Procedência dos Males Físicos

por

Dr. Heber Carlos de Campos


As causas dos males físicos são muito mais difíceis de serem explicadas do que as causas dos males morais, quando vemos os males individualmente. Muitas são as causas diretas dos males físicos. É muito difícil enumerá-las todas. Todavia, embora não conheçamos as causas imediatas dos males físicos, a Escritura mostra os vários instrumentos através dos quais os males físicos surgem em nossa vida. Os males físicos possuem várias procedências, que são analisadas, abaixo:


MALES FÍSICOS CAUSADOS POR SERES ESPIRITUAIS

Embora não saibamos determinar a extensão da atuação de Satanás no mundo físico, sabemos que ele atuou na história dos tempos bíblicos porque a Bíblia nos informa algumas coisas sobre a sua atuação. Ele foi o instrumento da vinda de muitos males nas vidas dos seres humanos. Todavia, a sua atuação foi sempre determinada, autorizada, controlada e delimitada por Deus. Satanás não possui independência para agir ilimitadamente. Ainda que Satanás seja o causador de muitos desses males, ele está sob o controle de Deus que sempre permanece no trono.

Há algumas poucas passagens na Escritura que indicam o envolvimento de Satanás com males físicos, mas suficientes para estabelecermos uma doutrina correta sobre a matéria.


Veja o exemplo na vida de Jó

Num debate com Deus sobre a integridade de Jó, Satanás pediu licença a Deus para interferir na vida de Jó o que Deus concedeu, todavia, com limitações. Eis os passos que o texto da Escritura nos apresenta:

— Primeiro, Satanás foi autorizado a tocar nas posses de Jó. Eram posses materiais, afetivas e emocionais. Os males físicos que vieram a Jó foram relativos aos seus bens. Deus disse a Satanás: ¨Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder¨ (Jó 1.12a.). Isto significa que Deus havia colocado as posses de Jó nas suas mãos. E ele tinha autorização para tocar nas posses de Jó. Portanto, debaixo da ordenação divina, Satanás trouxe males físicos a Jó matando os seus bois e as jumentas, suas ovelhas, aos seus servos e, por último, aos seus filhos e filhas (Jó 1.13-17);

— Segundo, Satanás foi autorizado a tocar na família de Jó (Jó 1.18-19). Essas posses tinham um valor afetivo muitíssimo maior do que os males causados aos seus bens. A família é um bem muitíssimo maior. Satanás tocou naquilo que era muito caro a qualquer ser humano.

— Terceiro, Satanás foi autorizado a tocar no próprio Jó (Jó 2.3-6). Satanás não estava satisfeito com o resultado anterior. Ele queria ver Jó blasfemando contra o Senhor. Por essa razão, ele desafiou Deus a tocar na sua pele, na sua carne. Perceba que o próprio Satanás entende que a sua ação é ação de Deus (v.2.4-5). Então, novamente, Deus autorizou Satanás a tocar na carne de Jó, mas que não o matasse (2.6). Daí para frente, vemos as dores e angústias de Jó causadas pelos sofrimentos físicos. Deus está por detrás de todo sofrimento, que possui as mais variadas causas. Uma delas é esta mencionada acima: Satanás.

As conseqüências dos males causados por Satanás foram males de morte (seus animais e filhos), males de doenças (as do próprio Jó), males sociais (Jó foi rejeitado pela sociedade – 17.6; 19.13-22 ), males filosóficos (Jó foi zombado e mal aconselhado por seus amigos) e males espirituais (sua mulher se tornou incrédula e desleal a Deus – 2.9-10).

Os males que vieram a Jó não têm nada a ver com seus pecados, com a imputação de penalidade, ou por causa da maldade de outros homens, como veremos abaixo. Eles estão relacionados a uma atividade do maligno, atividade essa que faz parte das obras providenciais de Deus. Já vimos que Satanás também é um trabalhador de Deus, um funcionário da administração divina, que cumpre a vontade decretiva de Deus na vida das suas criaturas.

Não entendemos porque Deus usa Satanás, mas temos a certeza de que ele o usa para o cumprimento dos seus santos propósitos.


Veja o exemplo na vida de Saul

O texto abaixo é um exemplo é clássico do ponto que estamos estudando, e poucos cristãos gostam de estudá-lo e, muito menos, de aceitá-lo, porque ele revela a plena soberania de Deus em suas obras providenciais.

Análise de Texto

1 Sm 16.14-16, 23 – “(14) Tendo-se retirado de Saul o Espírito do Senhor, da parte deste um espírito maligno o atormentava. (15) Então os servos de Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito maligno enviado de Deus, te atormenta. (16) Manda, pois, senhor nosso, que teus servos, que estão em tua presença, busquem um homem que saiba tocar harpa; e será que, quando o espírito maligno da parte do Senhor vier sobre ti, então ele a dedilhará, e te acharas melhor... (23) E sucedia que, quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a dedilhava; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele.”

 

A procedência do mal físico em Saul (v.14)

Saul enfrentava problemas de ordem psico-emocional. Andava triste. A causa do tormento de alma era dupla: uma negativa e a outra positiva. Ambas eram primariamente procedentes de Deus. A primeira é imediata, a segunda mediata. Na primeira o próprio Deus se encarrega de não agir mais na vida de Saul. Na segunda, Deus usa um instrumento para causar um mal em Saul.

A primeira eu chamo de causa negativa, que foi a ausência da ação do Espírito do Senhor em sua vida. O verso 14 diz que “o Espírito do Senhor havia se retirado de Saul”. Isso significa que Deus não mais estava agindo na alma de Saul. Agostinho diria que esse fenômeno da ausência da obra divina em Saul era o privatio boni, a ausência do bem.

A segunda, eu chamo de causa positiva. Trata-se de uma ação de um instrumento que Deus usa — o espírito maligno. No caso de Saul não havia somente a ausência do que é bom, mas a presença positiva do mal na vida de Saul. O mesmo verso acrescenta “da parte deste [do Senhor] um espírito maligno o atormentava”.


O tipo de mal físico que Saul experimentou (v.14)

O texto afirma que Saul possuía “tormento de alma” (v.14) como produto da obra de espírito maligno que invadiu a sua vida. Os demônios são os veículos usados por Deus para impor castigo sobre os homens. Esses demônios causam tormentos na vida dos homens debaixo da ordenação divina.

Se a graça divina não está presente, através da ação do Espírito que produz alegria e gozo, a presença do maligno na vida humana produz tormento de alma. O espírito maligno estava terrificando a alma de Saul. Esse terrível desconforto psico-somático causado pelo espírito maligno é apenas típico dos horrores infernais que todos os homens ímpios haverão de passar eternamente. Todavia, a grande diferença será que o atormentador no final será o próprio Deus, não os instrumentos que ele hoje usa.


O mal físico interpretado pelos servos de Saul (v.15-16)

Os servos de Saul tiveram uma compreensão clara do que estava acontecendo na vida do seu rei. Eles detectaram com clareza a procedência dos males vindos a Saul. Eles foram mais sábios do que muitos do nosso tempo. Eles entenderam não somente que o tormento de Saul vinha do espírito maligno, mas entenderam sobretudo que o espírito maligno havia sido enviado de Deus como seu instrumento para punir Saul, por causa dos seus pecados.

Eles entenderam que assim como o mal físico vinha a Saul através da instrumentalidade de um espírito maligno, também o alívio de Deus viria a ele através da instrumentalidade de Davi (“e o Senhor é com ele” – v.18). A procedência do mal físico da parte de seres espirituais também é reconhecido pelo autor do texto sagrado (verso 23).

Portanto, não podemos duvidar da ação maligna, sob a ordenação divina, para causar males físicos nas pessoas.


Veja o exemplo na vida da mulher possessa

O exemplo presente está descrito em Lucas 13.10-17. Há alguns casos onde os males físicos aparecem como resultado de uma obra do Maligno na vida das pessoas. Semelhantemente ao que aconteceu a Jó, aconteceu à mulher do texto acima. Este é um dos pouquíssimos exemplos onde é permitido a Satanás o tocar nas pessoas fisicamente. O texto diz que a mulher “possuía um espírito de enfermidade” (v.11). Certamente, o espírito maligno agia debaixo da permissão divina, como aconteceu no caso de Jó. Podemos inferir isso claramente porque o caso de Jó é padrão. Todos os outros casos podem ser explicados à luz do de Jó, porque nesse exemplo há a explicação clara que não há nos outros. Por essa razão, os outros podem ser entendidos à luz do caso de Jó, que mostra a soberania divina ao usar espíritos malignos para exercer a sua obra providencial, enviando males físicos aos homens.

Por causa da influência da obra maligna, a mulher tornou-se encurvada que nada podia endireitá-la. Também o texto diz que Satanás a mantinha cativa por dezoito anos com aquela enfermidade (v.16). Não há dúvidas desse texto de que há males físicos que são causados por seres espirituais malignos.

Isso não é equivalente a dizer que todas as enfermidades que possuímos têm essa origem. Os defensores do movimento de Batalha Espiritual não têm o direito de afirmar que as enfermidades dos homens (inclusive a dos cristãos genuínos) são produto da demonização deles. Ainda o texto diz que a mulher foi liberta daquela enfermidade causada por um espírito maligno pelo fato dela ser herdeira da promessa de Deus, isto é, pelo fato dela ser “filha de Abraão” (v.16). Filha de Abraão aqui não significa ser simplesmente israelita, mas “verdadeira israleita”, filha da promessa. Ora, os filhos da promessa, quando libertos por Cristo, não mais podem ser demonizados. Todavia, ainda assim, podem receber males físicos da parte de Deus via espíritos malignos, o que não significa que eles estão demonizados. Os espíritos malignos são agentes do Altíssimo para cumprir os seus propósitos providenciais.


MALES FÍSICOS CAUSADOS POR IMPUTAÇÃO

A abordagem deste ponto é extremamente delicada em alguns círculos evangélicos. Todavia, é menos complicada em alguns círculos reformados. Nestes últimos crê-se muito firmemente que há males que uns recebem por causa da culpa de outros.

O método da imputação ensinado por Deus atravessa toda a Escritura. Em termos formais, esse ensino já é presente nos 10 Mandamentos. Falando dos primeiros mandamentos, com respeito à confecção de imagens e a adoração delas, o Senhor diz:

Ex 20.5-6 - “Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”.

Essa não é parte da lei que não está mais em vigor. Ela não é parte da lei de cerimônias, que já foram cumpridas em Cristo. Ao contrário, essa parte da lei pertence à lei moral que está em vigor e o estará para sempre.

Há vários exemplos deste ensino nas Escrituras: Há casos em que pessoas respondem pelos seus próprios pecados (Jr 31.29-30), mas há casos em que elas recebem punição pelos pecados de outros, inclusive males físicos.

Por causa do pecado de Acã, muitos acabaram sofrendo as conseqüências de males físicos. É o princípio representativo sendo posto em prática. Acã havia tomado dos despojos que o Senhor disse que nenhum hebreu deveria tomar dos povos vencidos. Então, houve pecado no meio do povo (Js 7.13). Houve uma acariação e acabaram encontrando o que Acã havia escondido. Então, veio a sentença sobre o infrator, Acã, e sobre todos os seus que, provavelmente, nem sequer sabiam do que ele havia feito. Seus filhos, suas filhas, seus animais foram apedrejados e mortos, assim como eles e seus bens foram queimados, como demonstração da ira de Deus contra o pecado de um homem (Jz 7.1-26). Todos acabaram sofrendo os males físicos, inclusive a morte, pelo pecado de um só.

Por causa do pecado de Esaú, na troca do direito de primogenitura, toda a sua descendência ficou fora das promessas do pacto (Gn 25.27-34; Gn 27).

Por causa do pecado de Datã, Abirão e Coré, pereceram muitas pessoas, sobretudo mulheres e crianças. Deus imputou a culpa dos líderes nos liderados, embora alguns deles não tivessem nem consciência do que se passava.

Por causa do pecado de Amaleque, que se opôs a Israel no caminho quando este descia do Egito, todo o povo amalequita, incluindo especialmente as mulheres, meninos e criancinhas de peito, acabaram sofrendo os males físicos, que incluíram a morte (1 Sm 15.2-3).

Por causa do pecado de Davi com Batseba e Urias, Deus disse: “Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias o heteu, para ser tua mulher.” (2 Sm 12.10). Toda a posteridade de Davi sofreu males físicos por causa da iniqüidade do homem “segundo o coração de Deus”.

Por causa do pecado de Arão e de alguns outros líderes, levantando um bezerro de ouro, Deus trouxe males físicos para muitos na congregação. Então, Deus lhes disse: “Amontoarei males sobre eles; as minhas setas esgotarei contra eles. Consumidos serão pela fome, devorados pela febre e peste violenta; e contra eles enviarei dentes de feras, e ardente peçonha de serpentes do pó” (Dt 32.23-24). O verso subseqüente, então, mostra a quem são os objetos dos males físicos: “Fora devastará a espada, em casa, o pavor, tanto ao jovem como à virgem, assim à criança de peito, como ao homem encanecido” (v. 25). Nenhum pessoa foi poupada dos males físicos por causa do processo da imputação que Deus estabeleceu.

Esse processo ainda não parou. Em medida diferente, ele continua em vigor. Nem sempre as pessoas que cometem os seus pecados são as únicas a sofrer as conseqüências. Seus parentes também. Veja o caso de uma pessoa promíscua que adquire o vírus da HIV. Um homem contaminado passa para a esposa e para os filhos que venha a possuir, que não têm nada a ver com os pecados do seu pai. O pai é o representante família e, portanto, toda a sua família pode vir a receber as conseqüências dos males físicos.

Não são poucas as pessoas que recebem as conseqüências dos pecados por imputação. Por essa razão, precisamos meditar sobre esse princípio da representatividade que pode trazer conseqüências desastrosas para outras pessoas, assim como (no caso de obediência e amor a Deus) pode trazer benefícios enormes para eles, mesmo até a muitas gerações, como é promessa da Escritura.


MALES FÍSICOS CAUSADOS PELOS PRÓPRIOS PECADOS

Nem todos os males físicos provêm dos pecados dos outros ou dos pecados pessoais. Alguns dos discípulos de Jesus Cristo pensavam que as enfermidades provinham de uma dessas duas fontes. Olhe a pergunta dos discípulos a Jesus no caso do cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? (Jo 9.2). Esta pergunta prova a verdade do ponto anterior. Existia a crença de que alguns males físicos vinham por causa da imputação, isto é, filhos recebiam os males por causa dos pecados de seus pais. Jesus não negou essa crença, mas disse que o caso em questão não era esse.

Existia, portanto, a crença de que pessoas tinham enfermidades por causa dos seus próprios pecados, e isto não é errado, embora Jesus tenha ensinado que esse não era o caso do cego de nascença.

Há alguns exemplos bíblicos que nos mostram com certa clareza que algumas das enfermidades podem surgir dos pecados ds próprias pessoas:

Nm 12.10-11 – “A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa. Então, disse Arão a Moisés: Ai! Senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos e pecamos.”

Os dois irmãos haviam falado mal contra Moisés (v.1-8), e a ira do Senhor se acendeu contra eles (v.9), e a manifestação da ira divina contra a irmã de Moisés se deu no envio de uma lepra sobre ela. O seu irmão Arão, com medo de receber a mesma punição, aproximou-se de Moisés, chamando-se respeitosamente de “Senhor”, e lhe pediu que aquela praga não caísse sobre ele também, pois ele confessou que “loucamente haviam pecado” naquele dia. A enfermidade, claramente é dito, veio por causa do pecado de Miriã.

Jo 5.14 – “Mais tarde Jesus o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior”.

O texto trata de um homem que havia estado doente há 38 anos. Provavelmente, a sua doença estava vinculada a uma paralisia que impedia que ele se movesse. Então, Jesus encontra-se com ele, cura-o e lhe faz a advertência acima. Essa advertência sugere que sua enfermidade tinha algo a ver com seus próprios pecados, pois ele diz: “Não peques mais”. Caso essa ordem de Jesus não fosse obedecida, cousa pior (que significa provavelmente doença pior) haveria de vir sobre ele. Obviamente, Jesus Cristo não está falando de males espirituais, mas de males físicos que podem proceder de Deus por causa dos pecados de uma pessoa.

Tg 5.15 – “E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”.

O texto trata da cura de enfermidades (v.14) que provêm, provavelmente, dos pecados das pessoas, porque esses são mencionados no verso reproduzido acima. Os pecados podem ser perdoados, mas antes eles podem a causa dos males nas vidas das pessoas. O perdão vem mas a cura também tem de vir. São pecados espirituais que causam males somáticos.

Não podemos fechar os olhos à possibilidade de que alguns recebem males físicos por causa dos seus próprios pecados. Há pessoas que se tornam sifilíticas ou aidéticas por causa de sua própria vida sexual promíscua. Outras recebem males físicos por causa da sua desobediência aos pais. Outros ainda recebem conseqüências físicas e emocionais por se desviarem de preceitos de Deus na sua vida de família. Há outros casos em que males físicos provêm da transgressão pessoal das leis de Deus.

MALES FÍSICOS CAUSADOS POR MAUS GOVERNANTES

Originalmente, as autoridades instituídas por Deus devem servir para refrear o mal e promover a justiça civil. Todavia, nem sempre isto acontece. Tem havido muitos maus governantes que não somente não promovem a justiça civil mas praticam o mal. A atitude de alguns governantes dá estímulo aos assassínios, exploração do mais forte sobre o mais fraco, distribuição injusta de renda, violência urbana, etc.

No tempo bíblico dos juizes havia uma situação caótica, onde os males vinham ao povo por causa das autoridades ímpias de vários juizes. Por essa razão, é dito que “naqueles dias não havia rei em Israel: cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21.25). Essa afirmação patética afirma, em outras palavras, que se não houver uma autoridade responsável para coibir os pecados dos homens, eles se tornarão cada mais cheios de licenciosidade e libertinagem, porque haverão de obedecer aos impulsos pecaminosos dos seus corações. Não seria justo dizer que todo o mal de um país vem da autoridade civil, mas quando ela não exerce devidamente as suas funções de promover o mal e refrear o mal moral (ver Rm 13.1-5), os males físicos se abatem sobre toda a população. Por isso, a Escritura diz que “a justiça [retidão] exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos” (Pv 14.34). Quando um rei é justo, ele mantém a terra, mas quando ele é opressor, ele traz grandes transtornos sobre o seu país (Pv 29.4). Muitos reis de Israel e de Judá trouxeram enormes conseqüências, como pobreza e destruição, para toda a população por causa da sua maldade. O autor de Provérbios diz que “o príncipe falto de inteligência multiplica as opressões” (Pv 28.16). Muitos povos vêm sofrendo horrivelmente a fome, a violência, o infanticídio, e coisas semelhantes, por causa da maldade dos governantes que não somente não tomam providências corretas, mas eles próprios são infratores da lei, estimulando a prática de tudo quanto é forma de impiedade.


MALES FÍSICOS CAUSADOS PELOS FENÔMENOS DA NATUREZA

Por causa da comunicação no estágio em que se encontra, podemos Ter conhecimento de muitos males físicos causados pelos distúrbios de fenômenos da natureza.

A Escritura fala que nos últimos tempos alguns sinais apontariam para a vinda de Cristo. Dentre eles, podemos dar destaque aqui para os fenômenos da natureza. Jesus fala que esse tempo seria marcado por guerras, rumores de guerras, nação se levantando contra nação, fomes “e terremotos e vários lugares” (Mt 24.7b). Segundo Cristo, esses fenômenos são indicativos do “princípio das dores” (Mt 24.8).

Tem havido várias enchentes localizadas em várias partes do globo, mas com muitas conseqüências desastrosas, trazendo muitos males sobre as populações de vários países. Além das enchentes, podemos observar avalanches, desmoronamentos, erupção de vulcões, etc. Todavia, dos distúrbios dos fenômenos da natureza, os terremotos são os mais temidos. Eles assombram e terrificam os habitantes da terra. Eles possuem uma força descomunal contra a qual não há recursos. A natureza se levanta ruidosa e violenta, ceifando muitas vidas e deixando um rastro de muita tristeza, miséria, em razão da ruína de todos os sistemas de abastecimento que caracterizam muitas cidades modernas.

Nessas circunstâncias morrem e sofrem muitos outros males físicos tanto crentes como incrédulos. Eles não têm a ver com os pecados individuais das pessoas. Eles são produto dos juízos parciais de Deus sobre a raça humana, que ainda permanece sob os efeitos da Queda. Esses distúrbios da natureza são algo que vem sobre a raça humana sem distinção, embora não se exceção.


MALES FÍSICOS CAUSADOS IMEDIATAMENTE POR DEUS

Os males físicos podem proceder diretamente de Deus, sem que ele use instrumentos ou meios para isso. Há algumas poucas passagens que atribuem os males físicos a Deus.

Jó 5.17-18 – “Bem-aventurado é o homem a quem Deus disciplina; Não desprezes, pois, a disciplina do todo poderoso. Porque ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere, e as suas mãos curam”.

Este verso trata da disciplina causada diretamente por Deus na vida dos seus filhos desobedientes. Deus é o causador de males físicos que possuem funções terapêuticas. Não obstante essas funções curativas, essas feridas abertas por Deus doem, porque as suas santas mãos ferem e, às vezes, com grande gravidade e profundas dores.

Não podemos nos furtar a essa verdade de que Deus causa males na vida das pessoas. No texto de Números 12.10-11, vistos logo acima, pudemos perceber que Deus diretamente ocasionou um mal físico em Miriã, por causa dos seus pecados.
No caso dos crentes mostra o seu amor soberano por elas, enquanto que no caso dos incrédulos mostra a sua justiça. Deus fere para depois curar. Esse é o modo como Deus trabalha. Na sua administração Deus tem a prerrogativa de trazer desconfortos para os homens, pois os homens são violadores das suas leis e, portanto, sujeitos à disciplina que vem das suas mãos.

Os 6.1 – “Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará.”

Este verso de Oséias tem as mesmas características das obras providenciais descritas no verso anterior referido acima. A idéia que o profeta dá é a da volta ao Senhor em face da obra disciplinadora de Deus. Deus é o causador das nossas dores, mas ele também é o que as cura. Ele abre a ferida e também a fecha.

Dt 30.15 – ¨Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal.¨

Na verdade, de qual tipo de mal está o texto tratando aqui? Não é fácil dizer exatamente a qual mal Moisés se refere. Provavelmente, o mal aqui mencionado seja um mal de punição, que tem a ver com a morte. O texto fala em obedecer os mandamentos (v.16), fazendo o bem e, como conseqüência, dando vida, pois a vida é produto da obediência aos mandamentos de Deus (v. 19). Todavia, quando o homem desobedece a Deus, vem a morte, que é o mal de punição. É uma espécie de lei de causa e efeito. Se obedecer vive, se desobedecer morre. Esse é o mal que vem de Deus.

Am 3.6 – ¨Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo se estremeça? Sucederá algum mal à cidade, sem que o Senhor o tenha feito?¨

Também esses males que vêm à cidade são males de punição por causa da quebra das leis divinas. Quando uma cidade rejeita as prescrições de Deus, ela é objeto do mal de punição que vem diretamente de Deus. Nesse sentido, Deus é o único que possui o direito de vingar as transgressões dos homens violadores das suas leis. A vingança do Senhor é direta, porque é sua prerrogativa punir os pecadores com males físicos.

Is 31.2 – “Todavia, este (o Senhor) é sábio, e faz vir o mal, e não retira as suas palavras; ele se levantará contra a casa dos malfeitores e contra a ajuda dos que praticam iniqüidade”.

Novamente aqui são referidos os males de punição. Nesses três casos mencionados, os males de punição um somente tem caráter físico, embora a causa do mal vindo sobre os homens seja de caráter moral, ou seja, a quebra das leis divinas. Todavia, se olharmos melhor a Escritura, veremos outros. Um caso típico é o de Nabucodonozor (em Dn 4), que sofreu males físicos por causa da sua afronta a Deus e da sua arrogância. Da mesma forma, Deus mata os habitantes da cidade desobediente, levanta-se contra os lares dos que são malfeitores e pune com o mal de morte todo aquele que escolhe o mal.


MALES FÍSICOS CAUSADOS PELA MALDIÇÃO DIVINA

A natureza toda, incluindo os seres humanos, estão debaixo da maldição divina desde o Éden. Essa maldição é uma imposição penal de Deus sobre o mundo por causa do pecado de Adão. Depois dele, todos os seus descendentes nascem debaixo dessa imposição penal e possuem enfermidades que nunca serão tiradas da raça humana até que haja a completação da redenção.

Tanto incrédulos como crentes são passíveis dessa imposição penal de Deus, uma maldição que permanecerá até o fim do estado presente de coisas. Deus não trará remissão qualquer ao mundo físico, senão no dia final, no tempo da restauração de todas as coisas, que é o tempo da vinda de Jesus Cristo para o estabelecimento das coisas finais (At 3.21). Até que isso aconteça, teremos os males físicos de enfermidades, deformidades e coisas semelhantes no mundo de Deus.

A incidência dos males físicos não são conseqüência dos pecadores individuais dos homens, mas são produto, em última instância, da Queda de nossos primeiros pais que ocasionou a maldição divina sobre toda a terra.


Fonte: Trecho do capítulo 15 do livro “O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência”, da Cultura Cristã.

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