Graça e Perseverança: A Salvação & Sua Segurança

por

R. K. McGregor Wright



Para que um ser racional realize certos fins, é necessário que toda uma cadeia de causas e efeitos se junte de uma forma coerente. Primeiro, o propósito a ser realizado deve ser concebido. Então, os materiais para o projeto devem ser obtidos ou tornados disponíveis. A seguir, uma cadeia de causas coincidentes à realização de tal fim deve ser projetada. Finalmente, cada causa deve ser seqüencialmente efetuada ou feita de modo que o fim ou o plano seja realmente cumprido.

Deus é esse tipo de ser racional. A Bíblia deixa claro que ele planejou o mundo desde a eternidade e inteiramente de acordo com a sua natureza (os teólogos chamam isso de decreto divino). Então Deus criou o cosmos como o estágio material para o drama que se desenvolveria na História. Desse modo, o seu propósito eterno de glorificar-se a si mesmo pela salvação dos eleitos e pelo juízo dos incrédulos seria cumprido. Por sua providência, ele assegurou depois cada causa e efeito, tendo em vista tanto a totalidade como cada detalhe em direção ao fim pretendido. Ele não permite que nada aconteça por acaso, ou de forma errada. Ele não tem necessidade alguma de fazer experiências com possibilidades abstratas: "Eu sou Deus, e não há nenhum outro além de mim… que declaro e portanto sei o fim desde o começo" (Is 46.9-10). Quem, então, pode razoavelmente duvidar que Deus realmente atingirá os resultados que ele pretendeu quando criou o mundo? Se você tem qualquer sombra de dúvida a respeito disso, eu lhe recomendo examinar cuidadosamente a opinião do profeta Isaías, observando especialmente os textos como 40.10, 13-14, 25-26, 28; 41.4, 20-23; 42.5, 8-9; 43.1-7, 13; 44.6-8, 24-28; 45,5-7, 18-25; 46.8-13; 48.3; 55.6-11.

É inimaginável que este profeta tivesse o pensamento de que os planos de Jeová pudessem ser frustrados por qualquer alternativa humana. Sem dúvida, o pecado interrompe os propósitos de Deus em um compreensível sentido temporal, mas não pode desviar ou evitar o seu cumprimento final. Quando dizemos que "Deus é um ser racional", não estamos querendo dizer que nossa consciência humana finita possa compreender ou abarcar tudo o que ele é ou faz. Nem queremos dizer que temos um direito natural de conhecer cada coisa que Deus está fazendo ou por que ele faz o que faz. Deus não está sob qualquer obrigação de dizer-me tudo o que eu quero saber. Por racionalidade de Deus queremos dizer que Deus não se contradiz, tanto em suas relações internas como em sua Palavra revelada (2Tm 2.13; Tt 1.2; Hb 6.18; 1Jo 2.7). Também queremos dizer que é a coerência racional interna de Deus que é o padrão último daquilo que é razoável, não a mente humana autonomamente dirigida. Segue-se necessariamente que quando Deus planeja fazer alguma coisa, ele designa os meios de tal modo que ele é coincidente, ou correspondente com o fim a ser atingido. Deus não designa um meio que falha em ter a sua vontade feita.


A Glória de Deus

A razão última para criar o mundo em vez de não se incomodar e não criar nada é dada de forma clara na Bíblia. Por exemplo, o livro do Apocalipse afirma: "…porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas" ( 4.11). O grande teólogo Jonathan Edwards escreveu um ensaio bastante meticuloso sobre esse assunto chamado A Dissertation on the End for Which God Created the World. Esse fim é, naturalmente, a manifestação da glória de Deus a um outro ser, e para isso é necessária uma criação finita. Edwards menciona Isaías 43.1-7, 48.11; 60.21; Romanos 11.36; 1Pedro 4.11, e aquelas passagens nas quais algo é feito "por amor de seu nome", que são tomadas por Edwards como sinônimas da glorificação de Deus. O que se quer dizer, então, quando se diz que algo existe "para a glória de Deus"?

A palavra usada para glória no Antigo Testamento é kabod, que originalmente significava "densidade", "importância" ou "significância". Posteriormente, passou a significar magnificência quando aplicada a objetos tais como o Sol ou os símbolos da realeza exibidos por um rei. A partir daí, ela pode ser usada para descrever o aparecimento magnificente de um anjo ou o fulgor do próprio Deus, como numa visão. Portanto, glorificar alguma coisa significa acrescentar algo à sua magnificência ou exibir favoravelmente seus atributos. Especificamente, glorificar a Deus é expressar seus atributos de importância e grandeza pela obediência e adoração. Essa atitude envolve conhecer com precisão o que eles são.

A palavra do Novo Testamento traduzida como "glória" é doxa, que possui dois significados no grego. O primeiro é "opinião", um significado nunca usado no Novo Testamento, mas que é comum na literatura grega. A palavra vem da raiz de uma outra palavra que significa "parecer" ou "aparecer", porque as opiniões de uma pessoa são controladas pelo modo como as coisas parecem ser. O segundo significado foi traduzido para o latim como glória, que significa "uma aparição magnificente", como a do Sol ou a de um rei em suas vestes reais. Quando usada em referência à reputação de alguém, essa palavra significa "importância", "grandeza", "renome" ou "significância". Portanto, "glorificar a Deus" significa exibir ou expressar a grandeza dos atributos de Deus na criação, normalmente pela adoração e obediência. Visto que o mais alto elemento da criação é nossa natureza humana feita à imagem de Deus, nós somos a parte da criação que glorifica a Deus mais do que tudo.

Quando a Bíblia fala da criação "glorificando a Deus", ela quer dizer que os atributos e a significância de Deus estão sendo exibidos pelos elementos ou eventos na própria criação, freqüentemente pelo louvor. A frase "para a glória de Deus" significa, portanto, "para a exibição e expressão dos atributos de Deus" no cosmos finito, especialmente no desenvolvimento da história da redenção humana do pecado, "coisas que os anjos andam perscrutar" (1Pe 1.12). Uma parte importante da adoração é o desfrutar da contemplação dos atributos divinos e o modo como eles têm sido exibidos, dando significado ao povo de Deus durante o drama da redenção. A tarefa do teólogo é, portanto, extremamente importante em elucidar esses atributos, bem como ensinar ao povo de Deus o que eles significam.


Deus não Precisava Criar

Visto que as três Pessoas da Trindade exaurem o conceito de ser e de consciência (porque não há menos ou mais de Deus em cada Pessoa do que em outra), Deus desfrutou um perfeito amor e comunicação dentro do seu próprio ser na eternidade. Isto é, antes de ter criado, Deus não precisava de alguém para amar, porque era inteiramente auto-suficiente. As três Pessoas da Trindade estavam satisfeitas com o amor e a existência de cada uma das outras. Antes do que criar para satisfazer uma necessidade ou deficiência em si mesmo, Deus criou o cosmos finito a fim de expressar os seus atributos para e por causa dos seres finitos.

A criação foi de fato um ato de amor. Como criaturas, somos os recipientes deste ato de amor gracioso que se estendeu para além do ser de Deus. Novamente podemos perceber que isso foi um ato unicamente da vontade de Deus, não em razão de uma necessidade interna residindo em seu ser. Em outras palavras, Deus é supremamente um ser livre. Livre aqui não significa uma liberdade caprichosa do acaso, que não é causada, mas uma vontade livre para agir criativamente em harmonia com todos os outros atributos de Deus. O livre-arbítrio de Deus é uma expressão do seu caráter divino. Por sua vez, isso significa que, uma vez conhecendo algo de seus atributos, tal Deus pode ser confiável. Podemos ter fé em Deus porque ele é fidedigno – seus atributos são racionalmente coerentes.


[…]

 

 

Fonte: Extraído de A Soberania Banida. Editora Cultura Cristã, 1998.

 


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