Os Homens São Predestinados por Deus?

por

Tomás de Aquino



Artigo 1

OS HOMENS SÃO PREDESTINADOS POR DEUS?

QUANTO AO PRIMEIRO ARTIGO ASSIM SE PROCEDE:

1. Com efeito, Damasceno escreve: “É preciso saber que Deus tudo prevê, mas não predetermina tudo. Prevê o que há em nós, mas não o predetermina”. Ora, os méritos ou os deméritos humanos estão em nós, na medida em que somos senhores de nossos atos pelo livre-arbítrio. Logo, o que é objeto de mérito ou de demérito não é predestinado por Deus. E assim desaparece a predestinação dos homens.

2. ALÉM DISSO, como acima foi dito, todas as criaturas são ordenadas a seu próprio fim pela providência divina. Ora, das outras criaturas não se diz que sejam predestinadas por Deus. Logo, nem os homens.

3. ADEMAIS, os anjos são tão capazes de bem aventurança quanto os homens. Ora, não parece que corresponda aos anjos ser predestinados; com efeito, entre eles nunca houve miséria, ao passo que a predestinação é um projeto de misericórdia, segundo Agostinho. Logo, os homens não são predestinados.

4. ADEMAIS, OS benefícios concedidos por Deus aos homens são revelados aos santos pelo Espírito Santo, segundo o Apóstolo na Carta aos Coríntios: “Quanto a nós, não recebemos o espírito deste mundo, mas o Espírito que é de Deus, a fim de conhecermos o que nos foi dado por Deus”. Logo, se os homens fossem predestinados por Deus, uma vez que a predestinação é um benefício de Deus, os predestinados conheceriam sua predestinação. O que evidentemente é falso.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, lê-se na Carta aos Romanos: “Os que predestinou, também os chamou”.

RESPONDO.

Convém que Deus predestine os homens. Todas as coisas estão sujeitas à providência divina, como acima se demonstrou. E é próprio à providência ordenar as coisas para o fim, como foi dito. Ora, o fim ao qual ordena suas criaturas é duplo. Um ultrapassa a medida e a capacidade da natureza criada: e este fim é a vida eterna, que consiste na visão divina; e está acima da natureza de qualquer criatura, como acima se estabeleceu. Outro fim é proporcional à natureza criada: e este a criatura pode atingir pelo poder de sua natureza. Ora, o que não se pode alcançar com o poder de sua natureza, é necessário que seja transmitido por um outro: como a flecha é lançada para o alvo pelo arqueiro. Por isso, para falar com exatidão, a criatura racional, que é capaz da vida eterna, é para ela conduzida como que transportada por Deus. E a razão dessa ação divina preexiste em Deus, assim como existe nele a razão da ordem de todas as coisas ao fim, que chamamos de providência. Ora, a razão de algo a fazer existente na mente de seu autor é uma espécie de preexistência nele desta coisa a fazer. Eis por que a razão de conduzir a criatura racional ao fim, à vida eterna, é chamada predestinação; pois destinar é enviar. E assim evidente que a predestinação, quanto a seu objeto, é parte da providência.

QUANTO AO 1°, portanto, deve-se dizer que Damasceno chama predeterminação a uma necessidade imposta, como acontece nas coisas naturais, que são predeterminadas a agir de uma única maneira. O que fica evidente pelo que diz em seguida: “Não quer a maldade e nem força a virtude”. Logo, não exclui a predestinação.

QUANTO AO 2°, deve-se dizer que as criaturas irracionais não são capazes daquele fim, que ultrapassa a capacidade da natureza humana. Por esse motivo, não se pode dizer que são propriamente predestinadas, ainda que às vezes predestinação se aplique abusivamente a qualquer outro fim.

QUANTO AO 3°, deve-se dizer que ser predestinado convém aos anjos como também aos homens, ainda que nunca tenham sido miseráveis. O movimento não é especificado pelo termo de onde parte, mas pelo termo para o qual tende. Não importa à razão de branquear que o que se torna branco tenha sido negro, amarelo ou vermelho. Assim também, nada importa à razão de predestinação que alguém seja predestinado à vida eterna a partir ou não de um estado de miséria. — Aliás, pode-se dizer que toda concessão de um bem superior à dívida daquele a quem se concede, pertence à misericórdia, como foi dito acima.

QUANTO AO 4°, deve-se dizer que ainda que a própria predestinação seja revelada a alguns por um privilégio especial, entretanto, não convém seja revelada a todos; pois neste caso os não-predestinados cairiam no desespero e a segurança de ser predestinado geraria negligência.

 


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