História da Teologia Cristã
(Resenha do Livro)
por
Franklin Ferreira

História da Teologia Cristã

Autor: Roger Olson
Editora: Vida (São Paulo)
Páginas: 668 p. Ano: 2000
Traduzido por Gordon Chown, do original inglês The story of Christian theology (Downers Grove: Inter Varsity Press, 1999).

 

Neste volume, Roger Olson oferece uma introdução à teologia histórica que leva a sério as necessidades do leitor, de ter um texto acessível e interessante, sem sacrificar a profundidede de seu assunto. Olson ensinou na Faculdade e Seminário Bethel, em St. Paul, Minnesota, por mais de 15 anos, inclusive ministrando um curso no qual este livro foi baseado. Ele também é autor de vários trabalhos populares e acadêmicos, servindo desde 1998 como editor da Christian Scholar's Review. Ele assumiu recentemente a posição de professor de teologia no Seminário Teológico Truett, da Universidade Baylor. Ele também é membro da Baptist General Conference, uma convenção batista de origem sueca nos Estados Unidos. Também é co-autor, com Stanley Grenz, de 20th Century Theology: God and the World in a Transitional Age (publicado pela Inter Varsity), que já está em fase de revisão e será publicado em português pela Cultura Cristã.

A História de Teologia Cristã é marcada por duas características significantes que a distinguem da maioria dos outros trabalhos de seu tipo. O primeiro é a audiência que ele quer alcançar. No início, Olson oferece sua razão para escrever este livro, observando que enquanto muitos trabalhos em teologia histórica estão disponíveis, poucos tem sido escritos para alcançar aqueles com pouco ou nenhuma formação teológica ou histórica. Ele buscou tapar este buraco na literatura escrevendo principalmente para "leigos e estudantes cristãos, sem qualquer noção teológica, e também para pastores cristãos interessados numa 'recapitulação' da teologia histórica" (p. 14). O autor não faz nenhuma reivindicação de originalidade; ao contrário, busca fazer uma contribuição a este campo específico provendo um "panorama modesto dos pontos de especial interesse na teologia histórica cristã, para leitores que talvez não tenham o menor conhecimento ou noção dessa história fascinante" (p. 15). Para este fim, Olson preparou um texto de fácil assimilação, com quase nenhuma menção de termos técnicos e com explicações claras de terminologia citada, onde seu uso é requerido. Além disso, Olson claramente prepara o contexto no qual foram desenvolvidas as idéias que ele discute e explica a importância delas para vida cristã e fé.

Uma segunda característica significante de seu trabalho é seu emprego da história ou narrativa. Olson explica que enquanto a "história" é percebida freqüentemente como pouco mais que uma recitação enfadonha de datas e fatos, a narração de uma história extrai uma resposta mais positiva e evoca a atenção de leitores modernos. Ainda, como Olson aponta, a história consiste em grande parte na recontagem de histórias sobre as pessoas, eventos e idéias que amoldaram o passado e que continua, para melhor ou para pior, a influenciar o presente. A história de teologia não é nenhuma exceção a esta regra. Então, Olson conclui que "pode, e deve, ser contada como uma história" e este livro "é fruto do esforço de contar bem essa história e de tratar com imparcialidade cada uma das suas tramas secundárias" (p. 13).

Para organizar as muitos histórias numa história de teologia, e para lher dar coerência "em uma única e grande narrativa do desenvolvimento do pensamento cristão", Olson busca focar o "interesse que todos os teólogos cristãos (profissionais e leigos) têm pela salvação: o gesto redentor de Deus de transformar e perdoar pecadores" (p. 13). Ainda que sabendo que outros assuntos e doutrinas assumam o centro em pontos particulares na história de teologia, Olson sugere que a preocupação primordial da Igreja foi entender e explicar corretamente a redenção, e esta nunca esteja distante de outras discussões e parece estar por trás da maioria das outras questões. Ele, então, estruturou sua narrativa ao redor da indagação teológica da Igreja para compreender a atividade redentiva de Deus ao perdoar e trans-formar seres humanos pecadores.

Trabalhando com estas características em mente, de forma convincente Olson consegue arrumar um grande esboço da história da teologia. Seu tratamento dos desenvolvimentos principais geralmente é completo, equilibrado e proporcional. Ele é judicioso em sua avaliação dos numerosos personagens e no desenvolvimentos do enredo, mostrando uma consciência das diversas posições contraditórias dos vários historiadores eclesiásticos, sem permitir que tal disputa se imponha em sua narrativa. Ele resiste à tentação de se desviar e se preocupar com as várias narrativas paralelas que poderiam conduzí-lo para longe da história principal que ele quer contar. A proporcionalidade do livro é apropriada, com aproximadamente a metade de suas páginas dedicadas aos primeiros mil anos da história da igreja, sobrando um terço para os desenvolvimentos da reforma até o presente.

O tratamento de Olson dos primeiros mil anos da história da Igreja, até o Grande Cisma, é particularmente forte. Ele cobre de forma significativa as principais figuras, controvérsias e concílios deste período e ilumina de forma muito útil os diferentes temperamentos culturais de pensadores orientais e ocidentais, conectando-os com as tensões teológicas contínuas entre leste e oeste que eventualmente culminaram no Grande Cisma.

A pesquisa de Olson do período medieval é a seção mais desapontando do livro, devido a sua cobertura truncada deste período fascinante de renovação teológica. Esta seção inclui só três capítulos (quando todas as outras partes têm quatro cada) e dedica quase toda sua atenção no escolasticismo, ignorando totalmente a tradição mística. Também, os desenvolvimentos do escolasticismo durante o período medieval, tão críticos para uma compreensão da Reforma, é simplesmente ignorado, com a exceção de William de Ockham. E quanto ao humanismo renascentista, o movimento intelectual mais importante antes e durante a Reforma, recebe pouca atenção, sendo que num capítulo longo, só sete páginas são dedicadas a este movimento, toda centradas em Erasmo de Rotterdã. Claro que em um já trabalho longo e introdutório como este um autor não pode abordar todos os assuntos. Porém, a inclusão de material sobre Duns Scotus e Bonaventura (teólogo místico franciscano), Gabriel Biel (teólogo alemão da mais recente escola medieval, conhecida por via moderna), e talvez Jan Hus, junto com um capítulo com mais menções à teologia dos humanistas, teria fortalecido esta seção do livro consideravelmente.

Como seria esperado, na seqüência Olson discute a Reforma, considerando as figuras-chave das principais tradições cristãs: luteranos (Lutero), reformados (Zuínglio e Calvino), ana-batistas (Hubmaier e Menno Simons) e anglicanos (Cranmer e Hooker), como também o catolicismo tridentino. Geralmente Olson faz um excelente trabalho ao resumir os ensinos e preocupações centrais destes personagens, nos seus contextos particulares, iluminando alguns dos elementos distintivos destas tradições. A exceção é seu tratamento de João Calvino. Da perspectiva de Olson, Calvino parece ser um pensador muito pouco original, que "baseou-se em Lutero, Zuínglio e no reformador de Estrasburgo, Bucer, e aproveitou muito do pensamento deles" (p. 420) e fez pouco mais que "transmitir a teologia reformada de Zuínglio ao resto do mundo" (p. 422). Tais declarações, juntou coma a repetição da noção historicamente inexata de que Calvino "reinou praticamente como um ditador da cidade" de Genebra (p. 419), deixa o leitor com uma impressão claramente negativa de Calvino e com uma percepção equivocada de sua contribuição para o desenvolvimento da tradição reformada e da história de teologia.

Em contraste, Olson faz um excelente trabalho ao resumir a altamente influente mas pouco conhecida teologia de Jacob Arminius, começando com o contexto reformado na qual emergiu. Além disto, ele também discute o pietismo, o puritanismo, o metodismo e deísmo. A melhor parte do livro está em sua divisão final, em como ele ordena a diversidade que caracteriza teologia protestante contemporânea. Aqui Olson descreve as três opções que dominaram o contexto teológico moderno (liberalismo, ortodoxia/fundamentalismo e neo-ortodoxia), as pesquisas e desenvolvimentos recentes em vários movimentos teológicos e avalia as futuras possibilidades para a teologia.

Em qualquer ato de narrar ou escrever uma história, a perspectiva do autor dá à narrativa um formato especial, e neste texto fica evidente as convicções e interesses evangélicos de Olson. Por um lado, ele não oferece nenhuma avaliação dos desenvolvimentos da teologia ortodoxa depois do Grande Cisma, e só dá alguns poucos detalhes da história de teologia católica depois da Reforma. Não obstante, Olson prestou um valioso serviço para a comunidade teológica evangélica realmente provendo uma história da teologia atrativa, o que talvez seja, atualmente, o melhor trabalho introdutório em teologia histórica disponível em português. É provável que se torne um texto padrão para seminários evangélicos, se tornando muito útil tanto na sala de aula como na igreja.


Franklin Ferreira doutorando em teologia, professor de Teologia Sistemática e História da Igreja no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e na Escola de Pastores, ambos no Rio de Janeiro.


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