Santificado

por

Vincent Cheung



A palavra SANTIFICAÇÃO pode ser usada em dois sentidos. SANTIFICAÇÃO DEFINITIVA refere-se à quebra instantânea e decisiva do domínio do pecado no crente recém-convertido, quando ele chega à fé em Cristo. Deus o consagra e o separa do mundo. Mas nesta seção, estamos interessados na SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA, que se refere ao crescimento gradual do crente em conhecimento e santidade, de forma que, tendo recebido justiça legal na justificação, ele pode agora desenvolver a justiça pessoal em seu pensamento e comportamento.

Algumas pessoas cometem o engano de pensar que o todo da santificação é como a justificação, no sentido de ser um ato imediato de Deus pelo qual Ele nos faz alcançar a perfeita santidade em pensamento e conduta, e dessa forma, implicam que os cristãos verdadeiros não mais cometem pecado, de forma alguma. Contudo, embora isto tenha um ponto definido de começo na regeneração, a Bíblia descreve a santificação como um processo de crescimento, de forma que a pessoa pensa e se comporta, de modo crescente, de uma maneira que é agradável à Deus, e se conforma à semelhança de Cristo.

Várias passagens na Bíblia dão a impressão de que alguém cessa de pecar após a regeneração. Por exemplo, 1 João 3:9 diz, “Ninguém que é nascido de Deus continua a pecar, pois a semente de Deus permanece nele; ele não pode continuar pecando, pois é nascido de Deus”. Mas este verso está dizendo somente que, alguém que é nascido de Deus não continuará no pecado, e não que ele não mais pecará de forma alguma. De fato, logo no começo ele escreve, “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1:8). Isto é, uma pessoa regenerada exibirá uma transformação definida em seu pensamento e comportamento. A perfeição não está em vista aqui, mas um claro voltar do pensamento e viver ímpio para um pensamento e viver santo.

Na mesma carta, o apóstolo João escreve, “Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 João 2:1). A obra expiatória de Cristo pagou efetivamente, não somente por aqueles pecados que cometemos antes da regeneração, mas também por aqueles subseqüentes a ela. Contudo, João não escreve isto para nos conceder a liberdade para pecar, mas, em vez disso, ele diz, “escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem”. O verso também mostra que ele não demanda que os cristãos alcancem a perfeição sem pecado, visto que ele fez a provisão para aquele que peca, dizendo, “Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai”.

Hebreus 12:4 apresenta a santificação como parcialmente “uma luta contra o pecado”, mas a Bíblia também nos diz que esta é uma luta que podemos vencer. Paulo escreve:

Não ofereçam os membros dos seus corpos ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus corpos a ele, como instrumentos de justiça. Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça. (Romanos 6:13-14)


O pecado não é o nosso senhor, de forma que não precisamos obedecer-lhe. Fomos libertos do pecado para que possamos agora viver vidas justas.

Como em todas as áreas da nossa vida espiritual, o modo de crescermos em santidade envolve o intelecto e a volição, ou o entendimento e a vontade. Pedro escreve, “Graça e paz lhes sejam multiplicadas, pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor. Seu divino poder nos deu todas as coisas de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”. (2 Pedro 1:2-3). Nós crescemos em maturidade espiritual primeiramente através do conhecimento. Seria impossível evitar a impiedade e perseguir a justiça sem uma clara concepção do que impiedade e justiça significam, e que tipos de pensamentos e ações pertencem a cada uma delas. Com respeito à nossa volição, Paulo escreve, “Considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus” (Romanos 6:11).

Como todos os itens que este capítulo discute, a santificação é uma obra de Deus; contudo, ela é SINERGÍSTICA na natureza, significando que num sentido ela é também uma obra do homem, e requer sua vontade e esforço deliberado no processo. Sobre este assunto, Paulo escreve: “Assim, meus amados, como sempre obedeceram, não apenas em minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, desenvolvam a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele”. (Filipenses 2:12-13) [43]

O crente deve tomar ativamente sua parte na santificação, de forma que ele busque uma vida de obediência à Deus “em temor e tremor”.

Contudo, a passagem continua a explicar que mesmo o desenvolvimento da nossa salvação é, no final das contas, uma obra de Deus: “É Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele”. Nossas decisões e ações ainda continuam debaixo do controle de Deus após a regeneração e santificação. Portanto, embora uma pessoa esteja cônscia de seus esforços e lutas na santificação, no final é Deus quem recebe a glória, e o crente ainda não poderá se gloriar de suas próprias realizações.


NOTAS:

[43] - A palavra “salvação” não deveria ser confundida com justificação, visto que Paulo não está falando de alcançar a justiça legal diante de Deus, nesta passagem. Regeneração, justificação, santificação e assim por diante, muitas vezes se encontram sob o termo geral “salvação”, e assim, o leitor deve prestar atenção ao contexto para ver em que sentido o termo está sendo usado. Aqui, Paulo admoesta os crentes a exercerem esforços conscientes no seu crescimento espiritual, ou santificação.

 



Nota sobre o autor: Vincent Cheung é o presidente da Reformation Ministries International [Ministério Reformado Internacional]. Ele é o autor de mais de vinte livros e centenas de palestras sobre uma vasta gama de tópicos na teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Através dos seus livros e palestras, ele está treinando cristãos para entender, proclamar, defender e praticar a cosmovisão bíblica como um sistema de pensamento compreensivo e coerente, revelado por Deus na Escritura. Ele e sua esposa, Denise, residem em Boston, Massachusetts. http://www.rmiweb.org/


Extraído e traduzido de Systematic Theology, de Vincent Cheung, páginas 201-202.

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 04 de Abril de 2005.


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