Sobre a Morte do Rev. Sr. George Whitefield

por

John Wesley

 

 


Pregado na Capela em Tottenham-Court Road e no Tabernáculo, perto de Moorfields, no Domingo, 18 de Novembro de 1770.

Que eu morra a morte dos justos, e o meu fim seja como o dele!” (Números 23:10);

1. “Que meu fim seja como o dele!”. Quantos de vocês se unem a este desejo? Talvez existam poucos de vocês que não desejem; até mesmo nesta numerosa congregação! E, Ó, que este desejo possa repousar sobre suas mentes! – que ele não morra até que suas almas também estejam habitando “onde o perverso cessou de perturbar, e onde o exausto descansa!” [1].

2. Uma exposição elaborada do texto não será esperada nesta ocasião. Ela lhes afastaria da triste, embora muito agradável lembrança do nosso amado irmão, amigo e pastor; sim, e pai também: pois, quantos estão aqui, aos quais ele “procriou no Senhor!” [2] . Não seria mais adequado às suas inclinações, assim como para esta solenidade, falar diretamente deste homem de Deus, a quem vocês tão freqüentemente ouviram falar neste lugar? – a finalidade de cuja fala, vocês sabem, tem sido “Jesus Cristo, o mesmo ontem, e hoje, e para sempre” [3] . E não podemos nós:

I. Observar alguns particulares de sua vida e morte?

II. Ter alguns vislumbres de seu caráter?

III. Inquirir em como podemos melhorar esta terrível providência, sua súbita remoção de nós?


1. Nós podemos, em primeiro lugar, observar alguns poucos particulares de sua vida e morte. Ele nasceu em Gloucester, em Dezembro de 1714 [4], e se matriculou na escola de gramática lá, quando tinha uns doze anos. Quando fez dezessete ele começou a ser seriamente religioso, e serviu a Deus no melhor de seu conhecimento. Por volta dos dezoito ele se transferiu para a Universidade, e foi admitido no Pembroke College em Oxford; e um ano depois, tornou-se familiarizado com os Metodistas (assim chamados), aos quais, desde aquele tempo, ele amou como sua própria alma.

2. Através deles, ele foi convencido de que nós “devemos nascer de novo” [5], ou que a religião exterior não nos traria proveito algum. Ele juntou-se a eles nos jejuns às quartas e sextas-feiras; no visitar o doente e prisioneiros; e em reunir os vários fragmentos de tempo, para que nenhum momento pudesse ser perdido: e mudou o curso de seus estudos; lendo principalmente aqueçes livros que entravam no âmago da religião e conduzia diretamente a um conhecimento experimental de Jesus Cristo, e Ele crucificado [6].

3. Ele logo foi provado como com fogo. Não apenas sua reputação foi perdida, e alguns dos seus mais queridos amigos desistiram dele; mas ele foi experimentado com provações interiores, e estas do tipo mais severo. Muitas noites ele se deitou sem sono em sua cama; muitos dias prostrado no chão. Mas depois que gemeu diversos meses, sob o “espírito da escravidão”, Deus se agradou de remover-lhe o fardo pesado; dando-lhe “o Espírito de adoção” [7]; capacitando-o, através da fé viva, a se agarrar ao “Filho do Seu amor” [8].

4. No entanto, pensou-se necessário, para a recuperação de sua saúde, que estava enfraquecida, que ele fosse para o campo. Ele concordantemente foi para Gloucester, onde Deus o capacitou para despertar diversos jovens. Esses logo se reuniram em uma pequena sociedade, e foram alguns dos primeiros frutos do seu trabalho. Pouco tempo depois ele começou a ler duas ou três vezes por semana para alguns pobres na cidade; e todos os dias ele lia e orava com os prisioneiros na cadeia do condado.

5. Estando agora por volta de vinte e um anos de idade, foi-lhe solicitado que entrasse nas ordens santas. Disto, ele estava grandemente temeroso, profundamente consciente de sua própria insuficiência. Mas o próprio bispo enviou-lhe convite e lhe disse: “Embora eu tenha proposto ordenar ninguém com menos de vinte e três anos, ainda assim, eu ordenarei você, quando quer que você venha” e diversas outras circunstâncias providenciais ocorreram ele ofereceu-se, e foi ordenado no Domingo da Trindade, em 1736 [9]. No domingo seguinte ele pregou para um auditório lotado, na igreja em que foi batizado. Na semana seguinte ele retornou para Oxford, e recebeu seu grau de Bacharel: ele estava agora completamente ocupado; o cuidado com os prisioneiros e os pobres caiu principalmente sobre ele.

6. Mas não muito tempo depois ele foi convidado a Londres, para servir ao curato de um amigo que ia para o interior [10]. Ele continuou lá dois meses, habitando na Torre, lendo orações na capela duas vezes por semana, catequizando e pregando uma vez, além de visitar os soldados nos acampamentos e enfermaria. Ele também lia orações, todas as tardes, na capela em Wapping, e pregava na prisão de Ludgate, toda terça-feira. Enquanto ele esteve aqui, cartas vieram de seus amigos da Geórgia, que o fizeram desejar ajudá-los: mas não visualizando claramente seu chamado, no momento designado, ele retornou para sua pequena responsabilidade em Oxford, onde diversos jovens se encontravam diariamente em sua sala, para edificarem uns aos outros em sua mais santa fé [11].

7. Mas ele rapidamente recebeu convite de lá novamente, para suprir o curato de Dummer, em Hampshire [12]. Ali, ele lia orações, duas vezes ao dia; cedo na manhã, e à tarde, depois que as pessoas vinham do trabalho. Ele também catequizava diariamente as crianças, e fazia visitas de casa em casa. Ele agora dividia o dia em três partes, distribuindo proporcionalmente oito horas para o sono e refeições, oito horas para estudo e isolamento, e oito horas para ler as orações, catequizar, e visitar as pessoas. Existe uma maneira mais excelente de servir a Cristo e Sua Igreja? Se não, quem “seguirá o exemplo e fará o mesmo?” [13].

8. Ainda assim, sua mente se inquietava em sair fora de casa; e estando agora completamente convencido de que ele foi chamado por Deus para isto, ele colocou todas as coisas em ordem, e, em Janeiro de 1737, partiu para se despedir dos seus amigos em Gloucester. Foi nesta jornada que Deus começou a abençoar seu ministério de uma maneira incomum. Onde quer que ele pregasse, multidões espantosas de ouvintes se reuniram, em Gloucester, em Stonehouse, em Bath, em Bristol; de modo que o calor das igrejas dificilmente era suportável: e as impressões feitas nas mentes de muitos não eram menos extraordinárias. Depois de seu retorno a Londres, enquanto ele esteve detido pelo General Oglethorpe [14], de semana a semana, e de mês a mês, agradou a Deus abençoar a sua palavra ainda mais. E ele foi infatigável em seu trabalho: geralmente aos domingos ele pregava quatro vezes, para os excessivamente grandes auditórios; além de ler as orações, duas ou três vezes, e caminhar de um lado para outro, freqüentemente dez ou doze milhas.

9. Em 28 de Dezembro ele deixou Londres. Foi no dia 29 que ele primeiro pregou sem notas. Em 30 de Dezembro ele embarcou; mas o navio demorou pouco mais que um mês antes de zarpar. Um efeito feliz de suas muito vagarosas passagens, ele menciona no mês de Abril seguinte: “Bendito seja Deus que nós agora vivemos muito confortavelmente em uma grande cabine. Pouco falamos que não seja sobre Deus e Cristo; e quando estamos juntos, apenas se ouve uma palavra entre nós, aquela que faz referência à nossa queda no primeiro Adão, e ao nosso novo nascimento, no Segundo” [15]. Parece, igualmente, ter sido uma providência peculiar que ele pudesse passar pouco tempo em Gibraltar; onde ambos, cidadãos e soldados, da classe alta à baixa, jovens e idosos, reconheceram o dia da visitação deles.

10. Do domingo de 7 de Maio de 1738 até final de Agosto seguinte, ele “fez prova completa de seu ministério” [16], na Geórgia, particularmente, em Savana: onde leu orações e expôs duas vezes ao dia, e visitou os doentes diariamente. No domingo, ele explanou às cinco da manhã; às dez leu as orações e pregou, e às três da tarde também; e às sete da tarde, expôs o Catecismo da Igreja. Quão mais fácil é para nossos irmãos, no ministério, quer na Inglaterra, Escócia, ou Irlanda, encontrar falhas em tal trabalhador da vinha do Senhor, do que seguir seu exemplo!

11. Foi nesse momento que ele observou a condição deplorável de muitas crianças daqui; e Deus colocou em seu coração o primeiro pensamento de fundar um Orfanato, para o qual ele determinou levantar contribuições na Inglaterra, se Deus pudesse dar a ele um retorno seguro para lá. No Dezembro seguinte ele retornou para Londres; e no domingo, 14 de Janeiro de 1739, ele foi ordenado sacerdote, na Igreja de Cristo, em Oxford. No dia seguinte veio para Londres novamente; e no domingo dia 21 pregou duas vezes. Mas, embora as igrejas fossem grandes, e excessivamente cheias, ainda assim, muitas centenas permaneceram no pátio da igreja, e centenas mais retornaram para suas casas. Isto colocou sobre ele o primeiro pensamento de pregar ao ar livre. Mas quando ele mencionou isto a seus amigos, eles julgaram ser mera loucura: assim, ele não levou isto em execução, até depois que ele deixou Londres. Foi na quarta-feira, 21 de Fevereiro, que, encontrando todas as portas da igreja fechadas em Bristol (além de que não havia igreja capaz de conter metade da congregação), às três da tarde, ele foi para Kingswood, e pregou fora de casa, para aproximadamente duas mil pessoas. Na sexta-feira, ele pregou lá para quatro ou cinco mil; no domingo para, supõe-se, dez mil! O número aumentava continuamente todo o tempo em que ele esteve em Bristol, e a chama do amor santo foi acesa, o que não facilmente seria apagada. A mesma chama foi, mais tarde, acessa em várias partes de Gales, de Gloucestershire e Worcestershire. Na verdade, onde quer que ele esteve, Deus abundantemente confirmou a palavra de seu mensageiro.

12. No domingo, dia 29 de Abril, ele pregou, pela primeira vez, em Moorfields, e em Kennington Common; e os milhares de ouvintes estavam tão quietos, como se eles estivessem na igreja. Novamente detido na Inglaterra, por vários meses, ele fez pequenas excursões nos diversos condados, e recebeu as contribuições de multidões desejosas de um Orfanato na Geórgia. O embargo que estava agora colocado sobre a embarcação, deu a ele folga para mais jornadas [17], através das várias partes da Inglaterra, pelo que muitos terão razão de dar graças a Deus, por toda a eternidade. Por fim, em 14 de Agosto, ele embarcou: mas ele não aportou na Pensilvânia, até 30 de Outubro. Mais tarde, ele foi, através da Pensilvânia, para Jersey, Nova York, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte; pregando continuamente para as imensas congregações, com tão grandes e completos efeitos, como na Inglaterra. Em 10 de Janeiro de 1740, ele chegou em Savana.

13. Em 29 de Janeiro ele acrescentou três órfãos desamparados, com cerca vinte anos, que tinha em sua casa antes. No dia seguinte, ele colocou o alicerce para a nova casa, por volta de dez milhas de Savana. Em 11 de Fevereiro, ele ingressou mais quatro órfãos; e partiu para Frederica [18], com o objetivo de mandar vir os órfãos que estavam nas partes sul da colônia. Em seu retorno, ele fixou uma escola, tanto para crianças como para pessoas adultas, em Darien [19]. E trouxe quatro órfãos de lá. Em 25 de Março, ele colocou a primeira pedra do Orfanato; para o qual, com grande propriedade, ele deu o nome de Bethesda [significa “casa da misericórdia”] [20]; uma obra para a qual os filhos ainda não nascidos deveriam louvar ao Senhor. Ele tinha agora por volta de quarenta órfãos, de maneira que havia perto de centenas de bocas para serem alimentadas diariamente. Mas ele não “se inquietou por coisa alguma” [21], colocando seus cuidados sobre Ele, que alimenta “aos filhos dos corvos, quando clamam” [22].

14. Em Abril, ele fez uma outra viagem, através da Pensilvânia, as Jerseys e Nova York. Multidões inacreditáveis reuniram-se para ouvir, em meio as quais havia abundância de negros. Em todos os lugares, a maior parte dos ouvintes era afetada a um grau espantoso. Muitos foram profundamente convencidos de seu estado de perdição; muitos verdadeiramente se converteram a Deus. Em alguns lugares, milhares clamaram alto; muitos quando nas agonias da morte; a maioria afundava-se em lágrimas; alguns empalideciam como na morte; outros retorciam suas mãos; outros caíam ao chão; outros se afundavam nos braços de seus amigos; quase todos levantavam seus olhos e clamavam por misericórdia.

15. Ele retornou para Savana em 5 de Junho. Na tarde seguinte, durante o serviço público, toda a congregação, jovens e idosos, estavam dissolvidos em lágrimas: depois do serviço, diversos dos paroquianos e todos os seus familiares, particularmente as crianças pequenas, retornaram para casa, clamando por toda a estrada, e alguns não se contiveram, orando em voz alta. Os gemidos e gritos das crianças continuaram toda a noite, e grande parte do dia seguinte.

16. Em Agosto, ele partiu novamente, e através de várias províncias veio para Boston. Enquanto esteve aqui, e nos lugares vizinhos, ele esteve extremamente fraco no corpo; ainda assim, multidões de ouvintes eram tão grandes, e os efeitos produzidos neles tão espantosos, como nunca antes haviam visto as pessoas mais velhas da cidade. O mesmo poder atendeu suas pregações em Nova York, particularmente no domingo, dia 2 de Novembro: quase tão logo ele começou, clamor, choro e lamentos eram ouvidos de todos os lados. Muitos sucumbiram ao chão, quebrantados no coração; e muitos foram preenchidos com a consolação divina. Em direção ao fim de sua jornada, ele fez esta reflexão: “Este é o septuagésimo quinto dia, desde que eu cheguei em Rhode Island, excessivamente fraco no corpo; ainda assim, Deus me capacitou a pregar cento e setenta e cinco vezes em público, além de exortar freqüentemente em privado! Nunca Deus concedeu-me maiores confortos: nunca eu executei minhas jornadas com menos fadiga, ou vi tal continuidade da divina presença nas congregações para as quais eu preguei” [23]. Em Dezembro ele retornou para Savana, e em Março seguinte chegou na Inglaterra.

17. Você pode facilmente observar que o relato precedente é extraído principalmente de seu próprio Diário, que, por causa da simplicidade natural e simples deles, pode rivalizar com alguns escritos do tipo. E que exemplo exato é este de seus trabalhos, tanto na Europa quanto na América, para a honra de seu amado Mestre, durante os trinta anos que se seguiram, assim como da ininterrupta chuva de bênçãos, na qual Deus se agradou de produzir de seus trabalhos! Não é para se lamentar muito, que alguma coisa tivesse impedido sua continuidade deste relato, até, pelo menos, perto do momento em que ele foi chamado pelo seu Senhor, para deleitar-se dos frutos de seu trabalho? Se ele tivesse deixado alguns papéis desse tipo, e seus amigos me considerassem digno de honra, seria minha glória e alegria sistematizar, transcrever e prepará-los para o conhecimento público.

18. Um relato particular da última cena de sua vida é dada por um cavalheiro de Boston:--

“Depois de aproximadamente um mês conosco em Boston, e sua adjacência, e pregando todos os dias, ele foi para a Velha York [24]; pregou na quinta-feira, 27 de Setembro, lá; prosseguiu para Portsmouth, e pregou na sexta-feira. No sábado de manhã ele partiu para Boston; mas antes que viesse para Newbury, onde ele tinha se comprometido a pregar na manhã seguinte, ele foi importunado a pregar pelo caminho. A casa não sendo grande o suficiente para conter as pessoas, ele pregou em um campo aberto. Mas tendo estado enfermo, por diversas semanas, isso exauriu suas forças, de maneira que quando ele veio para Newbury, ele não pôde sair da embarcação sem a ajuda de dois homens. À tarde, no entanto, ele recuperou sua vivacidade, e apareceu com sua usual alegria. Ele foi para seus aposentos às nove, seu horáraio fixo, do qual nenhuma companhia poderia desviá-lo, e dormiu melhor do que tinha feito por várias semanas. Ele se levantou às quatro da manhã, no dia 30 de Setembro, e foi para o seu closet, e sua companhia observou que ele estava demorando, de maneira incomum, em seu privativo. Ele deixou seu closet, retornou para sua companhia, atirou-se na cama, e ficou por volta de dez minutos. Então, ele caiu de joelhos, e orou mais fervorosamente a Deus, para que, se fosse consistente com a vontade Dele, ele pudesse aquele dia terminar a obra de seu Mestre. Ele, então, desejou que seu ajudante chamasse o Sr. Parsons, o clérigo, em cuja casa ele estava; mas, um minuto antes que o Sr. Parson pudesse chegar até ele, morreu, sem um suspiro, ou gemido. Nas notícias de sua morte, seis cavalheiros partiram para Newbury, com o objetivo de trazer seus restos mortais para cá: mas ele não poderia ser removido; de modo que suas preciosas cinzas devem permanecer em Newbury. Centenas teriam ido dessa cidade para atender seu funeral, se não tivessem eles esperado que fosse enterrado aqui... Que este golpe seja santificado para a Igreja de Deus, em geral, e para essa província em específico!” [27].

 

II

1. Em segundo lugar, vamos tomar algumas visões de seu caráter. Uma pequena delineação disso foi logo depois publicada, na Gazeta de Boston; um extrato da qual está anexo: [“Pouco pode ser dito dele, que todo amigo de um Cristianismo vital e que tenha estado sob seu ministério, não o atestará”.]

“Em seus trabalhos públicos ele, por muitos anos, surpreendeu o mundo com sua eloqüência e devoção. Com que compaixão divina ele persuadiu o impenitente pecador a abraçar a prática da devoção e virtude! [Cheio do espírito da graça, ele] falou à partir do coração, e com um zelo fervente, talvez, sem paralelo, desde o dia dos Apóstolos, [adornou as verdades que ele entregou com o mais gracioso fascínio de retórica e oratória]. Do púlpito ele foi incomparável no domínio de um auditório superlotado. Nem foi menos agradável e instrutivo em suas conversações privadas; feliz em sua notável facilidade de dirigir a palavra; disposto a se comunicar, cuidadoso em edificar. Que a geração nascente possa pegar uma faísca daquela chama que brilhou, com tal brilho distinto, no espírito e prática deste servo fiel do Altíssimo Deus!” [28].

2. Um caráter dele mais específico e igualmente justo apareceu em um dos documentos ingleses. Pode não ser enfadonho as vocês acrescentar também a essência desse:

“O caráter dessa pessoa verdadeiramente devota deve ser [profundamente] imprimida no coração de todo amigo da religião vital. A despeito de sua constituição terna [e delicada], ele continuou até o fim de sua vida, pregando, com a freqüência e fervor, que parecia exceder a força natural do mais robusto. Sendo chamado ao exercício de sua função, em uma idade em que a maioria dos jovens está apenas começando a qualificar-se para isto, ele não teve tempo para um progresso considerável nas linguagens aprendidas. Mas este defeito foi amplamente suprido por uma índole viva e fértil, por um zelo fervente, e por uma convincente e mais persuasiva elocução. E, embora no púlpito ele freqüentemente achasse necessário, através 'dos terrores do Senhor, persuadir homens', ele não tinha nada de melancólico em sua natureza; sendo singularmente alegre, assim como caridoso e de bom coração. Ao mesmo tempo, ele estava pronto a aliviar suas necessidades corpóreas e espirituais. Deve também ser observado que ele constantemente reforçava, junto à sua audiência, toda obrigação moral; e em especial na laboriosidade em seus diversos chamados, e obediência aos seus superiores. Ele se empenhou, através dos esforços mais extraordinários da pregação, em diferentes lugares, e, até mesmo em campos abertos, para estimular as pessoas de classe mais baixa, do mais alto grau de desatenção e ignorância, para um senso de religião. Por essa e outras obras suas, o nome de GEORGE WHITEFIELD será lembrado por muito tempo com estima e veneração”. [30]

3. Que ambos esses relatos são justos e imparciais, prontamente se admitirá, ou seja, tão longe quanto eles forem. Mas eles vão um pouco mais além do que o exterior do seu caráter. Eles mostram a vocês o pregador, mas não o homem, o cristão, o santo de Deus. Posso acrescentar um pouco sobre este assunto, de um conhecimento pessoal de quase quarenta anos? Na verdade, eu estou totalmente consciente quão difícil é falar sobre assunto tão delicado; e a prudência requer evitar, ambos os extremos, para não dizer nem tão pouco, nem muito! Além disso, sei que é impossível falar pouco ou muito, sem incorrer para alguns num tipo de censura sobre um ou outro. Alguns irão seriamente pensar que muito pouco foi dito; e outros, que muito. Mas, sem atentar para isso, eu falarei exatamente o que sei, diante dEle, a quem nós todos deveremos prestar contas.

4. Menção já tem sido feita de seu zelo sem paralelo; sua atividade infatigável; sua sensibilidade para com o aflito, e caridade em direção ao pobre. Porém, da mesma maneira, não deveríamos mencionar sua profunda gratidão a todos a quem Deus usou como instrumento para o seu bem? Aqueles de quem não cessou de falar da maneira mais respeitosa, até mesmo no dia de sua morte? Não deveríamos mencionar que ele tinha um coração suscetível à mais generosa e terna amizade? Eu freqüentemente tenho ensinado que isso, de todas as outras, foi a parte distinta de seu caráter. Quão poucos nós temos conhecido de tão delicado temperamento, de tão grandes e harmoniosas afeições! Não foi principalmente por isso que os corações de outros estavam tão estranhamente atraídos e unidos a ele? Pode alguma coisa, a não ser o amor, produzir amor? Isso se refletia em seu próprio semblante, e continuamente exalava em todas as suas palavras, quer em público ou privado. Não foi isso que, rápido e penetrante como a luz, fluiu de coração a coração? Que deu aquela vida aos seus sermões, suas conversações, suas cartas? Vocês são testemunhas!

5. Mas, deixando fora as vis interpretações errôneas de homens de mentes corruptas, que não conhecem o amor que não seja mundano e sensual [31], que seja lembrado, ao mesmo tempo, que ele foi dotado com a mais doce e pura modéstia. Seu ofício o chamou a conversar muito freqüentemente e largamente com mulheres, assim como com homens; e esses de todas as idades e condições. Mas todo seu comportamento em direção a eles foi uma observação prática sobre aquele conselho de Paulo a Timóteo: “Trate as mulheres mais idosas, como mães, e as mais jovens, como irmãs, com toda pureza” [32].

6. Entretanto, quão adequado às afabilidades de seu espírito foi a franqueza e clareza de sua conversação! – embora estivesse tão longe da rudeza, por um lado, assim como da fraude [e dissimulação] de outro. Não foi essa franqueza [33], uma vez, o fruto e prova de sua coragem e intrepidez? Armado com esses, ele não temeu as faces dos homens, mas “usou de grande clareza de discurso”, com pessoas de todo nível e condição, alta ou baixa; rica ou pobre; esforçando-se apenas “pela manifestação da verdade, recomendar-se a toda consciência humana, aos olhos de Deus” [34] .

7. Nem ele esteve temeroso de trabalho ou dor, nem tampouco do que “o que o homem [poderia] fazer a ele” [35]; sendo igualmente “paciente em suportar o mal e fazer o bem” [36]. E isso pareceu na firmeza com que ele diligenciou o que ele empreendeu fazer, por amor a seu Mestre. Testemunhem um exemplo de todos: o Orfanato na Geórgia, que ele começou e concluiu, a despeito de todos os desencorajamentos. Na verdade, no que dissesse respeito a si mesmo, ele era complacente e flexível. Neste caso, era “fácil de ser solicitado” ; fácil de ser, tanto convencido quanto persuadido. Mas era imutável nas coisas de Deus, ou onde quer que sua consciência estivesse interessada. Ninguém poderia persuadi-lo, não mais do que aterrorizá-lo a mudar, no menor ponto, daquela integridade que foi inseparável de todo seu caráter, e regulou todas as suas palavras e ações. Nisto ele permaneceu como um pilar de ferro forte, e firme como um muro de bronze” [37].

8. Se for inquirido qual foi o alicerce dessa integridade, ou de sua sinceridade, coragem, paciência, e todas as outras valiosas e agradáveis qualidades, é fácil dar uma resposta. Não foi a excelência de seu temperamento natural, nem a força de seu entendimento; não foi a força da educação; não, nem o conselho de seus amigos; não foi outra coisa senão a fé no Senhor que derramou o Seu sangue; “fé na operação de Deus” [38]. Foi a “esperança viva da herança incorruptível, imaculada, e que não murcha” [39] . Foi “o amor de Deus, derramado em seu coração, através do Espírito Santo, que lhe foi dado” [40], preenchendo sua alma com amor terno e desinteressado [41] por todo filho do homem. Dessa fonte, ergueu-se aquela torrente de eloqüência que freqüentemente fez cair todos diante dela; daqui, aquela força de persuasão espantosa que a maioria dos ouvintes endurecidos não pôde resistir. Isso foi o que freqüentemente fez sua “cabeça como águas, e seus olhos como uma fonte de lágrimas” [42]. Isso foi o que o capacitou a derramar sua alma em oração, de uma maneira que lhe era peculiar, com tal plenitude e facilidade, unidas com tal força e variedade, ambas de sentimento e expressão.

9. Posso encerrar essa parte observando que honra agradou a Deus colocar sobre esse servo fiel, permitindo-lhe declarar Seu Evangelho eterno, em tantas regiões, para tal número de pessoas, e com tão grande efeito sobre muitas de suas preciosas almas! Nós lemos ou ouvimos de alguma pessoa, desde os Apóstolos, que testificaram o Evangelho da graça de Deus, através de um espaço tão amplamente estendido, através de tão grande parte do mundo habitado? Nós lemos ou ouvimos de alguma pessoa, que chamou tantos milhares, tantas miríades de pecadores ao arrependimento? Acima de tudo, temos lido ou ouvido de alguém que tenha sido instrumento abençoado, nas mãos dEle, em trazer tantos pecadores “das trevas para a luz; do poder de satanás, para o poder de Deus?” [43]. É verdade, fôssemos falar assim para o mundo festivo, nós seriamos julgados por falarmos como bárbaros [44]. Mas vocês entendem a linguagem da região para a qual vocês estão indo, e para a qual nosso querido amigo foi, pouco antes de nós.

 

III

Mas como devemos melhorar essa terrível providência? Essa é a terceira coisa que nós temos que considerar. E a resposta a essa importante questão é fácil (possa Deus escrevê-la em todos os nossos corações!): mantendo-nos próximos às grandes doutrinas que ele entregou e tomando de seu espírito.

1. E, em primeiro lugar, vamos nos manter próximos às grandes doutrinas bíblicas que ele em todos os lugares declarou. Existem muitas doutrinas, de uma natureza menos essencial, com respeito às quais, até mesmo os filhos sinceros de Deus (tal é o presente estado de fraqueza do entendimento humano) estão e têm estado divididos por muitas eras. Nessas, nós podemos pensar e deixar de pensar; nós podemos “concordar em discordar”. Mas, entretanto, vamos abraçar as essências “da fé que uma vez foi entregue aos santos” [45]; e que este campeão de Deus tão fortemente insistiu a respeito, em todos os tempos, e em todos os lugares!

2. Seu ponto fundamental foi: “Dê a Deus toda a glória do que quer que seja bom no homem”; e, “na tarefa da salvação, coloque Cristo tão alto, e o homem tão baixo, quanto possível”. Com esse ponto, ele e seus amigos em Oxford, os originais Metodistas, assim chamados, puseram-se a caminho. O grande princípio deles era: não existe poder (pela natureza) ou mérito no homem. Eles insistiram: todo poder para pensar, falar, e agir corretamente, está no Espírito de Cristo, e origina-se dEle; e todo mérito (não está no homem, por maior que seja na graça, mas meramente) no sangue de Cristo. Assim, ele e eles ensinaram: não existe poder no homem, até que lhe seja dado do alto, para fazer alguma boa obra, falar alguma boa palavra, e formar um bom desejo. Porque não é suficiente dizer, todos os homens estão doentes de pecado: não, nós estamos todos “mortos em delitos e pecados” [46]. Segue-se que todos os filhos dos homens são “por natureza, filhos da ira” [48]. Nós somos todos “culpados diante de Deus” [49], condenados tanto à morte temporal como eterna.

3. Assim que todos estamos desamparados, tanto com respeito ao poder como à culpa do pecado. “Porque, quem pode tirar uma coisa pura de uma impura?” [49]. Ninguém menos do que o Altíssimo. Quem pode ressuscitar esses dos mortos; espiritualmente mortos no pecado? Ninguém, a não ser Aquele que nos ressuscita do pó da terra. Mas, sobre que consideração fará isso? Não por obras de justiça que tehamos feito [50] . “O morto não pode louvar a Ti, Ó, Senhor” [51]; nem fazer coisa alguma, pela qual deveriam ser ressuscitados para a vida. O que quer, portanto, que Deus faça, Ele faz meramente por causa do seu bem-amado Filho: “Ele foi ferido por nossas transgressões; Ele foi moído por nossas iniqüidades” [52]. Ele mesmo “carregou nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro” [53] . Ele “foi entregue por nossas ofensas, e ressuscitou novamente para nossa justificação” [54]. Essa é, então, a única causa meritória de todas as bênçãos que desfrutamos e podemos desfrutar; em específico, do nosso perdão e aceitação para com Deus; da nossa completa e gratuita justificação [55]. Mas, por quais meios nós nos tornamos interessados no que Cristo tem feito e sofrido? “Não pelas obras, a fim de que homem nenhum se vanglorie” [56]; mas pela fé somente. “Nós concluímos”, diz o Apóstolo, “que um homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” [57] . E “a todos quanto” assim “o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” [58].

4. E, “exceto que o homem seja”, dessa forma, “nascido de novo, ele não pode ver o reino de Deus” [59]. Mas todos que são assim “nascidos do Espírito” [60], têm “o reino de Deus entre eles” [61]. Cristo estabelece Seu reino em seus corações; “retidão, paz, e alegria no Espírito Santo” [62]. “Aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus ” [63] , capacitando-os a “caminhar como Cisto também caminhou” [64]. O Espírito que neles habita os torna santos no coração e “santos em toda sua maneira de viver” [65] . Mas ainda assim, vendo tudo isso como um dom gratuito, através da justiça e do sangue de Cristo, há eternamente a mesma razão para lembrar que “aquele que se glorifica, glorie-se no Senhor” [66].

5. Vocês não são ignorantes de que essas são as doutrinas fundamentais, nas quais ele insistiu a respeito, em todos os lugares. E elas não podem ser resumidas, por assim dizer, em duas palavras, o novo nascimento e a justificação pela fé? Perseveremos nelas com todo vigor, em todos os tempos, e em todos os lugares, em público (aqueles de nós chamados para isso), e em todas as oportunidades em particular. Fiquem perto dessas boas, velhas e antiquadas doutrinas, por mais que muitos contradigam e blasfemem. Sigam, meus irmãos, “fortalecidos no Senhor, e na força do Seu poder” [67] com todo cuidado e diligência, “guardando o depósito que te foi confiado” [68]; sabendo que “céus e terra passarão, mas esta verdade não passará” [69].

6. Mas será suficiente manter-se próximo à suas doutrinas, por mais puras que elas sejam? Não existe um ponto de ainda maior importância do que isso, ou seja, beber de seu espírito? Ser, aqui, um seguidor dele, assim como ele o foi de Cristo? [70] Sem isso, a pureza de nossas doutrinas apenas aumentaria nossa condenação. Essa, portanto, é a coisa principal tomar como modelo seu espírito. E admitindo que, em alguns pontos, devemos estar contentes em admirar o que nós não pudermos imitar; sim, em muitos outros, nós podemos, através da mesma graça livre, ser parceiros da mesma bênção. Cônscios, então, de tuas próprias necessidades e de Seu amor abundante que “dá liberalmente, e não lança em rosto” [71], clame àquele que opera tudo em todos, por uma medida da mesma fé preciosa; do mesmo zelo e atividade; da mesma ternura de coração, bondade e entranhável misericórdia [72]. Lute com Deus pelo mesmo grau de temperamento afetivo, grato, amigável; da mesma franqueza, simplicidade e sinceridade santas; “amor sem fingimento ” [73] . Pelejem até o poder do alto operar em vocês a mesma coragem e paciência, firmes; e, acima de tudo, visto que é a coroa de tudo, pela mesma integridade invariável.  

7. Existe algum outro fruto da graça de Deus com o qual ele foi eminentemente dotado, e cuja carência entre os filhos de Deus, ele freqüentemente e veementemente lamentou? Existe um, que é o amor universal; aquela afeição terna e sincera que é devida a todos aqueles que têm razão para acreditar que são filhos de Deus, pela fé; em outras palavras, todos aqueles, em toda persuasão, que “temem a Deus e praticam a justiça” [74] . Ele anelava ver em todo aquele que tinha “provado da boa palavra” [75] um verdadeiro espírito católico termo pouco compreendido e menos experimentado ainda por muitos que o têm com freqüência em seus lábios. Quem é o que responde a esse caráter? Quem é a pessoa de um espírito católico? [76] Alguém que ame como amigo, como irmão no Senhor, com participante solidário do presente reino dos céus e co-herdeiro de Seu reino eterno, a toda pessoa, de qualquer opinião, modo de adoração, ou congregação, que creia no Senhor Jesus; que ame a Deus e aos seres humanos; que, se regozijando em agradar a Deus e temendo ofender-lhe, são cuidadosos para absterem-se do mal, e zelosos de boas obras [77]. Assim é uma pessoa de um verdadeiro espírito católico, que leva isso continuamente em seu coração; a que, tendo uma ternura indizíel para com essas pessoas, e um desejo sincero pelo seu bem-estar, não cessa de recomendá-las a Deus em oração, assim como de defender a causa delas diante de homens; que fala confortavelmente com elas, e trabalha, através de todas as suas palavras, para fortalecer suas mãos em Deus. Ele as assiste, no extremo de seu poder, em todas as coisas espirituais e temporais; ele está pronto a “gastar-se e deixar-se gastar” [78] por elas; sim, “a colocar sua vida a disposição de seus irmãos” [79] .

8. Quão amável caráter é esse! Quão desejável a todo filho de Deus! Mas, por que, então, ele é tão raramente encontrado? Como é que existem tão poucos exemplos dele? Na verdade, supondo-se que tenhamos provado do amor de Deus, como pode algum de nós descansar, até que ele seja nosso? Por que existe um conselho delicado por meio do qual satanás persuade milhares que é possível não ter esse espírito, e, ainda assim, livrar-se de culpa. Seria bom se muitos aqui presentes não estivessem nesta “armadilha do diabo, se tornado cativos de sua vontade” [80] . “Ó, sim”, diz alguém, “eu tenho todo esse amor por aqueles que eu acredito serem filhos de Deus; mas eu nunca acreditarei que seja filho de Deus quem pertença àquela vil congregação! Você pensa que pode ser um filho de Deus aquele que mantém tais opiniões detestáveis? Ou aquele que toma parte em tais adorações estúpidas e supersticiosas, se não, idólatras?”. Assim, nós podemos justificar a nós mesmos, em um pecado, acrescentando um segundo a ele! Nós desculpamos a necessidade de amor, em nós mesmos, colocando a culpa em outros! Para colorir nosso próprio temperamento diabólico, nós declaramos que nossos irmãos são do diabo! Ó, fiquem longe disso! – e, se vocês já foram pegos na armadilha, escapem dela, tão logo quanto possível! Vão e aprendam que o verdadeiro amor católica “não se apressa”, ou se impacienta em julgar; aquele amor que “não pensa mal”; que “crê e espera todas as coisas” [81]; que permite aos outros, o que desejamos que os outros nos façam! Então, tomaremos conhecimento da graça de Deus que está em todo homem, qualquer que seja sua opinião ou modo de adoração; então, todos que temem a Deus serão próximos e queridos a nós “no estranhável amor de Jesus Cristo”.

9. Não é esse o espírito de nosso querido amigo? E por que ele não seria o nosso? Ó, Tu, Deus de amor, por quanto tempo Teu povo deve ser um escárnio entre as nações? [83] Por quanto tempo eles zombarão de nós e dirão: “Veja como esses cristãos amam uns aos outros!” [84] . Quando Tu lançarás fora nossa vergonha? [85] A espada deverá devorar para sempre? Por quanto tempo, antes que Tu ordenes a Teu povo que deixe de “perseguir uns aos outros?”. Agora, pelo menos, “que todo o povo se detenha, e não persiga mais a seus irmãos!” [86] Mas o que quer que os outros façam, que todos nós, meus irmãos, ouçamos a voz dele que, estando morto, ainda assim fala! [87] Suponham ouvi-lo dizer: “Agora, pelo menos, sejam vocês meus seguidores, como eu fui de Cristo! [88] Que irmão não mais levante a espada contra irmão; nem vocês saibam mais guerrear!” [89]. Antes, se vistam, como eleitos de Deus, de entranhável misericórdia, de benignidade, de humildade, de mansidão, de paciência, suportanto uns aos outros em amor [90]. Que o tempo passado tenha sido suficiente para a disputa, inveja, contenda; para reprimir e devorar um ao outro [91]. Bendito seja Deus que vocês não tenham se consumido uns aos outros! Doravante, sejam solícitos em guardar a unidade do Espírito, no vínculo da paz [93].

10. Ó Deus, contigo não há obra [94] impossível! Tu fazes tudo quanto é do Teu agrado! Ó, que Tu faças o manto de Teu profeta, a quem tu levaste para o alto, agora cair sobre nós que ficamos! “Onde está o Senhor, o Deus de Elias?” [95]. Permita que Seu espírito repouse sobre estes Teus servos! Mostre que Tu és Deus que responde com fogo! Que o fogo do Teu amor caia sobre cada coração! E porque nós te amamos, que amemos uns aos outros, com um “amor mais forte que a morte!” [96]. Tira de nós “toda raiva, ira, e amargura; toda queixa e maledicência!” [97]. Que Teu Espírito, assim, repouse sobre nós, e que desde esse momento, possamos ser “bondosos uns para com os outros, misericordiosos, perdoando-nos uns aos outros, como Deus também nos perdoou por causa de Cristo!” [98] .

 

UM HINO

Servant of God, well done!
Thy glorious warfare's past;
The battle's fought, the race is won, And thou art crown'd at last;
Of all thy heart's desire
Triumphantly possess'd,
Lodged by the ministerial choir
In thy Redeemer's breast.

Bem está, servo bom e fiel
Tua gloriosa luta passou;
A batalha está feita, a corrida ganha
E tu foste coroado finalmente;
De todo desejo de teu coração
triunfantemente dotado,
Abrigado pelo coro ministerial
No seio de teu Redentor.

In condescending love,
Thy ceaseless prayer He heard;
And bade thee suddenly remove
To thy complete reward:
Ready to bring the peace,
Thy beauteous feet were shod,
When mercy sign'd thy soul's release, And caught thee up to God.

No amor condescendente
Tua oração incessante, Ele ouviu;
E ordenou tua repentina remoção
Para tua completa recompensa
Pronto para trazer a paz,
Teus belos pés foram calçados,
Quando a misericórdia marcou o alivio de tua alma
E o elevou até Deus.

With saints enthroned on high,
Thou dost thy Lord proclaim,
And still To God salvation cry, Salvation to the Lamb!
O happy, happy soul!
In ecstasies of praise,
Long as eternal ages roll,
Thou seest thy Saviour's face!

Com os santos, entronado no alto,
Tu proclamas teu Senhor.
E ainda clamas a Deus pela salvação, Salvação ao Cordeiro!
Ó, feliz, feliz alma!
Em êxtase de louvor,
Longo como as eras eternas,
Tu vês a face de Teu Salvador!

Redeem'd from earth and pain,
Ah! when shall we ascend,
And all in Jesu's presence reign
With our translated friend?
Come, Lord, and quickly come!
And, when in Thee complete, Receive Thy longing servants home, To triumph at Thy feet!

Redimido da terra e dor,
Ah! Quando nós deveremos ascender,
E todos na presença de Jesus reinar
Com nosso amigo arrebatado?
Vem, Senhor, e vem rapidamente!
E, quando em Ti perfeito,
Recebes teus servos saudosos em casa,
Para triunfarem aos Teus pés!

 

[A edição Sugden inclui as edições nos colchetes dentro do texto] [Introdução de Sugden]:

George Whitefield morreu em Newburyport, Massachusetts, trinta milhas de Boston, em 30 de Setembro de 1770, na casa paroquial Presbiteriana, que ainda está preservada. Ele foi enterrado em uma cripta funerária, debaixo do púlpito da casa de reunião Presbiteriana, em 2 de Outubro, conforme sua vontade; e em 1828, um cenotáfio [memorial] foi erguido na igreja, com uma inscrição adequada: Sob a data de 10 de Novembro de 1770, Wesley diz: “Eu retornei para Londres, e as notícias melancólicas da morte do Sr. Whitefield, confirmada por seus testamenteiros, que pediram-me para pregar seu sermão fúnebre, no domingo dia 18”. [Este foi seu próprio desejo. “Se você morrer fora de casa”, disse o Sr. Keen, “quem nós teremos para pregar seu sermão fúnebre? Deverá ser seu velho amigo, Rev. John Wesley?”. Essa questão foi freqüentemente colocada, e sempre Whitefield respondia: “Ele é o homem”]. “Com o objetivo de escrever ists, eu me retirei para Lewisham, na segunda-feira; e no domingo seguinte, fui para a capela, em Tottenham Court Road. Uma imensa multidão se aglomerou de todos os cantos da cidade. Eu estava, a princípio, temeroso que grande parte da congregação não conseguisse ouvir; mas agradou a Deus fortalecer minha voz, de maneira que mesmo aqueles na porta ouviram distintamente. Foi um momento maravilhoso. Tudo estava quieto como a noite; a maioria pareceu estar profundamente afetada; e uma impressão, que alguém poderia esperar não se apagaria rapidamente, foi causada em muitos. No Tabernáculo, o tempo designado para meu início foi cinco e meia, mas ele estava completamente cheio às três horas; assim, eu comecei às quatro. A princípio, o barulho estava excessivamente grande; mas cessou, quando comecei a falar; e minha voz estava novamente tão fortalecida que todos que estavam dentro puderam ouvir, exceto quando algum barulho acidental aqui ou ali impedia, por poucos momentos. Ó, que todos possam ouvir a voz dAquele com quem estão as questões da vida e da morte; e que, em voz gritante, através desse golpe inesperado, clame a todos os Seus filhos para amarem uns aos outros”. Na sexta-feira seguinte, ele repetiu o sermão no Tabernáculo em Greenwich para uma congregação superabundante. Novamente, em 2 de Janeiro de 1771, ele pregou em Deptford “um tipo de sermão fúnebre para o Sr. Whitefield. Em todos os lugares, eu desejo mostrar todo respeito possível pela memória daquele grande e bom homem”.

Não se deve esquecer que, neste mesmo tempo, Wesley esteve no centro da controvérsia com o Rev. Walter Shirley e os pregadores da Condessa de Huntingdon, a respeito das famosas Atas de 1770, nas quais Wesley colocou claramente as diferenças entre suas visões e aquelas dos Calvinistas. Foi muito pelo crédito, tanto dos amigos do Sr. Whitefield como de Wesley, que não foi permitido que isso interferisse naquele convite para ele pregar o sermão, nem no seu próprio reconhecimento afetuoso e incansável da gratidão e bondade de seu colaborador que partira. Na verdade, eles nunca permitiram que a diferença de opinião, desde a disputa em 1741, interrompesse o amor e estima mútuos; eles concordavam diferir, e, ainda assim, amavam um ao outro.

O sermão foi ao mesmo tempo publicado em Londres; e uma reimpressão foi editada em Dublin, também datada de 1770, com um hino adicional, “Glória e graças e amor”; e foi colocado, mais recentemente, nos sermões no volume IV (1771). Uma ataque acalorado foi feito sobre ele no Gospel Magazine de Fevereiro de 1771, provavelmente, pelo Sr. Romaine. Ele primeiro objetou ao texto. “Quão impróprio”, ele diz, “aplicar as palavras de um profeta louco a tão santo homem como o Sr. Whitefield!”. É claro que a resposta de Wesley foi óbvia: ele não aplicou as palavras ao Sr. Whitefield, mas a si mesmo; e ele ironicamente diz: “Nada seria mais adequado do que para Balaão junior usar as palavras de seu antepassado; certamente um pobre réprobo pode, sem ofensa, desejar morrer como um dos eleitos!”. A parte mais séria do ataque foi sobre a afirmação em III (5), de que “as doutrinas fundamentais na qual o Sr. Whitefield insistiu” foram “o novo nascimento e justificação pela fé”. Romaine, ao contrário, afirma que “as grandes doutrinas fundamentais, que ele pregou em todos os lugares, foram a aliança eterna entre o Pai e o Filho, e a absoluta predestinação fluindo disto”.

Wesley responde: (1) “Que o sr. Whitefield não pregou essas em todos os lugares. Em todos os momentos em que eu mesmo o ouvi pregar, nunca o ouvir afirmar uma sentença quer de uma ou de outra. Sim, em todos os momentos que ele pregou na Capela West Street, e em quatro outras capelas, através da Inglaterra, ele não pregou essas doutrinas, afinal; não! nem um simples parágrafo”. (2) “Que ele pregou o novo nascimento e justificação pela fé em todos os lugares. Tanto na Capela West Street como em todas as nossas outras capelas, através da Inglaterra, ele pregou a necessidade do novo nascimento e justificação pela fé tão claramente como ele tem feito em seus dois volumes de sermões impressos”.

Wesley não era ignorante das diferenças entre ele e Whitefield, com respeito à predestinação; mas, mais propriamente neste sermão, enquanto ele reconhece (iii.I) que existem diferenças de opiniões entre os filhos de Deus, ele enfatiza os pontos de concordância; e o que quer que Whitefield possa ter acreditado a respeito dos decretos eternos, nenhum homem, alguma vez, pregou uma salvação completa e gratuita mais constantemente e eficazmente do que ele. A única solução dessa dificuldade deve ser encontrada no reconhecimento de que as duas visões opostas representam os dois lados de uma verdade, que nosso entendimento finito não é capaz de sintetizar; mas que nós podemos, não obstante, aceitar, exatamente como aceitamos a Unidade na Trindade da Divindade, ou a pessoa humana-divina de nosso Senhor.

Incidentalmente, aprendemos da réplica de Wesley a Romaine que um dos hinos cantados no serviço foi o de Charles Wesley: “Recuar a mão fria diante da morte”, dos Hinos Breves nas Passagens Selecionadas (1762), agora número 823 no Hinário Metodista; o outro foi, sem dúvida, o anexado ao sermão, “Servo de Deus, Bravo!”, escrito por Charles Wesley para esta ocasião, e publicado como “Um Hino sobre a Morte do Rev. Sr. Whitefield”, na terceira (póstuma) série dos Hinos Fúnebres. O hino anexado à edição Dublin do sermão é o número 42, na segunda série dos Hinos Fúnebres, publicados em 1759 (edição Osborn das Obras Poéticas, vi. 285).

A Capela Tottenham Court Road Chapel, ou Tabernáculo de Whitefield, como foi freqüentemente chamado, fica no lado oeste da rodovia, entre a rua Tottenham e Howland. O lugar era, então, cercado por campos e jardins, e havia apenas duas casas para o norte dele. A pedra de fundação foi colocada por Whitefield em Junho de 1756, e ele a inaugurou em 7 de Novembro, do mesmo ano. Logo se certificou que era muito pequeno e foi ampliado em 1759. Uma abóbada foi preparada sob a capela, na qual Whitefield pretendeu que ambos, ele mesmo e os dois Wesleys pudessem ser enterrados; mas seu desejo não foi cumprido. Em 1890, a construção foi tombada e reerguida. [Ela é agora conhecida como a Missão Central de Whitefield].

O Tabernáculo foi originalmente um galpão de madeira, ao norte de Upper Moorfields, perto da Fundição de Wesley, aberto em 1741; em 1753, ele foi substituído por uma construção de tijolo, aquela em que este sermão foi pregado à tarde. Esta foi usada por mais de um século, e foi então substituída por um Tabernáculo, na esquina da Rua Tabernacle e Leonard, Finsbury, que ocupou o lugar antigo. O antigo púlpito, do qual Wesley pregou nesta ocasião, foi conservado. [A construção é agora usada para propósitos comerciais].


[Editado por Scott Denfeld, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para o Wesley Center for Applied Theology]

 

NOTAS:

[1] Cf. Jó 3.17.

[2] Cf. 1 Coríntios 4.15.

[3] Hebreus 13.7-8

[4] Em 16 de dezembro.

[5] João 3.7.

[6] 1 Coríntios 2.2.

[7] Romanos 8.15.

[8] Cf Mateus 3.17; 17.5; 2 Pedro 1.17.

[9] 20 de junho.

[10] Thomas Broughton (1712-77) sacerdote da Torre de Londres, que tinha estado ativo no Clube Santo.

[11] Cf. Judas 20.

[12] Suprindo a ausência de Charles Kinchin (1711-42), outro metodista de Oxford.

[13] Cf. Levítico 10.37.

[14] O título de “General” é uma referência retrospectiva. James Edward Oglethorpe (1696-1785) foi um dos principais promotores e defensores da colônia de Georgia. Sua promoção à brigadeiro general não chegou senão em 1743 .

[15] 15 Cf George Whitefield's Journals, ed. Iain Murray (Londres, Banner of Truth Trust, 1960), p. 149.

[16] Cf 2 Timóteo 4.5.

[17] Por causa da situação tensa nas Índias Ocidentais que conduziu a uma guerra aberta (19 de outubro de 1739) entre Inglaterra e as potências de Bourbon.

[18] Na ilha de São Simão, onde Charles Wesley havia servido brevemente como ministro.

[19] Um assentamento de montaneses procedentes de Escócia, sobre a boca do rio Altamaha, a 120 kilômetros ao sudoeste de Savannah.

[20] Veja-se João 5.2.

[21] Cf Filipenses 4.6.

[22] Salmos 147.9.

[23] Cf. G. Whitefield, Journals, pág. 499.

[24] Agora conhecida como York Village, no estado de Maine.

[25] Newburyport em Massachusetts .

[26] Jonathan Parsons (1705-75), ministro da Igreja em Newburyport .

[27] Provavelmente Wesley cita uma carta que lhe havia chegado de Boston.

[28] Resumindo de um editorial de The Massachusetts Gazette, and Boston Post Boy and The Advertizer, N° 684 (Lunes, 1 de outubro de 1770) pág. 3. A mesma notícia tinha sido dado no mesmo período do dia anterior.

[29] Cf. 2 Coríntios 5.11.

[30] Resumo do periódico The London Evening Post, de 10 de novembro de 1770 (N° 1607) pág. 4.

[31] Cf. Tiago 3.15.

[32] 1 Timóteo 5.1-2.

[33] 2Coríntios 3.12.

[34] 2 Coríntios 4.2.

[35] Hebreus 13.6.

[36] Citação de um poema de Samuel Wesley.

[37] Cf. Tiago 3.17.

[38] John e Charles Wesley, Hymns and Sacred Poems (1739), p. 203.

[39] 1 Pedro 1.3-4.

[40] Romanos 5:5.

[41] 1 Coríntios 13.

[42] Jeremias 9.1.

[43] Atos 26.18.

[44] 1 Coríntios 14.11.

[45] Judas 3.

[46] Efésios 2.1.

[47] Efésios 2.3.

[48] Romanos 3.19.

[49] Jó 14.4.

[50] Tito 3.5.

[51] Cf Salmos 115.17; 88.10.

[52] Isaías 53.5.

[53] 1 Pedro 2.24.

[54] Romanos 4.25.

[55] Esse conflito entre as causas “meritória” e “formal” da justificação foi um dos temas controversos entre Wesley e os calvinistas, incluindo Whitefield.

[56] Efésios 2.9.

[57] Romanos 3.28

[58] João 1.12-13.

[59] João 3.3.

[60] João 3.5.

[61] Lucas 17.21.

[62] Romanos 14.17.

[63] Filipenses 2.5.

[64] 1 João 2.6.

[65] 1 Pedro 1.15.

[66] 1 Coríntios 1.31; 2 Coríntios 10.17.

[67] Efésios 6.10.

[68] Cf 1 Timóteo 6.20.

[69] Mateus 24.35, etc.

[70] Cf 1 Coríntios 11.1.

[71] Tiago 1.5.

[72] Cf. Colossenses. 3.12.

[73] Romanos 12.9.

[74] Cf Salmos 15.2; Eclesiastes 12.13.

[75] Hebreus 6.5.

[76] Veja-se sermão nº 39.

[77] Tito 2.14.

[78] Cf. 2 Coríntios 12.15.

[79] Cf. João 15.13; 1 João 3.16.

[80] Tito 2.26.

[81] Cf. 1 Coríntios 13.4, 5, 7.

[82] Filipenses 1.8.

[83] Salmos 44.14.

[84] Tertuliano, Apologia, 39.7.

[85] Veja-se Josué 5.9.

[86] Cf 2 Samuel 2.26,28.

[87] Hebreus 11.4.

[88] 1 Coríntios 11.1.

[89] Isaías 2.4; Miquéias 4.3.

[90] Colossenses 3.12-13.

[91] Gálatas 5.15.

[92] Ibid.

[93] Efésios 4.3.

[94] Todas as edições impressas dizem “word” (palavra). Porém trata-se de um erro. O texto deveria dizer “work” (obra).

[95] 2 Reis 2.14.

[96] Cantares 8.6.

[97] Efésios 4.31.

[98] Efésios 4.32.

[99] De Charles Wesley, em The Poetical Works , (VI, 3 16-7). Provavelmente esse hino foi pronunciado durante o sermão.

 

 


Traduzido por: Izilda Peixoto Bella
Revisado por: Felipe Sabino de Araújo Neto


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