A Preservação dos Santos

por

Vincent Cheung



INTRODUÇÃO

Nosso tópico é a doutrina reformada da perseverança ou preservação dos santos. No estudo de teologia, ele está inclusa em soteriologia. Ela é o último item no “Os Cinco Pontos do Calvinismo”, designada pelo “P” no acrônimo TULIP, referindo-se à “perseverança dos santos”. Resumidamente, a doutrina assevera que uma vez que uma pessoa se torna um cristão verdadeiro, ela nunca se afastará, de uma maneira verdadeira e final, da sua fé, e que ele nunca se tornará novamente, de uma maneira verdadeira e final, um não-cristão. Portanto, uma vez que uma pessoa verdadeiramente se converte e se torna um cristão, ela certamente será salva.


EXPRESSÕES TEOLÓGICAS

Este ensino é designado por diversas expressões diferentes. Embora algumas possam ser melhores do que outras, no sentido em que contém mais informação sobre a doutrina, todas elas são acuradas, e cada uma delas carregam implicações teológicas importantes.

Segurança Eterna

O termos “segurança eterna” sugerem que a salvação do crente está a salvo – ela não está em perigo, e não será tomada.

Embora a palavra “segurança” aponte o resultado final, ela não nos diz, pela vontade de quem, por qual poder, em que estado, e por quais meios a salvação do crente está segura e guardada a salvo; todavia, a palavra é acurada até onde ela aborda o assunto.

Quanto a palavra “eterna”, se ela for entendida como denotando uma duração sem fim, então, ela é sinônimo de “para sempre” e, então, enfatiza a natureza perpétua da segurança do crente. Ela não é algo que dura por um tempo e então se dissipa; ela é algo que durará para sempre.

Embora algumas pessoas tenham em mente principalmente esta ênfase, quando usando a expressão, seu significado torna-se ainda mais rico se entendemos também a palavra “eterna” como se referindo ao decreto eterno de Deus na eleição. Isto é, “eterna” pode também se referir ao decreto soberano e imutável de Deus, numa eternidade atemporal, para a salvação dos Seus eleitos. Em outras palavras, a salvação de um crente está para sempre segura porque, na eternidade, Deus decretou a salvação deste indivíduo.

 

Uma Vez Salvo, Sempre Salvo

Outra descrição popular desta doutrina é “uma vez salvo, sempre salvo”. Ela claramente transmite a idéia de que uma vez que uma pessoa foi salva, sua salvação continua imutável e ininterrupta para “sempre”.

Novamente, embora esta descrição seja acurada até onde ela aborda o assunto, ela não nos diz pela vontade de quem, por qual poder, em que estado, e por quais meios a salvação do crente perpetua, uma vez que ela tenha começado. A descrição não contém, em si mesma, qualquer informação que possa contra-atacar as falsas acusações que são freqüentemente lançadas contra esta doutrina.

Em adição, a expressão, em si mesma, é muito ampla para excluir versão anti-bíblicas da doutrina. Por exemplo, algumas pessoas afirmam que uma vez que uma pessoa tenha professado o Cristianismo, então ela está “salva”, e ela nunca perderá sua salvação, a despeito das suas crenças e ações subseqüentes. Contudo, esta não é a versão bíblica do “uma vez salvo, sempre salvo”.

 

A Perseverança dos Santos

Calvinistas freqüentemente empregar a expressão “a perseverança dos santos”, quando se referindo à doutrina.

Em algumas formas, esta expressão é superior às duas anteriores. Primeiro, ela inclui mais informação relevante, visto que ela declara, não somente o resultado, mas também o estado no qual a salvação de um crente permanece seguro. Especificamente, ela transmite a idéia de que um crente persiste, espiritualmente e moralmente, na condição convertida. Ela implica que ele enfrenta tentações e dificuldades em seu caminhar com Deus, mas que ele “persevera” através destes desafios.

Esta expressão, além do mais, contra-ataca o mal-entendimento de que uma vez que uma pessoa professe o Cristianismo, ela pode abandonar a sua fé e retornar permanentemente ao pecado, e ainda assim será salva. Ao invés disso, esta expressão aponta que uma pessoa que foi salva, permanece salva, visto que ela persevera contra as tentações e dificuldades.

Todavia, esta expressão ainda permite mal-entendimento e distorções. Embora ela nos diga em que estado um crente salvo permanece, ela não nos diz pela vontade de quem, por qual poder, e por quais meios ele persevera. Ela deixa espaço para alguém pensar que, uma vez convertido, um crente então tem, dentro de si mesmo, a vontade e o poder para sempre perseverar através de todas as tentações e dificuldades, mesmo se ele não possua esta disposição e capacidade antes da conversão. Esta ainda não é a versão bíblica da doutrina. Certamente, a expressão não necessita esta distorção, mas nem diretamente a exclui.


A Preservação dos Santos

Talvez a melhor expressão para descrever a doutrina seja “a preservação dos santos” – ela é rica em conteúdo, e bíblica na ênfase.

Como todas as expressões anteriores para esta doutrina, esta nos diz algo sobre o resultado final, que um crente permanecerá salvo para sempre. Mas ela nos diz muito mais do que isto. Assim como “perseverança dos santos”, a idéia de “preservação” implica que o crente permanecerá, verdadeiramente e finalmente, na condição positiva espiritual e moral que a regeneração produziu nele.

Em adição, ela nos diz que a razão de um crente perseverar em seu estado regenerado e convertido é porque ele é “preservado”. Isto implica a dependência contínua do crente da graça de Deus, e que um crente permanece salvo por causa da vontade e do poder de Deus, e não por causa da vontade e poder do homem. Além do mais, ser “preservado” implica que a pessoa é protegida contra influências e forças hostis, e, portanto, carrega a idéia de que o crente continua a enfrentar tentações e dificuldades após a conversão, e que Deus o preserva, para que sua fé não desfaleça.

Portanto, esta expressão tem a vantagem de incluir muita informação relevante, se não por afirmação direta, então pelo menos por implicação. Ela honra a obra de Deus, exclui a vanglória do homem, e reflete a ênfase bíblica sobre a graça soberana e sobre o poder ativo de Deus durante toda a salvação do eleito, desde a conversão até a consumação. Certamente, esta expressão ainda não diz tudo que podemos e devemos dizer sobre a doutrina. Ela não enfatiza adequadamente e igualitariamente todos os seus aspectos, e nem exclui diretamente todas as distorções e má representações. Também, ela não nos fala sobre os meios pelos quais Deus usa para nos preserva, exceto a implicação que ela envolve seu poder ativo. Todavia, para uma expressão curta, esta é provavelmente a melhor, visto que é a mais centrada em Deus, e que se refere a todos os aspectos relevantes desta doutrina, pelo menos por implicação.

 

CONFISSÕES REFORMADAS


Visto que o nosso interesse atual é o entendimento Reformado da preservação dos santos, é apropriado examinar várias confissões Reformadas. Estes documentos no fornecem expressões históricas, oficiais e sistemáticas da fé Reformada. Todas as confissões que se seguem contêm algumas declarações que são relevantes para a doutrina.


A Confissão Escocesa

Começaremos olhando para a Confissão Escocesa de 1560. Escrita principalmente por John Knox, ela não contém nenhuma seção estritamente endereçada à preservação dos santos; contudo, os parágrafos seguintes, dos capítulos XII e XIII, são suficientes para estabelecer uma clara posição sobre o assunto:

XII. Para deixar isto ainda mais claro: como de boa vontade renunciamos a qualquer honra e glória pela nossa própria criação e redenção, assim também o fazemos pela nossa regeneração e santificação, pois por nós mesmos nada de bom somos capazes de pensar, mas só aquele que em nós começou a obra nos faz continuar nela, para o louvor e glória de sua graça imerecida.

Este é um excelente lugar para começar, pois mostra que a visão Reformada da preservação dos santos está integrada dentro do contexto do padrão geral da soteriologia bíblica. Isto é, a soteriologia bíblica apresenta a salvação como algo que verdadeira e completamente vem de Deus, e que ela se desenvolve nas vidas dos escolhidos de uma tal forma que exclui toda vanglória humana.

Porque os homens são completamente depravados e incapazes, somente pela graça e pelo poder soberano de Deus, que os eleitos são regenerados –– é Deus quem deve começar Sua boa obra em nós. Então, é só Ele quem “nos faz continuar nela, para o louvor e glória de sua graça imerecida”. Observe que é “só” Ele quem nos faz continuar, de forma que nenhum crédito seja atribuído ao homem. Tanto a conversão como a santificação dependem completamente da graça soberana.

XIII. Assim, confessamos que a causa das boas obras não é nosso livre arbítrio, mas o Espírito de Jesus, nosso Senhor, que habita em nossos corações pela verdadeira fé, produz as obras, quais Deus as preparou para que andássemos nelas. Por isso, com toda a ousadia afirmamos que é blasfêmia dizer que Cristo habita nos corações daqueles em quem não há nenhum espírito de santificação. Portanto, não hesitamos em afirmar que os assassinos, os opressores, os cruéis, os perseguidores, os adúlteros, os fornicários, os idólatras, os alcoólatras, os ladrões e outros que praticam a iniqüidade, não têm nem verdadeira fé, nem qualquer porção do Espírito do Senhor Jesus, enquanto obstinadamente continuarem na impiedade. Pois, logo que o Espírito do Senhor Jesus, a quem os escolhidos de Deus recebem pela verdadeira fé, toma posse do coração de alguém, imediatamente ele regenera e renova esse homem, que assim começa a odiar aquilo que antes amava e a amar o que antes odiava...Mas o Espírito de Deus, que dá testemunho junto ao nosso espírito de que somos filhos de Deus, leva-nos a resistir aos prazeres imundos e a suspirar na presença de Deus pelo livramento desse cativeiro da corrupção, e finalmente a triunfar sobre o pecado, para que ele não reine em nossos corpos mortais. Os homens carnais não têm esse conflito, pois são destituídos do Espírito de Deus, mas seguem e obedecem com avidez ao pecado, sem nenhum pesar, estimulados pelo Diabo e por sua cupidez depravada. Os filhos de Deus, porém, como antes foi dito, lutam contra o pecado, suspiram e gemem quando se sentem tentados à prática do mal; e, se caem, levantam-se outra vez com arrependimento não fingido. Eles fazem estas coisas não pelo seu próprio poder, mas pelo poder do Senhor Jesus, sem quem nada podem fazer.

O capítulo XIII continua a estabelecer boas razões teológicas para a integração da preservação dos santos com uma visão coerente e bíblica de soteriologia. Ela declara que uma transformação interior real ocorre na pessoa, na regeneração. O crente então continua em sua nova direção espiritual, pois ele não é mais como era antes. Regeneração não é simplesmente uma experiência de curta duração, após a qual a disposição espiritual da pessoa permanece incerta; antes, ela é uma transformação fundamental e permanente causada e sustentada pelo Espírito de Deus, que agora habita o crente.

Isto não significa que a regeneração imparte no crente um novo poder, no sentido de que ele agora funciona para produzir o bem espiritual aparte da graça e do poder contínuo de Deus. Esta Confissão explicitamente nega que uma pessoa produza boas obras por qualquer “livre-arbítrio” humano, mesmo após ele ter sido regenerado.

Em vez disso, ela diz que “a causa das boas obras” nos crentes é “o Espírito do Senhor Jesus”, que habita em nós através da fé, que é também um dom de Deus. Em adição, as próprias boas obras que realizados foram “preparadas para nós” por Deus. Isto nos mostra que a pré-ordenação de Deus, Seu decreto eterno, não pré-determinou somente nossa conversão, mas também nossa santificação.

Não é como se Deus tivesse pré-determinado que seríamos salvos, e então deixasse os eventos subseqüentes incertos. Em vez disso, Ele pré-determinou tanto a conversão como a santificação dos Seus escolhidos, pré-ordenando as várias boas obras que eles realizariam após sua regeneração.

Portanto, assim como o “livre-arbítrio” não tem lugar na conversão, o “livre-arbítrio” também não tem na santificação. É a vontade de Deus que causa a conversão, e é a vontade de Deus que causa a santificação, e isto significa que a perseverança dos santos não está sujeita à nossa fraqueza, mas à preservação poderosa de Deus.

Contudo, isto não nega que o crente continua a enfrentar tentações e dificuldades após sua conversão. De fato, algumas vezes eles caem até mesmo em pecados sérios, embora até estas falhas ocorram pela vontade e pelo poder soberano de Deus. A diferença é que, por causa da pré-ordenação e preservação de Deus, os escolhidos “suspiram e gemem quando se sentem tentados à prática do mal; e, se caem, levantam-se outra vez com arrependimento não fingido”.

A Confissão então repete a ênfase que, “Eles fazem estas coisas não pelo seu próprio poder, mas pelo poder do Senhor Jesus, sem quem nada podem fazer”. Novamente, os crentes não perseveram porque eles têm um “livre-arbítrio” para escolher o bem após a regeneração, mas porque é a vontade de Deus preservá-los por Seu poder, e Ele decidiu que eles “finalmente triunfarão sobre o pecado”. É anti-escriturístico dizer que a vontade de um homem está cativa ao pecado antes da conversão, mas que ele tem “livre-arbítrio” após a conversão. A Escritura ensina que o homem está cativo à maldade antes da conversão, e que ele está cativo à justiça após a conversão.

Segue-se que, antes de mais nada, aqueles que não demonstram mudança real no pensamento e conduta, e aqueles que não perseveram na santidade, nunca foram convertidos. E a Confissão ousadamente declara que é “blasfêmia” dizer que um homem pode ser um verdadeiro crente e ao mesmo tempo estar sem o “espírito de santificação”. Todos aqueles que “obstinadamente continuam em impiedade” nunca foram convertidos, mesmo que eles reivindiquem serem crentes.


O Catecismo de Heidelberg

Em segundo lugar, chegamos ao Catecismo de Heidelberg (1563). Como a Confissão Escocesa, este catecismo alemão de doutrina Reformada não contém nenhuma pergunta ou série de perguntas, especialmente designadas para tratar da preservação dos santos. Contudo, ele inclui numerosas referências à doutrina por todo o Catecismo, das quais podemos derivar uma posição definida sobre o assunto:


P. 1. Qual é o seu único fundamento, na vida e na morte?

R. O meu único fundamento é meu fiel Salvador Jesus Cristo. A Ele pertenço, em corpo e alma, na vida e na morte, e não pertenço a mim mesmo. Com seu precioso sangue Ele pagou por todos os meus pecados e me libertou de todo o domínio do diabo. Agora Ele me protege de tal maneira que, sem a vontade do meu Pai do céu, não perderei nem um fio de cabelo. Além disto, tudo deve cumprir Seu propósito para minha salvação. Por isso, pelo Espírito Santo, Ele também me garante a vida eterna e me torna disposto a viver para Ele, daqui em diante, de todo o coração.


A primeira pergunta no Catecismo introduz algo novo à nossa discussão, a saber, a implicação da expiação particular eficaz para a preservação dos santos. Oponentes da doutrina devem invariavelmente colocar o foco da preservação sobre os próprios crentes, como se Deus não tivesse uma palavra final sobre o assunto. Em contraste, as confissões Reformadas concordam com a Escritura, de que Deus é realmente o único que tem algo a dizer sobre o assunto.

Então, quando consideramos a perseverança dos santos, não devemos tratar somente com o que os santos podem ou devem fazer, mas com o que Cristo fez e está fazendo. Agora, por Sua obra redentora, Cristo realmente adquiriu os escolhidos, os eleitos. Ele os comprou, eles Lhe pertencem. Portanto, o Catecismo começa apontando que o crente pertence a Cristo, que protege e preserva o crente. Ele também aponta que Deus pré-ordenou todas as coisas para “cumprir Seu propósito para minha salvação”, e é o Espírito Santo quem “me torna disposto a viver para Ele, daqui em diante”.

Por esta razão, não é inteiramente acurado dizer que Deus regenera o crente para que ele possa “livremente” escolher o que é bom –– a palavra “livremente” deve ser usada, na melhor das hipóteses, somente com relação ao pecado, e não com relação a Deus. Antes, mesmo após a regeneração, é Deus quem faz com que a vontade do crente escolha o que é bom. Visto que “Seu propósito” nunca muda, o destino pré-ordenado do crente nunca muda.

P. 31. O nome "Cristo" significa “Ungido”. Por que Jesus tem também este nome?

R. Porque Ele foi ordenado por Deus Pai e ungido com o Espírito Santo para ser nosso supremo Profeta e Mestre, nosso único Sumo Sacerdote e nosso eterno Rei.
Como Profeta Ele nos revelou plenamente o plano de Deus para nossa salvação; como Sumo Sacerdote Ele nos resgatou pelo único sacrifício de seu corpo e, continuamente, intercede por nós junto ao Pai; como Rei Ele nos governa por sua Palavra e Espírito e nos protege e guarda na redenção que Ele conquistou para nós.


Esta questão aponta que Cristo está “nos protegendo e guardando na redenção que Ele
conquistou para nós” como parte de Seu ministério como Mediador. Ele intercede por nós junto ao Pai, que sempre O ouve. Portanto, a preservação do eleito é tão certa como a permanência e eficácia do ministério de Cristo como Rei e Sacerdote.

P. 49. Que importância tem, para nós, a ascensão de Cristo?

R. Primeiro: Ele é, no céu, nosso Advogado junto a seu Pai. Segundo: em Cristo temos nossa carne no céu, como garantia segura de que Ele, como nosso Cabeça, também nos levará para si, como seus membros. Terceiro: Ele nos envia seu Espírito, como garantia, pelo poder do Espírito buscamos as coisas que são do alto, onde Cristo está sentado a direita de Deus, e não as coisas que são da terra.

Porque o crente está unido a Cristo em união inseparável, a ascensão de Cristo aos céus implica, necessariamente, que ao crente há também um lugar garantido no céu.

P. 54. O que você crê sobre “a santa igreja universal de Cristo”?

R. Creio que o Filho de Deus reúne, protege e conserva, dentre todo o gênero humano, sua comunidade eleita para a vida eterna. Isto Ele fez por seu Espírito e sua Palavra, na unidade da verdadeira fé, desde o princípio do mundo até o fim. Creio que sou e para sempre continuarei sendo um membro vivo dessa igreja.

Novamente, a ênfase não deve ser colocada sobre a perseverança do crente, mas sobre a preservação poderosa de Deus, causando a perseverança do crente. Assim, a doutrina não pode ser atacada com base na fraqueza e capricho das criaturas. É Cristo quem “reúne, protege e conserva” Seus eleitos, aqueles que Deus “escolheu para vida eterna”. Por causa disto, uma vez que uma pessoa se torna um crente em Cristo, ela “para sempre continuará sendo um membro vivo dessa igreja”.

P. 56. O que você crê sobre “a remissão dos pecados”?

R. Creio que Deus, por causa da satisfação em Cristo, jamais quer lembrar-se de meus pecados e de minha natureza pecaminosa, que devo combater durante toda a minha vida. Mas Ele me dá a justiça de Cristo, pela graça, e assim nunca mais serei condenado por Deus.

Esta questão se refere à justiça impartida que todo crente recebe de Deus por causa de Cristo, isto é, a doutrina da justiça. Ela aponta que o efeito da justificação em Cristo é que “nunca mais serei condenado por Deus”.

P. 64. Mas essa doutrina não faz com que os homens se tornem descuidosos e ímpios?

R. Não, pois é impossível que aqueles que estão implantados em Cristo, por verdadeira fé, deixem de produzir frutos de gratidão.

Se crente “nunca mais será condenado por Deus”, então, a pergunta torna-se se isto leva à negligência espiritual e à licenciosidade moral. A resposta é não, pois alguém que foi justificado por Deus, não recebe somente a justiça impartida, mas também uma nova natureza. Ele está agora unido com Cristo, como um ramo está unido com a árvore, para que ele possa naturalmente e necessariamente produzir fruto que corresponda à natureza da árvore. União com Cristo resulta em semelhança com Cristo, tanto no pensamento como no comportamento do crente.

P. 87. Não podem ser salvos, então, aqueles que continuam vivendo sem Deus e sem gratidão e não se convertem a Ele?

R. De maneira alguma, porque a Escritura diz que nenhum impuro, idólatra, adúltero, ladrão, avarento, bêbado, maldizente, assaltante ou semelhante herdará o reino de Deus.

A questão anterior já exclui suficientemente os crentes nominais, ou aqueles que exteriormente professam a fé sem verdadeiramente a afirmar. Para se tornar um verdadeiro crente, uma pessoa deve ter sido primeiro escolhida por Deus na eternidade e, então, ter sido regenerada e convertida na história. A mera profissão não indica eleição ou conversão. A Escritura nos adverte contra o engano: Enquanto uma pessoa permanecer como um pecador não arrependido, ele é um incrédulo, a despeito do que ele professe verbalmente. Isto significa que alguém não pode citar aqueles que professam a fé e então se desviam como exemplos contra a doutrina da preservação dos santos, visto que elas nunca foram “santas”, para início de conversa.

 


A Segunda Confissão Helvética

Nossa terceira confissão é A Segunda Confissão Helvética de 1566. Como as duas anteriores, esta confissão suíça contém declarações baseadas nas quais podemos claramente derivar sua posição sobre a preservação dos santos.

XIV.A doutrina do arrependimento está ligada ao Evangelho. Pois assim diz o Senhor no Evangelho: “Que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações” (Lucas 24.47)...Por arrependimento entendemos (1) a recuperação de uma mente correta no pecador provocada pela Palavra do Evangelho e pelo Espírito Santo, e recebida pela verdadeira fé, com o que o pecador imediatamente reconhece a sua corrupção inata e todos os seus pecados denunciados pela Palavra de Deus; e (2) entristece-se por eles em seu coração, e não apenas os lamenta e francamente confessa diante de Deus com um sentimento de vergonha, mas também (3) com indignação os abomina; cuidando (4) agora zelosamente de emendar-se e constantemente se esforçar em busca de inocência e de virtude, no qual esforço se exercita santamente em todo o resto de sua vida.

Dizer que “arrependimento” está “ligado ao Evangelho” significa que o evangelho não é pregado, a menos que o arrependimento também seja pregado, e isto significa também que alguém que falha em verdadeiramente se arrepender, também falha em receber o evangelho. A conversão envolve arrependimento e “verdadeira fé”, e “a recuperação de uma mente correta”. Em outras palavras, a conversão envolve mais do que mera profissão de fé, mas uma real crença e transformação interior.

Qualquer um tem a capacidade física de dizer que crê no evangelho, mas, a menos que haja verdadeiro arrependimento, verdadeira fé, e verdadeira transformação, não há verdadeira conversão, e a pessoa não é um verdadeiro crente. Portanto, antes de mais nada, quando esta pessoa “cai”, ela não está caindo de uma verdadeira fé, visto que ela nunca a teve; antes, ele está somente mudando de uma versão de existência pecaminosa para outra.

Mas o mesmo Deus que concede a um crente o verdadeiro arrependimento e uma fé verdadeira, pela concessão de arrependimento contínuo e fé perseverante, também o preserva, para que ele “constantemente se esforce em busca de inocência e de virtude...em todo o resto de sua vida”.

XVI. Mas esta fé é simplesmente um dom de Deus, que só Ele pela Sua graça, segundo a Sua medida, concede aos Seus eleitos quando, a quem e quanto Ele quer... O mesmo apóstolo chama a fé “eficaz” e “que atua pelo amor” (Gálatas 5:6)...A mesma (fé) conserva-nos no serviço que devemos a Deus e ao próximo, fortalece-nos a paciência na adversidade, molda uma verdadeira confissão e manifesta-a: numa palavra, produz bons frutos de todas as espécies, e boas obras.

A preservação dos santos vem logicamente após a regeneração e conversão, embora estas estejam todas unidos no decreto eterno. Agora, quando chega à conversão, a visão Reformada é que a fé é um dom que Deus soberanamente concede aos Seus escolhidos. Então, o capítulo XVI diz que esta fé não é uma fé impotente e sem vida, mas uma fé ativa e eficaz. Ela é viva, poderosa e preservada pelo decreto e pelo poder de Deus. Portanto, uma vez concedida ao eleito, esta fé nunca morre, mas permanece e “produz bons frutos de todas as espécies”. Em outras palavras, o crente persevera porque Deus preserva sua fé vida, de forma que, mesmo que ela pestaneje em certos momentos, nunca lhe é permitido se extinguir completamente.

 

Os Cânones de Dordt

Quando chegamos aos Cânones de Dordt e à Confissão de Westminster, encontramos capítulos inteiros dedicados à preservação dos santos. Isto não é surpresa, pois, enquanto que as três confissões anteriores foram produzidas durante a segunda metade do século XVI, estas duas confissões esplêndidas foram produzidas após a Remonstrance de 1610, isto é, a controvérsia com os cinco artigos do Arminianismo. Os Cânones de Dordt (1618-19) foram escritos diversos anos após a Reforma, mas ainda durante a primeira parte do século XVII; a Confissão de Westminster foi completada várias décadas depois, em 1647. Certamente, Dordt foi designada para contra-atacar o Arminianismo, e após a Remonstrance, alguém poderia naturalmente esperar que um documento distintivamente Reformado como a Confissão de Westminster, afirmasse ousadamente a preservação dos santos.

Dordt não somente dedica o quinto capítulo sobre doutrinas para tratar da preservação dos santos, mas também faz afirmações explícitas e importantes sobre ela em diversos outros lugares no documento. Citaremos vários exemplos aqui:

I. Artigo 7. Em outras palavras, Ele decidiu dar-lhes verdadeira fé em Cristo, justificá-los, santificá-los, e depois, tendo-os guardado poderosamente na comunhão de seu Filho, glorificá-los finalmente.

Este artigo aponta, pelo menos, dois pontos importantes sobre a preservação dos santos. Primeiro, ele declara que santificação, preservação e glorificação não são doutrinas isoladas, mas elas são necessariamente produtos da eleição divina. E isto porque, na eleição, Deus não decide meramente converter aqueles a quem Ele escolheu, mas realmente salvá-los. Isto implica necessariamente preservação e glorificação.

Segundo, Dordt reconhece que a ênfase bíblica é sobre a graça e o poder soberano de Deus, e sobre Sua fidelidade imutável ao Seu próprio decreto e promessa, desde a conversão até a glorificação. A ênfase nunca é sobre a decisão e resposta do homem, visto que estas também são determinadas pela vontade e pelo poder de Deus. Certamente, os escolhidos devem crer para serem salvos, mas é Deus quem “decidiu dar-lhes verdadeira fé em Cristo”. E certamente eles devem perseverar até o fim, mas é Deus quem decide “guardá-los poderosamente na comunhão de seu Filho”.

I. Artigo 11. Como Deus é supremamente sábio, imutável, onisciente, e Todo-Poderoso, assim sua eleição não pode ser cancelada e depois renovada, nem alterada, revogada ou anulada; nem mesmo podem os eleitos ser rejeitados, ou o número deles ser diminuído.

Embora o artigo ainda esteja tratando da divina eleição, para acuradamente apresentar esta doutrina bíblica, Dordt acha necessário indicar que os escolhidos consistem de um número imutável –– o decreto para sua salvação é preciso, e não pode ser mudado de forma alguma. Portanto, todos aqueles a quem Deus escolheu, serão convertidos, e perseverarão até o fim. Dordt coloca a verdade desta doutrina sobre a própria natureza de Deus. Porque Deus é quem Ele é, a divina eleição deve ser individual e imutável, e todos os escolhidos serão deveras convertidos, justificados, santificados e glorificados.

II. Artigo 8. Pois este foi o soberano conselho, a vontade graciosa e o propósito de Deus o Pai, que a eficácia vivificante e salvífica da preciosíssima morte de seu Filho fosse estendida a todos os eleitos. Daria somente a eles a justificação pela fé e, por conseguinte, os traria infalivelmente à salvação...E que Cristo os guardasse fielmente até ao fim e finalmente os fizesse comparecer perante o próprio Pai em glória, sem mácula, nem ruga.

 

Já mencionamos que a expiação particular eficaz de Cristo implica necessariamente na preservação dos santos, visto que foi por isto que Cristo morreu e pagou –– a salvação completa e final (não apenas a conversão) de todos os escolhidos. E assim, o que o Filho começou, certamente Ele cumprirá, que é trazer Seus escolhidos “infalivelmente à salvação”.

O quinto capítulo é muito longo para ser reproduzido aqui –– ele explica e afirma em detalhe a doutrina Reformada da preservação dos santos, e então, faz negações elaboradas contra os erros correspondentes no Arminianismo. Examinaremos somente alguns de seus artigos:

V. Artigo 3. Por causa dos seus pecados remanescentes e também por causa das tentações do mundo e de Satanás, aqueles que têm sido convertidos não poderiam perseverar nesta graça, se deixados ao cuidado de suas próprias forças. Mas Deus é fiel: misericordiosamente os confirma na graça, uma vez conferida sobre eles, e poderosamente preserva a eles na sua graça até o fim.

V. Artigo 6. Pois Deus, que é rico em misericórdia, de acordo com o imutável propósito da eleição, não retira completamente o seu Espírito dos seus, mesmo quando eles caem gravemente. Nem tão pouco permite que venham a cair tanto que recaiam da graça da adoção e do estado de justificado. Nem permite que cometam o pecado que leva à morte, isto é, o pecado contra o Espírito Santo e assim sejam totalmente abandonados por Ele, lançando-se na perdição eterna.

V. Artigo 7. Pois, em primeiro lugar, em tal queda, Deus preserva neles sua imperecível semente da regeneração, a fim de que esta não pereça nem seja lançada fora. Além disto, através da sua Palavra e seu Espírito, certamente Ele os renova efetivamente para arrependimento. Como resultado eles se afligem de coração com uma tristeza para com Deus pelos pecados que têm cometido; procuram e obtêm pela fé, com coração contrito, perdão pelo sangue do Mediador; e experimentam novamente a graça de Deus, que é reconciliado com eles, adorando sua misericórdia e fidelidade. E de agora em diante eles se empenham mais diligentemente pela sua salvação com temor e tremor.

V. Artigo 8. Assim, não é por seus próprios méritos ou força mas pela imerecida misericórdia de Deus que eles não caiam totalmente da fé e da graça e nem permaneçam caídos ou se percam definitivamente. Quanto a eles, isto facilmente poderia acontecer e aconteceria sem dúvida. Porém, quanto a Deus, isto não pode acontecer, de modo nenhum. Pois seu decreto não pode ser mudado, sua promessa não pode ser quebrada, seu chamado em acordo com seu propósito não pode ser revogado. Nem o mérito, a intercessão e a preservação de Cristo podem ser invalidados, e a selagem do Espírito tão pouco pode ser frustrada ou destruída.

V. Artigo 14. Tal como agradou a Deus iniciar sua obra da graça em nós pela pregação do evangelho, assim Ele a preserva, continua e aperfeiçoa pelo ouvir e ler do Evangelho, pelo meditar nele, pelas suas exortações, ameaças, e promessas, e pelo uso dos sacramentos.

 

O artigo 7 nos lembra que a regeneração espiritual é permanente, pois nela, Deus imparte, em nós, uma vida espiritual indestrutível. Dordt repete este ponto do ponto de vista negativo no capítulo V. Rejeições de erros 8. Dizer que a regeneração é reversível é interpretar mal a própria definição bíblica de regeneração, distorcendo a visão de alguém de toda a soteriologia. Contudo, mesmo alguns crentes Reformados ficam confusos sobre este ponto. Eles corretamente afirmam que os santos perseveram, pois eles receberam vida espiritual indestrutível na regeneração, mas eles falham em considerar o porquê esta vida perpetua. Por causa desta negligência, alguns quase falam como se eles afirmassem o ensino que, embora a salvação seja obtida pela graça, ela é, contudo, mantida pelas obras, de forma que, perseverar na salvação significa mantê-la através de um bom comportamento.

Dordt corrige este mal entendimento fazendo uma clarificação importante. Os crentes não são capazes de perseverar por si mesmos ou por sua própria vontade e poder após a conversão. De fato, “aqueles que têm sido convertidos não poderiam perseverar nesta graça, se deixados ao cuidado de suas próprias forças”. Antes, eles perseveram porque Deus “misericordiosamente os confirma” e “poderosamente preserva a eles na graça”. Em outras palavras, a nova vida espiritual do crente é indestrutível porque Deus a faz indestrutível.

Isto significa que, se um crente não perseverasse, isto não seria por causa dele, no sentido de que se o crente dependesse de sua própria vontade e poder, sua falha seria certa de qualquer maneira. Isto é, se a perseverança dependesse dos crentes, então, ninguém perseveraria. Antes, a perseverança depende da preservação de Deus, e o único modo de um crente falhar em perseverar é se Deus não o preservar, e o único modo de Deus não preservar um escolhido na fé e na santidade, é se Ele mudar Seu decreto eterno, o que é impossível por definição.

O artigo 8 menciona a intercessão de Cristo pelos eleitos, que é uma parte de Seu ministério como Mediador. Visto que Cristo é sempre fiel em realizar Sua obra como intercessor, e visto que Deus sempre O ouve, esta intercessão “não pode ser invalidada”. Então, este artigo se refere também à selagem do Espírito. Diremos um pouco mais sobre isto na última seção sobre o suporte escriturístico para a preservação dos santos. Por ora, diremos apenas que a selagem do Espírito garante a salvação do eleito.

Assim como as outras confissões Reformadas, Dordt é cuidadosa em observar que esta doutrina da preservação dos santos não nega que um crente continua a enfrentar tentações e dificuldades nesta vida. De fato, ela reconhece que alguns crentes podem até mesmo “cair gravemente”; contudo, “de acordo com Seu imutável propósito de eleição”, Deus nunca permitirá que Seus eleitos “venham a cair tanto que recaiam da graça da adoção e do estado de justificado”.

Finalmente, o artigo 14 traz algo que ainda não discutimos, a saber, alguns dos meios que Deus usa para preservar o Seu povo. Assim como Deus convoca o eleito à conversão através da pregação do evangelho, “Ele a preserva, continua e aperfeiçoa pelo ouvir e ler do Evangelho, pelo meditar nele, pelas suas exortações, ameaças, e promessas, e pelo uso dos sacramentos”. O povo de Deus, portanto, seria sábio em fazer uso deliberado e freqüente destes meios de graça.



A Confissão de Westminster


A Confissão de Westminster devota o capítulo XVII à perseverança dos santos. Comparada com as confissões anteriores, não há nada inteiramente novo aqui, mas este capítulo deve ser admirado por quão claramente e concisamente sumariza muitos dos pontos importantes que já discutimos acima. Ela lê-se como se segue:


I. Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem decair do estado da graça, nem total, nem finalmente; mas, com toda a certeza hão de perseverar nesse estado até o fim e serão eternamente salvos.

II. Esta perseverança dos santos não depende do livre arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da semente de Deus neles e da natureza do pacto da graça; de todas estas coisas vêm a sua certeza e infalibilidade. ,

III. Eles, porém, pelas tentações de Satanás e do mundo, pela força da corrupção neles restante e pela negligência dos meios de preservação, podem cair em graves pecados e por algum tempo continuar neles; incorrem assim no desagrado de Deus, entristecem o seu Santo Espírito e de algum modo vêm a ser privados das suas graças e confortos; têm os seus corações endurecidos e as suas consciências feridas; prejudicam e escandalizam os outros e atraem sobre si juízos temporais.


Tendo já discutido as outras confissões, penso que nenhuma explicação elaborada seja necessária. A seção 1 afirma a posição Reformada sobre a perseverança dos santos. A seção 2 sumariza algumas das razões teológicas para tal afirmação –– o decreto imutável de Deus na eleição, a expiação particular eficaz de Cristo, o ministério sacerdotal intercessório de Cristo, a habitação e influência do Espírito, a semente indestrutível da vida espiritual impartida na regeneração e o paco de graça. A seção 3 serve para evitar as típicas falsas acusações e mal-entendidos, reconhecendo que mesmo o verdadeiramente convertido pode, às vezes, cair em sérios pecados, mas eles, todavia, são preservados de uma apostasia total e final pela vontade e poder de Deus.


O Catecismo Maior

O Catecismo Maior, certamente, concorda inteiramente com a Confissão de Westminster sobre a preservação dos santos, tanto em linguagem como em substância:

P. 79. Não poderão os crentes verdadeiros cair do estado de graça, em razão das suas imperfeições e das muitas tentações e pecados que os surpreendem?

R. Os crentes verdadeiros, em razão do amor imutável de Deus e do seu decreto e pacto de lhes dar a perseverança, da união inseparável entre eles e Cristo, da contínua intercessão de Cristo por eles e do Espírito e semente de Deus permanecendo neles, nunca poderão total e finalmente cair do estado de graça, mas são conservados pelo poder de Deus, mediante a fé para a salvação.

O Catecismo aqui enfatiza a perseverança dos “crentes verdadeiros”. Em outras palavras, alguns são crentes falsos, e eles nunca perseverarão na fé, nunca tendo nem mesmo iniciado na fé. Por outro lado, os crentes verdadeiros, a quem Deus verdadeiramente converteu, e estes “nunca poderão total e finalmente cair do estado de graça, mas são conservados pelo poder de Deus, mediante a fé para a salvação”.

A expressão “pelo poder de Deus, mediante a fé” é excelente e acurada. Ela afirma que é o poder de Deus que preserva os santos, e que isto é feito sustentando sua fé, concedida primeiramente a eles na conversão.


O Catecismo Menor

O Catecismo Menor é também consistente com o restante dos Símbolos de Westminster:

P. 36. Quais são as bênçãos que nesta vida acompanham a justificação, adoção e santificação ou delas procedem?

R. As bênçãos que nesta vida acompanham a justificação, adoção e santificação, ou delas procedem, são: certeza do amor de Deus, paz de consciência, gozo no Espírito Santo, aumento de graça, e perseverança nela até ao fim.

Aqui o Catecismo enfatiza o fato que a preservação é um dos benefícios que procedem da justificação, adoção e santificação. Em outras palavras, preservação não é apenas uma mera possibilidade produzida pela justificação, adoção e santificação, mas é, antes, uma conseqüência necessária, inerentemente incluída nelas.



EXPOSIÇÕES DA ESCRITUR
A

A soteriologia bíblica, certamente, não começa com a preservação dos santos, mas com a divina eleição. Por sua vez, uma soteriologia biblicamente verdadeira está fundamentada sobre uma visão bíblica de teologia correta, ou sobre a natureza de Deus. A Escritura declara que Deus é aquele que opera todas as coisas de acordo com o conselho de Sua vontade, e de acordo com todo Seu beneplácito. Isto torna o fator controlante numa soteriologia verdadeiramente bíblica, e qualquer conceito teológico que contradiga isto deve ser imediatamente julgado como falso.

Como as confissões Reformadas ilustram, a preservação dos santos não é uma doutrina isolada, mas ela procede de outras doutrinas bíblicas concernentes à salvação. Se eu lhe digo que eu me determinei a alcançar a linha de chegada numa corrida, está assumido que irei atravessar a distância entre a linha de partida e a linha de chegada, e que irei também passar por cima de quaisquer obstáculos no caminho. A preservação dos santos não é, portanto, uma doutrina isolada, e negá-la seria, não somente contradizer esta doutrina particular, mas o padrão inteiro da soteriologia bíblica.

Assim, mesmo antes de examinarmos as passagens bíblicas que diretamente suportam a preservação dos santos, já estamos seguros de que ela é deveras um ensinamento bíblico, pois ela é a implicação necessária de outras doutrinas bíblicas. O padrão inteiro da soteriologia bíblica a demanda.

Isto posto, há numerosas passagens bíblicas que são diretamente relevantes para a doutrina. Eu listarei algumas delas nesta seção. Para evitar que este artigo se torne muito longo, não poderemos tomar tempo examinando cada passagem; contudo, colocaremos muitas delas debaixo de seções bem definidas. Isto fará o significado e a relevância de cada passagem ser mais facilmente discernido. Além disso, na maioria das passagens, destacamos também as palavras relevantes para auxiliar no entendimento.


Eleição

A doutrina bíblica eleição ensina que Deus escolheu um número definido e imutável de indivíduos para a salvação. O outro lado da eleição é a reprovação, na qual Deus escolheu um número definido e imutável de indivíduos (todos aqueles não escolhidos para salvação) para condenação.

Assim como a reprovação é um decreto eterno, pré-determinando o destino final dos réprobos, e não apenas sua condição espiritual por um período incerto, assim também a eleição é um decreto eterno, pré-determinando o destino final dos eleitos. Ele não é um decreto para simplesmente converter certos indivíduos, mas para realmente, completamente e finalmente salvá-los. Portanto, se um indivíduo eleito pudesse ser verdadeiramente convertido e então cair, isto significaria que o decreto eterno de eleição falhou, o que é impossível.

Romanos 8:28-39. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.

Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro.

Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor

Efésios 1:11-12. Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo.

 


Redenção

A obra expiatória de Cristo é uma aquisição real e completa de todos os indivíduos por quem a expiação foi designada para redimir. A expiação não somente faz a salvação uma mera possibilidade para o eleito, mas ela assegura sua real salvação. Isto significa que a expiação garante a completa e final salvação de todos aqueles por quem Cristo morreu. Visto que nem todos são salvos, sabemos que Cristo não morreu por cada pessoa, mas somente por aqueles a quem Deus escolheu na eternidade; portanto, os réprobos são justamente condenados. Contudo, não há condenação para o eleito, por quem Cristo morreu. A implicação para a preservação dos santos é óbvia.

O ministério de Cristo como Mediador não termina com Sua morte e ressurreição, mas Ele vive para sempre para ser nosso Sumo Sacerdote, intercedendo por nós junto ao Pai e preservando nossa fé nEle. Visto que Cristo nunca falha em Seu ministério como Mediador, os crentes verdadeiros nunca fracassaram verdadeiramente e finalmente em sua fé.

 

João 6:35-40. E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede. Mas já vos disse que também vós me vistes e, contudo, não credes. Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai, que me enviou, é esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último Dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: que todo aquele que vê o Filho e crê nele tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último Dia.

João 10:25-30. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai. Eu e o Pai somos um.

Hebreus 7:25-28. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus, que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente, por seus próprios pecados e, depois, pelos do povo; porque isso fez ele, uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre.

Hebreus 10:10,14. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez por todas....Porque, com uma só oblação, aperfeiçoou para sempre os que são santificados.

Hebreus 12:2. Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.



Regeneração

Na regeneração, Deus imparte aos eleitos uma fé espiritual indestrutível, transformando a própria natureza e disposições dos seus corações. Visto que esta vida espiritual é indestrutível, significa que a regeneração é irreversível. Portanto, uma vez regenerada, uma pessoa não pode então, verdadeiramente e finalmente afastar-se de Deus ou renunciar a Cristo. Isto significa que todos aqueles que foram regenerados, também perseverarão. Qualquer doutrina que negue isto, contradiz o próprio significado de regeneração.

1 Pedro 1:23. Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre.

1 João 2:18-19. Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos; por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.

1 João 3:6-9. Qualquer que permanece nele não peca: qualquer que peca não o viu nem o conheceu. Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo. Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo. Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.

1 João 3:6-9. Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus: quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.


Certificação

Assim como a eleição de Deus e a expiação de Cristo, o ensino bíblico da selagem do Espírito também implica a preservação dos santos. A Escritura declara que o Espírito Santo foi colocado no centre, na conversão, como um selo. Este selo não é mera decoração, mas um garantia de que o crente alcançará seu destino designado, que é a glorificação em Cristo.

 

2 Coríntios 1:21-22. Ora, é Deus que faz que nós e vocês permaneçamos firmes em Cristo. Ele nos ungiu, nos selou com sua propriedade e pôs o seu Espírito em nossos corações, como garantia do que está por vir. [NVI]

Efésios 1:13-14. Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa., que é a garantia da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória.

Efésios 4:30. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção.


Santificação

No soberano e eterno decreto de Deus, Ele não pré-ordenou somente a conversão de Seus eleitos, mas também sua justificação, adoção e santificação. Assim como os eleitos foram pré-ordenados para conversão e, assim, recebem fé em Cristo, assim também eles foram pré-ordenados para a santificação e, assim, são feitos santos pelo Espírito Santo. De fato, Deus pré-determinou as próprias boas obras para que os eleitos pudessem andar nelas, e Ele é a causa e o poder atrás da vontade bem como da realização destas boas obras feitas pelos eleitos. Portanto, os eleitos foram pré-ordenados para a santificação tão certamente como foram escolhidos para conversão. Isto significa que a apostasia verdadeira e final é impossível.


Jeremias 32:40.
E farei com eles um concerto eterno, que não se desviará deles, para lhes fazer bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim.

Filipenses 1:4-6. Fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas. Pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo.

1 Tessalonicenses 5:23-24. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.

2 Tessalonicenses 2:13-17. Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque desde o princípio Deus os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do Espírito e a fé na verdade. Ele os chamou para isso por meio de nosso evangelho, a fim de tomarem posse da glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, irmãos, permaneçam firmes e apeguem-se às tradições que lhes foram ensinadas, quer de viva voz, quer por carta nossa. Que o próprio Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança pela graça, dêem ânimo ao coração de vocês e os fortaleçam para fazerem sempre o bem, tanto em atos como em palavras. [NVI]

Hebreus 13:20-21. Ora o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo o sempre. Amém.

1 Pedro 1:3-5. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo,


Outras Passagens

Abaixo listamos algumas das outras passagens bíblicas relacionadas à preservação dos santos. Algumas delas são mais diretamente relevantes ao tópico do que outras, mas todas elas suportam a doutrina. Após ter lido as seções anteriores, você deve estar apto a ver sua relevância e aplicação. Contudo, se você não sabe como algumas destas passagens se relacionam com a doutrina, ou se você deseja informação adicional sobre algumas delas, então, você deve consultar os comentários Reformados padrões para um auxílio adicional.

Salmo 17:8-9. Protege-me como à menina dos teus olhos; esconde-me à sombra das tuas asas, dos ímpios que me atacam com violência, dos inimigos mortais que me cercam.[NVI]

Salmo 37:23-24,28-29. O Senhor firma os passos de um homem, quando a conduta deste o agrada; ainda que tropece, não cairá, pois o Senhor o toma pela mão...Pois o Senhor ama quem pratica a justiça, e não abandonará os seus fiéis. Para sempre serão protegidos, mas a descendência dos ímpios será eliminada; os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre.[NVI]

Salmo 73:1-2,23. Certamente Deus é bom para Israel, para os puros de coração. Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei...Contudo, sempre estou contigo; tomas a minha mão direita e me susténs. [NVI]

Salmo 121:3,7-8. Ele não permitirá que você tropece; o seu protetor se manterá alerta, sim, o protetor de Israel não dormirá; ele está sempre alerta!...O Senhor o protegerá de todo o mal, protegerá a sua vida. O Senhor protegerá a sua saída e a sua chegada, desde agora e para sempre. [NVI]

2 Samuel 23:5-7. Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança? Porém os filhos de Belial serão todos lançados fora como os espinhos, pois não podem ser tocados com as mãos, mas qualquer, para os tocar, se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente queimados no seu lugar.

Isaías 54:10. Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o SENHOR, que se compadece de ti.

Jeremias 31:3. Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí.

Mateus 18:12-14. Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou?, se porventura a encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá por causa desta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos.

Mateus 24:24. Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.

Lucas 22:31-32. Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.

João 14:16-17. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.

João 17:9-12, 20. É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado. Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós. Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura....Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra.

Romanos 5:9-10. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.

Romanos 11:7. Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos,

Romanos 14:4. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster.

Romanos 16:25-27.
Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações, ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém!

1 Coríntios 1:8-9. O qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.

1 Coríntios 3:14-15. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.

1 Coríntios 10:13. Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.

2 Coríntios 9:8. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra.

Efésios 5:25-27. Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.

2 Tessalonicenses 3:2-5. Para que sejamos livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de todos. Todavia, o Senhor é fiel; ele vos confirmará e guardará do Maligno. Nós também temos confiança em vós no Senhor, de que não só estais praticando as coisas que vos ordenamos, como também continuareis a fazê-las. Ora, o Senhor conduza o vosso coração ao amor de Deus e à constância de Cristo.

2 Timóteo 1:12. E, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia.

2 Timóteo 2:18-19. Estes se desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a fé a alguns. Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.

2 Timóteo 4:18. O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!

Hebreus 9:12-15. Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados.

1 Pedro 1:8-9. A quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.

2 Pedro 1:10-11. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

1 João 2:24-25. Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai. E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna.

1 João 2:27. Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou.

1 João 5:3-4. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos, porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.

1 João 5:11-13. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus.

1 João 5:20. Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.

Judas 1, 24-25. Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!


OBJEÇÕES ARMINIANAS

Há vários tipos de objeções contra a doutrina bíblica da preservação dos santos. Aqui sumarizaremos as objeções teológicas, bíblicas e éticas. Elas vêm não somente dos Arminianos, mas também dos Católicos. Agora, embora todas as objeções seguintes tenham já sido respondidas de alguma forma nas seções anteriores, aqui nós iremos brevemente, mas diretamente, tratar com elas para remover mal-entendimentos sobre a doutrina.


Teológica

Uma objeção teológica ou filosófica contra a preservação dos santos é que ela mina o “livre-arbítrio” humano. A doutrina implica que um crente nunca é “livre” para decidir se desfazer de sua fé e salvação.

A isto, respondemos que a objeção está precisamente correta, no sentido de que o crente nunca é livre para decidir se desfazer de sua fé e salvação. Mas é uma objeção fútil, a menos que o homem possua tal liberdade para escapar ao controle de Deus. No estudo da soteriologia bíblica, estabelecemos do início ao fim que não há tal coisa como livre-arbítrio humano, no sentido de que o homem nunca é livre de Deus, e que Deus sempre possui e exercita controle completo sobre a vontade do homem.

Isto não significa que a vontade do homem nunca está envolvida. Conversão, santificação e outros aspectos da salvação do homem envolvem freqüentemente sua vontade. A questão é se sua vontade é alguma vez livre do controle constante, absoluto e preciso de Deus. Contendemos que é biblicamente falso e metafisicamente impossível para o homem ser livre de Deus em qualquer sentido. Dessa forma, a objeção a partir do livre-arbítrio, não pode realmente ser aplicada ao Cristianismo da Escritura e da Reforma, visto que eles rejeitam o livre-arbítrio desde o início, e em cada aspecto da salvação, incluindo salvação e preservação.

Certamente, objeções relacionadas com o “livre-arbítrio” humano se levantam, não somente quando estamos discutindo a preservação dos santos, mas também quando estamos discutindo qualquer outro item na soteriologia bíblica. Contudo, visto que o livre-arbítrio é anti-bíblico e falso, isto significa que aquele que afirma o livre-arbítrio, está equivocado em cada item na soteriologia, e isto é deveras o que encontramos entre os Arminianos e Católicos.

Além do mais, visto que Deus permanentemente transforma a natureza e a disposição do eleito na regeneração, um crente verdadeiro nunca desejará se desfazer da sua fé e da sua salvação.



Bíblica

Há numerosos passagens bíblicas que ordenam os cristãos a buscar a justiça e abster-se da impiedade. Algumas das passagens são tão fortes em expressão é contém advertências tão ameaçadoras, que algumas pessoas as mal-interpretam, dizendo que é possível para um crente verdadeiro perder sua salvação. Por exemplo, Hebreus 6:4-6 diz o seguinte:

É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.

Primeiro, seja o que for que a passagem signifique, ela não diz que os eleitos irão, de fato, renunciar sua fé. Contudo, assumamos que a passagem realmente esteja dizendo que, se alguém caísse da fé, após ter alcançado certo estágio de desenvolvimento espiritual, ele realmente perderia sua salvação. Isto não desafia a doutrina da preservação –– de fato, podemos concordar de todo coração com ela. Se o eleito sinceramente e permanentemente renuncia a Cristo, então, ele perde sua salvação. Contudo, já lemos vários versos dizendo que isto nunca acontece, de forma que o crente verdadeiro nunca renunciará, sinceramente e permanentemente, a Cristo, e a passagem acima não diz nada que contradiga isto. João diz que aqueles que se apartam da fé, nunca tiveram verdadeiramente fé.

Segundo, vários versículos depois, o escrito explicitamente declara que o que esta passagem descreve não acontece aos seus leitores: “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos” (Hebreus 6:9). Para parafrasear, ele está dizendo, “Embora estejamos falando desta maneira, estou certo de que, com respeito à salvação, isto não acontece com vocês”.

Terceiro, devemos lembrar que Deus usa vários meios pelos quais Ele realiza Seus fins. Por exemplo, embora ele tenha imutavelmente determinado as identidades daqueles que seriam salvos, Ele não salva estas pessoas sem meios. Antes, Ele salva os eleitos pelos meios da pregação do evangelho, e pelos meios da fé em Cristo que Ele coloca dentro deles. Deus usa vários meios para realizar Seus fins, e Ele escolhe e controla tanto os meios como os fins.

Consequentemente, simplesmente porque somos informados que os eleitos perseverarão na fé, não significa que Deus não os adverte contra apostasia. De fato, estas advertências escriturísticas sobre as conseqüências de se renunciar a fé cristã são um dos meios pelos quais Deus impedirá Seus eleitos de apostasia. O réprobo ignorará estas advertências, mas o eleitos prestarão atenção (João 10:27), e assim, eles continuarão a desenvolver sua santificação “com temor e tremor” (Filipenses 2:12). Com respeito às palavras de Deus, o Salmo 19:11 diz, “Por elas o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes”.


Ética

Uma das objeções mais comuns à preservação dos santos é que, se é verdade que o crente não pode perder sua salvação, então, isto constitui uma licença implícita para pecar. Os cristãos podem pecar o quanto quiser, e, todavia, permanecerem seguros em Cristo. Contudo, o cristão verdadeiro não deseja viver em pecado, embora ele possa ocasionalmente tropeçar. O crente verdadeiro detesta o pecado e ama a justiça. Alguém que peca sem restrição não é um cristão, de forma alguma.

A doutrina da preservação não diz que alguém que faz uma profissão de fé em Cristo está então salva, e nunca se perderá, visto que sua profissão pode ser falsa. Antes, a doutrina ensina que os cristãos verdadeiros nunca se perderão. Eles nunca se afastarão permanentemente de Cristo, embora alguns deles possam até mesmo cair profundamente em pecado por um tempo. Um cristão verdadeiro é alguém que dá verdadeiro assentimento ao evangelho, e cuja “fé sincera” (1 Timóteo 1:5) torna-se evidente através de uma transformação contínua de pensamentos, palavras e comportamento, em conformidade às demandas da Escritura. João diz que alguém que foi regenerado “não pode continuar pecando” (1 João 3:9). Por outro lado, uma pessoa que produz uma profissão de Cristo a partir de um falso assentimento ao evangelho pode durar somente “pouco tempo. Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona” (Mateus 13:21).



CONCLUSÃO

Embora cada uma das seções anteriores possa ser mais desenvolvida, o que foi dito é suficiente para nos dar um sumário fiel da doutrina Reformada da preservação dos santos, e concluirmos que ela é, de fato, idêntica ao que a Escritura ensina sobre o assunto. Ela é tanto biblicamente acurada como teologicamente consistente.

A doutrina nos ensina que os crentes verdadeiros nunca perecerão; eles nunca abandonarão, verdadeira e finalmente, a fé. Isto é porque Deus soberanamente pré-ordenou sua salvação completa antes da fundação do mundo, e porque Ele poderosamente preserva-os após sua conversão. Após a regeneração, o Espírito de Deus continua a operar neles, poderosamente fazendo-os lugar pelo verdadeiro conhecimento e santidade. Todavia, isto não significa que o eleito permaneça perfeitamente sem pecado e obediente, durante toda a sua caminhada espiritual; antes, às vezes eles podem até mesmo cair em sérios pecados. Contudo, o decreto eterno imutável de Deus, a expiação e intercessão de Cristo e a operação do Espírito nos crentes, assegura que eles nunca cairão de uma maneira final.

Com respeito aos réprobos, embora alguns deles possam professar a fé por um tempo, sua profissão é falsa e hipócrita. Deus nunca os pré-ordenou para salvação, mas os pré-ordenou para destruição. Ao invés de enviar Seu Espírito para poderosamente operar em seus corações, Ele endurece seus corações por um espírito de desobediência. Certamente, isto significa que não há vida ou poder espiritual neles, para fazê-los perseverar na verdadeira fé, de forma que eles facilmente caem da falsa profissão pela qual eles reivindicam abraçar o evangelho.

A doutrina Reformada da preservação dos santos –– isto é, a doutrina bíblica –– fornece ao verdadeiro povo de Deus uma forte e infalível fonte de conforto e segurança. Ela os adverte contra as falsas profissões e auto-ilusões, e ela permite que eles, biblicamente e realisticamente, tratem de sua pecaminosidade e imperfeições remanescentes. Isto nos leva ao tópico relacionado, o da segurança. A doutrina bíblica da preservação dos santos fornece um fundamento legítimo para a segurança da salvação. Ela é uma segurança baseada na verdade, fortificando suas mentes contra as dúvidas opressoras com respeito a sua relação com Cristo. Contudo, uma discussão detalhada sobre este tópico, bem como sobre os tópicos relacionados (tais como membresia de igreja e disciplina), terão que esperar até outra oportunidade.




Nota sobre o autor: Vincent Cheung é o presidente da Reformation Ministries International [Ministério Reformado Internacional]. Ele é o autor de mais de vinte livros e centenas de palestras sobre uma vasta gama de tópicos na teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como um sistema de pensamento compreensivo e coerente, revelado por Deus na Escritura. Ele e sua esposa, Denise, residem em Boston, Massachusetts.

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 01 de Março de 2005.


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