Devemos orar a Jesus e ao Espírito Santo?

por

Wayne Grudem

Um levantamento das orações do NT indica que elas não são usualmente dirigidas a Deus Filho nem ao Espírito Santo, mas a Deus Pai. Todavia, a mera verificação de tais orações pode ser ilusória, pois a maioria das orações que temos registradas no NT é do próprio Jesus, que constantemente orou a Deus Pai, mas naturalmente não orou a si próprio como Deus Filho. Além disso, no AT, a natureza trinitária de Deus não foi revelada claramente, e não é de surpreender que não encontremos muita evidência de oração dirigida diretamente a Deus Filho ou a Deus Espírito antes do tempo de Cristo.

Embora haja um padrão claro de oração diretamente dirigida a Deus Pai por intermédio do Filho (Mateus 6:9; João 16:23; Efésios 5:20), há outras indicações de que a oração dirigida diretamente a Jesus Cristo também é apropriada. O fato de que foi o próprio Jesus que escolheu todos os outros apóstolos sugere que a oração em Atos 1:24 seja dirigida a Ele: “Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tens escolhido”. O agonizante Estevão ora: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (Atos 7:59). A conversa entre Ananias e o “Senhor” em Atos 9:10-16 é com Jesus, porque no versículo 17 Ananias diz a Saulo: “o Senhor Jesus enviou-me para que você volte a ver...”. A oração “Vem, Senhor” [Maranatha] (1 Coríntios 16:22) é dirigida a Jesus, como a oração registrada em Apocalipse 22:20: “Vem, Senhor Jesus!”. E Paulo também orou ao “Senhor” em 2 Coríntios 12:8 a respeito do seu espinho na carne. [1]

Além disso, o fato de que Jesus é “sumo sacerdote misericordioso e fiel” (Hebreus 2:17) que é capaz de “compadecer-se das nossas fraquezas” (Hebreus 4:15) é encorajamento para virmos ousadamente perante o “trono da graça” em oração “a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hebreus 4:16). Esses versículos devem incentivar-nos a vir diretamente a Jesus em oração, esperando que Ele simpatize com as nossas fraquezas à medida que oramos.

Há, portanto, autorização escriturística suficiente para encorajar-nos a orar não somente a Deus Pai (que parece ser o padrão primário e certamente segue o exemplo que Jesus nos ensinou na oração do Senhor), mas também a orar diretamente a Deus Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ambos os caminhos estão corretos, e, assim, podemos orar tanto ao Pai quanto ao Filho.

Mas devemos orar ao Espírito Santo? Embora nenhuma oração diretamente dirigida ao Espírito Santo tenha sido registrada no NT, não há nada que proíba tal oração, porque o Espírito Santo, semelhantemente ao Pai e ao Filho, é plenamente Deus e, portanto, é digno de oração e poderoso para responder a nossas orações. Ele também se relaciona conosco de modo pessoal, já que é “Conselheiro” ou “Consolador” (João 14:16,26). Os crentes “o conhecem” (João 14:17), e Ele os ensina (cf. João 14:26), dá testemunho a nós de que somos filhos de Deus (Romanos 8:16) e pode ser entristecido pelos nossos pecados (Efésios 4:30). Além disso, o Espírito Santo exerce volição pessoal na distribuição dos dons espirituais, pois “todas essas coisas [os dons], porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer” (1 Coríntios 12:11). Portanto, não parece errado orar diretamente ao Espírito Santo em certas ocasiões, particularmente quando estamos lhe pedindo para fazer algo relacionado a áreas específicas de Seu ministério e responsabilidade. [2] Mas esse não é o padrão do NT e não deveria tornar-se a ênfase dominante em nossa vida de oração.


NOTAS
:

[1] - O nome Senhor (kyrios, no grego) é usado em Atos e nas cartas para referir-se especialmente ao Senhor Jesus Cristo.

[2] - Com respeito à adoração do Espírito Santo, a totalidade da igreja –– católicos romanos, ortodoxos e protestantes –– tem unanimente concordado que ela é apropriada, como afirmado no Credo niceno, elaborado em 381 d.C.: “E cremos no Espírito Santo, Senhor, Doador da Vida, que procede do Pai e do Filho, o qual com o Pai e o Filho juntamente é adorado e glorificado”. De modo semelhante, a Confissão de Fé de Westminster diz: “O culto religioso deve ser prestado a Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo –– e só a Ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outro criatura” (XXI.2). Muitos hinos em uso há séculos dão louvor ao Espírito Santo, tais como o Gloria Patri (“Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito, como era no princípio, agora e para sempre, por todos os séculos. Amém!”) ou como a doxologia (“A Deus, supremo benfeitor, anjos e homens dêem louvor; a Deus, o Filho, a Deus, Espírito, glória dai. Amém”). Essa prática é baseada na convicção de que Deus é digno de adoração, e como o Espírito é plenamente Deus, Ele é digno de adoração. Tais palavras de louvor são uma espécie de oração ao Espírito Santo, e, se elas são apropriadas, parece não haver razão para pensar que outras espécies de oração ao Espírito Santo não sejam apropriadas.


Fonte: Teologia Sistemática , Wayne Grudem, Editora Vida, págs. 179-180.


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