Através da Fé Somente

por

John W. Robbins

 

 

Um homem é justificado pela fé sem as obras da lei (Romanos 3:28).

“Pela fé somente” foi o moto da Reforma Protestante no século dezesseis. Ele era radical e ainda é radical da mesma forma agora. Ele não significa quietismo, isto é: “Deixe Cristo viver a vida vitoriosa em você”. Nem significa a indolência negligente do ‘não-faça-nadismo' espiritual. A Reforma foi revolucionária. “A fé somente” não era o slogan de uma piedade delicada e enclausurada. Ela foi o grito de batalha de um movimento que virou o mundo de cabeça para baixo.

O que “a fé somente” significa? “A fé somente” é a confissão de que tudo o que é necessário para a nossa aceitação diante de Deus foi realizado pelo próprio Deus em Jesus Cristo. É um reconhecimento de que o próprio Cristo, em nosso nome e em nosso favor, cumpriu todas as obrigações diante do tribunal da justiça eterna. Esse ato redentor foi tão completo e perfeito que não podemos e não precisamos adicionar nada a ele. “A fé somente” significa que não podemos contribuir em nada para a nossa salvação, mas que devemos nos submeter ao que Deus já fez — plena e completamente.

“A fé somente” não significa que a própria fé em si nos fará agradáveis e aceitáveis a Deus. Somente um é justo. Somente um é agradável. “A fé somente” é uma confissão de que a obra salvadora de Deus foi realizada completamente fora de nossa experiência. Há alguns que admitirão que somente Deus salva, mas eles imaginam que essa obra salvadora é realizada dentro deles. Mas a fé sempre é direcionada para a ação de Deus fora-de-mim, em Jesus Cristo. Como John Bunyan escreveu: “Ela é a justiça que reside com uma pessoa no Céu que me justiça, um pecador, sobre a Terra”. O livro de Apocalipse mostra que o progresso da causa de Cristo depende da ação de Cristo no controle do universo. Somente ele pode mover a história em direção de sua grande consumação. Somente ele deve trazer salvação àqueles que avidamente esperam por ele (Hebreus 9:28). “A fé somente” é, portanto, uma confissão de que a salvação foi ganha pelos atos poderosos e conquistadores nos quais não temos nenhuma participação.

“A fé somente” é uma confissão de que a nossa justiça não está em nós, mas em Jesus Cristo, à destra de Deus. Ela significa que continuamente confessamos que somos pecadores e que não temos nenhuma justiça para nos justificar, salvo aquela que é fora de nós na pessoa do nosso mediador. Isso significa que a vida não é cumprida aqui e agora nesse processo histórico. Sabemos que tudo o que fazemos é indigno. Nossas melhoras obras, quando testadas pelo esplendor nítido da lei de Deus, não são melhores do que trapos de imundícia. Note que Isaías diz que toda a nossa “justiça” — não nossa “injustiça” — são trapos de imundícia.

Nós nunca somos justos diante de Deus em virtude de termos nascido de novo, ou por sermos cheios do Espírito, ou por vivermos em nova obediência, ou pelos atos de “entrega” ou “confiança”. A verdade da “fé somente” é um grande NÃO contra as aspirações do humanismo, Romanismo, Pentecostalismo, neo-evangelicalismo, Arminianismo, Wesleyanismo, e todos os outros –ismos que prometem o cumprimento das exigências de Deus através da experiência interna e terrena. “A fé somente” diz: “Nossa plenitude é realizada somente nele” (Colossenses 2:10). “A fé somente” significa que adimitimos nossa destituição. Confessamos diante da justiça que não temos como pagar a nossa dívida.

“A fé somente” significa que chegamos a Deus confiando em seu amor, misericórdia e perdão. “A fé somente” é uma humilhação do homem no pó, uma dependência de Deus para fazer por nós o que não podemos fazer por nós mesmos. Nada esvazia um homem como “a fé somente”. Essa é a razão pela qual somos cheios com o Espírito pela fé (Gálatas 3:14). Que nunca falemos da fé mais a auto-crucificação, mas da fé como auto-crucificação. “A fé somente” é a fonte de toda verdadeira obediência. O primeiro mandamento diz: “Não terás outros deuses diante de mim”. Em seu Catecismo, Martinho Lutero diz:

Um Deus é aquele a quem procuramos para todo o bem e a quem recorremos por ajuda em todo tempo de necessidade; ter um Deus é simplesmente confiar e crer em alguém de todo o nosso coração... Se sua fé e confiança são corretas, então da mesma forma seu Deus é o Deus verdadeiro. Por outro lado, se sua confiança é falsa, se ela é errada, então você não tem o Deus verdadeiro... Eu digo, não importa no que o seu coração.... confie que seja realmente o seu Deus... Se o coração está corretamente disposto para com Deus e esse mandamento é cumprido, a obediência ao restante se seguirá por si mesma..


“A fé somente” liberta um homem para uma vida de boas obras. Por outro lado, quando um homem falha em entender o Evangelho e a lei, ele trabalha em vão e gasta suas forças por nada. Seu esforço é direcionado para fazer o que somente Deus pode fazer. No fundo do coração, toda alma é consciente da necessidade de ser correta diante de Deus. Mas a justificação é uma grande obra que somente Deus pode fazer. Quando um homem cegamente gasta suas forças e se esforça para fazer a obra de Deus, ele não pode conhecer a sua própria obra. Quando ele trabalha com seus dedos até esses ficarem só o osso, tentando se salvar, ele não pode amar seu próximo, pois ele não tem tempo para ele. “A alma liberta da ansiedade sobre si mesma está livre para exercer preocupação com os outros. O coração é despreocupado de si mesmo para se empenhar na salvação daqueles ao seu redor” (W. H. Griffith-Thomas, The Principles of Theology: An Introduction to the Thirty-nine Articles [London: Church Book Room Press, 1956], 194). Isso é muito diferente da falsa religião que remove toda urgência da ação ética. “A fé somente” coloca um homem para trabalhar para Deus como nada mais poderia. Ela não é um ópio para fazer um cristão dormir, mas um estimulando para colocá-lo em ação. “A fé somente” é poderosa. O que a torna poderosa é seu objeto poderoso. Como João o Batista, ela aponta para fora de si mesma, para o Cordeiro de Deus, que é o único que tira o pecado do mundo.


Extensivamente revisado e adaptado de Present Truth, uma revista extinta.

 




Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 05 de Outubro de 2005.

 

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