Piper e Justificação

por

Vincent Cheung

 

Ontem, John Robbins enviou uma mensagem para a sua lista de e-mail para explicar e ilustrar alguns dos problemas que ele encontra na doutrina da justificação defendida por John Piper.

Eu enviei um e-mail para Robbins lhe pedindo para confirmar se eu entendi corretamente sua posição.

Ele permitiu que eu reproduzisse nossa correspondência.


Robbins:



Queridos Amigos,

De vez em quando recebemos feedback dos fãs de John Piper, que dizem que temos entendido-lhe erroneamente sobre justificação e que ele é extremamente sadio neste assunto.

Hoje um amigo chamou nossa atenção a algumas declarações que aparecem no website de Piper, que demonstram quão longe da Bíblia estão as visões de Piper:

“Deus nos justifica no primeiro ato genuíno de fé salvadora, mas ao fazer assim, Ele tem uma visão de todos os atos subseqüentes de fé contidos, por assim dizer, como uma semente neste primeiro ato. O que estamos tentando fazer aqui é confessar o ensino de Romanos 5:1, por exemplo, que ensina que já estamos justificados diante de Deus. Deus não espera até o fim de nossas vidas para nos declarar justos. De fato, não seríamos capazes de ter certeza e liberdade para sobrevivermos às demandas radicais de Cristo, a menos que pudéssemos estar confiantes de que é por causa da nossa fé que já somos justos diante dEle.

“Todavia, devemos confessar também o fato de que nossa salvação final é feita contingente sobre a obediência subseqüente que vem da fé. O modo como estas duas verdades se encaixam é que somos justificados sobre a base do nosso primeiro ato de fé porque Deus vê nele (como Ele pode ver a árvore numa bolota de carvalho) o embrião de uma vida de fé. Este é o porquê aqueles que não levam uma vida de fé com sua inevitável obediência, simplesmente testemunham o fato de que seu primeiro ato de fé não era genuíno”.

(Fonte: http://www.desiringgod.org/library/topics
/doctrines_grace/tulip.html)

Aqui estão os erros de Piper:

1. Deus não tem em vista “todos os atos subseqüentes de fé” e obediência, quando Ele nos justifica; Ele tem em vista somente a obra objetiva de Cristo fora de nós, Sua perfeita justiça. Se Deus tivesse em vista nossos atos de fé e obediência, nunca seríamos justificados.

2. Não é “por causa da nossa fé que já somos justos diante dEle”. É somente por causa da obediência ativa e passiva do nosso substituto e representante, Jesus Cristo, nos imputada livremente, que somos justos diante de Deus.

3. É falso que “nossa salvação final é feita contingente sobre a obediência subseqüente que vem da fé”. Esta é a doutrina de Roma. Nossa salvação final é selada no momento em que cremos pela primeira vez. Ela não é contingente sobre algo que façamos ou não façamos. O único fundamento da justificação é a obediência de Cristo extrínseca a nós.

4. Nós não somos “justificados sobre a base do nosso primeiro ato de fé”. Piper torna a própria fé o fundamento, razão, base e causa da nossa justificação. O fundamento, razão, base e causa da nossa justificação está totalmente fora de nós, em Jesus Cristo.

5. Piper diz que a razão pela qual alguns são condenados é por causa de “fé não genuína”. Ele escreve: “Este é o porquê aqueles que não levam uma vida de fé com sua inevitável obediência, simplesmente testemunham o fato de que seu primeiro ato de fé não era genuíno”. Como a fé não-genuína difere da fé genuína ele não diz, provavelmente porque ele não tem nenhuma idéia clara do que seja fé. Como muitos protestantes mal-informados, Piper se foca sobre a psicologia e faz a fé salvadora diferir da fé genérica, não por causa do seu objeto, mas por causa de algumas alegadas diferenças na psicologia, as quais nunca são esclarecidas. Isto é perder o Evangelho totalmente de foco.

Para ler um relato mais completo dos erros fatais de Piper sobre justificação, por favor, leia “Pied Piper” em:

http://www.trinityfoundation.org/journal.php?id=113

Cordialmente,

John Robbins
The Trinity Foundation
8 de Abril de 2005
www.trinityfoundation.org

 


Cheung:

Eu também já mencionei Piper em relação à doutrina da justificação, mas, visto que eu não incluí quaisquer detalhes, eu coloquei isto de uma forma bem suave e apenas disse que ele afirma algumas idéias “questionáveis” sobre o assunto, com um link para o artigo “Pied Piper” .

**
Por favor, confirme meu entendimento do ponto que você está tentando estabelecer:

A Escritura ENSINA que uma fé real (assentimento à verdade) produzirá uma vida de boas obras, e se a santificação não seguir a justificação, nunca houve justificação de forma alguma.

CONTUDO, seu ponto é que, mesmo embora seja verdade (que obras seguem a fé), AINDA ASSIM não somos justificados sobre a base destas boas obras que a fé genuína produz; antes, do princípio ao fim, somos justificados somente pelas obras de Cristo imputadas a nós.

Dessa forma, para colocar isto de uma forma branda, Piper (seguindo Fuller) confundiu o EFEITO da justificação com a BASE da justificação.

E isto explica sua referência a Roma, visto que este é essencialmente o erro de Roma no que diz respeito à justificação.

Isto é claro e correto?

**
E visto que já mencionei seu artigo sobre Piper, você me concede permissão para postar seu e-mail no meu blog, para que meus leitores vejam sua explicação adicional?

Se você concordar com o que escrevi acima, eu também o incluirei, visto que penso que alguns dos leitores podem não ver a distinção.


Vincent Cheung
http://www.rmiweb.org

 

Robbins respondeu e confirmou cada um dos pontos que fiz nesta seção do meio acima, e adicionou (com referência à minha última declaração), “A distinção é crucial”.


Comentários:

Eu tenho quase todos os livros de Piper — certamente todos os principais e representativos. À partir de sua própria confissão, eu sei que ele endossa e segue a teologia de Daniel Fuller, com quem eu também sou familiar, e as visões de Fuller sobre justificação e lei não estão exatamente no caminho certo.

Eu entendo que Piper é amado e respeitado por muitas pessoas, incluindo cristãos reformados, mas seria irresponsabilidade assumir que sua posição sobre o assunto seja correta, e seria irresponsabilidade minha não dizer algo que penso que pode ser um problema. Todavia, visto que não estou oferecendo exemplos claros, não direi mais nada sobre minha visão pessoal com respeito à sua pureza doutrinal.

O propósito principal deste post não é atacar diretamente Piper, mas apresentar e explicar porque Robbins pensa que há algo errado com a doutrina da justificação de Piper. Todavia, direi mais isto: se Robbins interpretou corretamente Piper e se Piper crê realmente no que Robbins diz que ele crê, então a doutrina da justificação de Piper é deveras falsa e anti-bíblica, e devemos rejeitá-la e até mesmo nos opor a ela.

A razão pela qual eu mesmo clarifico o que Robbins está dizendo, é que alguns leitores podem pensar que Robbins está se opondo ao ensino de que uma vida de boas obras necessariamente segue uma fé genuína, de forma que ele está de fato promovendo o antinomianismo. Mas minha mensagem a Robbins confirma que ele não está promovendo o antinomianismo, mas está tentando defender a doutrina bíblica da justificação pela imputação somente. Isto é, somos justificados e permanecemos justificados pelas obras de Cristo imputadas à nossa conta — a base da justificação nunca é transferida das obras de Cristo para as nossas obras.

Agora, Piper também fala em termos de “justiça imputada”. A questão é se ele considera nossas obras como parte da base do nosso contínuo estado de justificação diante de Deus.

Nota: Novamente, estou apenas tentando ter certeza de que as pessoas entendem o que Robbins está dizendo sobre Piper. Assim, por favor, não tente me enviar um e-mail sobre isto, seja para defender Piper, atacar Robbins, ou obter mais detalhes. Eu tenho outras coisas para fazer e não quero gastar meu tempo respondendo questões sobre este assunto. Mas, por favor, tente entender as distinções teológicas envolvidas e preste atenção aos detalhes, mesmo quando lendo alguém tão amplamente respeitado e teologicamente confiável como John Piper.

 

[Em breve, Comentários sobre “Piper e Justificação” ]


LEITURA RECOMENDADA:


The Justification Controversy

 


Nota sobre o autor: Vincent Cheung é o presidente da Reformation Ministries International [Ministério Reformado Internacional]. Ele é o autor de mais de vinte livros e centenas de palestras sobre uma vasta gama de tópicos na teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como um sistema de pensamento compreensivo e coerente, revelado por Deus na Escritura. Ele e sua esposa, Denise, residem em Boston, Massachusetts. http://www.rmiweb.org/


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 13 de Abril de 2005.


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