprovados”, (2 Co. 13:5,6). Desta maneira, para participar da Ceia do Senhor cada pessoa precisa fazer este auto-exame: Jesus vive verdadeiramente em mim? Estou “preservando” a unidade do Corpo de Cristo, (Ef. 4:1-3)? Ou estou contribuindo para a dissensão ou partidarismo dentro da Igreja-Corpo Local? O Senhor Jesus Cristo vive em mim, e através de mim se expressa de tal maneira, que renuncio criar partidos dentro da Igreja-Corpo Local? É bem verdade que este auto-exame leva a uma auto-disciplina: “Porque, se nós julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”, (1 Co. 11:31,32).

 

2. MÉTODOS CORRETOS DE DISCIPLINA:

A. ADMOESTAÇÃO (PÚBLICA OU PARTICULAR):

A palavra “admoestar” significa confrontar com a verdade (grego: nouthesis), e é um dos métodos orientados pelo Espírito Santo para a ação disciplinar: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros”, (Rm. 15:14 - itálico do autor). “Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão”, (2 Ts. 3:14,15 - itálico do autor; compare com Cl. 3:16; 1 Ts. 5:14).


B. REPROVAÇÃO (PÚBLICA OU PARTICULAR):

A palavra “reprovar” significa “censurar as obras malignas realizadas através dos homens”. Vejamos o que diz a Bíblia: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as”, (Ef. 5:11). “Prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina”, (2 Tm. 4:2). “Dize estas cousas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze”, (Tt. 2:15; compare com Tt. 1:9,13; 1 Tm. 5:20).


C. EXCLUSÃO (PÚBLICA):

A exclusão é o ultimo recurso da disciplina, sendo aconselhada somente em casos extremos. Sendo que “em todos os casos” o amor cristão deve imperar: “Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros: refiro-me com isto não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras, pois neste caso teríeis de sair do mundo. Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem ainda comais. Pois, com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor”, (1 Co. 5:9-13 - itálico do autor; compare com Gl. 6:1,2).


3. OBJETIVOS DA DISCIPLINA:

A. GLORIFICAR O SENHOR:

Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”, (1 Co. 10:31).

B. RESTAURAR O OFENSOR:

Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o, com o espírito da brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado”, (Gl. 6:1; compare com Mt. 18:15; 2 Co. 2:1-11).

C. MANTER O TEMOR ENTRE O POVO DE DEUS:

Quando aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam”, (1 Tm. 5:20; compare com At. 5:1-11).


4. MOTIVOS PARA A DISCIPLINA:

É bem verdade que líderes de muitos grupos evangélicos impõem disciplinas àqueles que quebram quaisquer de “suas” regras, “seus” usos e costumes (denominada doutrina por alguns grupos evangélicos).Geralmente, tais regras são determinadas pelos regulamentos internos (leia-se: deveres pesados para os membros) de tais grupos evangélicos e, quando desobedecidas, geram motivo suficiente para a disciplina e a exclusão de seus membros (excomunhão). Lamentavelmente, erra-se muito nisto. Ora, nós temos que compreender a ênfase bíblica de repúdio aos preceitos humanos, religiosos, com aparência de santidade, todavia, ineficazes quanto à vitória sobre o pecado, (Cl. 2:20-23; 2 Tm. 3:1-5).

Há aqueles que vêem apenas os “pecados sexuais” como motivos para a disciplina. No entanto, quem é disciplinado por promover a discórdia entre os irmãos? Quem é disciplinado por ser fofoqueiro(a)? Quem é disciplinado por não obedecer os mandamentos bíblicos, tais como: “a ninguém devais nada, a não ser o amor”, e, “enchei-vos do Espírito”? Quem é disciplinado por cometer o pecado da glutonaria? Quem é disciplinado por viver uma vida orientada pelo ciúme doentio? Quem é disciplinado por ser invejoso(a)? Quem é disciplinado por ser mentiroso(a)?

Também nesta área (motivos de disciplina) não podemos ser como os escribas e fariseus nos tempos do Senhor Jesus Cristo:“Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém, não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados (e difíceis de carregar) e os pões sobre os ombros dos homens, entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los”, (Mt. 23:1-4).

A Igreja verdadeira de Cristo repudia os preceitos e atitudes dos fariseus de nossos dias, a saber, daqueles que pregam uma auto-regeneração, uma auto-justificação e uma auto-santificação, conquanto isto produz somente uma “aparência religiosa”, mas não a “essência cristã”. Infelizmente, na cristandade atual há uma tendência religiosa em achar “motivos para a disciplina” nas mínimas coisas, mas, geralmente, são esquecidos os verdadeiros motivos para a ação disciplinar. Há os que temem “mastigar” um mosquito em seu suco. Todavia, por suas ações ou reações, acabam “engolindo” um camelo: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dizimo da hortelã, do endro, e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas. Guias cegos! Que coais o mosquito e engolis o camelo”, (Mt. 23:23,24). Não obstante, encontramos nas Escrituras “apenas”quatro motivos para a disciplina. Haverá ação disciplinar quando houver violação:


A. AMOR CRISTÃO (OFENSAS PARTICULARES):

Se teu irmão pecar [contra ti], vai argüí-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça, e, se ele não os atender, dize-o à Igreja; e, se recusar ouvir também à Igreja, considera-o como gentio e publicano”, (Mt. 18:15-17).

B. UNIDADE CRISTÃ (DISSENSÕES, CISMAS, PARTIDARISMO):

Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo Nosso Senhor, e, sim, a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos incautos”, (Rm. 16:17,18; compare com Tt. 3:10,11).

C. ÉTICA CRISTÃ (CONDUTA ERRADA):

Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em desonestidade e dissoluções, não em contendas e ciúmes”, (Rm. 13:13). “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros”, (Ef. 4:25).

D. DOUTRINA CRISTÃ (HERESIAS, APOSTASIA):

Mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem”, (1 Tm. 1:19,20). “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem a mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida, e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro”, (1 Tm. 6:3-5).


5. AGENTES DA DISCIPLINA:

A. O SENHOR (DISCIPLINA TEOCRÁTICA):

Eis a razão porque há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”, (1 Co. 11:30-32). “O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, será quebrantado de repente sem que haja cura”, (Pv. 29:1; compare com At. 5:1-11; Hb. 12:5-11).

B. O PRESBITÉRIO (DISCIPLINA DELEGADA):

Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram (...) Obedecei aos vossos guias, e sede submissos para com eles; pois velam por vossas almas, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros”, (Hb. 13:7,17; compare com 1 Tm. 5:1,2,17).

C. A PRÓPRIA PESSOA (AUTO-DISCIPLINA):

Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos na verdade correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado (...) porque se julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados”, (1 Co. 9:24-27; 11:31).

Assim, a Igreja de Cristo deve sempre ser submissa aos princípios bíblicos da disciplina eclesiástica, e sempre fugir dos preconceitos religiosos, meramente humanos. Porquanto, enquanto estivermos vivendo na revelação da Palavra de Deus, inclusive sobre esse assunto, muitos serão atingidos pela Graça divina, e Ele será amplamente glorificado.

Não podemos jamais esquecer: A Graça é o trilho de ação de Deus. Esse também deve ser o caminho da Igreja de Cristo.

 


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