Deus é a Causa do Pecado?

por

Dr. W. Gary Crampton

 

 

O Dr. W. Gary Crampton responde uma crítica ao seu artigo, Deus e o Mal: O Problema Resolvido (PDF).

 

Email. Assunto: Artigo sobre Clark / Deus é realmente a causa do pecado?


Caro Sr. Coldwell,

Estou escrevendo isso para você como o editor da “The Blue Banner”.

Sua revista contém muitos materiais excelentes que honram a Deus e eu tenho a intenção de continuar recebendo-a com interesse.

Contudo, em minha convicção, o artigo que apareceu na edição Novembro/Dezembro 1999, intitulado “Deus e o Mal: O Problema Resolvido, de Clark”, embora não contendo uma heresia real, claramente apresenta uma corrupção da santa doutrina da soberania de Deus.

Seu forte interesse na pureza doutrinária me leva a crer que você não quer examinar seriamente toda a evidência contra a posição que você está apoiando. Eu creio que eu já a examinei suficientemente e estou disposto a compartilhar isso com você.

Aqui estão algumas questões que, espero, manterão a bola rolando.

Como o Dr. Clark sabe que o fato de que Deus causa toda a ação humana (e Ele causa!) prova que Ele causa as ações pecaminosas dos seres humanos? Você está ciente que Francis Turretin, por exemplo, ensinou que Deus incompreensivelmente causa uma sem a outra? Isso é impossível para Deus? Ele é incapaz de agir com tal precisão surpreendente?

Em Tiago 1:13-14, tentação refere-se à inclinação interior para pecar? O léxico Arndt & Gingrich (pp. 87-88) está errado quando ele afirma que Tiago está rejeitando a seguinte idéia: “a tentação é causada por Deus, embora não realmente realizada por ele”?

Em Cristo,

K. F.

 

Resposta do Dr. Crampton.


Caro Sr. Coldwell,

Eu recebi a crítica negativa ao meu artigo “Deus e o Mal: O Problema Resolvido”, do Sr. K. F. De acordo com sua solicitação, estou escrevendo essa resposta. Primeiro, o artigo que você publicou é na verdade uma resenha do livro “Deus e o Mal: O Problema Resolvido”, de Gordon H. Clark. A visão apresentada, portanto, é aquela do Dr. Clark. Contudo, visto que estou de acordo com a visão do Dr. Clark, ficarei feliz em responder às preocupações do Sr. F, uma por uma.

A primeira coisa que o Sr. F. diz é que o artigo, “embora não contendo uma heresia real, claramente apresenta uma corrupção da santa doutrina da soberania de Deus”. É difícil imaginar como um artigo que “claramente apresenta uma corrupção da santa doutrina da soberania de Deus” não é “uma heresia real”. Todavia, a visão ensinada pelo Dr. Clark é aquela que tem sido exposta pela igreja Reformada durante todos os séculos. A Confissão de Fé de Westminster (3:1; 5:1,4), por exemplo, afirma: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas... Pela sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho da sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor... A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, de tal maneira se manifestam na sua providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e poderosamente os limita, e regula e governa em uma múltipla dispensarão mas essa permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão somente da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo”.

Isso é o mesmo que dizer que Deus tem imutavelmente pré-ordenado todas as coisas que acontecem, incluindo as ações pecaminosas de todos os homens e anjos. Todavia, Ele tem feito isso por meio das “causas secundárias”. Assim, Deus, que é perfeitamente santo, e não pode pecar ou errar de forma alguma, não é o autor do pecado. Somente as causas secundárias podem pecar.

A segunda coisa que o autor da carta tem a dizer vem na forma de uma série de questões: “Como o Dr. Clark sabe que o fato de que Deus causa toda a ação humana (e Ele causa!) prova que Ele causa as ações pecaminosas dos seres humanos? Você está ciente que Francis Turretin, por exemplo, ensinou que Deus incompreensivelmente causa uma sem a outra? Isso é impossível para Deus? Ele é incapaz de agir com tal precisão surpreendente?”.

A questão aqui não é se algo é “impossível para Deus ”, ou se Ele é “incapaz de agir com tal precisão surpreendente”. A Escritura nos diz que “com Deus todas as coisas são possíveis” (Marcos 10:27), isto é, “todas as coisas” que são racionais, e não contrárias à Sua santíssima vontade. Além disso, a Escritura nos ensina que todas as coisas que Deus faz são perfeitas e santas (Salmos 77:13; Marcos 7:37; e outras passagens), e assim, manifestam “precisão surpreendente”. Antes, a questão é: “o que a Escritura diz?” (Romanos 4:3).

O Dr. Clark sabia que Deus causa toda ação humana (pensamento, palavra e ato), como o Sr. F. concorda, pois a Bíblia diz que Ele assim o faz (Hebreus 1:3; Colossenses 1:16-17; Salmo 145:14-16; Neemias 9:6; e outras passagens). E visto que “as ações pecaminosas dos seres humanos” são, por definição, elas mesmas uma ação (ou ações), então Deus, em última instância, causa essas também (Isaías 45:7; Amós 3:6; Atos 2:23; 4:27-28; e outras passagens). Ou para colocar na forma de um silogismo: Deus causa toda ação humana; o pecado é uma ação humana; portanto, Deus causa o pecado. Além disso, objetar alegando que “Deus incompreensivelmente causa uma sem a outra” é realmente infantil. Isto é, se as ações de Deus em tais questões são incompreensíveis, como saberíamos que Ele “causa uma sem a outra”? Além do mais, se a doutrina da incompreensibilidade de Deus ensina (o que ela não o faz!) o que o Sr. F. parece crer que ela ensina, não poderíamos saber nada (ou praticamente nada) sobre Deus, de forma alguma.

A terceira resposta tem a ver com Tiago 1:13-14, onde lemos: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência”. O Sr. F. coloca a questão: “O léxico Arndt & Gingrich (pp. 87-88) está errado quando ele afirma que Tiago está rejeitando a seguinte idéia: 'a tentação é causada por Deus, embora não realmente realizada por ele'?”. Sim, essa é uma análise incorreta dos versículos. Como apropriadamente ensinado pela Confissão de Fé de Westminster (5:4), a providência de Deus “se estende até a primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e poderosamente os limita, e regula e governa em uma múltipla dispensarão mas essa permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão somente da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo”. Um exemplo disso é encontrado no relato bíblico da tentação de Jesus no deserto. Mateus 4:1 declara claramente que “Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. Aqui aprendemos que foi Deus o Espírito Santo quem conduziu Jesus para ser tentado, mas foi a criatura Satanás (uma causa secundária) quem realizou a tentação.

A Escritura é clara nesse ponto. Deus é a causa primária de todas as coisas, incluindo o pecado (Isaías 45:7; Amós 3:6). Mas Ele realiza Seus bons propósitos por meio de causas secundárias, suas criaturas.

Se alguém tem um problema com isso, o seu problema não é com o Dr. Clark; é com Deus.

Humildemente, em Cristo,

Dr. W. Gary Crampton

 

 


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 02 de Setembro de 2005.


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