Perigos Sutis ao Ministério Pastoral

por

Rev. Gildásio Reis



Quando fui convidado para escrever este artigo para a nossa Revista PROPOSTA, logo pensei em algo sobre o ministério pastoral. Trata-se de um desejo de compartilhar com meus irmãos e colegas pastores, alguns perigos do ministério, os quais tenho constatado em minha própria caminhada. Como sempre, são sutilezas que procuram desestabilizar e adulterar o nosso pastorado.


1º Perigo: O perigo de envolver-se tanto em atividades que negligenciamos nossa vida devocional .

Penso que na essência, todo pastor deseja grandes mudanças em suas igrejas e daí a quantidade exorbitante de atividades a que nos entregamos todos os dias: aconselhamentos, visitas, escrever artigos, fazer ligações telefônicas, preparar estudos e sermões, separar tempo para planejar, reunir-se com a liderança, etc...

Obviamente, existe por trás deste excesso de atividades uma cultura – nosso mundo é voltado para o sucesso. Em razão disso, em nossas muitas atividades eclesiásticas somos cada vez mais dominados por superlativos. Orgulhamos por ter uma grande Igreja, um grande coral, um grande...

Conscientemente ou não, corremos atrás de atender a um modelo ideal de pastor estigmatizado por esta cultura do sucesso que é aquele líder que está sempre ocupado, sem tempo para mais nada. Se estar atarefado é ser importante, então preciso estar atarefado . Tornamo-nos daí pastores compulsivos, onde nossa identidade pastoral passa a ser derivada de nossas atividades. Sutilmente somos enganados, e por fazermos parte de uma sociedade competitiva, constantemente temos que provar o nosso valor, a nossa utilidade, e para tanto, procuramos nos manter sempre ocupado. Abro aqui um parêntesis para recomendar a leitura do livro de Henry Nouwen “ No Nome de Jesus” , onde o autor fala de três tentações mais comuns no ministério pastoral: ser relevante, ser espetacular e ser poderoso. Mas voltando; como evitar cair na armadilha do excesso de atividades? A resposta é a mais simples possível: Precisamos praticar um tempo a sós com Deus. Parece uma ousadia falar assim aos pastores, mas aqui falo também como pastor - em nossa vida agitada e cheia de atividades temos fracassado em separar tempo para a solidão afim de aprofundarmos nossa vida espiritual. Solidão é o remédio contra o ativismo pastoral. Cito Henry Nouwen quando ele afirma que na solidão, descobrimos que ser é mais importante que ter e que valemos muito mais que o resultado de nossos esforços.

Aprendemos com nosso Senhor Jesus em Lucas 5:15,16, que a ação interna (oração) tem precedência sobre a ação externa (proclamação). O v.15 nos informa que muitas pessoas procuravam a Jesus para serem curadas por ele e o v.16 afirma “ele porém se retirava para lugares solitários e orava”. Jesus percebeu o perigo e não caiu na armadilha de se entregar ás atividades, negligenciando sua vida devocional.

O pastor que imita as ações e a pregação de Jesus, sem, ao mesmo tempo, imitar sua vida profunda de oração, são um prejuízo para a fé e um empecilho para o crescimento da igreja.

Nós pastores insistimos com nossas ovelhas sobre a necessidade delas terem um tempo a sós com Deus. Mas não podemos nos esquecer que somos ovelhas também, e que ter uma vida profunda de oração não perde o seu valor quando somos ordenados ao ministério.


2º Perigo : O perigo de reduzir a funções e projetos a pessoas que Deus nos mandou pastorear.

Corremos o perigo de abandonarmos nossa função como pastor, deixando de pastorear pessoas, e nos tornamos administradores e secretários de Igrejas. Começamos a medir o sucesso no ministério pela popularidade de nossos projetos, dos terrenos que a igreja adquiriu, das reformas feitas na estrutura física da igreja durante nosso pastorado ali, do formato novo do boletim informativo, etc... Quando olhamos para o ministério de Jesus, verificamos que ele passou mais tempo cuidando de pessoas e conversando com elas do que em qualquer outra coisa. Jesus não era inclinado à programas, mas à pessoas. Diferentemente de nós que somos movidos para a produção.

Não me entendam mal. A princípio não há nada de errado em tudo isto; o perigo é sutil. Neste processo da secularização da igreja, movida á produção, homens e mulheres com quem vivemos e trabalhamos podem se tornar meros objetos. Pouco a pouco todos se transformam em instrumentos de trabalho. Sob a pressão de que estão trabalhando para Jesus, usamos estas pessoas como empregados para cumprirem uma missão que nem sempre é de Deus e sim do pastor.

Talvez devêssemos perguntar: Como posso saber se estou sendo bem sucedido no cumprimento de meu ministério? Creio que Efésios 4:11-15 delineia qual é a expectativa de Deus para nós pastores – Dentre algumas das medidas de sucesso em nosso ministério, está o fato de que precisamos preparar pessoas para o ministério. Para fazer isto preciso gastar tempo com as pessoas – ajuda-las, ouvi-las, aconselha-las, etc... Pessoas são a razão de nosso ministério. Precisamos ser lembrados que fomos chamados para pastorear e não para administrar. Para isto é que existem presbíteros regentes e docentes. Nós pastores precisamos pastorear, dedicar tempo ás nossas ovelhas para visitá-las e orienta-las espiritualmente. Deixe a administração com o presbítero regente.


3º Perigo: O perigo de se afastar tanto do mundo que perdemos a consciência de que o mundo é nossa paróquia.

Quando nos tornamos pastores, a “ exigência” é que devemos nos retirar do mundo e nos entregarmos ao trabalho de uma instituição religiosa que se dedica a seus próprios assuntos, seguindo seu próprio cronograma e agenda. Erroneamente, vemos o mundo como algo mal, um inimigo ou um competidor de nossa espiritualidade.Assim, nos enfiamos nos trabalhos da Igreja que consomem todo nosso tempo e energia e cada vez menos nos interessamos pelo mundo lá fora.

É surpreendente ver que Jesus não agiu desta maneira. Em Mateus 9:36 lemos que Ele andava pela cidade e vendo as pessoas compadecia-se delas porque eram como ovelhas sem pastor . Eram pessoas aflitas. Aflitas por falta de trabalho, medo da violência, sem acesso a uma boa escola e inseguras quanto ao dia seguinte. Eram pessoas exaustas, talvez pela sobrecarga de trabalho, não ter tempo para o lazer ou por causa dos problemas do dia-a-dia. O texto ainda fala que eram pessoas sem rumo na vida. Pessoas com crises no casamento, problemas com os filhos, na vida profissional, emocional e existencial.

Nós pastores precisamos seguir o exemplo de Jesus e olhar para a nossa cidade, para o nosso bairro e ter uma proposta pastoral para estas pessoas aflitas, exaustas e sem rumo na vida. Nosso ministério corre o perigo de ser exercido basicamente dentro da Igreja. Creio que já está na hora de desenvolve-lo “fora da igreja” também. De tanto se afastar do “mundo”, nossa linguagem vai se tornando “igrejeira” e quem é de fora entende muito pouco do que falamos.

Creio que para evitar que nosso pastorado seja adulterado, precisamos buscar a “paz da cidade” ( Jr 29:7 ) e para tanto é mister nos envolvermos com ela. Se faz necessário construir relacionamentos, estabelecer amizades e se identificar com as pessoas da comunidade, sejam crentes ou não. Nossa espiritualidade pastoral não pode ser desenvolvida apenas dentro da igreja; precisamos, por exemplo, fazer parte da sociedade amigos de bairro, visitar a Câmara Municipal, o prefeito da cidade, nos envolver em atividades promovidas pelas pessoas da vizinhança, etc... Imagine se Jesus fosse o pastor de sua igreja! Por onde você acha que ele andaria? Quem ele visitaria ? Se formos bem honestos, teremos que duramente admitir que ele andaria pela nossa cidade, visitando asilos, hospitais, lanchonetes, prisões, os vizinhos que moram próximos á igreja, etc...Ele não resumiria seu ministério apenas aos salvos.

Nas palavras de Eugene Peterson “quando o trabalho que executamos para Jesus como pastores esmaece nossa consciência do mundo, afasta dele o foco de nossa atenção, colocamo-nos em competição contra ele, ou, simplesmente leva-nos a evita-lo, podemos dizer que nossa ordenação foi adulterada”.


A título de aplicação daquilo que foi dito aqui, penso que temos que responder a três perguntas:

1)  Quais são as atividades que você tem durante a semana em que você se coloca na presença de Deus na perspectiva de ovelha, de filho e não de um funcionário da igreja?

2)  Quem são as pessoas que estão sendo afetadas pela sua vida? Pela convivência espiritual com você?

3)  Quais os lugares, ambientes que você freqüenta e pessoas com quem se relaciona que facilitam sua ação como sal da terra e luz do mundo?

 


Rev. Gildásio Reis, Pastor da Igreja Presbiteriana de Osasco, Psicanalista Clínico, Mestre em Teologia pelo centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (Educação Cristã) e Professor de Teologia Pastoral no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição.

Agradecemos ao autor pelo envio do texto para publicação no Monergismo.com!



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