Pastoreando a Igreja
(Resenha do Livro)
por

Isaias Lobão Pereira. Jr.

STOWELL, Joseph M. Pastoreando a Igreja. Editora Vida, 317 pags.

Resenhado por Isaias Lobão P. Jr.


Estamos vivendo uma fase muito rica no campo de publicações evangélicas. Várias áreas estão sendo (re)descobertas e muitos títulos estão aparecendo no mercado. Mas, uma área pobre em publicações, foi a pastoral. Depois de uma série de livros que tratam (apenas) de técnicas e métodos, de crescimento e expansão da igreja, estamos vendo aparecer no mercado, livros que tratam da alma do pastor, da essência do pastorado, explicando qual é o modelo bíblico do pastor e do ministério pastoral.

Livros como, A Noiva de Cristo de Charles Swindoll, O Coração do Pastor de Eugene Peterson, entre outros, são livros que caminham na contramão do sistema técnocrático apresentado em várias publicações. Que buscam apresentar o pastor como um executivo ou um empresário bem-sucedido, não como um líder espiritual.

Juntando-se aos títulos acima mencionados, a Editora Vida, lançou, Pastoreando a Igreja, de Joseph M. Stowell. O livro foi publicado originalmente nos EUA, pela Moody Press. Editora que é ligada ao conhecido Instituto Bíblico Moody, em Chicago.

Stowell é pastor batista, filho e neto de pastor, conhece bem o tema tratado no livro. Trabalha atualmente, como presidente do Instituto Moody, que além da escola e da editora, compreende vários outros ministérios.

O livro é dividido em quatro partes, como se fosse um sermão que o autor nos apresenta. Como em todos os bons sermões, ele usa algumas palavras chaves.

A parte 1, ele chamou de Perspectiva. onde o autor nos apresenta o desafio, de ser pastor em meio da uma cultura secularizada e descrente. Ele se utiliza da linguagem de Charles Dickens, no seu Um conto de duas cidades, que define nosso tempo, como “ foi o melhor dos tempos e o pior dos tempos”. Para Stowell o século XXI se apresenta como um século de oportunidades. Mesmo que a descrença e o desânimo estejam reinando entre muitos pastores, ele crê (acertadamente) que este é um momento rico para a Igreja.

Ele discute nesta parte temas como, a evangelização num contexto de pluralidade de opções religiosas, a influência da mídia, o impacto do pensamento pós-moderno e sobre o sucesso no ministério. Interessante notar a perspectiva de sucesso que Stowell defende. Diferente da maioria dos livros de “auto-ajuda” pastoral que tanto povoam as prateleiras das livrarias (e infelizmente, a cabeça de muitos líderes) sucesso é ser fiel ao propósito de Deus. Segundo ele:

“O verdadeiro sucesso não é medido pelo endereço de nosso ministério. Não é medido por prédios, terrenos ou localizações. Nem é medido pelo tipo de casa em que vivemos ou pelo prestígio da vizinhança que usufruímos. Ainda que nenhuma destas coisas seja errada em si no contexto da boa mordomia, não são medidas de sucesso. O lugar em que o sucesso é medido é a eternidade. O que fazemos neste lado da vida e que faz diferença no outro lado da existência é a medida do nosso sucesso”. Pg. 89

Ele ainda continua dizendo: ”Qual a finalidade do sucesso? É glorificar o nome de Deus e enriquecer a eternidade. Não é glorificar-nos e estender nossos domínios. Essa sensatez bíblica nos orienta e guarda da sedução de falas noções do sucesso” pg. 90.

“Meu sucesso é medido pela minha vida diante de Deus, pelo meu crescimento à sua semelhança, pelo caráter, não pelo aplauso”. Pg. 91.

A segunda parte é chamada de Personalidade. Aqui Stowell fala sobre a postura ética do pastor. Sobre o seu caráter. Na opinião deste resenhista, esta é a mensagem central do livro. “O caráter é o item principal na vida de um pastor”. Pg. 148. Nesta mesma página ele afirma: “ nas trevas desesperadoras do século 21, a luz da liderança centrada no caráter brilhará como chama que conduzirá muitos a Cristo e ao regozijo na vida cristã”.

A partir desta afirmação, Stowell passa a discutir uma área muito delicada no ministério pastoral, a linguagem do pastor. Como o pastor se serve do púlpito e grande parte de seu trabalho envolve a comunicação, as palavras que o pastor profere são importantes. Segundo ele: “as palavras denunciam o nosso coração... Elas são um reflexo de nosso relacionamento com Deus... se, entretanto, tudo o que temos é uma religião simplesmente de hábito, profissional, ritualista, nossas palavras acabarão por desmascarar esse fato”.

O mais importante é que esta transformação, segundo Stowell, não acontece da noite para o dia, como outros livros e movimentos tão populares estão apregoando por aí. Cultivar o caráter cristão leve tempo e dedicação. Conforme ele afirma na Pg. 244: “O desenvolvimento do caráter é um processo que leva a vida toda e nunca realmente se completa, antes, é uma experiência intencional de crescimento na direção de um enriquecimento cada vez mais profundo da qualidade de vida...Há diversos elementos para o desenvolvimento bem-sucedido do caráter. Nosso andar com Cristo, nossa exposição e submissão a ele são o ponto mais vital para fazer o progresso mensurável e possível...Desenvolvimento de caráter leve tempo. Uma vida inteira. entretanto é indispensável para um líder que de fato pretende transformar vidas”.

A terceira parte, Stowell chamou de Pregação. Onde ele se propõe a discutir os elementos da pregação transformadora. Porque para Stowell, a pregação visa um único objetivo, alcançar o coração das pessoas. Mais do que eloquência, lógica e grandeza, o pregador deve buscar a eficiência. Assim ele afirma, pg. 250: “...o objetivo de proclamar a Palavra de Deus é transformar vidas. Transformar pessoas para que pensem mais claramente sobre Deus e sobre quem Ele é. Pensar com mais clareza sobre o que realmente somos e transformar vidas que se inclinam para o pecado, levando-as a santificação que cada vez mais traga glória a Cristo e à consagração em proveito do reino de Deus”.

Para ele, existem quatro elementos que se relacionam diretamente com a eficácia de uma pregação transformadora. O pregador, que entende a importância da qualidade de sua vida; vê além de sua profissão de pregador o propósito de sua pregação. Aceita com boa dose de realidade não apenas o prazer, mas a dor de seu chamado e confere ao processo tempo e atenção suficientes.

O segundo elemento na pregação transformadora é o texto. “o poder não está na criatividade sábia do comunicador, mas na verdade intrínseca da Palavra de Deus”. Sua crítica é voltada para a tendência moderna de transformar a pregação em uma preleção valiosa de “auto-ajuda”, que contém alguns versículos bíblicos. Seu clamor é pelo resgate da pregação expositiva, que busca o real sentido da Escritura e apresenta a verdade com poder e unção.

Como terceiro elemento, temos o contexto. Onde ele afirma, pg 272: “a eficiência requer que nós pregadores não só cheguemos ao domínio do texto e de nós mesmos, mas também que avancemos além do texto, até o contexto da cultura e da nossa congregação e, então criemos um veículo para a verdade, caracterizado pela clareza.” Então ele cita a observação de John Stott, que o pregador eficaz precisa não só fazer a exegese do texto, mas precisa fazer também a exegese de seus ouvintes. Para tanto, Stowell destaca, que a aplicação do sermão é de suma importância. Os ouvintes buscam relacionar as verdades da Escritura com a sua vida. Entender a Bíblia em seu contexto é crucial, mas sem a contextualização, a mensagem não chega ao seu objetivo.

Pensando nisto, nós que ministramos na América Latina, devemos ler bem o que Stowell está dizendo aqui. Vivemos em outra sociedade, com outros problemas; como a corrupção, a pobreza, a desigualdade social e o sincretismo religioso. Nossa pregação não deve ser a repetição acrítica dos elementos importados (principalmente dos EUA), mas partir de uma avaliação séria de nosso contexto sócio-econômico e religioso, para possamos, também, ser eficazes na causa do mestre.

O último elemento, ele chamou de clareza. “Precisamos trabalhar duro para assegurar que as pessoas entendam corretamente os nossos sermões em duas dimensões importantes. A primeira é que entendam claramente o que o texto diz; a segunda, que entendam claramente o que o texto diz para a vida delas”. Pg.290.

“O alvo da pregação eficaz é sermos pregadores que entendem a si mesmos e o seu papel, que tenham enfrentado o texto nos termos da vida real dos contextos de seu povo e que se tenham transformado em instrumentos de transformação que o Espírito Santo possa usar para glorificar a Deus por meio de vidas transformadas”. Pg. 298.

A quarta e última parte do livro, foi chamada por Joseph Stowell de Proficiência. Aqui ele conclui dizendo que o pastor deve perseverar no seu trabalho. “O ministério não é uma corrida de cem metros rasos, mas uma maratona”. Pg 315. “o chamado de Deus para a nossa vida é que quando as pressões sobrevêm, devemos permanecer sob elas até que a tarefa termine adequadamente e até que essas pressões tenham feito seu trabalho de formar e moldar-nos para os dias vindouros”. O objetivo do ministério é terminar bem. Ser fiel até o fim.

Uma palavra final. Deve ser destacado o papel do tradutor. Que se preocupou em explicar o termos menos comuns e estranhos a nossa cultura, em diversas notas explicativas. Isto demonstra cuidado e compromisso com o leitor.

Recomendo com entusiasmo esta obra, a pastores, líderes e seminaristas. Senti-me enriquecido e motivado ao terminar de ler o livro e espero que esta seja a sua experiência.


 


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