Eva, a Mãe de Todos

por

Abraham Kuyper



Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Timóteo 2:13,14)


Leia 1 Timóteo 2:9-15

Eva significa “mãe da vida”, ou seja, “mãe de todos os que têm vida”. Eva personifica todo o feminino na raça humana. Nela há escondido, como num grão ou semente, toda a graça e independência de uma mulher, sua susceptibilidade a Satanás, porém também sua susceptibilidade à fé. Adão personifica todo o masculino, e em geral o humano. O mundo hoje zomba da “costela de Adão”, porém graças a este relato, aparentemente absurdo, o crente mais simples da igreja de Deus entende a relação entre os homens e as mulheres melhor do que o mais profundo filósofo, que medita sobre a base de seus preconceitos pessoais.

Eva foi criada de Adão. Adão deve ser considerado como a origem e o fundo do qual ela apareceu. Porém isto não significa que Adão a fez. Ainda que ela tenha procedido dele, foi Deus quem a criou. Por esta razão, ela também, antes de aparecer sobre a terra, existia no pensamento de Deus. Deus a viu, e porque a viu, a criou. Eva é o produto desta criação divina.

Eva nunca foi uma criança, uma filha ou uma jovem. No instante da criação, ela estava diante de Adão no Paraíso, resplandecente e em plena maturidade feminina. Era uma mulher completa, cujas perfeições não eram devidas à cultura ou tradição, mas eram o produto da criação divina. A mulher não tem, pois, motivo para se queixar de não ser um homem, pois ela, como ele, é o resultado da atividade divina. O pensamento de Deus está expresso em seu ser feminino. É verdade que Adão existiu primeiro. Ele foi seu cabeça e a raiz da qual ela procedeu. Porém Adão não era viável sem ela. Estava em necessidade, e ela era a ajuda que necessitava. Deus a criou como uma ajuda para ele. Na realidade, a ajuda e o sustento devem ser mútuos.

Satanás viu imediatamente que Adão podia ser seduzido mais facilmente através de Eva. Satanás reconheceu sua amabilidade e graça, porém também sua fragilidade natural. Ele se deu conta que ela poderia ser tentada. “Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”, diz o apóstolo Paulo. A mulher representa a graça humana em alto grau. O belo na natureza lhe entusiasma mais do que ao homem. Sua sensibilidade é mais viva e impressionável pelo concreto e o atrativo. Não é, instintivamente, menos santa ou mais pecadora. Porém, era mais suscetível à tentação, porque estava constitucionalmente menos adaptada para oferecer resistência do que ele. Porém, não transgrediu sozinho, mas arrastou a Adão, com ela, ao pecado. Ao invés de perdê-la nas mãos de Satanás, Adão se deixou atrair a ele por causa dela. A transgressão de Eva consiste no “pecado com o qual fez Adão pecar”.

Devido a ele, a felicidade de Eva durou muito pouco. Tropeçou em seu primeiro passo. Adão não lhe estendeu a mão para resguardá-la, mas se deixou arrastar com ela. Agora tinha que abandonar este magnífico Paraíso para entrar num mundo de espinhos e abrolhos. A angústia que precede o dar à luz aos filhos afetou seu ser gravemente. Perdeu a confiança em si mesma que Deus lhe havia dado. Agora estaria sujeita ao domínio de outro.

Não sabemos quanto tempo Eva viveu, porém é provável que tenha vivido centenas de anos. Seus dias devem ter sido tediosos e cansativos, ocasionalmente cheios de dor. Havia sido gloriosa um tempo e tinha vivo, durante um curto período somente, na formosura do Paraíso. Ao ver-se lançada num mundo em que nada tinha sido provido para a mulher, deve ter sido um contraste terrível. Eva foi apartada de sua herança. Sua plenitude feminina foi completamente devastada.

Contudo, no profundo da alma desta mulher, Deus semeou a semente de uma fé gloriosa, e por meio dessa, permitiu que se levantasse novamente um céu diante dela. A semente desta mulher tentada haveria de esmagar a cabeça do tentador. Eva concentrou toda sua alma nessa promessa. De fato, quando Caim nasceu dela, supôs que este filho já era a semente prometida e exclamou: “Alcancei do SENHOR um varão”. Pobre Eva! A desilusão que se seguiu a esta esperança, quando depois dos anos a terra absorveu o sangue de Abel, deve ter sido muito amarga.

Não obstante, depois dos séculos, os anjos de Deus reconheceram a semente dessa mulher no Filho de Maria. O Filho de Maria também era o filho de Eva. Nosso privilégio consiste em que possamos reconhecer a este Menino de Belém em sua Manjedoura. Então, talvez relutantes, mas com uma clara esperança, possamos lembrar de Eva. Pensando nela, no Menino e em nós, podemos dizer: Eva, a “Mãe de todos”.


Nota:
Abraham Kuyper (1834-1920), o gênio versátil do Calvinismo Holandês. Autor de mais de 200 livros, muitos deles cobrindo até três ou mais volumes, Kuyper proclamou ao mundo, com uma clareza e uma frescura talvez incomparáveis a seu tempo, a relevância do Calvinismo como o único princípio regulador genuíno para o todo da vida. Advogado, Teólogo, Escritor, Fundador da Universidade Livre da Amsterdã, Ex-Primeiro ministro da Holanda e sobre tudo... Pastor Evangélico.


Fonte:
Women of the Old Testament: 50 Devotional Messages for Women's Groups, Abraham Kuyper.



Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 12 de Novembro de 2005.

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