Orientações do Ministério de Jonathan Edwards

por

John Piper

 

 

Quando eu estava no seminário, um professor sábio me disse que, juntamente com a Bíblia, precisaria escolher um grande teólogo e me dedicar, durante minha vida, a entender e dominar seu pensamento, mergulhando, de preferência, pelo menos a um palmo de profundidade em sua realidade, em vez de constantemente beliscar as superfícies das coisas. Que eu deveria, algum dia, ser capaz de “conversar” com este teólogo na condição de colega, e introduzir outras idéias em nosso diálogo frutífero. Foi um bom conselho.

O teólogo ao qual me tornei afeiçoado foi Jonathan Edwards. Devo-lhe mais do que poderia explicar. Nutriu minha alma com a beleza de Deus, com santidade e com o céu quando todas as outras portas pareciam estar fechadas para mim. Renovou minha esperança e minha visão de ministério em tempos de grande abatimento. Abriu, freqüentemente, a janela para o mundo do Espírito, quando tudo o que eu podia ver eram as cortinas do secularismo. Mostrou-me a possibilidade de combinar pensamentos rigorosamente exatos sobre Deus com afeição calorosa por ele. Edwards incorpora a verdade de que a teologia existe para a doxologia. Ele podia passar manhãs inteiras em oração, andando pelos bosques fora de Northampton. Possuía paixão pela verdade e por pecadores perdidos. Todas estas coisas floresciam em seu pastorado. Edwards possuía, sobretudo, paixão por Deus, este é o motivo pelo qual ele se torna tão importante, quando focalizamos a supremacia de Deus na pregação.

Edwards pregou daquela maneira, por causa do homem que foi e do que Deus que viu.

[...]

Quando ainda estava na faculdade, Edwards havia escrito 70 resoluções. Já vimos algumas delas, entre as quais havia uma que dizia: “Decidido. Viverei com todas as minhas forças, enquanto viver”. Para ele, isto significava uma devoção apaixonada ao estudo teológico. Mantinha um horário de estudo extremamente rigoroso. Ele achava que “Cristo recomendou o levantar cedo de manhã, pelo fato de ter ressuscitado e saído de sua sepultura de madrugada”. Assim, ele se levantava geralmente entre quatro e cinco da manhã para ir à sua sala de estudos. Sempre estudava com a caneta na mão, refletindo sobre todas as perspectivas que lhe vinham à mente, registrando-as em seus inúmeros cadernos de anotações. Até durante suas viagens alfinetava pedaços de papel no paletó para lembrar-se posteriormente das percepções que lhe ocorriam durante as mesmas.

Às noites, quando a maioria dos pastores geralmente se encontra exausto no sofá de casa, ou numa reunião da comissão de finanças, Edwards voltava a seu escritório, após uma hora com seus filhos, depois do jantar. Havia exceções. No dia 22 de janeiro de 1.734 escreveu em seu diário: “Julgo que é melhor, quando estou com uma disposição mental favorável para a divina contemplação [...] que eu não seja interrompido para ir jantar; prefiro privar-me do meu jantar a ser interrompido”.

Parece soar não muito saudável, especialmente para alguém cuja estrutura de 1,85m nunca foi robusta. Mas Edwards vigiava sua alimentação para otimizar sua eficiência e poder no estudo. Abstinha-se de toda e qualquer quantidade e tipo de alimento que o faria doente ou sonolento. No inverno, exercitava-se rachando lenha; no verão, cavalgava e andada pelos campos.

A respeito dessas caminhas pelos campos, ele um dia escreveu: “Às vezes, em dias límpidos, me percebo mais particularmente inclinado às glórias do mundo do que a me dirigir ao meu escritório, para estudar a sério as coisas da religião”. Portanto, ele também tinha seus conflitos. Porém, para Edwards, não era um conflito entre a natureza e Deus, mas entre duas experiências diferentes de Deus:

“Uma vez, em 1.737, ao cavalgar nos bosques por causa da minha saúde, tendo desmontado de meu cavalo em lugar afastado, como geralmente faço, para andar e para contemplação divina e oração, tive uma visão, que para mim foi extraordinária, da glória do filho de Deus, como Mediador entre Deus e o homem, e da sua maravilhosa, grande, plena, pura e doce graça, e do seu amor e de sua condescendência mansa e gentil [...] isto durou, no que posso avaliar, por mais ou menos uma hora; e me deixou na maior parte do tempo em um mar de lágrimas, chorando em alta voz”.

Edwards possuía um amor extraordinário pela glória de Deus na natureza. Os efeitos positivos deste amor sobre sua capacidade de se deleitar na grandeza de Deus e nas imagens que ele empregava em sua pregação foram tremendos.

[...]

O que Jonathan Edwards pregava e como ele pregava eram extensões de sua visão de Deus. Portanto, antes de examinar a sua pregação, precisamos ter um vislumbre dessa visão. Em 1.735, Edwards pregou um sermão baseado no texto: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Salmos 46:10). Do texto ele desenvolveu o seguinte tema: “Deus não requer de nós que nos submetamos contrariando a razão, mas que nos submetamos, vendo a razão e a base desta submissão. Conseqüentemente, a mera consideração de que Deus é Deus pode muito bem ser o suficiente para aquietar todas as objeções e oposições contra as disposições soberanas divinas”.

Quando Jonathan Edwards se aquietou e contemplou a grande verdade de que Deus é Deus, viu um Ser majestoso cuja simples existência subentendia poder infinito, conhecimento infinito e santidade infinita. Ele prosseguiu, raciocinando:

“É muitíssimo evidente pelas obras de Deus, que seu entendimento e poder são infinitos [...] Sendo ele infinito em entendimento e poder, também deve ser perfeitamente santo; pois impiedade sempre demonstra alguns defeitos, alguma cegueira. Onde não há escuridão ou engano, não pode haver impiedade [...]Deus, sendo infinito em poder e conhecimento, precisa ser auto-sucifiente e todo-suficiente; portanto, é impossível ele cair em qualquer tentação e fazer qualquer coisa inoportuna; pois ele não terá qualquer objetivo em fazê-lo [...] portanto, Deus é essencialmente santo, e nada é mais impossível do que Deus fazer algo errado”.


Para Edwards, o poder infinito, ou a soberania absoluta de Deus, era o fundamento da suficiência plena de Deus. E sua suficiência plena era o fundamento de sua perfeita santidade, e Edwards disse em sua obra A Treatise Concerning Religius Affections (Um tratado sobre as emoções religiosas) que a santidade de Deus compreende toda sua excelência moral. Portanto, para Edwards, a soberania de Deus era altamente crucial para qualquer outra coisa que ele acreditava acerca de Deus.

Aos 26 ou 27 anos, relembrando-se do tempo em que havia se apaixonado pela doutrina da soberania de Deus, nove anos atrás, Edwards escreveu: “Houve uma mudança maravilhosa em minha mente, com respeito à doutrina da Soberania de Deus, daquele dia até hoje [...] a absoluta soberania de Deus [...] é aquilo em que minha mente parece descansar confiantemente, e é tão real para mim quanto qualquer coisa que eu possa ver com meus olhos [...] esta doutrina tem se mostrado muitas vezes extremamente agradável, radiante e doce. Tenho grande deleite em atribuir absoluta soberania a Deus [...] a soberania de Deus sempre me pareceu ser uma grande parte de sua glória. Sempre me deleito em aproximar de Deus e adorá-lo como um Deus soberano”.

Quando Edwards contemplava a Deus e se encontrava arrebatado por sua absoluta soberania, ele não via esta realidade isoladamente. Ela era parte da glória de Deus. Era doce para Edwards, por ser parte substancial e vital de uma Pessoa infinitamente gloriosa, a qual ele amava com tremenda paixão.

Duas inferências se seguem a esta visão de Deus. A primeira inferência é que a finalidade de tudo o que Deus faz é confirmar e manifestar a sua glória. Todas as ações de Deus fluem em conseqüência de abundância, não de insuficiência. A maioria das ações humanas é praticada pela necessidade de compensar uma deficiência ou suprir alguma carência em nós mesmos. Deus nunca dá passos para suprir sua insuficiência. Ele não executa medidas terapêuticas. Como fonte soberana absoluta e de suficiência plena, todas as suas ações são o transbordar de sua plenitude. Ele nunca age para acrescentar algo à sua glória, mas somente para confirmá-la e manifestá-la. (Este tema encontra-se habilmente desenvolvido em outro trabalho dele, Dissertation Concerning the End for Which God Created the World [Discurso sobre o propósito pelo qual Deus criou o mundo]).

A outra inferência proveniente de sua visão de Deus é que o dever do homem é deleitar-se em Sua glória. Destaco intencionalmente a palavra deleite, porque muitas pessoas nos dias de Edwards, e também em nossos dias, estão inclinadas a dizer que o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre, mas, em geral, consideram o prazer em Deus como opcional, não compreendem, juntamente com Edwards, que o fim principal do homem é glorificar a Deus pela ação de gozá-lo para sempre.

Deleite é o que Edwards denominava um “sentimento” (podemos dizer emoção). Escreveu A Treatise Concerning Religius Affections (Um tratado sobre as emoções religiosas) para elaborar um ponto muito importante: “A religião verdadeira consiste, em grande parte, de sentimentos santos”. Ele definiu sentimento como “os mais vigorosos e sensíveis exercícios da inclinação e vontade da alma” - coisas como ódio, desejo, alegria, deleite, tristeza, esperança, medo, gratidão, compaixão e zelo.

Quando falamos que deleitar-se em Deus é nosso dever, devemos estar cônscios de que isto não é simples. Uma forte inclinação do coração humano sempre inclui outros sentimentos. Deleite na glória de Deus, por exemplo, incluir ódio para com o pecado, medo de desagradar a Deus, esperança nas promessas de Deus, contentamento na comunhão com Deus, desejo pela revelação final do Filho de Deus, exultação na redenção que ele efetuou, tristeza e contrição por falhas no amor, gratidão por benefícios imerecidos, zelo pelos desígnios de Deus, e fome de justiça. Nosso dever para com Deus é que todos os nossos sentimentos correspondam apropriadamente à sua realidade, e, assim, reflitam sua glória.

Edwards estava completamente convencido de que não há verdadeira religião sem sentimentos santos. “Aquele que não possui sentimentos religiosos está num estado de morte espiritual e completamente destituído de influências vivificantes, vindas do Espírito de Deus”.

Mas não somente isto; não há verdadeira religião (ou santo verdadeiro) onde não há perseverança nos sentimentos santos. Perseverança é a marca dos eleitos e necessária para a salvação final. “Aqueles que não querem viver vidas piedosas descobrem, por si mesmos, que não são eleitos; aqueles que querem viver vidas piedosas descobriram, por si mesmos, que são eleitos”.

[...]

 


Fonte: John Piper. A Supremacia de Deus na Pregação. Shedd Publicações. Pág. 65-66, 69-70, 75-77.

 

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