Hebreus 10:26-31 e a Possibilidade de Apostasia

por

Dr. Sam Storms

 


Aqui, nosso autor descreve alguém que continua em pecado habitualmente depois de receber o conhecimento da verdade. Esta última expressão significa não mais que eles ouviram e entenderam o Evangelho, e deram assentimento ou concordância mental a ele. Tragicamente, muitas pessoas ouvem as Boas Novas, e comprometem-se a moldar suas vidas pela ética de Jesus e de acordo com os padrões e vida de uma igreja local, sem nunca experimentarem a regeneração e colocarem sua confiança pessoal em Cristo para a salvação. Elas então voltam as costas ao que ouviram e entenderam, e aberta e desafiadoramente repudiam aquilo como falso. Existem teólogos e comentaristas bíblicos não-salvos, cujo conhecimento da verdade do Cristianismo, ao menos em termos de dados objetivos, é maior e mais claro que o de alguns verdadeiros crentes. Sobre este assunto, veja 2 Pedro 2.20-21.

Mas a frase problemática nesta passagem está no v.29, onde é falado sobre aquele que profanou o sangue da Aliança pela qual foi santificado. Isto significaria um genuíno cristão? Aqueles que afirmam a segurança eterna nos trazem duas interpretações possíveis.


Primeiro, alguns sugerem que aquele que é santificado é na verdade Jesus, não o apóstata. Isto é gramaticalmente possível. É também teologicamente possível, João 17.19 fala de Jesus santificando a si mesmo. Devemos nos lembrar que santificar pode significar ser colocado à parte para um propósito especial ou uso, sem a noção de pecado envolvida. Veja uma linguagem e pensamento semelhante em Hebreus 2.10; 5.7-9; 9.11,12. Noel Weeks argumenta que:

o argumento inteiro do autor tem sido enfatizar que Jesus preencheu todos os requisitos de um Sumo Sacerdote. Há uma analogia entre as ordenanças araônicas e o sacrifício de Cristo. Também é razoável sugerir que, como Arão foi consagrado pelo sangue do sacrifício (Ex 29), então Jesus foi consagrado como Sumo Sacerdote por meio da oferta de Seu próprio sangue ( WTJ , 39 [ Fall 1976], 80).

 

Segundo, Wayne Grudem e outros sustentam que a palavra santificado não precisa se referir à purificação moral interna que vem com a salvação, porque o termo hagiazo tem uma definição maior do que isso, tanto em Hebreus quanto no Novo Testamento em geral (177). Grudem aponta Hb 9.13 como um exemplo onde a palavra refere-se a tornar alguém cerimonialmente limpo, mas não necessariamente de forma espiritual (ou salvificamente) limpo. Veja também 1 Co 7.14; Mt 23.17-19; 1 Tm 4.5. O contexto em Hebreus 10 parece suportar esse ponto de vista, pois nosso autor está concentrado em paralelos entre o sacrifício levítico do AT e o superior sacrifício de Cristo na Nova Aliança. Grundem diz:

o autor de Hebreus sabe que alguns podem cair, mesmo que eles reunam-se com a congregação dos crentes e então participem deste grande privilégio de vir à presença de Deus [veja 10.19-22]. Assim, ele diz, “não negligenciando o congregar-se, como é o hábito de alguns, mas encorajando um ao outros” (10.25). A razão para encorajar uns aos outros é a advertência em 10.26: “Porque, se pecamos deliberadamente depois de receber o conhecimento da verdade”. Em um contexto como esse, é apropriado entender “profanou o sangue da aliança com que foi santificado ” como com que foi lhe dado o privilégio de vir perante Deus com a congregação do povo de Deus. Neste sentido, o sangue de Cristo abriu um novo caminho de acesso a Deus para a congregação. Isto os santificou em um paralelo ao sentido cerimonial do Antigo Testamento, e esta pessoa, por associar-se com a congregação, também foi santificada neste sentido: ele ou ela tiveram o privilégio de apresentar-se a Deus em adoração (178)

 

Alguém que experimentou este privilégio e oportunidade maravilhosa, somente para depois repudiar a Pessoa e a obra de Cristo, por meio de quem isto foi possível – só pode esperar julgamento. Consistente com isto, nosso autor então continua, ao distinguir entre dois grupos em 10.39. Existem, de um lado, aqueles que não têm a fé salvífica e eventualmente caem (retiram-se para a perdição) em destruição. Por outro lado, há aqueles que têm a fé salvífica e por isso perseveram para a conservação da alma. Ele não imagina um terceiro grupo: aqueles que têm fé salvífica e depois caem.


Traduzido por: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.
Revisado por: Felipe Sabino de Araújo Neto
11 de Abril de 2005.



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