“...que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo” (Ef 1.8,9).
No artigo do verso 7 estivemos falando sobre a riqueza da graça de Deus que foi a causa da redenção e remissão dos pecados de seus filhos. Agora, nos versos 8 e 9, Deus continua a dizer sobre os efeitos da riqueza de sua graça, porém, na mente de seus filhos.
É importante dizer também que, o verso 8 além de ser continuação do verso 7, também é continuação do verso 3 “... nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”. Portanto, o texto dirá sobre o que Deus tem derramado sobre seus filhos quando estes são redimidos e têm os pecados perdoados.
O texto está dando ênfase de que Deus derramou a riqueza de sua graça sobre seus filhos em toda a sabedoria e prudência. A questão é se o texto está enfatizando sabedoria e prudência em relação a Deus ou aos filhos? Se o texto estiver enfatizando a Deus diremos que derramou, no homem, da riqueza de sua graça com sabedoria e prudência. Porém, se o texto estiver enfatizando os filhos estará dizendo que Deus deu sabedoria e prudência aos filhos como fruto da riqueza de sua graça.
Entendo que o texto esteja enfatizando os filhos por três motivos: Primeiro, porque o texto desde o terceiro verso vem enfatizando como Deus tem abençoando seus filhos com toda sorte de “bênção espiritual” e, tudo isso, como fruto da riqueza de sua graça. O segundo motivo é porque se entendermos de modo diferente diremos que Deus derramou de sua graça aos filhos com prudência que é a mesma expressão para discernimento. Quando atribuímos uma ação a Deus não é necessário dizer que o fez com prudência ou com discernimento, pois, Deus não é homem para ser imprudente e sem entendimento, ao contrário, Deus sempre faz tudo com perfeita sabedoria, pois, ele é a essência da sabedoria e do entendimento. Finalmente, pelo fato da sabedoria e prudência estar ligada ao verso 9 que diz: “desvendando-nos o mistério da sua vontade”. Sendo a sabedoria e prudência fruto da riqueza da graça de Deus têm como propósito de que tenhamos entendimento para desvendar o mistério de sua vontade.
Isso é importante, pois, percebemos que a riqueza da graça de Deus não está restrita à questão do perdão de pecado, mas foi muito mais abundante e além, pois, nos deu sabedoria e a prudência, discernimento, que são necessários para termos o conhecimento do mistério da vontade de Deus. Ou seja, Deus quando derramou de suas “bênçãos celestiais” mudou, não somente, o coração, mas também a nossa mente. Como diz o próprio apóstolo em Fp 4.7 “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”. Em Cristo temos nova mente e novo coração. Deus faz uma mudança completa em nós quando derrama de sua “bênção celestial” provinda da riqueza de sua graça.
Temos que entender que a sabedoria e o discernimento que Deus dá aos seus filhos é para que desvendemos “o mistério da sua vontade”. Isso é maravilhoso!
O que seria esse mistério que o verso 9 diz como sendo o propósito de Deus nos dar sabedoria e discernimento? Seria algo velado que ninguém pudesse saber, por isso, chamá-lo de mistério? Por outro lado, se fosse algo velado por que Deus nos dá sabedoria e discernimento para desvendá-lo? Se é um mistério quem tem acesso a ele? Quem pode desvendá-lo?
A maioria da religiões tem seus mistérios e segredos escondidos a sete chaves. Tem acesso a eles somente aqueles que chegam ao estágio mais alto de sua religião e para isso demoram, às vezes, a vida inteira para chegar ao ápice da religião e desvendar o mistério de sua fé. Outras religiões tem o mistério como iniciação de sua jornada. Fazem um pacto oculto para que o novo integrante se comprometa a não relatar todos os mistérios ocultos de sua religião. Ao contrário, de todas as outras religiões, no Cristianismo o mistério como empregado em Ef 1.9 não é algo velado, místico, mas aberto a todos aqueles que tiverem sabedoria e discernimento para desvendarem seus segredos. Porém, continua a pergunta quem são esses privilegiados? Os mesmos que, desde o verso três, vêm tratado como recipientes da “bênção celestial”; que o verso 4 os denota como “santos e irrepreensíveis”; o verso 5 como “predestinados... para a adoção de filhos”; verso 6 que são destinados “para louvor da glória de sua graça”; verso 7 aqueles que têm “redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados”. Esses são aqueles que Deus derramou “sabedoria e prudência” para desvendarem todo mistério de Deus.
O mistério de Deus não significa algo que é incompreensível para seus filhos, mas, tão somente, algo que é incompreensível para aqueles a quem Deus não dá sabedoria e discernimento e compreensível para aqueles a quem o dá.
Para o cristão o mistério de Deus é um segredo aberto, disponível, a todos a quem Deus dar sabedoria e discernimento. Dessa maneira, vemos ecoando neste texto as palavras de Jesus em Mt 11.25,26 “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”. Deus só dá a revelar os seus mistérios a quem é do seu agrado. Não é uma questão de inteligência, cultura, status, mas tão somente uma questão do “beneplácito de sua vontade”. Por isso a Escritura diz: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz a Igreja”. Esses que ouvem são as ovelhas do Senhor que “ouvem a minha voz; eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10.27).
É estupendo a obra de Deus na vida do crente. Deus não somente redime o pecador, mas, também, muda sua mente e coração para que compreenda a riqueza de sua graça desvendando seus mistérios. Deus muda o seu interior para que você tendo nova mente e coração não viva mais como filhos das trevas, mas como filhos da luz e assim o nome de Deus seja exaltado através de você.
›› Agradecemos
o autor pelo
envio e permissão da publicação do presente artigo no Monergismo.com.