Revisão do Livro "The Openness of God"

por

Dr. Roger Nicole

 

 

The Openness of God. A Biblical Challenge to the Traditional Understanding of God [A "Abertura" de Deus. Um Desafio Bíblico ao Entendimento Tradicional de Deus]

Autores: Clark Pinnock, Richard Rice, John Sanders, William Hasker, David Basinger;


Este volume constitui um ataque frontal ao conceito reformado de Deus como expresso em suas confissões de fé e em seus teólogos ortodoxos. Ele também desafia a visão luterana, particularmente a de Lutero e do Sínodo de Missouri; a posição evangélica arminiana, advogada em diversas denominações; a visão católica romana tradicional, especialmente a de Agostinho e seus seguidores; a posição Ortodoxa Oriental; para não falar de algumas religiões não cristãs, especialmente o Islamismo. Alguém não pode, portanto, acusar os autores de falta de coragem ou de audácia para falar.

O ataque é feito em cinco partes, a saber:

Richard Rice Sustentação Bíblica
John Sanders Considerações Históricas
Clark Pinnock Teologia Sistemática
William Hasker Perspectiva Filosófica
David Basinger Implicações Práticas

 

Pode ser notado que somente o primeiro capítulo corresponde ao subtítulo, "Um Desafio Bíblico ao Entendimento Tradicional de Deus". Depois disso, somente Pinnock tem algumas referências bíblicas (13) neste texto, e eu não descobri nenhuma nas notas, exceto uma referência à visão de Sanders de Êxodo 3:14, que ele rejeita. A base bíblica para estes quatro capítulos e as 309 notas que os documentam é certamente sem valor.

A contestação básica do livro pode ser melhor demonstrada na forma de colunas comparativas.

Visão Reformada Tradicional
Visão "Aberta"

Deus é soberano e controla todas as coisas no mundo criado, incluindo as ações dos agentes responsáveis.

A soberania de Deus tem sido auto-limitada em virtude da criação de agentes livres.

O poder de Deus engloba o universo inteiro, todavia, de forma que "a vontade da criatura não é violentada".

O poder de Deus termina onde a vontade do homem começa e o próprio Deus estabeleceu esta auto-limitação.

O conhecimento de Deus engloba todas as coisas possíveis, e especificamente todas que acontecerão. Ele inclui o conhecimento eterno das futuras ações e decisões dos agentes livres.

O conhecimento de Deus é auto-limitado, porque o pré-conhecimento das ações dos agentes livres evidenciaria que eles não são livres.

Deus tem um plano eterno que certamente será realizado. Para Ele não há surpresa e nem desapontamento.

 

O plano de Deus tem uma multidão de vazios devido às ações ou decisões imprevistas dos agentes livres. A grandeza de Deus é manifesta em que Ele é capaz de Se deparar com qualquer coisa que aconteça.

A profecia predivita é baseada sobre o conhecimento exaustivo e será certamente realizada.

A profecia é baseada sobre as suposições instruídas de Deus do que irá acontecer. e ela freqüentemente é condicional à algumas ações ou decisões dos agentes livres. Esta condicionalidade não é sempre expressa em conexão com a profecia, promessa ou advertência. Por consegüinte, a aparição de não cumprimentos. Conforme a história de Jonas e Nínive.

O plano de Deus é imutável, assim a natureza de Deus. Portanto, expressões que falem de Deus Se arrependendo devem ser vistas como metafóricas.

Deus está constantemente pronto para ajustar Seus planos às circunstâncias. Se o plano A falhar, Ele pula para o plano B.

O poder da oração é visto como uma causa secundária no cumprimento do desígnio de Deus, assim como as outras causas secundárias são instrumentais nesta maneira. Oração muda coisas, mas não muda a opinião de Deus.

A oração é uma atividade eficaz através da qual anjos e homens podem funcionar como conselheiros de Deus e mudar Sua opinião.

Deus é intransitável no sentido que Ele não é, como os seres humanos, suscetível à sublevação de emoções. Ele não é impassível porque a Escritura O representa como misericordioso.

O ser de Deus é abalado pelas emoções de alegria e tristeza. Isto é essencial à Sua personalidade Trinitariana.

O amor de Deus, que é a maravilhosa expressão de Seu ser, não pode ser interpretado em abstração de outras perfeições: santidade, justiça, ódio santo do pecado, de Satanás e dos rebeldes não redimidos.

O amor de Deus é a Sua suprema perfeição e todas as outras características devem ser vistas, se necessário, reinterpretadas, nos temos de nosso entendimento deste amor.

A predestinação de Deus é aquela provisão graciosa pela qual, como resultado de Sua bondade e misericórdia, Ele escolheu uma multidão da raça humana pecaminosa e rebelde, e determinou que eles recebessem e aceitassem todos os benefícios de sua Salvação, providos para eles na obra de Cristo e aplicados neles no devido tempo pelo Espírito Santo.

A predestinação de Deus não está relacionada com indivíduos: ela é a benção de Deus sobre aqueles que, seja quem forem, se arrependem e crêem por sua própria iniciativa. Ele é também algumas vezes um apontamento de Deus para serviço.

Aqueles que não são eleitos sofrerão inevitavelmente as conseqüências do pecado de Adão e de sua própria rebelião pecaminosa, e serão para sempre separados de Deus.

Deus é tão misericordioso que não permite que alguém sofra o tormento eterno. Aqueles não salvos simplesmente cessarão de existir.

 

A metodologia que conduz à estas conclusões está radicalmente em desacordo com a fé reformada - uma fé que o próprio Professor Pinnock há uns 25 anos atrás. Ela pode ser resumida em duas premissas básicas:

1. Nada que pareça incompatível com nossa razão deve ser aceito como verdadeiro. Nós não temos direito de apelar ao mistério ou às antinomias quando estamos de frente com proposições que não podem se harmonizar.

2. Tendo como posição firme a noção da liberdade humana como baseada na realidade da possibilidade de uma escolha contrária, podemos prosseguir a entender Deus e Sua revelação somente enquanto percebermos a compatibilidade do que pensamos dEle com nossa premissa fundamental. Qualquer outra coisa deve ser brutalmente eliminada.

A história da Igreja, certamente, nos dá advertências com respeito aos impactos desta metodologia, porque este foi precisamente o caminho seguido por Pelágio e seus seguidores. Esta é também a premissa dos Socinianos no tempo da Reforma. Esta tem sua origem no antropocentrismo que é característica comum do liberalismo. Estes exemplos deveriam ser suficientes para darmos mais restrição aos cinco autores.

O livro tem sido o objeto de uma reação interessante por quatro eruditos nas páginas do Christianity Today (9 de Janeiro, 1995, páginas 30-33). Um destes, o Professor Roger Olson, parece-me muito mais um apoiador, embora ele veja um problema na auto-limitação de Deus e na precisão da profecia se Deus não conhece o futuro. Os outros três, Professor Douglas Kelly, Dean Timothy George e Professor Alistair McGrath são severamente críticos.

Sem repetir as censuras que eles têm feito, desejo declarar o seguinte:

1. Esta visão destrói a realidade da profecia bem como a significação das promessas de Deus. Como Deus poderia saber que Judas trairia Jesus por 30 moedas de prata, quando o pagamento e aceitação de tal soma dependiam de decisões imprevisíveis dos principais dos sacerdotes e de Judas?

2. Esta visão faz com que a oração a Deus pela conversão de pecadores seja de nenhum valor. Deus não pode fazer nada mais do que Ele já fez e o assunto depende totalmente dos pecadores.

3. Como Deus poderia prever a morte de Cristo antes da fundação do mundo (1 Pedro 1:20; Apocalipse 13:8; 17:8), quando Ele presumidamente ainda não sabia se Adão cairia ou não cairia?

4. Como Deus poderia sinceramente prever destruir todo o Israel, exceto a família de Moisés, da tribo de Levi, quando Ele tinha anunciado há longas décadas atrás, através de Jacó, um futuro para as 12 tribos (Gênesis 49), totalmente em desacordo com tal curso?

5. Como Deus poderia prever o que aconteceu a Jesus na terra, quando não era certo se Ele pecaria ou não pecaria? Como poderia o velho Simeão saber mais do que Deus? Deveríamos pegar a declaração do vinhateiro na parábola dos lavradores maus "Eles respeitarão o meu filho" (Mateus 21:37), como indicativo da expectação de Deus? Se não, por que nos é permitido tomar esta passagem metaforicamente?

6. De fato, sinto-me tão confiante da clara mensagem da Bíblia que estou pronto a desafiar qualquer pessoa para ler a Escritura de Gênesis a Apocalipse dentro de duas semanas e então sugerir esta idéia de um Deus auto-limitado! Salmos 115:3 expresso o impacto melhor do que eu poderia fazer: "Nosso Deus está no céu: Ele faz tudo o que Lhe apraz".

7. O entendimento apropriado da fé reformada não nega, mas inclui, a realidade das decisões responsáveis de agentes racionais, anjos e homens. O fato de não compreendermos totalmente como a soberania e a responsabilidade se relacionam uma com a outra não nos dá o direito de negar nenhuma das duas, ou dizer que alguém que sustente uma destas é obrigado a negar ou driblar a outra.

8. O que dá direito aos autores [do livro] de aconselharem a Deus em suas orações? O que eles sabem que Deus não sabe? (Isaías 40:13; Romanos 11:34). Francamente, eu mais cedo abandonaria o inestimável privilégio da oração do que pensar que Deus poderia querer consultar algumas pessoas de Rochester, Riverside, Huntington, Hamilton ou Bemidji, ou até mesmo Orlando, a fim de determinar Suas ações.

9. Embora alguns autores fortemente evangélicos tenham sido citados às vezes, as declarações que apóiam a tese deste livro são predominantemente reunidas de escritores neo-ortodoxos ou liberais, cujo acordo não necessariamente constitui algo de valor para a mente de um leitor evangélico.

10. Não é muito difícil prever para onde estas pessoas se moverão, se elas seguirem a lógica de sua própria posição. Eles brevemente abandonarão a doutrina cristã do pecado original, porque ela será vista como incompatível com o livre-arbítrio de todo ser humano que entra neste mundo (conforme Pelágio). O passo lógico seguinte é renunciar a expiação substitutiva penal, como tem freqüentemente acontecido no liberalismo e até mesmo no Arminianismo. Quando a expiação se vai, não há nenhuma grande necessidade de se manter a deidade de Cristo, e quando isto se vai, geralmente se descarta a doutrina da Trindade. Então, a pessoa estará em pé de igualdade com o socianismo, que é o último passo antes da total negação do cristianismo.

Na outra direção, a sedução da Teologia do Processo, que os presentes autores são ávidos para repelir, indubitavelmente exercerá algum poder sobre suas mentes. Quando alguém lê este livro, tem a impressão de que vezes após outras algumas páginas foram escritas por John Hick.

11. Não estou tanto alarmado pelo livro The Openness of God, ou pela defesa de tais visões por alguns que deram sinais de heterodoxia por algum tempo, tanto como estou com a abertura (openness) da Intervarsity Press, fundada para articular e defender a fé evangélica, ao publicar tal obra.


Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 28 de junho de 2004.


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