Livre-Arbítrio e Suas Qualificações

por

R. Scott Clark

 


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Livre-Arbítrio

Que Adão tinha um livre-arbítrio, a capacidade de pecar ou não pecar, é amplamente aceito. A idéia, contudo, de que os seres humanos têm um livre-arbítrio tem uma longa história na teologia Ocidental e continua a influenciar fortemente muitos teólogos e intérpretes da Bíblia. Muitos evangélicos simplesmente assumem que a doutrina do livre-arbítrio é uma doutrina bíblica. Seria útil, contudo, entender o pano de fundo desta idéia na tradição intelectual Ocidental.

Reagindo à forte doutrina de Agostinho da depravação humana (inabilidade) e da soberania divina, o monge britânico Pelágio (400-?) e seus seguidores mudaram a doutrina de que todos os homens estavam federalmente (legalmente) unidos à Adão, e assim, negaram que eles caíram juntamente com ele. Pela quebra da ligação legal/moral entre Adão e nós, os Pelagianos quase eliminaram os efeitos do pecado sobre nós.

Embora os Concílios de Cartago (411) e de Orange (529) tenham apoiado Agostinho, mais tarde a maioria das igrejas medievais se moveram para uma direção firmemente semi-Pelagiana, tentando sintetizar Pelágio com Agostinho. A síntese dizia que os pecadores são capazes de cooperar com a graça para a justificação. No auge da Idade Média a bandeira semi-Pelagiana foi carregada por Gabriel Biel (1420-95) e pelo maior de todos os humanistas, Desiderius Erasmus (1469-1536), contra quem Martinho Lutero reagiu durante a Reforma. No século XVI, Tiago Armínio (1560-1609) renovou o esforço semi-Pelagiano contra a doutrina Paulina da vontade. Mais tarde, o grande filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) definiu livre-arbítrio como significando algo como “o poder de escolha contrária”. Kant disse que uma escolha é verdadeiramente uma escolha moral somente se aquele que estiver fazendo a escolha tiver o poder para fazer o contrário.

Embora a doutrina de que os seres humanos (caídos) retenham um livre-arbítrio seja amplamente sustentada, ela certamente não é uma doutrina Paulina. Ele, Paulo, argumenta a partir da sabedoria eletiva de Deus que Deus tem o direito de escolher Jacó e rejeita Esaú (Romanos 9:13-14). Nós não estamos em qualquer posição, sendo pecadores e humanos finitos, de questionar as Suas decisões misteriosas e eternas. A Palavra de Deus em nenhum lugar fornece qualquer defesa, seja qual for, em favor da posição de que o homem tem a capacidade de fazer o contrário da vontade de Deus. Antes, a Palavra de Deus, como já temos visto, providencia extensas passagens defendendo a justiça de Deus em Seus decretos graciosos, eternos e soberanos. Eu duvido que seja possível encontrar uma só passagem na Palavra de Deus que claramente ensine que os seres humanos criados, pecaminosos, tenham um livre-arbítrio com relação a Deus. Se Pelágio, Erasmus e Kant estão corretos, então alguém deve dizer que Faraó não era moralmente culpado por seu endurecimento, pois ele não tinha o poder para fazer o contrário ao decreto de Deus. Alguém seria forçado a concluir que Deus é um tirano cruel que usa as pessoas como fantoches.

Qualificações de Livre-Arbítrio

Uma palavra de clarificação sobre o significado do termo livre-arbítrio é necessária. Alguém pode usar o termo livre-arbítrio. Se, com Jonathan Edwards, definimos um livre-arbítrio como a vontade que age segundo a sua natureza, então a vontade, neste sentido restrito, pode ser dita ser livre. O pecado corrompe a nossa vontade de forma que, por natureza, não desejamos fazer o que é agradável a Deus. Por causa da nossa relação com Adão, nós livremente desejamos pecar. A vontade caída pode ser dita ser livre num sentido existencial ou experimental. Ninguém visivelmente compele qualquer ser humano a fazer algo que ele não deseje fazer. Afinal de contas, experimentamos a nós mesmos escolhendo diariamente ou momento a momento. Alguém sempre tem uma escolha, mesmo que uma das escolhas seja desagradável [Edwards nota que mesmo um alegadamente livre-arbítrio é limitado pelo que ele não pode escolher ou parar de escolher, a menos que ele cesse de ser uma vontade].

Todavia, no final das contas, a vontade humana deve dizer ser limitada pelas decisões de Deus. Qualquer outra posição é suicida para a fé cristã. Se alguém assumir que os crentes ou incrédulos têm o poder de absoluta escolha contrário com relação aos decretos de Deus, então, todas as linguagens bíblicas descrevendo os decretos de Deus se tornam sem significado e mitológicos.

Segundo, se temos o poder de escolha contrária com relação a Deus, então devemos encontrar algum fundamento da Palavra de Deus para mostrar que Deus tem voluntariamente Se limitado de alguma forma para nos dar esta quase prerrogativa divina. À luz das passagens estudadas (e as vindouras) este fundamento seria extremamente difícil de encontrar.

Terceiro, se temos o poder de escolha contrária, o que a Bíblia quer dizer quando diz que estamos mortos? Esta linguagem também é mitológica? Por que a Bíblia consistentemente usa a morte como a analogia para o nosso estado espiritual fora de Cristo, se Deus realmente quer dizer que estamos somente enfermos ou doentes? Por que a Palavra de Deus jamais nos descreve como “enfermos” ou “doentes”, ou como estando somente uma condição enfraquecida?

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Fonte: Extraído e traduzido de How Did We Come to Faith in Christ?, de R. Scott Clark


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 29 de Junho de 2005.


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