O Conceito Arminiano da Doutrina da Justificação

por

Pr. José Santana Dória


O conceito Bíblico e calvinista, no que se refere a doutrina da justificação, afirma que a mesma é somente pela fé, sem as obras da lei. O seu conceito está baseado em três argumentos: 1) Os pecadores são justificados pela imputação da justiça de Cristo no momento em que crêem; 2) A salvação é pela graça, por meio da fé, e não depende, em absoluto, das obras do pecador; 3) A base da justificação é a justiça de Cristo; o meio é a fé.

O conceito Arminiano da doutrina da justificação nega frontalmente estas duas realidades (Bíblica e calvinista), afirmando que os pecadores, além de crerem em Cristo, devem prestar obediência a lei no sentido de obterem a sua justificação diante de Deus. Dessa forma a justificação seria por fé e obras. Ou seja, o que ele crê, se nivela ao que ele faz. Não seria uma justificação baseada somente no que Cristo fez em seu favor. É como se Deus exigisse para justificação que o homem fizesse alguma coisa além do que Ele faz em Cristo.

Recentemente escutei uma pregação do Pr. Ricardo Godim, diga-se de passagem, pregação largamente difundida no meio arminiano, onde ele ataca veementemente a doutrina da predestinação tomando com base a doutrina da justificação no conceito arminiano. “Não sabe ele”, que neste aspecto, os arminianos estão andando de mãos dadas com os Católicos Romanos. Os Arminianos, tal como os Romanos, negam algumas verdades fundamentais da doutrina da justificação. Dentre elas podemos destacar três:


1) O ato de fé do homem não é totalmente uma dádiva de Deus.
Os Arminianos dizem que a fé é ‘contada como justiça’, porque ela, em si mesma, é a verdadeira justiça pessoal, uma vez que a obediência ao evangelho é vista como a nova lei de Deus. Tanto os romanistas quanto os arminianos, ao encontrarem a base da sua justificação na própria justiça, furtam de Jesus Cristo a glória que lhe é devida. Heber Campos diz: “Se perguntássemos aos Arminianos sobre a base da justificação, eles haveriam de responder que está em Cristo. A justiça de Cristo é a nossa justiça, diriam eles.. Contudo se a pergunta for feita de outra maneira como: ‘O que é que nos justifica? – a resposta seria: a fé. A fé seria imputada como justiça. Isso é uma inconsistência. Como a fé pode ser imputada a nós, se a fé é nossa? Como podemos imputar a nós alguma coisa que é nossa? Dentro da teologia Arminiana, a fé passa a ser a base da justificação. Não existe a justificação sem fé’.”?

Sobre aqueles que pensam poderem ser justificados pela sua fé Lloyd Jones diz: “Se sou justificado devido à minha fé, ou porque exerço fé, então minha salvação é definitivamente por meio de obras, e Deus me justifica em virtude dessa obra que eu tenho realizado, à qual chamo fé. As Escrituras, porém, não afirmam que sou justificado devido à minha fé ou porque estou exercendo fé; ela diz que sou justificado por fé, o que significa que a fé é o instrumento – e nada além de instrumento – por meio do qual sou capacitado a receber a justiça que Deus me comunica”?

Os Arminianos concordam que a nossa justificação depende unicamente da obra de Cristo como Salvador e Mediador. No entanto não concordam que a justificação depende unicamente da obra de Cristo. Para eles a obra de Cristo, apenas abriu a possibilidade de sermos justificados, isto é, se acrescentarmos nossas próprias obras à obra de Cristo. É mister, então, que tenhamos absoluta certeza de que a justiça de Cristo é a única base da nossa justificação. As Escrituras ensinam que não há outra base, “o ensino bíblico é que a fé, a nossa fé, não é o fundamento de nossa justificação. O fundamento da nossa justificação é a justiça do nosso Senhor Jesus Cristo a nós imputada”? Observe como declaração da Confissão de Fé de Westminster mostra um equilíbrio das idéias e dos argumentos envolvidos nessa questão. “Aqueles a quem Deus chama de forma eficaz, a esses Ele também justifica gratuitamente; não por lhes infundir retidão, mas por perdoa-lhes os seus pecados, e por considerá-los e aceitá-los como justos, não em face de qualquer coisa que tenham feito ou realizado, mas unicamente por causa de Cristo; nem por imputar-lhes a própria fé, o ato de crer, ou qualquer outra forma de obediência evangélica, como se nisso consistisse a justiça deles, e, sim, por imputar-lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles recebem e descansam nEle e na justiça dEle, mediante a fé que não vem deles mesmos, por ser um dom de Deus.”?

Pelos argumentos, acima, dar-se para perceber, claramente, que, a idéia de que o homem pode fazer alguma coisa para sua justificação, está bem presente no pensamento Arminiano, que é um semi-pelagianismo, quando defende a participação humana na salvação: “Cristo fez sua parte, agora eu tenho que fazer a minha”. O Arminiano crê que Deus concede a graça a todos os homens habilitando-os a cooperarem para que essa graça que lhe foi concedida seja efetiva ou não. Tudo depende da cooperação do homem. Para o Arminiano, os redimidos não são aqueles a quem o Pai elegeu, o Filho redimiu, e o Espírito Santo eficazmente chamou, mas aqueles que decidiram por si mesmos aceitar a oferta geral e indistinta da graça. Isto nada mais é uma afirmação de Trento de que se pode cooperar com a graça. Quando o Arminiano diz que pode ter fé por si mesmo, sendo um ato humano, faz da justificação algo dependente da cooperação do homem. Infelizmente aí os arminianos estão de mão dadas com os Católicos.


2) A expiação de Cristo faz a salvação tornar-se possível para todos, mas não necessariamente verdadeira para pessoa alguma.
Os Arminianos erram grandemente ao ignorar que a eleição por ser obra proveniente unicamente da graça divina, está intimamente vinculada à justificação. “...Aos que predestinou, a esses também chamou, aos que chamou estes justificou...” (Rm.8:30). Os eleitos somente são declarados justos em virtude da obra redentora feita por Jesus Cristo em favor deles. Os pecados dos crentes foram imputados a Cristo - por isto Ele sofreu e morreu na cruz (I Pedro 2:24; II. Co.5:21). Cristo foi feito legalmente responsável pelos pecados do crente, e sofreu o justo castigo que a este correspondia. Ao morrer no lugar do crente, Cristo, satisfez as demandas da justiça e o libertou para sempre de toda possibilidade de condenação ou castigo.
Jesus Cristo viveu uma vida perfeita - guardou completamente a lei de Deus. A justiça pessoal que Cristo obteve durante Sua vida na terra é imputada ao pecador no momento que este crê. A justiça de Cristo é outorgada ao crente, e Deus o vê como se ele mesmo houvesse feito todo bem que Cristo fez. A obediência de Cristo, Seus méritos, Sua justiça pessoal é imputada - atribuída - ao crente. Isto, de modo algum troca a natureza do crente (como também a imputação de pecados a Cristo não muda a Sua natureza); mas somente afeta a posição legal do crente diante de Deus.

Eles não podem mais ser condenados, pois a dívida foi paga. “Deus não pode exigir o pagamento duas vezes. Primeiro, da mão ensangüentada de meu Fiador, e então, de novo, de mim.”? A mesma dívida não pode ser paga duas vezes, pois isso seria injustiça de Deus.


3) O pacto da graça não é uma relação que Deus impõe unilateral e incondicionalmente, através da chamada eficaz, dizendo ao eleito: “eu quero...e tu farás...
A alternativa Arminiana era que o pacto da graça é uma nova lei, que oferece perdão presente sob a condição de uma fé presente, Esquecem eles que Deus antes da fundação do mundo escolheu certos indivíduos dentre os membros da raça caída de Adão para serem objetos do seu favor pleno, total e irrestrito. Não existe nenhum motivo no homem para merecer este favor. É um ato voluntário, gratuito e soberano da parte de Deus. Esta escolha não está baseada em qualquer valor ou mérito previsto por Deus.

As Escrituras ensinam que a eleição é segundo a presciência de Deus ( 1Pe.1: 2). Todavia, não devemos entender a presciência aqui mencionada como sendo presciência de fé ou de boas obras. Fé e obras não existem antes da graça, conseqüência da eleição, para que seja dispensada por Deus ao pecador.

Outro fato que nos chama atenção é, que os Arminianos crêem que o pacto da graça é uma nova lei e que oferece salvação final sob a condição de uma fé sustentada. A idéia de que, justificação só é justificação enquanto estou bem com Deus, ou seja, enquanto não estou pecando é um equívoco (porque no momento que eu cair em pecado não tenho mais justificação e preciso novamente de justificação; sou condenado novamente e preciso de um meio de ser justificado de novo). Justificação não precisa atos que garantam a nossa segurança, ela é a própria segurança. O crente que crer perder sua justificação porque peca, não pode nem ter certeza de justificação. Em Romanos 5:1, Paulo diz: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. Temos paz com Deus por meio de Jesus, ora, se não fosse por Cristo não teríamos paz com Deus. Estaríamos “perdendo e achando”, se santificando e perdendo a santificação, isso seria uma agonia terrível. Como poderíamos ter paz com Deus? Mas graças a Deus que a coisa não é assim. A Bíblia nos garante que temos paz com Deus. O apóstolo Paulo diz que justificação não é somente uma declaração feita no trono de Deus, mas é no nosso coração. É por meio de Jesus e não por nós mesmos como ensina o Concílio de Trento e os Arminianos, mas é por meio de Jesus. Observe esta afirmação de Lloyd Jones. “Deus não olha para mim e diz que, devido eu crer, ele considerará isso como justiça. Absolutamente, não! O que Ele diz é o seguinte; ‘Eu lhes darei a justiça de meu filho, que guardou a lei perfeitamente por vocês, e que morreu pelos pecados de vocês. Ele é absolutamente justo diante da lei, e Ele os tem representado diante da lei. Ele cumpriu todos os iotas dela, e portanto lhes conferirei Sua justiça’. Deus me convoca a crer nEle, e Ele me deu, pelo Dom da fé, o poder de crer. Portanto, olho para Cristo, não para mim mesmo, não para minha fé; minha justiça está inteiramente no Senhor Jesus Cristo. Deus O fez ‘sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção’ (1Co.1:30). Por conseguinte, não confio em nada que esteja em mim mesmo, nem mesmo na minha fé. Minha fé me leva a confiar inteiramente no Senhor Jesus Cristo. E, sabendo que Deus imputou a mim Sua justiça, sei que tudo está entre mim e Deus. Creio em Sua declaração. Minha fé a aceita. Ele lançou a meu crédito o perfeito, o imaculado, o inconsútil manto de justiça de seu amado Filho. Essa é a doutrina bíblica e a doutrina protestante da justificação somente pela fé.” ?

Em Romanos 8: 33-39, vemos que é Cristo quem nos justifica. “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica”. A linguagem aqui, é uma linguagem judicial mesmo - condenação...justificação. “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós”. Ele morreu, ressuscitou, está assentado à direita de Deus e intercede por nós. Quem, pois nos separará do amor de Cristo? Nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Se esse amor de Deus não estivesse em Cristo, estivesse em nós, certamente pereceríamos. Mas Deus nos ama através de Jesus. Se não fosse assim nós cairíamos. Deus quando olha para nós, Ele vê a justiça de Jesus. É essa fé nEle que nos dá a confiança e segurança. É essa fé que nos traz a justiça de Cristo e que Deus nos considera sem pecados, perfeitos, santos, da maneira que a Lei exige. Tudo porque, quando Deus olha para nós, Ele vê o próprio Jesus. Por isso que Ele nos ama e nos sustenta até o dia glorioso da salvação.


CONCLUSÃO:

1- A justificação pelas obras defendida por Trento é a religião natural da humanidade - do paganismo.

2- O trio teológico, o pelagianismo, o arminianismo, e a contra-reforma do Romanismo estão de mãos dadas no que diz respeito a salvação pelo mérito humano. Seja ele por boas obras ou por obras de fé.

3. Os Calvinistas sempre tiveram contra os Católicos e Arminianos pela mesma razão de que a fé justificadora, em última análise, não é um ato humano, mas uma obra dEle (Cristo), outorgada a nós (Hb.12:1).

CITAÇÕES BIBLIOGRAFICAS:

01- CAMPOS, Heber Carlos. Apostila - Soteriologia Avançada. São Paulo. 1998. Módulo SDG - 201. p.75

02- JONES, M. Lloyde, Deus o Espírito Santo. São Paulo Ed. PES: 1998. p. 227
03- LlOYDE, op. cit. pp. 227 - 228.

04- Confissão de Fé de Westminster. São Paulo, Ed. Casa Editora Presbiteriana: 1989. Cap. XI. 1. p.64

05- PACKER, J. I. Entre os Gigantes de Deus. São Paulo. Ed. FIEL: 1996. pp. 171

06- LlOYDE, op. cit. p. 229.

 


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