O Ensino da Igreja Primitiva
Para determinar como a igreja Primitiva interpretou as doutrinas bíblicas do pecado e da salvação, consideraremos as verdades cardinais apresentadas por Agostinho. Nós organizamos abaixo os pontos fundamentais.
A Doutrina Agostiniana do Pecado
1. Cada um de nós é consciente do pecado. Nós nos reconhecemos como culpados e impuros. Nós somos influenciados pela justiça de Deus, e somos ofensivos à santidade de Deus.
2. Nós somos culpados e impuros, tanto por causa dos nossos atos deliberados de transgressão, como também pelas afeições, sentimentos e emoções pecaminosas. Este senso de pecado se une não somente a estes estados de mente positivos e conscientemente ativos, mas também à mera ausência de afeições justas. Por exemplo, dureza de coração, falta de amor; falta de humildade; falta de fé; ou falta de qualquer outra graça ou virtude cristã, é pecado.
3. Até onde a consciência se estende, nós reconhecemos que temos sempre sido pecadores.
4. Somos convencidos que, de nós mesmos, não temos nenhum poder para mudar nossa natureza moral corrupta, ou nos fazer santos. Nossa liberdade, ou livre-arbítrio, nos dá liberdade para pecar, mas não nos dá a liberdade para viver justamente. Somos escravos do pecado, e da injustiça. A habilidade para viver justamente — de uma maneira agradável a Deus — vem somente como um dom da graça de Deus.
3. Somos conscientes que o pecado não é um ato necessário. O pecado tem sua origem no livre-arbítrio do homem, e deve, portanto, ser voluntário. O pecado é voluntário no sentido que: (a) Ele tem sua origem num ato da vontade; (b) Ele tem seu princípio na vontade do homem; (c) Ele consiste na determinação da vontade para fazer o mal.
6. Todos os homens mostram-se pecadores. Todos dão evidência de pecaminosidade, tão longo eles dão evidência de razão. Eles não somente se mostram como transgressores da lei de Deus; eles também se mostram como espiritualmente mortos: destituídos de toda evidência de vida espiritual. Eles são os escravos voluntários do pecado — inteiramente incapazes de se livrarem por si mesmos do seu cativeiro à corrupção. [1]
A Doutrina Agostiniana da Salvação
Do exposto acima, segue-se isto:
1. Se os homens hão de ser salvos, isto não pode ser por seus próprios méritos, mas somente através do amor imerecido de Deus.
2. A regeneração da alma deve ser a obra exclusiva e sobrenatural do Espírito Santo. O pecador não pode nem efetuar esta obra por si mesmo, nem cooperar em sua produção. Em outras palavras, a graça é certamente eficaz ou irresistível.
A salvação é da graça, ou da misericórdia soberana de Deus:
Portanto, Deus poderia ter justamente deixado os homens perecer em sua apostasia, sem qualquer provisão para sua redenção.
Portanto, os homens — sendo destituídos do poder de fazer qualquer coisa santa ou meritória — não podem alcançar a sua justificação pelas obras, mas a mesma deve ser uma questão de favor de Deus.
Portanto, a salvação depende — não da vontade das pessoas salvas — mas do bom prazer de Deus. Somente aqueles a quem Deus chama serão feitos participantes da redenção de Cristo. Em outras palavras, a eleição para a vida eterna é encontrada no prazer soberano de Deus, e não nas boas obras previstas.
3. A perseverança dos santos é assegurada. Visto que Deus, de Seu próprio bom prazer, elegeu alguns para a vida eterna, eles não podem decair da salvação. Uma vez salvos, eles não podem se perder. [2]
NOTAS:
[1] - Esta seção foi baseada em C. Hodge, Systematic Theology, Vol. 2 [Grand Rapids: Eerdmans, 1871, 1977 reprint], p. 159-160.
[2] - Esta seção foi baseada em C. Hodge, op. cit., Vol. 2 [Grand Rapids: Eerdmans, 1871, 1977 reprint], p. 160-161.
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 24 de Junho de 2005.