Sofrimento: Sim e Não!

por

Felipe Sabino de Araújo Neto

 

"Portanto, se Cristo sofreu pelo crente, já não é necessário que este sofra; e por que teria o crente de temer?" (Jonathan Edwards, Nosso Lugar de Refúgio).

Seria Jonathan Edwards (1703-1758), considerado o maior teólogo e filósofo americano, autor da frase acima, um neo-pentecostal? Longe disso! Mas é sobre o contraste entre o seu ensino e o dos pentecostais e neo-pentecostais que quero resumidamente falar, ou melhor, nos levar a pensar.

Enquanto os pentecostais e neo-pentecostais ensinam que o crente não deve sofrer, Jonathan Edwards e todos os escritores bíblicos afirmaram que sim, que ele pode, e na verdade sofre justamente por ser cristão.

Enquanto os pentecostais e neo-pentecostais ensinam que o crente pode sofrer, Jonathan Edwards e todos os escritores bíblicos, juntamente com a miríade dos grandes teólogos e homens de Deus do passado e com os 7.000, o remanescente segundo a eleição da graça [1] , dos dias de hoje que não dobraram os seus joelhos diante de Baal, afirmam que NÃO, DE FORMA ALGUMA!

Como pode ser isto? A aparente contradição é solucionada quando analisados o tipo de sofrimento que se tem em vista.

O sofrimento que os carismáticos (pentecostais e neo-pentecostais) não aceitam é aquele que a Escritura apresenta como sendo a nossa porção nesta vida:

"Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (João 16:33).

"Por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus" (Atos 14:22).

"Para que ninguém seja abalado por estas tribulações; porque vós mesmos sabeis que para isto fomos destinados" (1 Tessalonicenses 3:3).

Contudo, Jonathan Edwards e tantos outros, pregavam com firmeza a legitimidade dos sofrimentos na vida de um crente verdadeiro. As nossas aflições são determinadas por Deus, com o objetivo de produzirem frutos para o nosso bem e para a Sua glória. Como disse John Piper, em O Sorriso Escondido de Deus:

"as aflições de John Bunyan nos deram O Peregrino. As aflições de Willaim Cowper nos deram hinos em inglês como "There Is a Fountain Filled With Blood" e "God Moves in a Mysterious Way". E as aflições de David Brainerd nos deram um Diário publicado que tem mobilizado mais missionários que qualquer outra obra semelhante. A fornalha do sofrimento produziu o ouro da direção e inspiração para viver a vida cristã, adorar o Deus cristão e espalhar o evangelho cristão.

Existe uma certa ironia no fruto destas aflições. O confinamento de Bunyan ensinou-lhes o caminho peregrino da liberdade cristã. A doença mental de Cowper produziu música doce da mente para almas atribuladas. A miséria abrasadora do isolamento e da doença de Brainerd explodiu em missões mundiais, além de toda a imaginação. Ironia e desproporção são, ambos, o caminho de Deus. Ele nos mantém desequilibrados, com suas conexões imprevisíveis. Pensamos que sabemos como fazer algo grande, e Deus o faz pequeno. Pensamos que tudo que temos é fraco e pequeno, e Deus o torna grande. A estéril Sara dá a luz ao filho da promessa. Os 300 homens de Gideão derrotam 100 mil midianitas. Uma funda nas mãos de um jovem pastor derruba o gigante. Uma virgem dá à luz o Filho de Deus. Os cinco pães de um rapazinho alimentam milhares. Uma violação da justiça, um expediente político-fisiológico e a tortura criminosa, numa cruz repulsiva, tornaram-se o fundamento da salvação do mundo.

"Este é o caminho de Deus - tirar do homem toda vanglória e dar toda glória a Deus...".

Eis o que o próprio Bunyan, um homem que sofreu excessivamente, escreveu:

Nós, também, antes que a tentação venha, pensamos que podemos caminhar sobre o mar, mas quando os ventos sopram, sentimos que começamos a afundar...

E ainda assim, isto não nos traz nenhum bem? Não poderíamos viver sem tais mudanças da mão de Deus sobre nós. Nossa natureza carnal cresceria excessivamente, se não tivéssemos nossos invernos, no tempo apropriado. Diz-se que em alguns países as árvores crescem, mas não produzem fruto, pois não há inverno ali.

 

Portanto, eis o primeiro contraste:

CARISMÁTICOS: o crente não pode sofrer, e este não é o propósito de Deus.

A BÍBLIA E OS SEUS FIÉIS SEGUIDORES: o sofrimento é uma parte da peregrinação cristã, sendo ordenado em tipo, intensidade e lugar pelo próprio Deus.

 

Por outro lado, de uma forma ainda mais infortuna, os carismáticos ensinam que o crente pode sofrer, e o que é pior, sofrer o castigo eterno. Eles afirmam deliberadamente que aqueles que foram salvos e, portanto, são verdadeiros crentes, podem "cair da graça" e perecer eternamente. Contudo, não é isso o que a Bíblia ensina.

Foi por crer no oposto exato disto que Edwards disse: "Portanto, se Cristo sofreu pelo crente, já não é necessário que este sofra; e por que teria o crente de temer?". Ele se referia ao sofrer o castigo da lei, o que é impossível para o crente, pois Cristo, por intermédio de Sua obra substitutiva, sofreu por ele. Como o próprio Edwards disse:

"Cristo sofreu o golpe da justiça, e a maldição da lei caiu toda sobre Ele; Cristo sofreu toda a vingança que se destinava ao pecado que cada um de nós cometeu. "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar" (Gálatas 3:13).

As Escrituras estão cheias de provas de que aqueles que foram realmente regenerados, ou seja, aqueles que são crentes genuínos, estão totalmente seguros em Cristo e Deus os preservará de cair totalmente graça. É Deus quem faz com que eles perseverem. Eles, assim como o filho pródigo, podem se desviar temporariamente, mas a graça eficaz do Pai os trará de volta, convencendo-lhes do seu pecado. Eles, como a ovelha perdida, podem se desgarrar, mas o Bom Pastor não descansará até que os encontre de novo e os traga ao redil.

"Quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." (Romanos 8:35-39)

"Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça." (Romanos 6:14)

"...Aquele que crê tem a vida eterna" (João 6:47).

"...quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida" (João 5:24).

"Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne" (João 6:51).

"Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna" (João 4:14).

"Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus" (Filipenses 1:6).

"O Senhor aperfeiçoará o que me diz respeito..." (Salmo 138:8).

"...os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento" (Romanos 11:29).

"E o testemunho é este: Que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho" (1 João 5:11).

"Estas coisas vos escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna" (1 João 5:13).

"Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados" (Hebreus 10:14).

"O Senhor me livrará de toda má obra, e me levará salvo para o seu reino celestial..." (2 Timóteo 4:18).

"Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou" (Romanos 8:29-30).

"E nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade" (Efésios 1:5).

"Eu lhes dou (às Soas 'ovelhas', quer dizer, aos verdadeiros seguidores) a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai" (João 10:28-29).

"...hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, SE POSSÍVEL FORA, enganariam até os escolhidos" (Mateus 24:24). O crente, livre de preconceitos, prontamente compreende que é IMPOSSÍVEL enganar os escolhidos.

"Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós" (Romanos 8:34).

"Pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo" (1 Pedro 1:5).

"...Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra" (2 Coríntios 9:8).

 

Os exemplo bíblicos poderiam ser multiplicados. Os filhos de Deus jamais sofrerão o castigo eterno. Eles sofrem aqui, mas desfrutam de paz e glória no porvir. É por isso que Paulo disse que "os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós" (Romanos 8:18). Que durante o nosso sofrimento presente e temporário possamos glorificar a Deus pela Sua grande salvação, por Seu bendito Filho, por nos ter livrado de uma forma completa, segura e eficaz do sofrimento futuro, não porque merecêssemos, mas por pura e bendita graça.

Os carismáticos estão certos em afirmar que o crente não pode sofrer. Eles estão equivocados somente no que diz respeito ao tipo de sofrimento que eles não podem sofrer. Que Deus nos ajude a aceitar o Seu testemunho, a despeito de nossos preconceitos e falsas crenças!

Soli Deo Gloria!

 

[1] - Na verdade é uma eleição dentro da eleição da graça. Paulo disse em Romanos 11:5 que "também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça". Não é a este eleição que me refiro. Pois muitos dos que são eleitos, infelizmente não crêem nesta bendita verdade. Eu me refiro à eleição dos eleitos, ou seja, que dentre os eleitos há aqueles que foram graciosamente escolhidos para crerem nesta verdade. É pela graça que cremos em tudo o que Deus nos falou nas Escrituras. Por isso eu digo: "eleição dentro da eleição da graça".

 


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