Atentai para a vossa Atitude no Ministério - Parte 1

por

Joel R. Beeke



A mensagem de despedida de Paulo aos presbíteros de Éfeso (Atos 20:18-35) é calorosamente afetuosa, todavia, cheia de advertência solene. Atos 20:28 é o cerne daquela mensagem, e mostra como nós, ministros, devemos sobrepujar atitudes errôneas no ministério com respeito a nós mesmos e a nossa obra. Atos 20:28 diz: “Tende cuidado de vós e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue”.

Paulo dá três diretrizes para considerarmos a medida que enfrentamos oposição no ministério: tende cuidado de vós mesmos, tende cuidado do vosso rebanho e tende cuidado para pastorear a igreja de Deus. Ele reforça cada mandato com persuasões para perseverarmos em nossa obra. “Tende cuidado”, diz Paulo. Pare o que quer que você esteja fazendo. Preste bem atenção. Negue a si mesmo, e considere o que eu digo, pois é muito importante.

Nessa palestra, quero me focar num aspecto da primeira diretriz de Paulo, a saber, que devemos tomar cuidado de nós mesmos com respeito a nossa atitude para com o ministério. Dentro desse tema, quero me focar com você, em nossa necessidade como ministros (1) para lutar contra o orgulho, (2) lidar bem com o criticismo, e (3) desenvolver uma atitude positiva para com o ministério em si.


Lutando contra o Orgulho

Ministros podem desenvolver duas atitudes paralisantes ao ministério: orgulho e pessimismo. Ambos são mundanismo no coração, pois ambos mostram que o mundo não está crucificado em nós.

Deus odeia o orgulho (Provérbios 6:16-17). Ele odeia o orgulhoso com Seu coração, amaldiçoa-o com Sua boca, e pune-o com Sua mão (Salmos 119:21; Isaías 2:12, 23:9). O orgulho foi o primeiro inimigo de Deus. Ele foi o primeiro pecado no paraíso e o último que iremos vencer na morte. “O orgulho é a camisa da alma, vestida no começo e despida no final”, escreveu George Swinnock.

Como um pecado, o orgulho é único. Todo pecado nos coloca contra Deus, mas o orgulho é um ataque direto a Deus. Ele eleva nossos corações acima dEle e contra Ele. O orgulho procura destronar Deus e entronizar o nosso eu.

O orgulho é complexo. “Ele toma muitas formas e molda e cerca o coração como as camadas de uma cebola — quando você tira uma camada, há outra debaixo dela”, escreveu Jonathan Edward.

Nós ministros, que sempre estamos expostos ao público, somos particularmente propensos ao pecado do orgulho. Como Richard Greenham escreveu: “Quanto mais piedoso um homem for, e mais graças e bênçãos de Deus estiver sobre ele, mais necessidade ele terá de orar, pois Satanás estará ocupado contra ele, e porque ele estará pronto para se inchar com uma santidade soberba”.

O orgulho se alimenta de quase tudo: uma bela medida de habilidade e sabedoria, um simples elogio, um período de prosperidade considerável, um chamado para servir a Deus numa posição de prestígio — até mesmo a honra de sofrer pela verdade. “É difícil matar esse pecado de fome, visto que não há quase nada do que ele não possa se alimentar”, escreveu Richard Mayo.

Se pensamos que somos imunes ao pecado do orgulho, deveríamos nos perguntar: Quão dependentes nós somos do louvor dos outros? Estamos mais preocupados com uma reputação de piedade do que com a própria piedade? O que presentes e recompensas de outros nos dizem sobre o nosso ministério? Como respondemos ao criticismo de pessoas em nossa congregação?

Nossos antepassados não se consideravam imunes a esse pecado. “Eu sei se sou orgulhoso; e, todavia, eu não conheço metade desse orgulho”, escreveu Robert Murray M’Cheyne. Vinte anos após a sua conversão, Jonathan Edward gemia por causa das “profundezas insondáveis e infinitas do orgulho” que ainda restavam em seu coração. E Lutero disse: “Eu tenho mais medo do Papa do meu ‘Ego’ do que do Papa em Roma e todos os seus cardeais”.

O orgulho saqueia a nossa obra. “Quando o orgulho tiver escrito o sermão, ele irá conosco ao púlpito”, disse Richard Baxter. “Ele forma nossa tonalidade, anima nossa entrega e tira de nós o que poderia ser desagradável ao povo. Ele nos coloca em busca do vão aplauso dos nossos ouvintes. Ele faz com que os homens busquem a si mesmos e a própria glória deles”.

Um ministro piedoso luta contra o orgulho, enquanto um ministro mundano alimenta-o. “Os homens frequentemente me admiram, e eu fico satisfeito”, disse Henry Martyn, mas, adiciona: “mas eu abomino o prazer que eu sinto”. Cotton Mather confessou que quando o orgulho lhe enchia com amargura e confusão diante do Senhor, “eu me esforçava para ter uma visão do meu orgulho como a própria imagem do Diabo, contrária à imagem e graça de Cristo; como uma ofensa contra Deus, e entristecimento do Espírito Santo; como a coisa mais irracional e tola para alguém que não tem nada singularmente excelente e que tem uma natureza tão corrupta”.

Thomas Shepard também lutou contra o orgulho. Em seu diário, no registro de 10 de Novembro de 1642, Shepard escreveu: “Eu me mantenho em privado para ver a plena glória do Evangelho... e para a conquista de todo o orgulho remanescente do coração”.

Você pode se identificar com esses pastores em sua luta contra o orgulho? Você tem cuidado o suficiente pelos seus irmãos no ministério, para admoestá-los sobre esse pecado? Quando John Eliot, o missionário Puritano, observou que um colega pensava de si mesmo de uma forma muito alta, ele lhe disse: “Estude a mortificação, meu irmão; estude a mortificação”.

Como você luta contra o orgulho? Você entende quão profundamente ele está enraizado em nós, e quão perigoso ele é para o nosso ministério? Nós alguma vez já protestamos contra nós mesmos, como fazia o Puritano Richard Mayo: “Deveria esse homem se orgulhar de ter pecado como tu tens pecado, e por viver com tu tens vivido, e gasto tanto tempo, e abusado de tanta misericórdia, e omitido tantos deveres, e negligenciado tão grandes meios? — que tem entristecido tanto o Espírito de Deus, violado tanto a lei de Deus, desonrado tanto o nome de Deus? Deveria esse homem, que tem tal coração como tu tens, se orgulhar?”.

Se desejamos matar o orgulho mundanos e viver piedosamente em humildade, olhemos para o nosso Salvador, cuja vida, disse Calvino, “foi nada senão uma série de sofrimentos”. Em nenhum outro lugar a humildade foi melhor cultivada do que no Getsêmani e no Calvário. Quando o orgulho te ameaçar, considere o contraste entre um ministro orgulhoso e nosso humilde Salvador. Confesse com Joseph Hall:

Teu jardim é o lugar
Onde o orgulho não pode invadir;
Pois quem ousa entrar ali,
Pronto é inundado em sangue.

E cante com Isaac Watts:

Quando eu olho a maravilhosa cruz,
Na qual o Príncipe da glória morreu;
Meu mais rico lucro eu conto como perda,
E verto em desprezo todo o meu orgulho.

Aqui estão algumas outras formas de lhe ajudar a subjugar o orgulho:

Permaneça na Palavra. Leia, busque, conheça, memorize, ame, ore e medite sobre passagens tais como Salmo 39:4-6, Salmo 51:17, Gálatas 6:14, Filipenses 2:5-8, Hebreus 12:1-4, and 1 Pedro 4:1, tudo em dependência do Espírito. Somente o Espírito pode quebrar as costas do nosso pecado e cultivar humildade dentro de nós, tomando as coisas de Cristo e mostrando-as a nós.

Busque um conhecimento mais profundo de Deus, de Seus atributos e de Sua glória. Jó e Isaías nos ensinam que nada é tão humilhante como conhecer a Deus (Jó 42; Isaías 6). Gaste tempo meditando sobre a grandeza e santidade de Deus em comparação com a nossa pequenez e pecaminosidade.

Pratique a humildade (Filipenses 2:3-4). Lembre-se como Agostinho responde a pergunta: “Quais são as três graças que um ministro mais precisa?”, dizendo, “Humildade. Humildade. Humildade”. Para esse fim, busque uma maior percepção de sua depravação e da atrocidade e irracionalidade do pecado.

Lembre-se diariamente que “o orgulho precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Provérbios 16:18). Veja suas aflições como dons de Deus para te manter humilde. Veja seus talentos como dons de Deus que nunca acrescentam nenhuma honra a você (1 Coríntios 4:7). Tudo o que você tem ou realizou veio da mão de Deus.

Veja o sobrepujar do orgulho como um processo para a vida toda, que te chama para crescer como um servo. Seja determinado em lutar a batalha contra o orgulho considerando cada dia como uma oportunidade esquecer de si mesmo e servir aos outros. Como Abraham Booth escreve: “Não se esqueça que toda a vossa obra é ministerial; não legislativa — que você não é um senhor na igreja, mas um servo”. O ato de servir é intrinsecamente humilhante.

Leia as biografias de grandes santos, tais como Whitefield’s Journals [O Diário de Whitefield], The Life of David Brainerd [A Vida de David Brainerd; N. do T.: No Brasil, publicado pela Editora Fiel], e Spurgeon’s Early Years [Os Primeiros Anos de Spurgeon]. Como Dr. Lloyd-Jones diz: “Se isso não te trouxer para a terra, então eu pronuncio que você é apenas um profissional e sem esperança”. Associe-se também com santos ainda vivos que exemplificam a humildade, antes do que com pessoas arrogantes ou bajuladoras. Associação promove assimilação.

Medite muito sobre a solenidade da morte, a certeza do Dia do Juízo, a vastidão da eternidade, e os estados fixos do céu e do inferno. Considere o que você merece por causa do seu pecado e qual será o seu futuro por causa da graça; que o contraste te humilde (1 Pedro 5:5-7)!

 

 


Dr. Joel R. Beeke é presidente e professor de Teologia Sistemática e Homilética no Puritan Reformed Theological Seminary, e pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation de Grand Rapids, Michigan. Ele também é o editor da revista Banner of Sovereign Grace Truth.

 

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 13 de Novembro de 2005.

 

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